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domingo, 9 de agosto de 2020

Jane Tutikian (1952)

Jane Tutikian nasce em Porto Alegre/RS, em 1952. Em 1970, é eleita Miss Porto Alegre e Primeira Princesa do Rio Grande do Sul. Ingressa no Curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.  Em 1974, casa-se com o advogado Edemar Morel Tutikian. Neste mesmo ano publica seu primeiro texto, "Batalha naval", no "Caderno de Sábado" do Correio do Povo, passando a colaboradora. Conclui o curso de Graduação em Letras.  Ingressa no Mestrado em Literatura, na UFRGS. Em 1976 passa a colaboradora do suplemento "Mulher", da Folha da Tarde. Em 1977 obtém o título de Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa. Em 1978, recebe o "Destaque - Prêmio Apesul Revelação Literária. Em 1980, ingressa na Rede Pública Estadual como professora.

Em 1981 publica Batalha Naval, e em 1984, A cor do azul, recebendo neste ano o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Em 1986, é finalista da Bienal Nestlé de Literatura Brasileira - categoria conto - SP. Em 1987 recebe o Prêmio Érico Veríssimo da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Em 1990 publica Geração Traída. Recebe o Prêmio Gralha Azul de Literatura Brasileira da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. 1994  publica Um time muito especial.

Em 1995, ingressa no Curso de Doutorado em Literatura Comparada na UFRGS, obtendo o título em 1998.

Em 1999 publica O sentido das Estações e Inquietos Olhares. Em 2000, publica Alê, Marcelo, Ju & eu.

Em 2001 ocupa a cadeira nº 39 na Academia Literária Feminina do RS. Em 2002, publica A rua dos secretos amores e também Aconteceu também comigo. Assume a Vice-presidência da Associação Gaúcha de Escritores. É patrona da Feira do Livro de Gramado.  Dá nome à Biblioteca da Escola Edvino Bervian, de Morro Reuter. E em 2003 publica JF e a conquista de "Niu Ei".

Em 2005 publica Entre Mulheres (contos de amor aprendiz). Em 2006 lança Olhos azuis coração vermelho (novela infanto-juvenil) e Velhas identidades novas (ensaios), resultado de seu Pós- Doutorado em Literatura, realizado na PUCRS.

Em 2005 inicia a organização das obras completas de Fernando Pessoa pela L&PM, tendo editado, neste ano: Mensagem, a obra de Caeiro, Campos e Ricardo Reis. É Patrona da  XVII Feira do Livro de Dois Irmãos.

Em 2007, publica Fica Ficando (novela infanto-juvenil). Recebe o prêmio Nacional O Sul por incentivo à literatura. É homenageada pela Feira do Livro de Caçapava do Sul. É Patrona da Feira do Livro de Triunfo.

Em 2008, é Patrona da Feira do Livro de Camaquã. Organiza para a L&PM a leitura comentada de Os Lusíadas.

Em 2009, assume a Direção do Instituto de Letras da Univeraidade Federal do Rio Grande do Sul e a cadeira n. 35 da Academia Rio-grandense de letras. Participa da antologia The Brazilian Short  Story in The Late Twentieth Century, publicada nos EUA pela The Edwin Mellen Press. Lança  Por que não agora? , novela Infanto-juvenil.

Em 2010 é eleita Vice-Presidente da Associação Internacional de Professores de Literaturas Africanas. Patrona da Feira do Livro de Guaíba.

Em 2011, primeira mulher  do séc. XXI e quarta dos 57 anos de história a ser escolhida  Patrona da Feira do Livro de Porto Alegre. Lança antologia de contos comemorativa aos 30 anos de carreira: Coisa Viva, pela Território das Letras. Eleita Vice-Presidente da Associação Internacional de Literaturas e Culturas Africanas – AFROLIC – em Ouro Preto. Passa a ser editora da Revista Conexão Letras do PPG-Letras

Em 2012, Recebe o Prêmio  Joaquim Felizardo por obra, concedido pela Secretaria Municipal de Cultura – Porto Alegre, Patrona da Feira do Livro de Caçapava do Sul e da Feira do Livro de Capão da Canoa. Assume a Direção do Instituto Confúcio da UFRGS.

Em 2014, organiza o livro: Fernando Pessoa – Obra poética VII – pela L&PM. Patrona da Feira do Livro de Esteio.

