quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Franz Kafka (Resumo: O Processo)

O Processo é um romance de Franz Kafka (1883 - 1924), que conta a história de um bancário que é processado sem saber o motivo, este é Josef K.

O perfil de K. era de um funcionário exemplar, sendo que trabalhava num famoso banco e tinha um cargo de grande responsabilidade. Desempenhava sua função com muita dedicação, razão que o levou, em pouco tempo, a crescer na empresa.

Porém na manhã em que completara 30 anos, Josef K. foi detido em seu próprio quarto por dois guardas, que tomaram o café que devia ter sido dele, e depois, sugeriram estarem sendo subornados. Neste momento inicia o pesadelo de Josef K., que foi detido sem ter feito mal algum. De principio, imaginava ser uma brincadeira de seus colegas de banco, pois não podia acreditar no que estava acontecendo.

Josef K. acreditava que todo o mal entendido seria esclarecido e ao ser convocado para um interrogatório viu a oportunidade de isto acontecer. Estava errado. Deparou-se com um inspetor rude e agressivo que o ameaçava e fazia chantagens. Contudo K. exigia esclarecimentos, porém inutilmente, já que nem o inspetor e nem os guardas sabiam sobre o motivo de sua detenção.

E toda narrativa segue sem que se conheça quem teria denunciado Josef K. às autoridades e o motivo de estar sendo preso. Apesar disso, o personagem central luta o tempo todo para descobrir do que estava sendo acusado, quem o acusava e com embasamento em que lei. Contratou um advogado na esperança de ter alguma saída e também para obter informações sobre o seu caso, mas logo ele foi dispensado, pois não estava dando muita atenção ao processo dele.

Tentou entrar em contato com o judiciário, mas teve pouco sucesso, o que encontrou foram muitos processos, sendo o dele apenas mais um que ficaria esperando por muito tempo. Todo o desenrolar do processo não lhe parecia verdadeiro, os acusadores e as testemunhas tinham atitudes duvidosas e absurdas, até crianças eram chamados a prestar depoimentos.

No final, Josef K. se encontrava sem ânimo para prosseguir lutando contra um processo que ele nada conhecia, estava apático e indiferente. Pode-se interpretar que no capítulo X: O fim, Josef K. combinou para que dois senhores o matassem, e assim foi feito.

“(...) as mãos de um dos senhores seguraram a garganta de K. enquanto o outro lhe enterrava profundamente no coração a faca e depois a revolvia ali duas vezes.” (KAFKA, 2004, p. 254).

Este é o fim de Josef K.


A obra é uma crítica direta do sistema judiciário, mas ficar somente nesta interpretação limita a toda uma extensão de pontos de vista que pode ser analisado.

Como uma crítica ao sistema judiciário, podemos nos atentar a este aspecto, pois esta é a primeira interpretação que se observa. Na época e no local onde viveu Franz Kafka imperava um Estado autoritário (primeiramente Tchecoslováquia e logo o Império Austro-húngaro) e havia constantes lutas pelo poder e o ambiente da Primeira Guerra Mundial proporcionava ações arbitrárias pelas autoridades. Assim observamos que é compreensível esta obra ser apresentada de tal forma, como uma crítica ao sistema judiciário.

Contudo esta obra é não somente um retrato fiel do sistema judiciário despótico, e como a burocracia e a justiça são falhas, mas também fazendo um paralelo entre a vida de Josef K. e as nossas, seres humanos na prisão que é o mundo, apesar de não parecer. Sofrendo de alienação, e sendo controlados o tempo todo, sem achar respostas e explicações para nada, frente à um sistema doutrinador que estamos inseridos, e que a todo o momento lançam informações que nós temos de engolir sem ao menos revisar e saber o porquê.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/

Carlos Carvalho Cavalheiro (1972)


Filho de Milton Dias Cavalheiro e de Neyde Carvalho Cavalheiro nasceu em São Paulo / SP aos 09 de maio de 1972, no Bairro da Liberdade (Maternidade São Lucas). Aos dois anos de idade mudou-se com a família para Sorocaba / SP, onde reside há desde então.

Formado em História pela UNISO, estudou nas escolas 'Baltazar Fernandes' e 'Genésio Machado', tendo cursado o segundo grau na Escola Técnica Estadual 'Rubens de Faria e Souza', onde se formou técnico em Eletrotécnica. Nessa escola participou ativamente do movimento estudantil, sendo um dos fundadores do Grêmio Estudantil em 1990, época em que foi redator do Jornal do Grêmio, espaço em que publicou vários textos.

Estreou na imprensa sorocabana em janeiro de 1993 publicando um artigo sobre o livro 'Sacy-Pererê - resultado de um inquérito', no Jornal Cruzeiro do Sul. No mesmo ano publicou o conto 'O violinista da beira da estrada', no Diário de Sorocaba. Teve publicado ainda vários artigos, contos, poesias e crônicas nos jornais Patubuiu (Fortaleza / CE), Jornal de Piracicaba, Jornal ECA (Sorocaba), Jornal A Nova Democracia (Rio de Janeiro), La Insígnia (Diário Ibero-americano), Jornal Cultural Pedaços entre outros.

Participou de várias exposições de poesias, entre elas: 'Mural do Museu Histórico Sorocabano' (1996), Mural da Biblioteca Municipal de Sorocaba (1997), Casa da Cultura de Piedade (1998), Oficina Cultural Grande Otelo (1998) e Arte-Mix (1999).

Em 1993 criou o jornal cultural mimeografado 'Movido à álcool' e em 1994 auxiliou na fundação do 'Sepé-Tiaraju' (cujo nome foi por ele assim batizado), jornal cultural que marcou época em Sorocaba.

Em 1998 publicou o folheto 'A greve de 1917 e as eleições municipais de 1947 em Sorocaba'. Publicou ainda os livros: 'Folclore em Sorocaba' (1999), 'Salvadora!' (2001) e 'Descobrindo o Folclore' (2002).

Em 1999 representou Sorocaba no Mapa Cultural Paulista com a poesia 'Inseto Voador', publicada em livro pela Secretaria de Estado da Cultura.

Produziu em 2000 o CD 'Cantadores - o folclore de Sorocaba e região', reunindo grupos folclóricos de Sorocaba e cidades circunvizinhas.

Em outubro de 2000 foi eleito sócio-efetivo da Comissão Paulista de Folclore (IBECC/UNESCO), sendo o primeiro coordenador do Núcleo Caipira de Sorocaba até abril de 2002.

Teve ainda poesias inseridas no livro 'Poesia em Debate fazendo história - 1995/2001' (2001) e 'Depoesia II' (2003).

Em novembro de 2003 idealizou a construção da Enciclopédia de Sorocaba.

Fonte:
http://www.sorocaba.com.br/enciclopedia/ler.shtml?1085360927

Carlos Carvalho Cavalheiro (Conto: O Violinista da Beira da Estrada)

Já faz cinco anos, mas ainda me lembro perfeitamente do caso do violinista da beira da estrada e que eu vou lhes narrar agora.

Eu estava numa feira de muares em Sorocaba, a primeira compra já havia sido feita há alguns minutos, os compradores desse gado se preparavam para partir. Mais ou menos uma hora depois partiam pelas ruas de Sorocaba e rumavam a caminho da ponte para São Paulo, seguidos dos gritos: “Rompeu a feira! Rompeu a feira!”. Mas não tinha essa compra se realizado em pouco tempo. Demorou e muito! Dia após dia, comprador e vendedor tentando fechar negócio.

E o comércio de animais continuou. O frio do inverno era compensado pelos divertimentos da feira, os jogos de cartas, os violeiros, as peças teatrais...

O que me deixava irritado era um violinista que pedia esmola, sentado no degrau de escada da porta do bar. Ele me dizia exatamente assim:

- Toco uma música que aos seus ouvidos vai agradar, sua viagem tornar-se-á mais agradável lembrando-se dessa melodia que por alguns cobres vou executar...

- Sinto muito, mas não tenho trocados.- respondi.

- Sou cego e outro modo de ganhar a vida não tenho!

- Já disse que não tenho trocados! – irritei-me.

- Por favor, senhor...

- Vosmecê é surdo?!

- Não, eu sou cego e...

Não o deixei terminar, dei um pontapé no seu violino, cuspi em seu rosto e ameacei-o de morte se não sumisse da minha frente.

Com o semblante triste e magoado ele apenas respondeu:

- O senhor quebrou o violino do meu pai. Deus ajude para que a assombração dele não o acompanhe em qualquer viagem solitária que vosmecê faça durante toda a sua vida! Deus o ajude.

Não dei importância para aquela praga que me rogava o pobre e cego homem. Ah, se eu soubesse...

Um mês depois parti. Solitário, como em todas as minhas viagens. Solitário não. Com a companhia de Deus e do meu cavalo malhado, bom de trote e forte como duas mulas.

A estrada por onde eu ia era pequena e poeirenta, cheia de curvas e com uma vegetação verdíssima em seu entorno. Acendi um cigarro de palha e fiquei pensando nas alegrias que tive na feira e planejando uma nova viagem para o próximo ano.

Ia chegando perto de uma curva quando o meu cavalo estacou sem que eu soubesse porque. Talvez tivesse se assustado com alguma cobra ou qualquer outro bicho matreiro. Passei a mão pelo seu pescoço, encorajando-o a continuar, ao mesmo tempo em que segurava a minha garrucha. Quem sabe o que tem atrás de uma curva de estrada? Podiam ser ladrões que procuravam viajantes desprevenidos.

A cada trote do meu cavalo, um arrepio surgia em minha pele. Meu coração começou a bater descompassadamente. “Meu Deus, que sorte me aguardava atrás daquela curva?”- pensei. De repente, surgiu uma ventarola e formou um redemoinho num capão de mato próximo.

Senti um frio que até hoje eu não sei se foi pela ventania ou se por medo.

A curva cada vez mais perto. Quando faltavam uns trinta metros para alcançá-la, adivinha o que eu fiz? Não, eu não fugi. Eu fui em frente, respirei fundo, armei a garrucha e disse para mim mesmo: “Tenha o que tiver naquela curva eu não vou me acovardar! Afinal de contas eu sou um homem e tou armado”.

Comecei a ouvir uma melodia que não modificou em nada a minha decisão. Segui em frente. Talvez essa melodia nem existisse, fosse fruto da minha imaginação, ou, se existisse, eu iria descobrir de onde provinha.

Medo?... eu não tenho medo de nada. Uma simples curva não pode intimidar um homem assim, só porque intimidou o seu cavalo!

A melodia cada vez mais nítida. Não era minha imaginação. Havia algo atrás daquela curva e eu iria, ou melhor, eu teria que descobrir o que era.

Finalmente a curva chegou e com ela a resposta para a minha pergunta. Era um violinista. Um velho e maltrapilho violinista. Acenei-lhe, dizendo:

- Que Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine seus caminhos!

Não obtive resposta. O violinista parecia indiferente a tudo, como se não pertencesse a este mundo. Passei por ele. Não sei porque, mas não resisti à tentação de dar uma olhada com o canto dos olhos para trás. Inacreditavelmente o violinista sumira. Voltei o meu pescoço para olhar melhor. Ele realmente sumira. Procurei-o, voltei à curva e nada. Lembrei-me da praga do violinista cego da feira de muares de Sorocaba.

Coloquei a mão no saquinho de couro em que eu guardava as minhas moedas. Tinha ainda alguns cobres. Segurei firme a rédea do cavalo e num trote rápido voltei para Sorocaba. Encontrei o cego no mesmo degrau de escada do bar. Sem dizer nada, joguei-lhe o saco com as moedas. Era o suficiente para ele comprar outro violino e ainda sobrava algum para esmola. Ele em resposta deu-me um sorriso, como se dissesse: “Encontrou o meu pai?”.

