sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Thereza Myrthes Mazza Maziero (Poesias: Queixa de Mulher - Náufragos em Sol Maior - Idade Média - Canção para uma Rosa - Trovas Diversas)

Queixa de Mulher

De tudo o que mais preciso,
se queres mesmo a verdade,
é de um cálice de risos
e um prato fundo de amizade...
De dois dedinhos de prosa,
de um pires de companhia,
de uma palavra carinhosa
e uma braçada de alegria.
De uma pontinha de afeto,
de paciência um tantão!
Do meu doce predileto
e de uns afagos na mão.

De umas gotas de carinho
e um pouco de afinação.
De um copo cheio de vinho
e de um punhado de atenção...
De um brinde em copos cruzados
e um gesto de gentileza.
De alguns raminhos de agrado
para enfeitar minha mesa.
Quero uns pingos de cuidados
e que não sejas tão ausente!
o resto... deixa de lado,
que eu vou tocando o batente!


Náufragos em Sol Maior

Num barco bêbado, em irado mar,
Naufragamos sem dó nossos destinos.
Espreitamos a noite então chegar,
Sobrevivendo a tantos desatinos

Não sabemos do onde, nem do quando,
Tragando a vastidão que nos invade.
Somos dois náufragos que vão boiando,
Indo de tempestade em tempestade.

E enfrentando a tormenta que nos ronda,
Sedentos a esbanjar o próprio pranto,
Que seca por si mesmo e nos abrasa,

Vamos sorvendo a solidão das ondas
Por trilhas pálidas de espuma e espanto,
Seca de sal a boca e olhos em brasa

Idade Média

Estou chegando à idade
bem em plena idade média,
no meio da tempestade,
tempo de tragicomédia.

Estou chegando à idade,
naquela idade careta,
de ver sempre a "coisa preta"
e nem tentar reagir.

Naquela idade inquietante,
se alguém me olha galante,
penso logo que é assaltante,
vou tratando de fugir.

Estou em plena idade média,
idade tão corrosiva,
de ter carência afetiva,
com um pé adiante, outro atrás.

Naquela idade "danada"
que não se fica, nem vai.
Idade do "tudo ou nada".
Idade em tudo que cai.

Estou em plena idade média,
idade de pisar fundo,
de se soltar toda a rédea
e pôr a boca no mundo.

Idade em que nada espanta,
de preferir noite ao dia,
de disfarçar as pelancas
e de esconder as estrias.

Idade em que "Inês é morta".
De não precisar fingir.
De não se fechar a porta
à hora de se dormir.

Idade de pouco assédio,
nenhuma chuva na horta.
De coquetéis de remédios
e de cuidar mais da aorta.

De "inativo" ser tachado.
Idade em que o peito chia.
De ser deixado de lado,
qual "coisa" sem serventia.

Idade em que não há regras
nem se pôr mais fé no taco.
De abandonar a refrega,
meter a viola no saco.

Idade de efeito e causa,
das ondas de calorão.
Da "menô" ou "andropausa"
e da "terceira dentição".

Idade em que tudo desce
e de muita confusão,
em que o ardor arrefece,
em que só sobe a pressão.

Idade em que tudo é mole.
Idade em que o fogo esfria.
Se correr o "bicho" encolhe.
Se ficar... o "bicho" arria!

Canção para uma Rosa
(Dedicado a Célia Aparecida Rosa)

Mulher sólida,
insólita, insolvível.
Una, duna,
trina coluna.
Lucidez que queima
e que ilumina.
Perseverança.
Mãos pródigas,
invisíveis,
derramando bem-aventurança.
Coração singelo,
ternura mansa.
Não importa o que aconteça.
Na cintilância de seus gestos
permaneça... permaneça...

Trovas

Tema : Trabalho

Muita gente desvalida,
Que labuta como mouro,
Vive a escutar na vida
Que o trabalho vale ouro

Tema: Sabedoria

O sábio é um degustador
Degusta a sabedoria
"Carpe diem" com fervor
Bebe a luz que ele irradia

Tema : Felicidade

Depois de uma tempestade
E a paz volta a florescer,
Sinto a felicidade
De um cego que volta a ver

Tema: Nau

1° lugar (UBT – Taubaté/Roseira)

Minha paixão malograda
Sufocada entre segredos
É como nau destroçada
Batendo contra os rochedos

Tema: Fraternidade

Quem semeia entendimento
Jamais colhe tempestade
Esparrama aos quatro ventos
Flores de fraternidade

Tema: Mico

1- Um dia paguei um "mico"
Escorreguei no salão
Não sei se encolho ou se fico
Estatelada no chão

2- Eu sempre fiz m"macaquice"
Mas "mico" não pago não
Existe coisa mais triste
Que dar "topada" no chão?

Tema : Saudade

1- Saudade é como cebola
Que se descasca a chorar.
Mas toda mulher que é tola,
Vive a cebola a cortar

2- Saudade é como ferida
Que se vive a cutucar,
Se se curte pela vida,
Sem quer vê-la fechar.
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Sobre a Autora:
Thereza Myrthes Mazza Maziero, pedagoga, declamadora e poeta, nasceu em Lorena (SP), mas mora em São José dos Campos (SP). Tem poemas publicados em jornais e revistas, sendo detentora da medalha "Cassiano Ricardo" concedida pela Câmara Municipal daquela cidade. Leciona na UNIVAP (Universidade do Vale do Paraíba). "Idade média" consta do livro "Mulheres de São José - Antologia Poética", pág. 89, edição dos autores organizada por Celso de Alencar.

Fontes:
Diário LAC - Literatura, Artes e Cultura.
http://www.diariolac.com.br/
http://www.releituras.com/
http://www.culinariapoetica.com.br/
http://www.mauxhomepage.com/

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