Tem participação em dezenas de antologias e livros organizados e traduzidos para o inglês e o espanhol.

Atual vice-reitora da UFRGS.

Fontes:
Jane Tutikian
Wikipedia

sábado, 10 de agosto de 2019

Luiz Damo (Trovas do Sul) I


A amizade pode ser
uma brilhante virtude,
pois ela nos faz crescer
num mar de solicitude.

As pedras da caminhada
fazem lutar todo o dia,
se soltas, nos valem nada,
juntas, têm grande valia.

Às vezes, nós perdoamos.
E a natureza? Jamais!
Deus perdoa quando erramos
até nos passos finais.

A vida chama a atenção
com perguntas e respostas,
sempre tem a solução,
basta não darmos as costas.

Cada momento vivido
se traduz numa vitória,
que sempre será relido
dentre as páginas da história.

Desde o primeiro momento
até os instantes finais,
seja a vida um testamento
só de amor, morte jamais.

É de um gesto pequenino
que a mudança resultou,
maior, somente o divino,
quando este mundo criou.

Enquanto puder andar
pelas estradas sem fim,
possa Deus se apoderar
do vazio dentro de mim.

Fazer tudo não consigo
para o mundo melhorar,
ó Senhor, conte comigo,
pois contigo vou contar.

Nem sempre a dor tem ferida,
às vezes, vem da saudade,
quem nunca a sentiu na vida
jamais amou de verdade.

Nenhuma planta pereça
sem perfumar os caminhos,
nem antes que amadureça
o menor dos seus frutinhos!

Nenhum tempo poderá
ser melhor do que o presente,
o que foi, não voltará,
e o vindouro está pendente.

Ninguém se sinta traído
por qualquer adversidade,
nem veja diminuído
o leque da dignidade.

O pranto rola no rosto
deixando transparecer,
duras marcas do desgosto
qual sequioso entardecer.

O sol fica entusiasmado
vendo a terra transbordar,
de luz, embora nublado
o dia se apresentar.

Perde-se tempo chorando
na esperança de ganhar,
no entanto, se cresce quando
no pranto se aprende a amar.

Se as escarpas ou espinhos
todos forem superados,
iremos pelos caminhos
com passos acelerados.

Sem temer dicotomias
que repelem nosso ser,
lutamos todos os dias
para a batalha vencer.

Tantas flores perfumadas
servem para embelezar,
ornamentam as estradas
por onde vamos passar.

Todo aquele que trabalha
pode ser um vencedor,
vencendo qualquer batalha
é mais que trabalhador.

Fonte:
Livro enviado pelo autor.
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Olga Maria Dias Ferreira (Trovas)


A bela estátua consagra,
na perícia do escultor,
intensa arte que deflagra
cinzel de mágico autor.

À sombra da juventude,
vejo meu tempo passar,
e sinto, nesta amplitude,
a longa idade avançar...

As trovas mais desejadas
nesta vida sonhadora,
manifestam-se rimadas,
em minha alma trovadora...

A vida só nos ensina
o que ela mesmo contém,
e nem sempre nos destina
aquilo que nos convém...

Belos gestos de inocência,
bênçãos de amor despertaram,
e, nos trilhos da existência,
só saudade carregaram...

Bons momentos escondidos,
nas taças em esplendor,
revelam sonhos vividos,
nas asas tênues do amor...

Das chaminés do passado,
em uma bruma sem fim,
ressurge o sol decantado,
a trazer  vida pra mim...

Denso grito das entranhas
ergue gemidos de dor,
toda vez que te emaranhas
nas raízes deste amor.

De tal crime sou culpada,
afirmo ser ré confessa.
Por desejo dominada
eu descumpri a promessa.

Do teu relógio os ponteiros,
marcam com exatidão,
tantos momentos fagueiros
vividos com emoção.

É meu desejo ser tua,
na mais doce e pura essência,
pois a verdade mais crua
é tua, minha existência.

Em meu retorno ao passado,
fantasias, ilusão,
ainda corro a teu lado,
nas ondas do coração...

Em teu olhar fascinante,
meu coração se perdeu,
e, mantém minha alma errante,
plena do amor que é só teu...

Enlaçados numa rede,
co’os pés à beira do mar,
saciamos a nossa sede,
na doida sede de amar...

Esquece o vento cortante,
desfeito em chuva e cansaços,
vem ninar minha alma errante
no aconchego dos teus braços.