Parti com a consciência limpa. Fui pela mesma estrada e o medo perdi ao chegar próximo àquela curva. Encontrei novamente, para o meu espanto, o mesmo violinista que havia sumido naquela beira de estrada. Passei por ele sem nada dizer. Quando estava de costas para ele, a música parou e uma voz disse:

- Que Nosso Senhor ilumine também os seus caminhos.

Não tive coragem de olhar para ver se ele ainda estava lá. Fui embora e no caminho, depois de muito pensar, resolvi fazer uma promessa: “Nem que for para salvar a minha vida, para Sorocaba eu não volto nunca mais”. E até hoje eu não voltei.

Fonte:
http://eptv.globo.com/caipira/int_causos.asp?id=1285

Carlos Carvalho Cavalheiro (Poesias: Poesia Engajada; Beatnick)

Poesia Engajada

A minha poesia não alcança
Os ouvidos dos oprimidos
Nem sequer é degustada
Pelo paladar dos famintos
E nem por sonho ou fantasia
É sentida pelos excluídos
A minha poesia, então, morreu
E esqueceram de enterrá-la.

Beatnick

Ouço uma música
É um jazz, blues ou samba?
Não sei.
A música não tem língua
Mas tem cor: é negra
E traz nas frases mudas
O lamento da história
Na esquina, sob a luz néon
Está Kerouac, sentado.
Além, pela calçada caminha
displicente Ginsberg
Ao meu lado, Noel Rosa.
Peço carona?
Estou preso na cela de carne
Há quem se admire de sua cela
A advertência de Eclesiastes:
Tudo é vaidade.
Se houvesse escolha
Teria nascido álcool
Evaporaria, antes de morrer
Sensação de liberdade
(ou embriaguês?)
Por estar disperso em milhares
De partículas por todo o ar.
Ubiqüidade.

Fonte:
http://www.crearte.com.br/carlos_poesias.htm

Carlos Drummond de Andrade (José)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você coçasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Fonte:
http://virtualbooks.terra.com.br/

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816 - 1878)


Francisco Adolfo de Varnhagen. Nasceu em São João do Ipanema, à época pertencente à Sorocaba, atualmente município de Iperó (S. Paulo) em 17 de fevereiro de 1816 de pai alemão, criou-se e educou-se em Portugal, onde passou a infância e juventude.

Seu pai Frederico Luis Guilherme de Varnhagen, engenheiro alemão, veio ao Brasil com o propósito de restaurar e ampliar a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Varnhagen não passa muitos anos no Brasil, pois, em outubro de 1823, retorna para Portugal, juntamente com a mãe, portuguesa de nascimento. Realiza os primeiros estudos no Real Colégio da Luz e, a seguir, inicia sua formação militar, obtendo o título de engenheiro. Apesar dessa formação mais voltada para as ciências exatas, também realiza estudos em áreas relacionadas com sua posterior atividade como historiador, tais como diplomacia, paleografia e economia política.

Seu primeiro trabalho na área de história está relacionado às pesquisas sobre o colono e cronista quinhentista Gabriel Soares de Sousa, o qual cabe a Varnhagen o mérito de ter tirado da obscuridade. A boa acolhida junto à Academia de Ciências de Lisboa, certamente serve como incentivo para suas futuras realizações como historiador.

Um aspecto interessante e fundamental que marca a obra do famoso historiador é sua opção pela nacionalidade brasileira, algo que começa a cogitar em 1840. Para Nilo Odália, a escolha de Varnhagen pela nacionalidade brasileira está muito relacionada com o clima mental da época, marcada profundamente pelo romantismo. Época em que aflora com toda a força a questão do nacionalismo e de pertencimento a um povo. Ora, “para um jovem da época, pertencer a uma dessas nações, percorrer e participar de sua formação e de seu destino, deveria surgir aos seus olhos deslumbrados como a possibilidade única de concretizar o desejo de pertencer à história e ao seu tempo.”

Em 1840 viaja ao Brasil e conhece o Imperador-menino, apenas com 14 anos de idade, marcando o início de uma longa amizade. Obtém, finalmente, a nacionalidade brasileira, por decreto real, em 24 de setembro de 1841. A partir de então em suas obras e pronunciamentos o historiador se autodenominaria como “paulista de Sorocaba”. João Francisco Lisboa, outro grande historiador brasileiro do século XIX, daria um segundo cognome a Varnhagen, que igualmente se tornaria célebre, o de “pai da nossa história.”

Após o reconhecimento da nacionalidade brasileira, entra para o corpo diplomático brasileiro, função que ocupa até a morte. O trabalho como diplomata facilita suas pesquisas históricas.

Conquanto houvesse percorrido uma grande extensão do litoral e ainda do sertão brasileiro, em viagens de observação e estudo, nunca propriamente habitou o Brasil, quero dizer, nunca nele se demorou com ânimo de se domiciliar.

O fato de sua origem germânica e formação portuguesa e européia, da sua constante ausência e pouca convivência do seu país natal e mais tarde de ter constituído família fora dele, dão a Varnhagen uma fisionomia particular, um todo nada exótico. Da estirpe germânica tirava seu instinto de veneração e respeito dos magnates, dos poderosos, das instituições consagradas e das cousas estabelecidas.

É talvez o único brasileiro sem falha neste particular, justamente porque é em suma pouco brasileiro de temperamento, de índole e ainda de sentimento. Levou-o à pia batismal o próprio capitão general da província em que nasceu, o Conde de Palma. Desde aí é com tais próceres que anda. Como historiador, raro acha a censurar nos que têm o mando, ao contrário esforça-se por lhes encontrar sempre razões e desculpas. Do mesmo modo justifica sempre todas as instituições, descobre-lhes ou inventa-lhes virtudes e benefícios. Mal pode esconder o júbilo e a vaidade pela troca feita pelo imperador, seu amigo e protetor, do seu nome já glorioso de Varnhagen pelo de visconde de Porto Seguro.

Consagrou toda a sua laboriosa existência a estudar a história do Brasil, e a servi-lo com dedicação e zelo em cargos e missões diplomáticas. Sente-se-lhe, entretanto, não sei que ausência de simpatia, no rigor etimológico da palavra, pelo país que melhor que ninguém estudou e conhecia, e era o do seu nascimento. Não é patriotismo, entenda-se, que lhe desconhecemos, esse o tinha ele, como qualquer outro e do melhor. Faltava-lhe, porém, não lho sentimos ao menos, aquele não sei que íntimo e ingênuo, mais instintivo que raciocinado, sentimento da terra e da gente.

Ele não tem as idiossincrasias do país. Por isso Varnhagen não é de fato romântico, senão pela época literária em que viveu e colaborou; de todos os brasileiros seus contemporâneos no período inicial do Romantismo, é talvez o único que além de não ser indianista, isto é, de não ter nenhuma simpatia pelo índio como fator da nossa gente, ao contrário o menospreza, o deprime e até lhe aplaude a destruição. É também o único que altamente estima o português, lhe proclama a superioridade, oculta ou disfarça os defeitos do regime colonial e, propositadamente, lhe adota o pensamento e a língua. Só ele dos seus companheiros a escreveria vernaculamente, sem sequer o incoercível brasileirismo da posição dos pronomes, todos neles indefectivelmente postos à portuguesa. Mas a escreve apenas corretamente, de estudo e propósito, com esforço manifesto, sem espontaneidade, fluência ou elegância, nem os idiotismos por que o verdadeiro escritor revela a sua nacionalidade. Por tudo isto se não achou Varnhagen em simpatia com os seus confrades de geração, nem estes com ele. Enquanto por espírito de camaradagem e muito também de solidariedade na obra que juntos amorosamente faziam, eles se não regateavam mútuos encômios e acoroçoamentos freqüentemente desmerecidos e indiscretos, olvidavam a Varnhagen ou o tratavam como colaborador somenos.

Raramente se lhe acha o nome, e ainda assim parcamente elogiado, nos muitos escritos com que reciprocamente se sustentavam e à sua causa. Será porque não compreendessem a importância para esta da obra de erudição que ele fazia? Será porque a esses poetas, que todos sobretudo o eram, essa obra parecesse de pouco alcance literário e pouco gloriosa? No entanto quase todos eles faziam também história, mesmo literária. É verdade que a faziam de palpite, como poetas, sem investigação própria, sem acurado estudo, retórica e declamatoriamente, com a sua imaginação ou repetição do já feito pelos portugueses. Apenas Norberto, mas somente em parte da sua obra, escapa a este reproche.

O primeiro escrito considerável de Varnhagen, já da sólida erudição de que ele seria um dos raros exemplos nas nossas letras, foram as suas Reflexões críticas sobre a obra de Gabriel Soares, publicadas no tomo V da "Coleção de notícias para a história e geografia das nações ultramarinas" pela Academia Real das Ciências de Lisboa (1836). Começando a sua fecunda iniciativa da rebusca e publicação de monumentos interessantes para a nossa história geral, dá, em 1839, à luz, também em Lisboa, o Diário da navegação, de Pêro Lopes.

Em 1840 escreve no Panorama, o célebre órgão da renovação literária portuguesa, uma Crônica do descobrimento do Brasil, que seria o primeiro romance brasileiro se não fosse apenas uma dessaborida crônica romanceada sobre a carta de Caminha, cujo descobridor na Torre do Tombo foi Varnhagen. Sem falar em outros seus escritos de maior interesse português que brasileiro, dos anos imediatamente subseqüentes, enceta em 1845, com os Épicos brasileiros, nova edição prefaciada e anotada dos poemas de Santa Rita Durão e Basílio da Gama, as suas publicações diretamente relativas à nossa história literária, pouco depois prosseguidas com a do Florilégio da poesia brasileira ou coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros falecidos, contendo as biografias de muitos deles, tudo precedido de um "Ensaio Histórico sobre as Letras do Brasil".

Pelo rigoroso e acurado da sua investigação e estudo e dos seus resultados, pela novidade das suas notícias, pelo inédito e seguro da sua informação, pelo número e justeza de algumas de suas idéias gerais, pela largueza de sua vista, esta obra de Varnhagen lançava os fundamentos, e o futuro provou que definitivos, da história da nossa literatura. Não valem contra este conceito a precedência meramente cronológica de alguns tímidos e deficientíssimos ensaios de Cunha Barbosa, de Pereira da Silva, de Norberto, de Magalhães e outros, que apenas repetiram as conhecidas notícias dos bibliógrafos e memorialistas portugueses, sem lhe acrescentar nada de novo, e ainda errando o que já andava sabido. Neste investigar dos nossos primórdios literários, continuado na sua História geral do Brasil, onde em vários passos se ocupa da nossa evolução literária, e em papéis e memórias diversas publicadas em periódicos e revistas, descobriu, noticiou, editou e fez editar Varnhagem alguns preciosos escritos. Tais foram os Diálogos das grandezas do Brasil, de Gabriel Soares, a Narrativa epistolar, de Cardim, a Prosopopéia, de Bento Teixeira, a História do Brasil, de Fr. Vicente do Salvador, sem contar quantidade de espécies novas para a vida e obra de outros escritores do período colonial.

A obra capital de Varnhagen é, porém, a sua História do Brasil, que ele chamou de Geral por abranger nela todas as manifestações da nossa vida e atividade, ainda a literária e a artística. Publicada primeiro em 1857 e reeditada em 1872, é um livro de primeira ordem, se não pela sua estrutura, ainda assim não de todo defeituosa, pelo bem apurado dos fatos, riqueza e variedade das informações, harmonia do conjunto e exposição geralmente bem feita. Sem imaginação, sem qualidades estéticas de escritor, sem relevo ou elegância de estilo, Varnhagen escreve, todavia, decorosamente. Merece igual apreciação outra considerável obra sua, a História das lutas com os holandeses, publicada já fora do período romântico. Na nossa literatura histórica, as obras de Varnhagen são certamente o que temos de mais notável.

