quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ditão Virgílio (O Encontro com o Saci)



Um dia lá na mata
Bem perto de uma cascata
Meu pai saiu pra lenhar
Ainda era menininho
Talvez um pouco grandinho
Ele resolveu me levar
Como era de costume
Lá em cima do cume
A lenha ele foi amontoar

Os galhos eram cortados
Os troncos eram rachados
Depois ele ia buscar
Punha a cangalha no cavalo
Os balaios num estalo
E o almoço no borná
Estava muito entretido
Até um pouco distraído
Nem percebeu um estalar

Que vinha de trás do angico
Fazendo barulho no cisco
Um negrinho a pular
Com uma perna só
No vento levantava pó
Resolvi acompanhar
O bichinho era sapeca
Com jeitinho de moleque
Comigo queria brincar

Ele era muito esperto
Eu acompanhei por certo
Até num guarantã chegar
A árvore muito frondosa
Quase igual peroba rosa
Poucos sabem diferenciar
Mas já estava perdido
Deu um assobio ardido
Não pude mais escutar

Eu segui mais um pouco
Lá no pé de muchoco
Me deu água pra tomar
Esta árvore de raiz funda
Só nasce na terra úmida
Fácil de localizar
Se na mata se perder
E a sede estiver pra valer
É só no pé dela chegar

Vai encontrar uma mina
Com água cristalina
Sempre pra cima a jorrar
Mas pulando ele correu
E logo atrás também fui eu
No meio do taquaruçu entrar
Pouca gente conhece
Mas esse bambu parece
Coisa do nosso lugar

Tem um espinho perigoso
Que é muito venenoso
Se nele a gente espetar
Parece até magia
Vai doer por sete dias
E a dor começa a parar
Lá no meio da touça eu vi
Mais de uns trinta Sacis
Pulando de lá pra cá

Com um pedaço de pau
Espantava os picapaus
Que vinham o gomo picar
Os gomos tinham um furinho
De onde saíam sacizinhos
Nos seus cachimbos a fumar
Mal acaba de nascer
Já sente este prazer
Do pito não quer largar

Dando até no na minhoca
Puxa o tatu da toca
Pra nele poder montar
Faz uma farra danada
Assobia, dá risada,
Mas perto não pude chegar
Vi um Saci de espora
Dizendo esperar a hora
Para o cavalo pegar

Um Saci não se cansa
Ensinando a fazer trança
Pra no cavalo montar
Nisto revelou dois segredos
Não entendi, tenho medo,
Pra poucos eu posso contar
Logo me levou embora
Dizendo ser alta hora
E seu pai vem te buscar

Me deixou atrás de um toco
E dali a mais um pouco
O meu pai veio me achar
Saiu correndo do mato
Contando pra todos o fato
Do Saci me carregar
Ele me deu sorte
Hoje sou um cara forte
E a história posso contar

O segredo do Saci
Um agora eu conto aqui
Hoje já posso falar
Uma bruxa lá de fora
Quer acabar com ele agora
Mas nós não vamos deixar
O outro ainda encubro
Só 31 de outubro
Talvez eu possa contar
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