Fitando o espelho do lago,
onde formosa eu a vi,
lembro a ternura que trago
dos momentos que vivi.

Grilhões, um dia partidos,
pela voraz servidão,
ressoam como estampidos
da vida sem solução.

Hoje sonhei acordada,
estava enfim delirante
e de tão apaixonada
até te fiz meu amante.

Incríveis fachos de luz
brilhavam de forma intensa,
na silhueta da cruz,
em sua forma mais densa...

Lampeiro o nobre gaúcho,
galopeia na fronteira,
ao trazer, com brilho e luxo,
amor por nossa bandeira

Lanço um grito à liberdade,
arranco-te do meu peito,
prefiro a dor da saudade
que o cativeiro em teu leito.

Meus sonhos, em grandes asas,
voam no azul infinito,
e fulgem tal como brasas,
por este céu tão bonito.

Minha mão em tua face,
teu corpo junto do meu,
não é verdade, é disfarce
de um sonho que já morreu.

Na defesa da floresta,
com arroubo e galhardia,
todo ser humano atesta
nobreza e cidadania.

Não te moleste o cansaço,
quando me houveres perdido.
Eu testemunho o fracasso
deste amor enlouquecido.

Nas tardes de primavera,
plenas de luzes e cores,
relembro aquela tapera
toda enfeitada de flores...

Navegando pelos mares
agitados da procela,
treme a nau dos meus pesares,
trazendo saudades dela...

Nobre gaúcho largado
campeia pela coxilha
e traz no peito encilhado
o santo amor farroupilha...

Numa noite enluarada,
de bela praia sem fim,
sinto a imagem ondulada
das vagas batendo em mim...

O eletrônico faz tudo.
Traz imagem, bonitinho,
porém me deixa mudo
e cada vez mais sozinho...

Ó meu doce canarinho,
abre as asas contra o vento
e leva, pelo caminho,
nas asas, meu pensamento...

O sol, em pano de fundo,
grande navio ancorado,
relembram rastros do mundo,
n’algum baú do passado.

Revolta a nada conduz,
impõe-se docilidade,
segundo de Deus a luz,
surge límpida a verdade.

Sendo tua, não importa
que destino eu possa ter.
A minha alma não suporta
o medo de te perder.

Se tu me amares querido,
sem o menor preconceito,
meu sonho tão proibido
há de voltar ao meu peito.

Solto, no mar, o barquinho,
no horizonte refletido,
vaga, nas águas, mansinho,
buscando o rumo perdido...

Suplico com humildade
permissão para te amar.
Porém se o medo te invade,
deixa-me ao menos sonhar.

Toda saudade guardada,
maciça dentro do peito,
estampa-se revelada
na solidão do meu leito.

Tristonho vento assobia
uma dolente canção
que se faz luz, melodia
na pauta do coração.

Vagando em revolto mar,
a embarcação solitária
lembrava um cisne a chorar,
numa ilha imaginária.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Antonio Brás Constante (Os Jardineiros de Sábado)

Os pátios das casas são ótimos locais para que as pessoas possam cultivar: hortas, pomares e um belo gramado. De modo geral, a ideia de se ter um gramado parte das mulheres. Os homens prefeririam uma calçada. Mesmo porque, quem varre as calçadas são as mulheres. Já no caso dos gramados, a tarefa é deles, os chamados jardineiros de sábado.

Enfim chega o fim de semana. O sono começa a se desvanecer, e o pretenso jardineiro parece ouvir o som de trovoadas. “Ótimo”, ele pensa. Não estava muito afim de cortar a grama mesmo. Mas as trovoadas vão ficando mais fortes e próximas. Seus ruídos parecendo extremamente familiares. Como se chamassem pelo seu nome.

Algo puxa suas cobertas, sacudindo-o. Finalmente percebe que não eram trovões. Era a voz de sua esposa, “mandando” levantar-se para ir cuidar do pátio. “Você prometeu”, ela diz. Aliás, para mulher, tudo que o homem diz após as juras de casamento ganha ares de “promessa”. Pode ser um simples “arram”, mais concordando com o comentário do técnico de futebol na entrevista da televisão, do que com ela.