Tentou ele, como vimos, pela sua Crônica romanceada do Descobrimento do Brasil, as obras de imaginação ou de ficção. Carecendo de qualidades de imaginação e fantasia e de estilo, não lhe podia suceder bem. O seu Amador Bueno, "drama épico-histórico-americano" (Lisboa, 1847, Madri, 1858), com o seu Sumé, "lenda mito-religiosa-americana", e o seu Caramuru, romance histórico brasileiro, em redondilhas de seis sílabas, saído primeiro no Florilégio e depois em separado, apenas lhe documentam a incapacidade para essa espécie de literatura. É pela sua obra de historiador e de erudito que Varnhagen merece, e tem, um distinto lugar na história da nossa literatura, da qual foi o criador e permanece o alicerce ainda inabalado.

Varnhagen veio a falecer longe do Brasil, como sempre tinha vivido, em Viena d’Áustria, a 20 de junho de 1878. Sua esposa, chilena, leva o corpo para o Chile; no entanto, o desejo de Varnhagen era ser enterrado em sua pátria de “nascimento e opção”, mais especificamente em Sorocaba. Assim, por ocasião do centenário de sua morte, em 1978, a Fundação Ubaldino do Amaral – jornal Cruzeiro do Sul, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e Prefeitura Municipal realizam uma série de esforços para transladar os restos mortais do historiador para Sorocaba, cumprindo, dessa forma, a sua vontade final. Tal empreitada é coroada de êxito, como se pode ler no jornal Cruzeiro do Sul de 30 de junho de 1978: “Dentro das solenidades que Sorocaba vem realizando para marcar a passagem do Centenário da morte de Varnhagen, realizou-se ontem [29 de junho], às 9 horas, no Gabinete de Leitura Sorocabano, o lançamento de um carimbo filatélico alusivo à data. Em seguida, um carro do Corpo de Bombeiros, acompanhado de autoridades, transportou os restos mortais do historiador, que desde sua chegada do Chile encontravam-se expostos no Museu Histórico, para a nova Praça Francisco Adolfo de Varnhagen [em frente a UNISO, campus Trujillo], onde foram solenemente depositados num pedestal de granito, sobre o qual foi assentado o busto do historiador.”

Filosofia

A filosofia da História de Varnhagen é a comum filosofia espiritualista cristã do seu tempo, com o pensamento moral e político da sua educação portuguesa. É em história um providencialista, em política um homem de razão de Estado, da ordem, da autoridade e do fato consumado. Depois de narrar as depredações do corsário inglês Cavendish nas costas do Brasil, diz que veio a "falecer no mar, dentro de pouco tempo, provavelmente ralado pelos remorsos" (Hist. geral, I, 391). Os remorsos matarem um corsário do século XVI! Duguay-Trouin, regressando do seu assalto feliz ao Rio de Janeiro, "sofreu temporais que lhe derrotaram a esquadra, como se a Providência quisesse castigar os que os nossos haviam deixado impunes" (ibid. II, 816). Malogrou-se a revolução pernambucana de 1817. "Ainda assim desta vez (e não foi a última) o braço da Providência, afirma seriamente Varnhagen, bem que à custa de lamentáveis vítimas e sacrifícios, amparou o Brasil, provendo em favor da sua integridade" (ibid. 1150, II). Esta filosofia tem ao menos a vantagem de não ser presunçosa e de dispensar qualquer outra. Era aliás a do tempo, e dela se serviram aqui todos os historiadores sem exceção de João Lisboa, o mais alumiado de todos. Varnhagen, porém, com abuso, piorando o seu caso com o carrancismo da sua educação portuguesa se não de seu próprio temperamento literário.

Fontes:
VERISSIMO, José. História da Literatura Brasileira. in http://virtualbooks.terra.com.br/

ODÁLIA, Nilo. (Org.). Varnhagen. São Paulo: Ática, 1979. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 9); e FLEURY, Renato Sêneca. Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1978. in www.sorocaba.com.br/enciclopedia/

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Rodrigues de Abreu (1897 - 1927)

« 27 de setembro de 1897 - Capivari SP - † 24 de novembro de 1927 - Bauru - SP

Benedito Luis Rodrigues de Abreu nasceu na fazenda "Picadão".

Aos 7 anos passou a morar em Piracicaba, onde começou os estudos em "escola de sítio".

Aos 12 anos, foi para S. Paulo com a família, e morou no Brás, depois na Vila Buarque. Neste bairro passou a trabalhar em uma farmácia com entregas a domicílio, até ser internado no "Liceu Coração de Jesus", para aprender uma profissão.

Em 1918 voltou com a família para Capivari onde trabalhou na Caixa de Crédito Agrícola. O contato com a poesia aconteceu no colégio.

Abreu aprendeu métrica lendo Simões Dias e sua 1° composição, de acordo com amigos foi: "O Famélico". Para esta obra se inspirou no "Pedro Ivo" de Castro Alves.

As obras mais antigas do poeta capivariano foram descobertas pelo prof. Carlos Lopes de Mattos. Elas eram intituladas: "O Caminho do Exílio" e "A Virgem Maria", ambas publicadas na revista "Ave Maria", em 1916.

Em Capivari os poemas dele eram publicados nos jornais locais "Gazeta de Capivari" e "O Município".

O seu livro de estréia deveria ter sido "Folhas", que foi submetido à apreciação de Amadeu Amaral, que se referiu assim à obra: "Depois de Olavo Bilac e Martins Fontes, é o melhor livro de estréia que tenho visto". Contudo, devido a dificuldades de publicá-lo e levado pelo interesse de seu primeiro editor (Amadeu Castanho, redator da "Gazeta de Piracicaba") de publicar o que o jovem escritor desejasse, antes de "Folhas" surgiu "Noturnos", de junho de 1919, mas que tudo indica seja de junho de 1921.

Trabalhou com Amadeu Amaral em "A Cigarra", em S. Paulo, em 1921 onde participou da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1922 foi para Bauru.

Dois anos depois foi internado em Campos do Jordão (tuberculose). É nessa época que lança "A Sala dos Passos Perdidos" e passa a assinar "Rodrigues de Abreu" por sugestão de Amaral.

Em 1925 mudou-se para S. J. dos Campos, viveu até 1927. Surge então, "Casa destelhada". Em maio foi para Atibaia e retornou a Bauru onde feleceu, devido à doença. Alguns atribuem o agravamento da tuberculose ao rompimento do noivado.

CURIOSIDADE

Além de poeta, Abreu era orador talentoso, grande ator e desportista. Foi centro-avante do "Capivariano F.C.", para o qual compôs o hino oficial. Ele fundou o "Grêmio Literário e Recreativo de Capivari", grupo que encenou "Capivari em Camisola" (versos de Rodrigues de Abreu). Doente desde 1924, Abreu já confessara o desejo de "ser tuberculoso". Segundo ele, esse era o mal que geralmente acometia os grandes poetas do passado.

MOVIMENTO LITERÁRIO
Romantismo (terceira geração)/Modernismo (primeira geração)

Fonte:
http://www.artemery.net/Poesia_Biografias_RodriguesDeAbreu.htm

Rodrigues de Abreu (Poesia: Aos Poetas)

In Memoriam

Mentimos a nós mesmos, embuçados
nessas mágoas irreais em que vivemos.
Mas, somos, a fingir esses extremos,
os maiores dos homens torturados.

Carregamos as dores e os pecados
dos homens; e por eles nós ardemos
em esperanças e êxtases supremos,
com todos os sentidos exaltados.

Tristes de nós que vamos, nos caminhos,
chorando as almas das torturas presas,
pondo as alheias dores em canções...

Mas, sangrando a nossa alma nos espinhos,
fazendo nossas todas as tristezas,
alegramos os tristes corações.

Fonte:
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p00/p000801.htm

Rodrigues de Abreu (Poesia: Mar Desconhecido)

A Batista Pereira

Se eu tivesse tido saúde, rapazes,
não estaria aqui fazendo versos.
Já teria percorrido todo o mundo.
A estas horas, talvez os meus pés estivessem quebrando
o último bloco de gelo
da última ilha conhecida de um dos pólos.
Descobriria um mundo desconhecido,
para onde fossem os japoneses
que teimam em vir para o Brasil...
Porque em minha alma se concentrou
toda a ânsia aventureira
que semeou nos cinco oceanos deste mundo
buques de Espanha e naus de Portugal!
Rapazes, eu sou um marinheiro!

Por isso em dia vindouro, nevoento,
porque há de ser sempre de névoa esse dia supremo,
eu partirei numa galera frágil
pelo Mar Desconhecido.
Como em redor dos meus antepassados
que partiram de Sagres e de Palos,
o choro estalará em derredor de mim.

Será agudo e longo como um uivo,
o choro de minha tia e minha irmã.
Meu irmão chorará, castigando, entre as mãos, o pobre
rosto apavorado.
E até meu pai, esse homem triste e estranho,
que eu jamais compreendi, estará soluçando,
numa angústia quase igual à que lhe veio,
quando mamãe se foi numa tarde comprida...

Mas nos meus olhos brilhará uma chama inquieta.
Não pensem que será a febre.
Será o Sant Elmo que brilhou nos mastros altos
das naves tontas que se foram à Aventura.

Saltarei na galera apodrecida,
que me espera no meu porto de Sagres,
no mais áspero cais da vida.
Saltarei um pouco feliz, um pouco contente,
porque não ouvirei o choro de minha mãe.
O choro das mães é lento e cansado.
E é o único choro capaz de chumbar à terra firme
o mais ousado mareante.

Com um golpe rijo cortarei as amarras.
Entrarei, um sorriso nos lábios pálidos,
pelo imenso Mar Desconhecido.
Mas, rapazes, não gritarei JAMAIS!
não gritarei NUNCA! não gritarei ATÉ A OUTRA VIDA!
Porque eu posso muito bem voltar do Mar Desconhecido,
para contar a vocês as maravilhas de um país estranho.
Quero que vocês, à moda antiga, me bradem BOA VIAGEM!,
e tenham a certeza de que serei mais feliz.
Eu gritarei ATÉ BREVE!, e me sumirei na névoa espessa,
fazendo um gesto carinhoso de despedida.

Fonte:
http://www.revista.agulha.nom.br/roa01.html

Débora Bellentani de Oliveira

Cadeira numero 21 (Rodrigues de Abreu) da Academia Sorocabana de Letras.
Publicitária, jornalista, licenciada em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Sorocaba, Pós-Graduada em Propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, Pós-Graduada em Administração de Marketing pela UNISO - Universidade de Sorocaba. Vencedora de vários concursos literários, participante em 8 livros de antologia, 3 deles pela Universidade de São Francisco (dois poemas em um deles - ed.1988), artigos e poemas publicados nos jornais Diário de Sorocaba e Cruzeiro do Sul. Publicitária há 21 anos, atualmente trabalhando na agência NucleoTCM. Filha de Aldo Bellentani e Lázara Clarinda Bellentani. Nascida em Sorocaba. Casada e mãe de três filhos.

Curriculum Literário:

Primeiro poema aos 10 anos. Não publicado, mas guardado com carinho num velho caderno, manuscrito - passado a limpo, é claro!

Poemas infantis, na antologia LiraGIEPVense do Ginásio Industrial Estadual Presidente Vargas, em Mogi das Cruzes, numa iniciativa do prof. José Veiga (in memoriam) da disciplina Língua Portuguesa, meu grande incentivador. Título dos poemas: PALAVRA SANTA: MÃE! e CRIANÇA. Outubro/1971.

Primeira experiência em prosa (não muito feliz) COLETÂNEA MOGIANA/73, com o texto REVOLTA - Coord. Prof. José Veiga - Mogi das Cruzes - 1973

Poema adolescente, na antologia RESENHA LITERÁRIA 1 - JUVENTUDE NAS LETRAS, iniciativa do Centro Mello Freire de Cultura, Mogi das Cruzes, sob o comando do prof. José Veiga. Título do Poema: A CHUVA - 1976.

1986 - Classificação em 2º lugar no concurso de poesias da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Sorocaba, com o poema MEU POVO.

Primeira publicação em coletânea, pela Crisalis Editora, edição cooperada, em 1987, com o poema PROCURA-SE.

Primeira premiação pela Universidade de São Francisco, com dois poemas classificados e publicados na ANTOLOGIA POESIA 1988, sob os títulos: ARTESÃO e BÊBADO.

1987 - Lançamento do meu livro de poesias LUA DE PAPEL, com o patrocínio das Indústrias Têxteis Barbero.

Classificação em 2º lugar no evento POETAS BRASILEIROS HOMENAGEIAM FERNANDO PESSOA, na Casa de Portugal em São Paulo (3 poemas participantes).

Classificação em 4º lugar na 1ª Bienal do Livro de Sorocaba.

1996 - Segunda premiação pela Universidade de São Francisco, com um poema classificado na ANTOLOGIA 96 - "INSENSIBILIDADE: UMA AMEÁÇA À VIDA", sob o título; REENCONTRO.

1997 - Terceira premiação pela Universidade de São Francisco, com um poema classificado na ANTOLOGIA 97 - "PENSAR EM ARTE E A ARTE NO PENSAR", sob o título TROCA.

1998 - Primeira experiência em texto, conto, em pré-seleção e classificação em antologia de contos - sistema de cooperativa, realizada pela Associação dos Escritores de Bragança Paulista, no IV Concurso de Contos - Prêmio Maria Augusta Vasconcellos Diniz, coletânea intitulada "AH! COMO EU ME LEMBRO..." cujo conto tem o mesmo título da obra.

Inúmeros poemas publicados nos jornais Cruzeiro do Sul, Diário de Sorocaba; reflexões publicadas em anúncios e panfletos do Colégio Universitário, inclusive usados em segmentos da Capital.

2001 - Livro MAX, romance, lançado em 31 de março.

2001 - Livro FERNANDO STECCA FILHO, O PEREGRINO DAS ESTRELAS, publicado em novembro.

2002 - Livro O SOL DA MANHÃ DE ONTEM não aprovado pela LINC - Lei de Incentivo Cultural da PM Sorocaba, já registrado na Biblioteca Nacional.

2002 - Participante da PRIMEIRA BIENAL DO LIVRO SOROCABANO, como escritora de obra publicada.

2006 - Poema QUANDO VIER ME VISITAR diagramado em formato de livro-foto, não publicado

Livro didático MAS SERÁ O BONIFÁCIO, também não aprovado pela Linc.

2007 - Livro de poesias TODAS AS HORAS, registrado na Biblioteca Nacional e não publicado.

Inúmeros poemas na gaveta e os livros UM CONTO - VÁRIOS POEMAS, COISAS DE MULHER, escondidinhos nas minhas intenções de publicá-los um dia.

Blog na Internet denominado ESCRITORA CAIPIRA – UM DEDO DE PROSA, na página http://dbellentani.blog.uol.com.br/

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/deb_b/biografia.htm

Débora Bellentani (Cronica: Um dia quase de domingo)

Estou com o coração apertado.
Precisei tomar uma decisão.
Foi um impulso.
Um gesto desesperado de quem já tentou de tudo e, sem encontrar respostas, acabou se cansando, desistindo.
Às vezes, é preciso dar asas ao pássaro para que ele voe, conheça novos horizontes, sinta-se livre.
Mesmo que fiquemos assim, na solidão da nossa gaiola, chorando todas as lágrimas que podemos – e até as que não temos – olhando o horizonte sem ver mais nada.
Não haverá retornos. Nem novas manhãs. Nem surpresas. Nem esperanças.
Não haverá mais a melodia silenciosa, o canto exclusivo, o verso próprio, a rima sem comparação.
Às vezes, a partida deu-se há tanto tempo: só não se tinha notado.
Nem sempre a presença física significa estar junto da gente. De repente, reina o silêncio, falta assunto, as piadas não têm a mesma graça... A distância fica mais presente do que nunca, o telefone não toca... O inesperado não acontece mais...
Quando vemos, temos apenas o que “gostaríamos de ter tido”. Não há mais nada do que projeções que se apagaram ao final da exibição. Esse é o pior momento: perceber que o filme acabou e não tem replay!
Não dá para ver de novo, e de novo, e de novo. Mesmo nas nossas lembranças, o filme se atenua e acaba. Logo, os rostos não têm definição, as cores se apagam, o som emudece. E, quanto mais procuramos, desesperadamente, em nós, cada imagem, mais elas se esvaecem... Fica a voz... Fica a canção... Como era mesmo o nome da canção? O que dizia mesmo a letra? “...Eu gosto tanto de você/Que até prefiro esconder/Deixo assim ficar subentendido/Como uma idéia que existe na cabeça/E não tem a menor obrigação de acontecer...” E aí acontece. E do mesmo jeito que acontece, perde-se no ar, evapora-se. Fica entre os obstáculos. O que podia ser administrado acaba abandonado, descartado. Mas nada é por mal. Nada é por acaso. As coisas são o que são. Ninguém tem culpa.
A vida é assim: um dia após o outro, sem que tenhamos a mínima idéia do que acontecerá amanhã. Os planos não são nossos: são de Deus. Ele nos coloca em todas as situações e nos mostra, através delas e por meio delas, o sentido de estarmos aqui. Ainda bem que sempre são bons os motivos. Pelo menos os meus.
Fiz o que tinha que ser feito. Esta era uma luta diária dentro de mim... Mesmo porque era algo tão antigo, tão passado, tão distante. Só que ficava cutucando, mexendo, indagando. Parecia uma voz na minha cabeça a me cobrar respostas. Respostas que eu não tinha.
Ao abrir meu coração e soltar o pássaro preso em mim, estou me dando a chance de recomeçar. De reconstruir. Confesso que gostaria de terminar a minha construção com os velhos tijolos... Mas sei que não será assim. Há no mínimo um milhão de razões para não ser. Mesmo que fosse possível. Porque o que está feito, está feito. Não se destrói o que é perfeito.
Da minha janela, vejo o céu. Daqui a pouco, um enorme avião passa sobre minha casa. Meu pensamento voa com ele. Para as nuvens. Nuvens que fazem desenhos de algodão na despedida. A escritora caipira, de certa forma, deixa de existir. Não faz mais sentido.

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/deb_b/domingo.htm

Roland Barthes (1915 - 1980)


Roland Barthes (Cherbourg, 12 de Novembro de 1915 — Paris, 26 de Março de 1980)
escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês.
Canhoto num mundo de destros, protestante num país católico como a França e órfão de pai - um oficial de marinha falecido na primeira guerra ­ foi sustentado pela mãe que trabalhava como encadernadora de livros.

Expatriado nos anos 50, seguiu firme na contramão da sociedade conservadora assumindo abertamente sua homossexualidade. Assim foi Roland Barthes - escritor, semiólogo, pensador, crítico literário - nascido em Cherbourg, Normandia, em 2/11/1915.

Com a morte do Comandante Barthes, Henriette e o filho mudaram-se para Bayonne e, em seguida, para Paris onde Roland se formou na Sorbonne (1939) em literatura clássica, gramática e filologia.

Ao mesmo tempo em que estudava linguística e lexologia, Barthes participou do grupo "Defesa Republicana Anti-Fascista", reagindo aos movimentos de extrema direita que sacudiam a Europa.

A alma voa

A luta contra uma tuberculose renitente o obrigou entre 1934 a 1947, a ser internado em diversos sanatórios. Enquanto tinha que manter o corpo em repouso, a alma voava: lia as obras de Marx e produzia artigos para o "Combat" - importante jornal esquerdista na época da resistência aos nazistas. A partir de 1948, trabalhou como professor convidado e bibilotecário na Universidade de Bucarest (Romenia) e foi conselheiro literário na Universidade de Alexandria (Egito).

De 1952 a 1959, foi pesquisador de lexicologia e sociologia do Centre National de la Récherche Scientifique em Paris, participando do lançamento de revistas como "Argumentos" e "Quinzena Literária".

Fez parte da escola estruturalista, influenciado pelo lingüista Ferdinand de Saussure e Bloomfield animou o movimento da Nova Crítica e fundou a revista "Teatro Popular".

Reconhecimento oficial

Dificuldades materiais e questões de saúde o fizeram perder o exame agrégation, que o direcionaria às carreiras ditas "ortodoxas". No entanto, aos 44 anos, foi indicado - graças ao conjunto de sua obra - para ocupar um posto na École Pratique des Hautes Études. Aos sessenta, já consagrado mundialmente por mudar a forma de ver e entender os significados e significantes, passou a ensinar no prestigioso Collège de France.

Para Barthes, o significado seria a representação psíquica de uma "coisa" e não a "coisa" em si. O significado de uma imagem é sua representação gráfica. O significante materializaria a figura do significado (a figura propriamente dita) com seu significado segmentado e entendido de várias formas, segundo as diferenças culturais de cada leitor ou observador.

Publicou obras em linguagem acessível ao grande público, o que contribuiu para que suas idéias vanguardistas fossem divulgadas além da comunidade acadêmica, por exemplo: Mitologias, Ensaios Críticos, Roland Barthes por Roland Barthes (autobiografia irônica).

Foi figura de referência em semiologia, estruturalismo e crítica literária e é considerado por alguns estudiosos, baseados na vasta bibliografia sobre o assunto, um pensador e teórico do que se chama hoje "cultura gay".

Em 1976, criou a cadeira de Semiologia Literária no Collège de France. Suas aulas e conferências eram freqüentadas por um público sempre perplexo e extasiado.

A Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais"), é a ciência geral dos signos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da idéia. Em oposição à lingüística, que se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico - artes visuais, música, fotografia, cinema, culinária, vestuário, gestos, religião, ciência, etc.

Arquiintelectual

A gama dos temas abordados pelo semiólogo era imensa: moda, o império dos signos (título de um livro), música, fotografia, mitologia, diversões, cinema, arte em geral e arte japonesa em particular, culinária, discurso amoroso (outro título de livro, no qual Barthes explica o que deve ser dito e quando, para incrementar um relacionamento amoroso), imagens visuais, literatura, teatro, as mensagens da propaganda e a força do marketing.

Pintor, músico, erudito, professor, escritor, teórico social, crítico e amante da vida, chocou a burguesia francesa, abordando de seu ponto de vista privilegiado, a política, a sociologia e a teoria literária. Barthes usou a análise semiótica em revistas e propagandas, destacando seu conteúdo político.

Dividia o processo de significação em dois momentos: denotativo e conotativo. Resumida e essencialmente, o primeiro tratava da percepção simples, superficial; e o segundo continha as mitologias, como chamava os sistemas de códigos que nos são transmitidos e são adotados como padrões. Segundo ele, esses conjuntos ideológicos eram às vezes absorvidos despercebidamente, o que possibilitava e tornava viável o uso de veículos de comunicação para a persuasão.

De acordo com seus textos autobiográficos percebe-se, muito discretamente, que teve uma vida amorosa infeliz.

Morte na Rue des Écoles

Henriette, mãe e companheira de toda vida, morreu em 25/10/1977 e Barthes sentiu, do ponto de vista de homem gay, a perda de uma permanente fonte feminina de amor. Barthes dizia que, sem a mãe, parecia "ter perdido a alma".