O homem no sábado torna-se o barbeiro da natureza. É um momento único, onde ele começa limpando as “obras de arte” do seu cachorro, espalhadas pelo quintal. Depois tem de cuidar para não entrar em atrito com os inúmeros formigueiros ali existentes, que apesar de lhe ajudarem consumindo algumas folhas, acabam fazendo um serviço ineficiente. Talvez se devorassem a grama com a mesma energia que utilizam para lhe morder, evitariam que o gramado precisasse ser cortado.

Falando em preocupações, ele também tem que se preocupar com as rosetas, urtigas e pedras que ali se escondem. Mas principalmente deve atentar para não cortar a grama muito rápido. Esmerando-se para que o serviço termine próximo ao horário do almoço. Podendo então chegar com uma expressão cansada no seio de seu lar, tomar um banho rápido, saborear o almoço, e por fim se jogar no sofá para um ronco merecido, sem culpa, como um guerreiro cujo dever foi cumprido.

Quando arruma o pátio, o homem deve sempre buscar a ajuda de aliados, ou melhor, de “aliadas”. Geladinhas, deliciosas, e servidas em latinhas de alumínio. Armazenadas em caixas de isopor junto à sombra de alguma árvore. Longe do alcance de seus vizinhos e cunhados.  Elas ficarão ali, prontinhas para reanimá-lo durante toda manhã.

A cerveja é a eterna companheira do jardineiro de final de semana. Ela escuta suas lamentações, que tendem a aumentar à medida que ele vai ficando cada vez mais bêbado. Até o ponto em que as lamúrias transformam-se em decisões. Resolve que vai construir uma calçada no lugar do gramado e pronto.

A ideia vai tomando força em sua mente, mas é somente à noite, deitado na cama com sua adorada esposa que ele expõe a ideia. Ela houve pacientemente, e ao final das argumentações do marido, explica que, para por em prática a tal obra, eles terão de economizar um bom dinheiro. Ou seja, nada de cerveja nos próximos meses.

Com esta ultima afirmação da esposa, o homem desiste da ideia da calçada. Deita a cabeça no travesseiro e começa a pensar no plano “B”: Um gramado repleto de formigas amestradas, prontas para fazerem todo serviço, enquanto ele fica sentado na sombra, bebendo tranquilamente suas cervejas.

Fonte:
O Autor

sábado, 15 de março de 2014

Lacy José Raymundi (Baú de Trovas)


À franga, com voz de plumas,
diz a mãe, cheia de pena:
- Aos ovos tu te acostumas,
logo após uma centena...

Alguém me disse, na esquina,
e de repetir não cesso:
"A educação é uma usina
que nos conduz ao progresso!...”

Ali moram quatro viúvas
outrora cheias de graças,
mas, daquelas quatro “uvas”
hoje restam quatro “passas...”

A noite estende seu manto
de silêncio nos caminhos,
e a aurora quebra esse encanto,
pela algazarra dos ninhos…

Ao ver um homem baixinho,
entendo porque não presto,
pois penso do coitadinho:
- "Aonde ficou o resto?..."

A visão que me produz
um vagalume na altura,
me lembra um pingo de luz
brilhando na noite escura...

Cada níquel que se gasta
em armas de fazer guerra
é mais um passo que afasta
a Paz da face da Terra!

Cai a noite. O escuro lacra
a luz dos olhos tranquilos,
e eu ouço a música sacra
da serenata dos grilos.

Da dura lida da roça,
que bem cedo principia,
os estultos fazem troça,
os sábios fazem poesia!

Deixo claro nesta pauta:
sigo tão só, no caminho,
como segue um astronauta
posto no espaço, sozinho.

Deus, para ter um modelo
de um ser que transmite amor,
tomou de um homem e fê-lo
o Primeiro Trovador.

Diz o frango, só de tanga,
dando no pai, longo amplexo:
"Galo velho! Por que a zanga
se sou do terceiro sexo?!

Dos teus lábios purpurinos
o beijo que me estás dando
lembra um licor dos mais finos
que se degusta sonhando!…

É mentira ou é verdade?
É verdade ou é mentira?
Se a mulher disser a idade
não acredite: confira!...

É na comunhão singela
da cuia do chimarrão,
que nosso pago nivela
o campeiro e seu patrão!

Esta questão se renova
sem solução, lhe asseguro:
por que razões, franga nova
se amarra em galo maduro?!…

Eu fico pasmo, por certo,
vendo Deus, perfeito assim,
esquecer o cofre aberto
do perfume do jasmim...