O interesse de Barthes pela fotografia passa pelo parodoxo de possuir uma prova material do objeto para sempre perdido (a presença da mãe, no caso). Jacques Derrida, filósofo recentemente falecido, comentando esta obra disse que se trata de "uma forma de vigília e de encarar a morte jamais capturada em toda a história da literatura"

Ao sair de uma aula em 25/2/1980, foi atropelado por um carro de entregas de uma lavanderia, nas Rue des Écoles, em frente ao Collège de France.
Em 6 de março, nove dias depois, morreu em conseqüência dos ferimentos e lesões.

Entre seus vários livros podemos citar O grau zero da escrita (1953), Mitologias (1957), Elementos de semiologia (1964), Crítica e verdade (1966), O prazer do texto (1973), Fragmentos de um discurso amoroso (1977) e A câmara clara (1980).

Fontes:
PIRES, Thereza. Roland Barthes Hoje. 26/11/2004. Disponível em
http://mixbrasil.uol.com.br/cultura/biografias/bio5/bio5.asp

http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/barthes.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Roland_Barthes

Roland Barthes (Livro: Aula)

Roland Barthes, em seu livro Aula - produto de sua aula inaugural no Collége de France, pronunciada no dia 07 de janeiro de 1977 - afirma que a linguagem é o objeto em que se inscreve o poder. Todavia, a luta contra o estereótipo e seu reino é a tática mais segura para evitar que o discurso se enraíze nas tentações do autoritarismo. Todo o discurso, desde os proferidos pela escola, ou pelo Estado, na forma de suas várias instituições, até mesmo o que constitui as opiniões correntes, ou mesmo uma canção, encarrega-se de repetir a linguagem até o momento em que os sentidos das palavras nos pareçam naturais, como se a linguagem existisse antes mesmo do surgimento das sociedades e de suas construções de poder. É a palavra repetida, fora de qualquer encantamento ou magia, que Barthes chama de estereótipo: Os signos só existem na medida em que são reconhecidos. O signo é um seguidor gregário; em cada signo dorme esse monstro: o estereótipo (p. 15). A aula, a meu ver, é a demonstração da tentativa de subversão do discurso. É um convite ao jogo. Que jogo? Ora da caça, ora da fuga do estereótipo, ora das trapaças do narrador.

O semiólogo francês, ironicamente, inicia seu discurso, fazendo certas inferências em relação a como o Collége de France, o recebe sendo ele um sujeito incerto, pois na produção de seus trabalhos, a escritura rivaliza com a análise. Assim, questiona sua acolhida na ordem das instituições que é uma das últimas astúcias da história. O questionamento é em relação à honra, uma vez que essa é, subtração, parte intocada dentro do lugar onde ele trabalhará; e m relação às alegrias, tanto de reencontrar a lembrança ou a presença de autores que ensinaram e/ou ensinam nessa instituição, como de entrar em um lugar que pode ser dito rigorosamente: fora do poder.

Percebe-se que há uma certa ironia sobre onde se instaura o poder e, já que, a partir desse discurso, ele será professor nessa instituição, o seu dever não é sujeitar-se a um saber dirigido, porém, indagar sob que condições e segundo operações o discurso pode despojar-se de todo o desejo de agarrar (p.10). Na visão de Barthes, esse objeto em que se inscreve o poder, desde toda a eternidade humana, é a linguagem ou, para ser mais preciso, sua expressão obrigatória: a língua (p.12).Nesse ponto, o discurso é colocado como um desafio ao leitor (ou seria a um efeito leitor?), pois, apresenta uma forma tanto de servidão, quanto de poder. Isso se dá porque a linguagem implica uma relação de alienação.

Na concepção barthesiana falar é, com maior razão, discorrer, não é comunicar; é sujeitar: toda língua é uma reição generalizada (p.13). Então, penso eu, pobre mortal, como sobreviver a isso? Barthes indica um caminho: esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução, eu chamo, quanto a mim; literatura (p.16). Parece-nos, assim, que a liberdade humana só é possível fora da linguagem. No entanto, só existimos dentro dela, uma vez que não há separação entre homem e linguagem. Estudar a linguagem fora do humano é, explicitamente, destituir o sujeito da linguagem e vice-versa. Estaríamos desse modo, condenados à prisão perpétua, nessa rede de poder que constitui os discursos de saber? Essas vontades de verdade que há muito se perfilam e são formuladas, reformuladas e reempregadas no caminhar humano? E aqui entra, creio eu, a idéia barthesiana de trapaça, de logro magnífico com a língua. Não podemos destruí-la, nem viver em seu exterior, contudo, podemos desviá-la de seus sentidos articulados, estereotipados, destituindo, dessa maneira, os mecanismos de poder perpassados nos interstícios sígnicos, ou para ir mais longe ainda, nos vários conjuntos de enunciados.

Barthes nos leva a refletir sobre as forças de liberdade que existem na literatura a prática da escrita. Essas forças são articuladas sobre três conceitos gregos: mathesis, mimesis e semiosis. A primeira força corresponde à força dos saberes, visto que todas as ciências estão presentes no monumento literário. E nesse sentido, a literatura é o próprio fulgor do real. Ela faz girar os saberes não fixa, não fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso. Mas Barthes nos mostra os dois lados dessa força: a) a permissividade para designar saberes possíveis insuspeitos, irrealizados; b) o saber que mobiliza nunca é inteiro nem derradeiro.

A segunda força da literatura é sua força de representação. É, justamente, por querer representá-la que há uma história da literatura. Entretanto, o real pode ser apenas uma espécie de demonstração, e é por que há o real (pluridimensional) e a linguagem (unidemensional) que se produz a literatura. Barthes afirma: desde os tempos antigos até as tentativas da vanguarda, a literatura se afaina da representação de uma coisa. O quê? Direi brutalmente: o real (p.22). Ora, podemos fugir dessa história da literatura? Se rompermos com o elo entre o real e a linguagem. É possível? Talvez, através de existentes-não-reais somente existentes nas tentativas virtuais, na pluralidade de (im)possíveis olhares.

A terceira força da literatura é a que fora indagada acima; é um método de jogo. Teimar e deslocar-se, isto é, instituir no próprio seio da linguagem servil uma verdadeira heteronímia. Nessa perspectiva, surge a semiologia objetivando estudar a linguagem trabalhada pelo poder. Daí deslocou-se, coloriu-se. Este deslocamento se fez porque a sociedade intelectual mudou, quanto mais não fosse pela ruptura de maio de 68. Por outro lado, o próprio poder como categoria discursiva, se dividia, se estendia como uma água que escorre por toda parte... (p.34).

Uma reflexão torna-se necessária sobre a força de fugir da palavra gregária através do texto lugares, em que, a escritura e a semiologia se conjugam e se corrigem uma à outra. Fugir da palavra gregária não por que a semiologia negue o signo (apofática), mas porque nega que seja possível atribuir lhes caracteres positivos. fixos, a-históricos, a-corpóreos, em suma: científicos (p.36).

Segundo o pensador, esse apofatismo acarreta duas conseqüências que interessam, diretamente, ao ensino da semiologia: a) não pode ser uma metalinguagem; toda relação de exterioridade de uma linguagem com respeito a outra é insustentável. O que sou obrigado a assumir falando dos signos com signos é o próprio espetáculo dessa bizarra coincidência (p.37); b) ter uma relação com a ciência, mas não é uma disciplina. Mas, que relação? uma relação ancilar: ela pode ajudar certas ciências.

Ao fundamentar-se na Semiologia, Barthes abre, a meu ver, caminhos para libertar a linguagem para o prazer do texto e renova, desse modo, a maneira de manter um discurso sem o impor; pois o que pode ser opressivo em um ensino não é o saber ou a cultura que ele veicula, são as formas discursivas através das quais ele é proposto (p.43). Entendendo-se que para uma mesma formação ideológica há diferentes formas enunciativas, pois o enunciado pode ser repetido em situações estritas, a enunciação jamais; o que permite ao enunciador se deslocar de acordo com o seu(s) interlocutor(es), isto é, o discurso pode ser o mesmo, porem, sua forma enunciativa é diferente.

Desse modo, o autor desloca as palavras, desfocaliza significantes de significados, desnivela a enunciação estabelece um jogo marginaliza um assunto e enfatiza outro. É nesse domínio do léxico que ele age. É, ao mesmo tempo, polido, modesto e irônico. A sua prática de escrever se ritualiza não em uma comunicação imediata, o que justifica as várias vírgulas, dois pontos, hífens, paralelismos gramatical, etc. Porém, o discurso em Barthes se constitui, me é crível, na recusa de um modelo pragmático e, assim, trapaceia coma língua, fazendo do texto a Aula uma demonstração de como jogar com os signos lingüísticos. Ao mesmo tempo em que fala da semiosis, a usa como exemplo do que afirma, reafirma, teima, desloca-se e, até joga com a possibilidade de abjurar. E, essa competência, me faz vê-lo como uma espécie de singularidade mística enquanto discurso, é claro.

Fonte:
BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1988.
artigo por Eliomar Rodrigues-Rocha, publicado em 23/04/2007 em
http://www.webartigos.com/
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Sobre o autor do artigo
Eliomar Rodrigues-Rocha
Graduado em Letras/português pela UNESP e em Língua Inglesa pela Universidade Federal de Rondônia. Mestrando em Letras:Linguagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre.

Língua Inglesa: Origem e Formação (Resenha Temática)

A língua só existe a título de sistema de construção para enunciados possíveis; mas por outro lado, ela só existe a título de descrição obtida a partir de um conjunto de enunciados reais.

Michel Foucault – A arqueologia do saber

1 Introdução

Neste trabalho abordarei dois aspectos relevantes na História da Língua Inglesa: a origem dos primeiros povos na região conhecida hoje como Inglaterra e a influência que sofreram na formação da língua falada naquele país. Tenho em mente o objetivo de esclarecer tanto para mim, quanto para demais profissionais da área e toda comunidade estudantil, o porquê da presença de muitas palavras de origem inglesa no léxico da língua brasileira, uma vez que somos interpelados, seja por alunos ou curiosos, sobre essa questão. Consciente dessa necessidade busco, então, uma maior clareza para tais indagações. Para tanto, alinhavarei alguns pontos entre os vários povos que circularam naquela região da época de invasões: que língua, dialeto ou expressão usavam? O que predominou após sua circulação para outras regiões? Que convenções lingüísticas foram feitas pelos nativos nos aspectos fonológicos, sintáticos ou semânticos? Que relevância social, religiosa, econômica e política tinha determinado uso lingüístico?

De acordo com Crane, Yeager e Whitmam, na obra An Introduction to Linguistics, a História da Inglaterra se inicia com os celtas que se originaram, presumivelmente, de populações que já habitavam a Europa na Idade do Bronze (700 a.C) e as regiões hoje conhecidas como Espanha, França, Alemanha e Inglaterra. O idioma celta chegou a ser o principal grupo de línguas na Europa e espalhou-se em direção ao norte e sul, prova disso são os nomes de algumas tribos celtas que sobrevivem em Belgi – Belgium, Gaul – Gallic, Welsh – Wales etc..

Diferentes grupos celtas invadiram e colonizaram a Irlanda e a Bretanha durante um longo período surgindo, assim, o celta falado na Irlanda e Espanha, porém com a invasão romana em 55 e 54 a. C novas mudanças acontecem na língua, pois após três séculos e meio de presença romana na região não é estranho, que ocorra uma profunda influência nas estruturas econômica, política e social das tribos celtas que habitavam a Grã-Bretanha. Nesse contexto, algumas palavras e expressões passaram a ser usadas para muitos dos novos conceitos, como diz Baugh, “where the Romans lived and ruled there Romans ways were found ” (1981, p. 45). Por volta de 410 a.C, as legiões romanas abandonam a região e os habitantes celtas ficam a mercê de inimigos. Necessitando de proteção, os celtas recorrem às tribos germânicas (Jutes, Saxons e Frisians), mas estas se aproveitam da oportunidade e se estabelecem nas áreas mais férteis do sudeste da Grã-Bretanha, destruindo vilas e massacrando a população local. Modificando também, hábitos, costumes e tradições, refletindo seu domínio, principalmente no aspecto lingüístico, haja vista que quando comunidades diferentes se misturam durante um longo espaço de tempo a tendência é se estabelecer o que os sociolingüísticos denominam de conflito lingüísticos. Nesse circular, o dominador impõe suas regras, seus valores, porque de acordo com Michel Foucault toda classe que aspira a dominação deve conquistar primeiro o poder político, para depois apresentar seu interesse como interesse geral. E, sabemos que isso é somente possível através da língua.
Dessa maneira, os diversos dialetos germânicos falados pelos Anglo-Saxões é que vão dar origem ao Inglês. Podemos, a partir desse evento, dividir a História da Língua Inglesa em três grandes períodos: Old English, Middle e Modern English. Vale ressaltar que essa divisão está, convencionalmente, ligada aos aspectos históricos lingüísticos e não a marcos históricos, denominados documentos/monumentos por Foucault.

2 Old English

Por volta do século V em diante, as terras da Inglaterra foram invadidas por tribos germânicas – Anglo-Saxões e Jutes. O dialeto anglo-saxão incorpora-se aos demais em uma espécie de domínio e o vocabulário inglês vai sendo grandemente influenciados ao longo do tempo. Com a introdução do cristianismo ocorreu a primeira onda de palavras do latim e do grego para a língua inglesa. Mais tarde fora influenciada pelos invasores escandinavos que falavam o Old Norse, que provavelmente, assemelhava-se ao dialeto falado pelos povos anglo-saxões. Vários desenvolvimentos internos dentro do Old English reduziram o papel de inflexões por algum tempo e o contato com o Old Norse acelerou esse processo, especialmente, nos dialetos falados no norte daquela região. O período Old English terminou com a invasão dos Normandos, quando a língua foi influenciada por um número maior de falantes que usavam o Norman dialect. Essa conquista foi de tamanha relevância, pois novas palavras incorporaram-se à língua falada pelas pessoas comuns, isto é, por servos e escravos. Mais tarde, muitos dos novos termos passaram a ser usados na corte e no militarismo adquirindo, portanto, um elevado status social.

O Old English não era uma língua uniforme, pois era preservada por inscrições runics nas traduções bíblicas complexas e fragmentos diversos. Em geral, a diferença entre o Old e o Modern English está na forma escrita, na pronúncia, no vocabulário e na gramática. De acordo com Baugh (1981), qualquer pessoa que não tenha uma especialização voltada ao Old English é incapaz de compreender qualquer texto da época. Por exemplo, a palavra stãn corresponde a stone no inglês atual. No entanto, a maior diferença entre esses dois períodos está na gramática, especificamente, no campo sintático e no campo analítico. O período ora em questão, finda com a batalha de Hastings, em 1066, onde o rei William – o conquistador – derrotou o exército dos anglos – saxões e impôs suas leis seu sistema de governo e sua língua – a francesa. A partir desse evento se estabelece o segundo o período – o Middle English.

3 Middle English

Quando pensamos no Middle English nos vêm à mente imagens de castelos com altas torres, rodeadas por uma grande muralha, isso porque os castelos são características do sistema social normando conhecido como feudalismo. Entretanto, o elemento mais importante desse período foi, sem dúvida, a presença e influência da língua francesa no inglês. Essa verdadeira transfusão de cultura franco-normanda na nação anglo-saxônica, que durou três séculos, resultou principalmente, num aporte considerável de vocabulário – nada mais. Isso demonstra que, por mais forte que possa ser a influência de uma língua sobre outra, essa influência, normalmente, não vai além de um enriquecimento de vocabulário, dificilmente afetando a pronúncia ou estrutura gramatical.

O passar dos séculos e as disputas que acabaram ocorrendo entre os normandos das ilhas britânicas e os habitantes do continente, provocam o surgimento de um sentimento nacionalista e, pelo final do século XV o inglês já havia prevalecido. Até mesmo como linguagem escrita, o inglês já havia substituído o francês e o latim como língua oficial pra documentos. Muito vocabulário novo foi incorporado com a introdução de novos conceitos administrativos, políticos e sociais, para os quais não havia equivalentes em inglês. Em alguns casos, entretanto, já existiam palavras de origem germânica, as quais, ou acabaram desaparecendo, ou passaram a coexistir com as equivalentes de origem francesa, em principio como sinônimos, mas com o tempo adquirindo conotações diferentes. Podemos demonstrar tal asserção, com palavras como: answer – respond, shut – close, kingly – royal, help – aid, folk – people, look – search etc… Além da influência do francês sobre seu vocabulário, o Middle English se caracterizou, também, pela gradual perda de declinações, pela neutralização e perda de vogais atônicas em final de palavra e pelo início da Great Vowel Shift, que se caracteriza pela acentuada mudança na pronúncia das vogais do inglês, inclusive os ditongos sofreram alterações e certas consoantes deixaram de ser pronunciadas. Esse período traz uma onda de inovações no inglês a qual foi denominada Modern English.

4 Modern English

O Modern English se estende do século XVI à atualidade. Na primeira parte desse período aconteceu uma revolução complexa da fonologia do inglês. Enquanto o Middle English se caracterizou por uma acentuada diversidade de dialetos, o Modern English representa um período de padronização e unificação da língua, porém, sem uma pronúncia única ou uniforme, pois os sons variam de lugar para lugar e de grupo social para grupo social. Essas mudanças continuaram durante o período representado numa típica fonologia do inglês moderno. Mas, se as mudanças ocorridas na pronúncia não foram acompanhadas de reformas ortográficas isso, revela-se em um caráter conservador da cultura inglesa.

Outro ponto significativo é o uso da acentuação com o advento da imprensa com influência direta do Latim e Grego. Mais tarde, em contato com outras culturas e dialetos, a língua inglesa se desenvolve em muitas áreas onde os ingleses haviam colonizado, fazendo assim, pequenas, mas interessantes contribuições para o vocabulário do inglês, como por exemplo, os nomes dos dias da semana no inglês moderno que vieram dos nomes dos principais deuses anglo-saxões: Thursday (dia de Thor – o deus do trovão), Friday (dia de Frey – deusa da fertilidade). Esse nome vem da palavra escandinava Frigedaeg, conforme a revista Aquarius, 1995; e Sunday (o dia do deus sol) e assim, sucessivamente. Como registra a História, os Caldeus e os Egípcios, muitos séculos antes de Cristo, já dividiam a semana em sete dias. Os antigos romanos, no tempo do imperador Augusto (63 a. C – d.C 14), usavam o termo “settimana” para designar a semana com sete dias.

É significativo observar que o Modern English se inicia com a Renascença, período de reformas, descobertas, exploração, etc.; Nesse período, os pensadores e artistas, voltaram aos Clássicos e com eles muitas palavras latinas e gregas foram adotadas e muitos desses termos “inkhorn” sobrevivem ainda nos dias atuais.

5 Conclusão

Após uma imersão nos três períodos da Histórico-cultural da Língua Inglesa e analisando os aspectos, fonológico, sintático e semântico, bem como suas relevâncias no campo social, cultural, político e econômico, concluímos que a língua é o instrumento através do qual o indivíduo alcança o seu objetivo maior: a dominação, seja ela através da sedução, da intimidação ou da imposição. Este último, logicamente, predominando sobre os outros dois. É importante que percebamos a necessidade do conhecimento lingüístico para que ocorra a colonização, pois de acordo com Bakhtin (1997, p. 67), “somente através da experiência vivida é que se adquire a competência para determinados usos da língua”, isto é, no fazer do dia-a-dia é que nos construímos e somos construídos. Nas palavras de Foucault (2002, p. 96), “a língua só existe a título de sistema de construção para enunciados possíveis; mas por outro lado, ela só existe a título de descrição obtida a partir de um conjunto de enunciados reais”. Assim, podemos compreender que um enunciado pode ser feito de signos e ainda, esses signos regem o enunciado, como diz Foucault, “os signos que constituem seus elementos são formas que se impõem e que os regem do interior” (2002, p. 96).

Com Foucault (1969, p. 22), concebemos o discurso como uma dispersão, isto é, como sendo formados por elementos que não estão ligados por nenhum princípio de unidade. Isso foi clarificado no trabalho ora elaborado. Podemos visualizar, de forma clara, que as palavras utilizadas pelos falantes, sejam da língua inglesa ou não, têm um ponto em comum: o objeto, o signo lingüístico, que existe, coexiste e se transforma num espaço comum discursivo. Ora servindo ao falante ora assujeitando-o, como nos ensina Roland Barthes em Aula que “os signos só existem na medida em que são reconhecidos. O signo é um seguidor gregário; em cada signo dorme esse monstro: o estereótipo” (p. 15). O convite está feito, trapaceemos com os signos, porque somente assim, poderemos nos libertar dessa trama. Será isso possível? É preciso, como ensinou Foucault, que a soberana do significante seja suspensa.

Aos estudantes e profissionais da área esclarecemos que uma língua tanto serve como suporte para um ensino libertário quanto pressivo. Assim, às questões sobre esse ou aquele determinado uso de alguns signos, estamos convencidos de que sempre existe um segundo nó a ser desatado, pois, como diz Barthes, em cada signo dorme um monstro. È preciso, conforme já assinalamos, que tomemos consciência dessa forma de apresentação signica e lutemos contr\ qualquer tupoi de estereótipo e contra toda e qualquer forma de invasão, usurpação e colonização. Libertemos, antes de tudo, nossas mentes.

Fontes
Eliomar Rodrigues-Rocha
http://www.webartigos.com/

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Douglas Rafael Ferreira (Poesia: Espantos na Ribeira)


Poeta de Itu venceu concurso CERES de poesia

O poeta Douglas Rafael Ferreira, de 19 anos, foi o vencedor do 2º Concurso Ceres de Literatura, que neste ano contemplou o gênero poesia. A premiação foi feita pela Casa do Escritor da Região de Sorocaba (CERES) na sexta-feira, dia 24 de novembro, no Salão Vermelho da Universidade de Sorocaba. Setenta e sete poemas de 47 participantes concorreram ao prêmio.

Douglas nasceu em Mairinque, mas vive em Itu há 12 anos. Ele concluiu o curso Médio e atualmente cumpre o serviço militar. Escreve somente há três anos, mas é apaixonado pela cultura regional: canta no Coral Vozes de Itu e tem interesse nos estudos de lendas, crendices e costumes do interior paulista. Seu sonho é cursar Letras e História em nível superior. O poema "Espantos na Ribeira", com o qual venceu o concurso, é uma demonstração de seu gosto por essa temática.

Douglas recebeu como prêmio o troféu ouro, confeccionado pela artista plástica Ana Duarte, doze meses de gratuidade como associado da CERES, livros e um diploma de reconhecimento por seus méritos.

O troféu prata foi conquistado pela poetisa Tânia Maria Orsi, de Sorocaba, com o trabalho “Paredes de Loucura”, e o bronze, pela escritora Aparecida Mariano de Barros, de Jundiaí, com o poema “Milho Ralado”.


"Espantos na Ribeira"

Numa perna só,
sacizavam toscamente
espantalhos na ribeira,
lá dos cantos d’onde nunca fui;
e quedavam assim nessa dança
à luz de pirilampos
e ao som de cricrizadas
de amantes grilos histéricos.
Mornos ventos
anuviavam o céu
de estrelas carentes,
que atiravam lágrimas contra a terra.
A ribeira virava prainha
e o espantalho pingado
avassourava-se inútil,
varrendo granizo que passarizou-se;
e bicava bambus,
onde a mata flautificava-se
pra tocar toda lenda
lá das terras desconhecidas,
onde o mundo se espantou;
e o homem se espantalhou.