Felicidade, entrevejo
na comunhão que componho
entre o vinho do teu beijo
e o champanha do meu sonho.

Há, doutor, um repelente,
que me livre, volta e meia,
deste perigo iminente
do assédio de mulher feia???

Há muito tempo eu suspeito
da devoção aparente:
nem sempre uma cruz no peito
põe Cristo dentro da gente!

Num gesto brusco e banal,
de verdadeira loucura,
pinguei um ponto final
numa história de ternura...

O cravo que foi cravado
em cada chaga de Cristo,
lamentou ser fabricado
e obrigado a fazer isto!...

O licor que me apetece
e não me deixa ressábios,
não vem da vinha ou da messe,
vem do rubor dos teus lábios…

O pinguço diz, sem graça,
ante às águas da cachoeira:
- Se tudo fosse cachaça,
ah! que baita bebedeira!

Para aplacar meus cansaços,
eu, que buscava repouso,
no aeroporto dos teus braços
achei meu campo-de-pouso...

Problema, me diz um trouxa,
pensando com parcimônia,
é ter a bexiga frouxa
em festa de cerimônia...

Quando os vejo, todo o dia,
sempre me espanta, não nego,
perceber no olhar do guia
a luz dos olhos do cego!

Se a luz dos teus olhos tenho
como um farol que me guia,
não temo, por onde venho,
percalços da travessia!...

Se examino meu extrato
sinto arrepios na espinha,
que o juro não é barato
e a conta está ‘vermelhinha”!

Se o teu portão dorme aberto
me assanha um louco palpite
de que chegando bem perto
vais sussurrar-me um convite...

Sobre o veludo da mesa
deslizam sonhos fugazes
ante a total incerteza
dos coringas e dos ases. . .

Taças, champanhas, licores,
pelo chão roupas revoltas,
por certo o deus dos amores
por aqui andou às soltas…

Tanto fumo tem passado
pelos seus pulmões que até
o Raio-X tem mostrado
fuligem de chaminé…

Teu amor tem tal formato,
estás a mim tão ligada,
como um chicle no sapato
que não desgruda por nada…

Toda mulher que suspeita
que tem um marido esperto,
adormece, quando deita,
mas mantém um olho aberto...

Tu me pedes que eu aponte
o que é distância, em verdade?
- Distância é apenas a ponte
entre o amor e a saudade!...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Folclore do Rio Grande do Sul (Lenda Obirici)

Augusto Porto Alegre, na sua história da "Fundação de Porto Alegre", recolheu esta lenda da formação do Passo da Areia, IBICUIRETÃ, que significa "rio de areia", ou seja, um pequeno arroio que corria nos arredores da capital do Rio Grande.

Nos tempos em que os brancos não haviam ainda penetrado até o Rio Grande do Sul, habitavam a região, os índios Tupi-mirins, da nação de Tapes. Como o amor sempre constituiu uma singela tradição indígena, houve, ali, uma contenda amorosa que ficou na recordação dos silvícolas, chegando até nossos dias sob a forma de uma encantadora lenda:

Conta-se que um belo cacique chamado Abaetê, em pleno apogeu da mocidade, foi alvo de grande amor, por parte de duas irmãs índias: Paraí e Obiricí, ambas filhas do poderoso feiticeiro Guaporé.

Abaetê gostou mais de Paraí, mas não tinha coragem de contar a ninguém, pois não queria magoar Obiricí. Um dia, o guerreiro suplicou a Tupã que lhe desse muito entendimento, para que facilmente pudesse resolver o difícil caso.

Então, durante o sono, recebeu a visita da graciosa Sumá, uma deusa guerreira, que envolvida em leve manta tecida de cipó imbé, deu a Abaetê todos os conselhos necessários, por ordem de Tupã.

Na manhã seguinte, foi imediatamente falar com as jovens e disse:

-"Foi Tupã que me mandou, desejo avisar que todas as duas serão submetidas a uma prova com arco e flechas. Quem acertar o alvo, será minha esposa."

As índias apaixonadas recebendo o aviso de sua resolução, imediatamente se prontificaram a iniciar a disputa. O cacique desejado muito belo e forte, era o grande incentivo.