Fonte: Publicado na Segunda-feira, 27 de novembro de 2006 em http://www.itu.com.br/noticias/

398 Anos da Cidade de Itú (SP)


Nota: Parabéns pelo seu aniversário dia 2 de fevereiro, que a sua grandeza permaneça sempre como um exemplo para os que ainda virão.

Em comemoração a seu aniversário, sua história.
Historia de Itu
Os primeiros habitantes do planalto paulista viveram durante muitos anos em função do sertão, buscando indígenas para escravizar, procurando metais e pedras preciosas. Aqueles que permaneciam em suas roças plantavam milho, mandioca e praticavam outras atividades próprias para a sua subsistência..

Desde o início do século XVII muitos deles começaram a procurar terras mais férteis para suas roças. Os membros da família Fernandes, por exemplo, instalaram-se em lugares onde, posteriormente, surgiram as Vilas de Santana do Parnaíba, Sorocaba e Itu. Domingos Fernandes, aventureiro descendente pelo lado materno de João Ramalho e Tibiriçá, estabeleceu-se em área não muito distante de um antiquíssimo lago glacial, que, há milhares de anos, transformara-se em uma pedreira de varvito (rocha sedimentar). Em suas pedras ainda podem ser observados sinais das ondas deixadas pelas águas do antigo lago, pedras essas utilizadas no revestimento do piso das calçadas da cidade.

A pequena capela construída por Domingos Fernandes, sob invocação de Nossa Senhora da Candelária, deu origem a povoação de Itu, que durante muito tempo foi local de parada e de partida de bandeirantes e monçoeiros em busca de sertão. Em Itu foram organizadas muitas monções, expedições fluviais que partiam do Porto de Araritaguaba (hoje Porto Feliz), às margens do rio Tietê, com destino às minas de ouro de Cuiabá.

Passou a integrar a agricultura de exportação quando iniciou o cultivo de cana-de-açúcar, desenvolvido em São Paulo durante o governo do Morgado de Mateus (Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão). Nas terras ituanas, consideradas de boa qualidade para essa cultura, surgiram grandes fazendas exploradas com mão-de-obra escrava. A população aumentou, inúmeros engenhos foram construídos, quer movidos a água, quer por tração animal.

Essa agricultura voltada para exportação, com o plantio de produtos tropicais enviados para o exterior, teve ainda maior progresso com a produção de café na segunda metade do século XIX. A cultura da cana estabeleceu as bases para o posterior desenvolvimento da cafeicultura.

No cinturão de fazendas que foram sendo abertas ao redor de Itu, construíram-se casas, engenhos e os demais aparelhamentos próprios da cultura canavieira. As moradas que ainda restam desse período são do assim chamado "estilo bandeirista", casas de taipa-de-pilão com planta simples e simétrica, construídas de acordo com sistema que vigorava em terras paulistas desde o tempo das bandeiras.

Dessas fazendas, podem ser lembradas: a do Rosário, construída na segunda metade do século XVIII. Com antigo e bem conservado engenho; a Chácara São João; a da Conceição e a do Japão, ainda com as suas capelas: a Paraíso, com uma bem conservada senzala; e a Pirahy, com restos de um provável alambique. Muitas mais tarde, tornaram-se fazendas de café e nelas foram construídas terreiros e outros aparelhamentos próprios da cafeicultura.

Fazendas como a Vassoural, Pirapitingui, Floresta, Serra e Nova América, mantém remanescentes do período áureo do café na região , época em que a Europa e as modas européias exerciam grande influência na vida paulista.

Além da cultura da cana e do café, o algodão também teve sua importância. Em Itu, no ano de 1869, ergueu-se a primeira fábrica de tecidos a vapor da Província de São Paulo, com maquinaria importada dos Estados Unidos e da Inglaterra: a Fábrica de Tecidos São Luís. Construída numa época em que todo trabalho era exercido por escravos, contava com mão-de-obra livre, principalmente de mulheres e crianças.

Os últimos decênios do século XIX o café representava grande riqueza e os escravos vindos de diversas regiões construíram a mão-de-obra, mais tarde substituída por elevado número de colonos italianos. Em nosso século, a economia de Itu tornou-se bastante diversificada, abrangendo muitos produtos agrícolas, a agropecuária e a indústria. Por tudo isso, teve apreciável crescimento urbano e populacional.

A vida cultural ituana manifesta-se por suas casas e igrejas, por monumentos e escolas, por seus trabalhadores, por pessoas que se destacaram ou que, de algum modo, para formação do seu patrimônio cultural.

Como aconteceu em outras regiões brasileiras, o catolicismo teve papel predominante no desenvolvimento cultural do município: igrejas, conventos, ordens religiosas e irmandades eram o centro da vida intelectual. As construções são, em grande parte, monumentos religiosos, do período anterior a introdução da cultura canavieira, temos a Igreja de Santa Rita, edificada entre 1726/1728 por um grupo de portugueses, e a Igreja do Carmo, encomendada pelos irmãos da Ordem Terceira em 1728. No convento, ao lado da Igreja do Carmo, morou o célebre Frei Jesuino do Monte Carmelo, Tendo ingressado na Ordem depois de viúvo, já conhecido artista, pintou a Igreja de sua Ordem, dando expansão a sua alegria e liberdade, segundo palavras de Mário de Andrade, que lhe dedicou um livro.

A primeira Matriz da Vila de Itu, dedicada por Domingos Fernandes a Nossa Senhora da Candelária, ocupava o lugar onde, mais tarde, ergueu-se a Igreja do Bom Jesus. A atual Matriz, na Praça Padre Miguel, foi inaugurada em 1780, mas posteriormente sofreu inúmeras reformas. Alí encontram-se pinturas de José do Patrocínio Manso, de Jesuino do Monte Carmelo e, na sacristia, as do celebrado pintor ituano Almeida Júnior. O frontão e as imagens de São Pedro e São Paulo, vindas de Paris, são muito mais recentes.

Um circuito intelectual de grande importância no panorama paulista era o conhecido como "dos padres do Patrocínio" que reunia políticos como Feijó, Jesuinos e tantos outros. Devoto de Nossa Senhora do Patrocínio, Frei Jesuino construiu uma Igreja dessa invocação, iniciada em 1810/1812 e concluída por Padre Simão Stock.

Com a finalidade de abrigar um grupo de religiosas vindas da França em 1859, para dedicar-se a educação de meninas (Irmãs de São José), foi fundado o Colégio do Patrocínio, ao lado da Igreja do mesmo nome.

Pouco tempo depois, vieram os jesuítas, que criaram o Colégio São Luís, importante centro educacional.

Localizada na zona rural, a Capela do Senhor do Horto (chamada de Padre Bento) foi edificada 1804/1808, ao lado do Hospital dos Lázaros. Hoje, a capela está envolvida pela cidade.

Com o desenvolvimento econômico, os mais abastados construíram grandes casas em meados do século XIX, algumas térreas, outras assobradadas, representativa da maneira de viver da classe dominante da época. Muitas delas foram derrubadas. Preservadas, encontramos, entre outras, a que abriga o Museu Republicano , antiga moradia de Carlos Vasconcelos de Almeida Prado, de família de cafeicultores, líder republicano, Ali reuniu-se a Convenção de Itu, em 1873, significativa tomada de posição para a implantação da República.

Das casas modestas ou imponentes do século passado e que constituem testemunhos de uma época, temos o prédio do antigo Grupo Escolar Cesário Mota (hoje Casa da Cultura), o prédio da Light, com sua singular fachada de azulejos portugueses, além de outras.

Neste século, os italianos que se estabeleceram no local construíram casas de tijolos, com fachada de decoração neoclássica. Representativa da maneira de viver do trabalhador é a Vila Operária, construída pela Fábrica de Tecidos São Pedro na década de 1920.

Esta cidade histórica, com seus panoramas, característicos e típicos, como o do Becão e outros, com suas Igrejas e monumentos, com suas paisagens naturais e com seu sítio geológico, com suas ruas e casas, com seus costumes, sua maneira de ser, deve ser preservada. A perda desses bens significa empobrecimento para a Cidade, para o Estado e para o País.

A FORMAÇÃO DA CIDADE DE ITU

O marco da fundação da cidade de Itu foi a construção, em 1610, de uma capela devotada a Nossa Senhora da Candelária, no lugar em que hoje fica a Igreja do Bom Jesus. Esta capela foi construída pôr Domingos Fernandes e seu genro, Cristovão Diniz. Eles receberam da Coroa Portuguesa, em 1604, a posse das terras da região de Itu.

O povoado se formou ao lado desta capela que, de 1653 a 1657, foi Igreja Matriz; neste ano, Itu deixou de ser Freguesia de Santana do Parnaíba, passando à condição de Vila, e iniciou-se a construção de um novo templo.

Durante quase 100 anos (de 1657 a 1750) a Vila de Itu não passou de um pequeno núcleo, com menos de 100 casas, concentradas no pátio da antiga Matriz e numa única rua que ia do pátio até a capelinha do primeiro povoado. Uma boa parte das casas, as do pátio, sobretudo, pertenciam a fazendeiros. Quando aumentou a escravatura e a produção das fazendas, seus donos ajudaram a erguer dois conventos na Vila - o de São Francisco (1692) e o do Carmo (1718).

Os comerciantes ergueram, em 1726, uma capela, num lugar ainda descampado - a de Santa Rita.

Em 1760, já existiam cerca de 105 casas e mais uma rua, chamada da Palma (atual dos Andradas). Nessa época, Itu se firma como entreposto de comércio na rota entre o sul do país e as regiões mineradoras de Mato Grosso e Goiás. A maioria das casas da Vila eram pequenas e habitadas por gente que pouco ou nada possuía.

Alguns anos depois, em 1776, com o crescimento das lavouras do açúcar e do algodão, a Vila cresceu, contando com 180 casas, tendo ainda as mesmas ruas de antes. Quem dá vida à localidade são os artesãos (sapateiros, ferreiros, latoeiros, carpinteiros, tecelões, costureiras e fiandeiras); eles ocupam 119 casas. Os comerciantes interessados na venda de tecidos, colchas e cobertores para outras regiões, promovem o cultivo do algodão, e a produção caseira de tecidos.

A partir de 1777, a Vila de Itu vai crescer em função dos negócios de exportação de açúcar para a Europa. O número de engenhos de cana e de escravos, agora vindos da África e não do sertão, se multiplicam. De 1785 a 1792, são abertas as ruas que descem paralelas, pelas encostas do espigão. Nessas ruas e seus prolongamentos pelo lado da Igreja do Patrocínio é que se forma, até 1865, a cidade que hoje constitui o "Centro Histórico". A fase de maior crescimento da cidade foi entre 1836 e 1854, quando atingiu o número de 800 casas.

Nesta época, Itu era a Vila mais rica de toda a Província, tendo (desde o início do século) importante participação na vida política e econômica. Em 1857, a Vila foi elevada à condição de cidade.

Em 1860, ocorreu uma grande crise no mercado internacional do açúcar. O plantio da cana entra em decadência, causando, com o tempo, um conflito entre os políticos e os fazendeiros ituanos contra o governo Imperial. Cresce em Itu o movimento republicano que resulta, em 1873, na realização da Primeira Convenção Republicana do país. O açúcar vai sendo gradativamente substituído pelo café.

Com o aumento da produção cafeeira, os fazendeiros buscam, na Europa, a vinda de imigrantes para substituir a mão de obra escrava. O tráfico havia sido proibido em 1850 e, a escravatura, abolida em 1888. Com a ajuda do governo republicano, proclamado em 1889, vieram para Itu milhares de imigrantes, a maioria italianos. A cidade possui, nesta época, cerca de 1000 casas. O café foi a base da economia do município até 1935, ano da maior produção, decaindo depois, pela concorrência de outras áreas de plantio e pelo esgotamento de suas terras.

De 1935 a 1950, Itu quase não cresce além da área ocupada. A partir de 1950, novas indústrias vêm se instalar na cidade, principalmente as de cerâmicas. Ocorre grande migração rural em busca de trabalhos nas fábricas. A cidade começa novamente a crescer com a abertura de diversos loteamentos na periferia. Itu já não tem a mesma importância de antigamente, sendo influenciada pela Capital do Estado, já então uma metrópole. O velho centro, a maior e mais importante herança cultural dos tempos da colônia, passa a ser transformado. Os objetos antigos, imagens das igrejas e pertences particulares, começam a ser comercializados, sobrando hoje pouca coisa na cidade.

Após 1970, com a construção da rodovia Castelo Branco, novas indústrias instalam-se em Itu, principalmente às margens de suas estradas de acesso.

Dialetos e Linguagens de Itu

Embora sejam só quatro os Estados integrantes da região sudeste, há uma diversidade de expressões e linguagens entre seus habitantes, em decorrência das formações históricas e culturais de cada um deles. Por isso mesmo, pode se estudar cada um separadamente, sendo importante lembrar que Amadeu Amaral chegou a publicar um importante livro sobre o que ele chamou de "Dialeto Caipira", típico de grande parte de São Paulo e Minas Gerais. Também Téo Azevedo identificou um outro dialeto, típico do norte de Minas Gerais, mas estendendo ao Sul da Bahia, e que ele chamou de linguagem catrumana.

O centro cosmopolita de povos de muitas etnias vivendo em seu espaço, São Paulo, tornou-se um centro difusor de expressões, muitas delas, curiosamente vindas do interior do Estado e outras partes do País.
Matungo é cavalo velho; ser judas é ser traidor, breganhar é fazer uma troca; grana e bufunfa significam dinheiro; enquanto assuntar significa perguntar, interrogar, repassar é revisar, remontar; sustância é força, energia, coragem; trucada é um desafio; trabucar é trabalhar, existindo mesmo um provérbioque diz: " Quem não trabuca, não manduca". Ou seja: " Quem não trabalha, não come"; menina sapeca é menina levada mas também pode ser carne mal passada; supimpa é ótimo, exelente, mas homem sacudido é homem forte; Por sua vez ficar na rabeira é ficar para trás; e ser pidonho é estar sempre pedindo as coisas.

Culinária Tipica de São Paulo e Interior

Os Paulistas também frugais no inicio de sua história, foram adotando influências e assimilando pratos de várias partes do mundo, embora mantivessem alguns bem típicos. Assim é possivel hoje, encontrar ao lado de legítimas pizzas ítalo-paulista, pratos como o virado, o arroz com suã, um sanduiche bem paulista que é o bauru, além de uma gama de subprodutos do milho, da pamonha ao licor.

Fonte:
http://www.achetudoeregiao.com/SP/Itu/historia.htm

Maria Thereza Moreira Pereira (Bisa Maith)


Maria Thereza Moreira Pereira é mais conhecida por Maith e Bisavó Blogueira. Com quase oitenta anos ela escreve desde que é criança e sempre sonhou em tornar-se uma escritora de verdade.Depois de aposentada e com os filhos encaminhados, passou a dedicar-se mais à literatura, quando então deparou-se com a internet e criou seus blogs, publicando finalmente seu livro. É co-autora na coletânea Roda Mundo 2006 e colunista no site "O Liberal" de Cabo Verde.

A Academia Athenas, de Sorocaba, apresentou nos dias 3 e 4 de Dezembro, no Teatro Municipal Teotônio Vilella, um festival de Dança e Artes Marciais apresentados pelos seus alunos e professores. O espetáculo teve o nome de CUIDADO, ESTÃO TE ESPIANDO e todas as coreografias foram inspiradas no livro do mesmo nome de Maith.

Sites da Maith:
http://www.cuidadoestaoteespiando.blogger.com.br/
http://www.bisavo.blogger.com.br/
http://www.ciranda.blogger.com.br/

Fontes:
http://sorocult.com/el/talentos/maith.htm
http://www.itapedigital.com.br/

Bisa Maith (Conto: Uma Brasileira na Inglaterra)

Tudo começou há muito tempo, quando ela ainda era menina e ele também. Só que ela, a July, era uma menina comum, classe média, e ele o Príncipe Herdeiro do trono da Inglaterra.

Já então, ela se interessava muito por tudo o que dizia respeito a Ele, o menino que um dia seria rei. Lia tudo o que se publicava sobre a família real inglesa, recortava as fotos do garoto notável e colava na parede do quarto.

O tempo foi passando. Ela cresceu (Ele, também, é claro) e July começou a alimentar um sonho arrojado: Havia de conhecer pessoalmente o Príncipe... conquistá-lo... casar-se com ele.

Impossível? Nem tanto! A literatura estava cheia de histórias de Nobres & Plebeus e, sabe-se de muitos casos de Príncipes que renunciaram a Coroa para casar-se com uma mulher do povo. Por que não podia acontecer com ela?

Mas, precisava dar uma mãozinha para a sorte. Mesmo que estivesse "escrito nas estrelas" seria preciso que ela interpretasse e fizesse acontecer.

O primeiro passo seria ir para a Inglaterra.

Se ela dissesse para a Mãe que queria ir para conhecer o Príncipe, é claro que a Mãe ia dizer para ela deixar de bobagem, então, tinha que arranjar outro pretexto.

Estudar! É claro!

Nada melhor para sensibilizar as mães do que manifestar o desejo de estudar alguma coisa.

A primeira tentativa foi desanimadora:

- Mãe, estou pensando que podia bem ir passar uns tempos na Inglaterra para aperfeiçoar o meu inglês...

- Aperfeiçoar o quê? Você não sabe nada ainda! Aprenda tudo o que lhe ensinarem na Escola e, depois, então, a gente pensa na possibilidade de estudar fora.

- Mas, Mãe, na Escola ensinam muita gramática, lingüística, coisas que não interessam. Convivendo com os ingleses é que a gente aprende a língua coloquial que é o que importa.

- Nada disso. Trate de estudar aqui mesmo. Mais tarde, quem sabe...

A segunda tentativa também não foi muito melhor:

- Mãe, eu tenho muitos amigos e amigas que foram para lá. Estão estudando e trabalhando. Uma beleza! A gente ganha bem, estuda em excelentes escolas e conhece o Mundo. Quer coisa melhor?

- Você pensa que é fácil? Você, lá, seria uma estrangeira, desvalorizada, teria que adaptar-se a uma vida muito diferente da que está acostumada. Não! Você não está preparada para uma coisa dessas.

- Mas, como, do mesmo modo que a água mole faz com a pedra dura o que todo mundo sabe, a insistência dos filhos, quase sempre, acaba por minar o bom senso de qualquer mãe, e a mãe de July não era diferente.

Depois de muitos argumentos, beicinhos e até mal-criações, a Mamãe deixou-se convencer de que, afinal de contas, na pior das hipóteses, seria uma experiência a mais.

E começaram os preparativos para a viagem. Compras, arrumações, conselhos, listas de endereços de Companhias de Viagem, escolas de Londres, acomodações, etc.etc.
* * *
O avião levanta vôo. July se assusta um pouco quando vê, rapidamente, desaparecer o seu Mundo, o seu chão firme e sente-se muito só, acima das nuvens, parecendo estar mais próxima do céu estrelado do que da Terra.

Mas está feliz, pois, encaminha-se para a realização de seu sonho de tantos anos. Fecha um pouco os olhos e quando abre... oh, surpresa das surpresas!

Quem está ali, a sua frente, ao vivo e a cores? Nada mais, nada menos que o Príncipe, mais bonito do que em todas as fotos, sorrindo para ela:

- Olá, July! Que satisfação te encontrar aqui!

- Como sabe quem eu sou?

- Eu a vi em um site de uma discoteca, lá da sua cidade. Foi amor à primeira vista. Disse comigo mesmo: "preciso conhecer essa garota" Estava pronto para ir procurá-la lá no Brasil, mas já que você veio para cá é melhor ainda.

- Você fala muito bem o português. Meu inglês é péssimo. Vim à Inglaterra para aprender a sua língua, e, mais ainda, para conhecê-lo pessoalmente.

- Eu tenho um compromisso oficial agora de manhã, mas vou procurá-la depois para conversarmos mais. Se precisar de alguma coisa é só falar comigo. Se tiver alguma dificuldade, basta dizer que é namorada do Príncipe que todas as portas se abrirão para você.

Alguns homens se aproximaram, o Príncipe levantou-se e acompanhou-os.

O dia estava amanhecendo. O avião foi baixando sobre a grande Londres, envolta em brumas, a cidade coberta de neve, uma paisagem, até então, só vista em cartões postais, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante.

July desembarcou e misturou-se a multidão que transitava pelo aeroporto.Quando se dirigiu à sessão de Emigração, começaram as dificuldades. Um funcionário muito impessoal pediu-lhe um documento que ela não tinha.

Ela não entendia direito o que ele dizia e não conseguia se comunicar. Lembrou-se, então, das palavras do Príncipe e falou no seu melhor inglês:

- Eu sou a namorada do Príncipe. Se não me facilitar as coisas eu faço queixa a Ele.

- Não estou aqui para brincadeiras. Veja logo o que lhe pedi senão eu mando prendê-la.

- Mas eu não tenho esse documento. Nem sei o que é isso.

- Então vai presa.

Dois policiais aproximaram-se, agarraram-na e a enfiaram num carro. Ela queria gritar, pedir socorro, mas não conseguia. Já estava ficando apavorada.

Na cela onde a encerraram já estavam dois rapazes e duas moças, todos brasileiros. Havia só um colchão no chão e ela perguntou como iriam dormir.

- A noite passada, dormimos os quatro, neste colchão. E esta noite tem mais você...

- E comida?

- De manhã, eles jogam uns pedaços de pão naquela gamela. Pouco, só o suficiente para não morrermos de fome.

- E banho?

- Nem pensar! Banho, aqui, é luxo de turista. Londrino não toma banho e estrangeiro, menos ainda.

- Por que vocês vieram para cá?

- Porque não tínhamos dinheiro suficiente... faltaram documentos... não sabíamos falar bem...

- O funcionário zangou-se porque eu disse que sou namorada do Príncipe.

- Chiii! Você disse isso? Você sabe que quem inventa mentiras relacionadas com a Família Real é condenada à morte?

- Mas eu não inventei nada. É verdade!

- Você tem como provar isso?

- ... não...

- Então você está ferrada!

- EU NÃO QUERO MAIS FICAR AQUI! QUERO MINHA MÃE! MÃÃÃÃÃÃEEEEEEEE!

Como num passe de mágica, uma porta se abriu e a Mãe, meio assustada perguntou:

- Que foi July!

Vertiginosamente tudo retrocedeu como num filme rebobinado e ela se viu, no seu quarto, na sua cama.

- Não foi nada, Mamãe! Só um pesadelo...

No dia seguinte, July comunicou a Mãe a sua resolução:

- Sabe Mãe, eu pensei melhor, acho que vou continuar estudando por aqui mesmo. Londres fica para outra oportunidade.

Mais tarde ligou para o Bruno:

- Ainda está de pé o seu convite para o baile? Acho que vou aceitar!

E sorriu para o retrato do Príncipe pendurado na parede:

- Que mico!

Publicado Segunda-feira, 28 de janeiro de 2008, em
http://www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=12102