Obirici, a mais ardente das duas índias, ficou muito nervosa, com medo de perder a competição e ficar sem o amor da sua vida, não teve a mesma destreza da outra. Errou o alvo. Foi portanto, vencida e viu-se obrigada a deixar que a vitoriosa levasse para as terras de Jatobá o jovem príncipe cacique. Ficou só no local onde ocorreu a contenda, a olhar o par abraçado e feliz que se distanciava.

Sufocando soluços, amargurando-se, não teve ânimo de abandonar aquele pedaço de terra, onde ocorrera sua desventura. Em vão desceram as Parajás, deusas da piedade, do alto do Ibiapaba, para consolar a bela guerreira. A divina Paré, deusa da fé veio na forma humana para dar-lhe alegres conselhos e suave esperança.

-"Pobre de mim abandonada"", dizia ela, e nenhuma palavra mais lhe saiu do peito em profundos soluços.

O próprio Tolori, deus da coragem, mas inimigo das mulheres, tão compadecido ficou, que veio dizer algumas palavras de consolo para a índia.

Abatida e tristonha, coração sangrando, alma voltada para o infortúnio e para a morte, hora a hora, pedia que Tupã lhe cortasse os dias de sua vida tão amargurada. E a formosa indígena, com a desventura a povoar-lhe a mente, só implorava o fim, como repouso que lhe era necessário, estendia seus braços de cintilações de bronze, para o céu, mudo ante suas súplicas sinceras e ardentes...

No desespero da dor, as lágrimas brotaram dos olhos de Obirici em uma abundância desoladora. O choro abriu-lhe fundos sulcos no rosto e as lágrimas de suas pálpebras continuaram dia e noite a cair cristalinas e luminosas e, correndo por terra, deixaram nela, para sempre cravado o regato chamado Passo da Areia ou Ibicuiretã...

Decorridos alguns dias, Deus Tupã, apiedando-se da pobre índia, veio buscá-la. As águas de suas lágrimas, porém continuaram a rolar, marcando para sempre na terra dos pampas, a angústia infinita de sua dor.

O Ibicuiretã, esse córrego de lágrimas, não existe mais, pois o Passo da Areia, hoje é um bairro urbanizado da cidade de Porto Alegre. As obras de urbanização canalizaram o riachinho que a princípio, tornou-se um valão. Depois, foi soterrado para construção do Shopping Center da zona norte.

Mas, a bela Obirici não foi apagada do coração dos gaúchos e em sua homenagem, próximo a um viaduto que leva seu nome, foi imortalizada em uma escultura, que a representa com os braços estendidos aos céus, pedindo em imprecações que Tupã acabe com seus dias de tão intensa dor...

Bibliografia:
LESSA, Barbosa. Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul. SP: EDIGRAF. 

Fonte:
http://clerioborges.com.br/sirleikaszuba.html

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mário Quintana (A Vida)

Clique sobre a imagem para ampliar
Fonte:
Imagem formatada = http://www.dudabrama.com/2009/12/08/quintana

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ialmar Pio Schneider (Caderno de Trovas)


Acabou-se da memória
o desejo de te amar,
mas ninguém me rouba a glória
de em meus versos te cantar!...
* * *
A desculpa não aceites
de que o relógio parou,
pois na cabeça os enfeites
foi ela que te botou.
* * *
Alta noite, escrevo versos,
sentindo a falta de alguém;
quem me dera que dispersos,
ela os ouvisse também...
* * *
Amiga de muitos anos,
companheira de verdade,
enfrentando os desenganos,
ela se chama: saudade.
* * *
Amor platônico, medo
de não ser correspondido;
quando alguém ama em segredo,
depois fica arrependido…
* * *
Andei por árduo caminho
no qual não quero andar mais;
e voltei para o meu ninho
como voltam os pardais...
* * *
Anoitece lentamente
quando medito sozinho
e me quedo descontente
distante do teu carinho.
* * *
A noite desceu aos poucos
e no céu surgiu a lua
para os boêmios e loucos
que vagam a esmo na rua.
* * *
Ao tentar criar poemas
para contar minha história,
me deparei com dilemas
na fase contraditória...
* * *
Aquela que um dia fez
meu coração palpitar,
hoje não saiba, talvez,
desta saudade sem par.
* * *
Às vezes me contradigo
sem querer, naturalmente,
pois corro sempre o perigo
de te amar inutilmente.
* * *
A trova que canto agora
tem sabor de nostalgia,
por alguém que foi embora
quando mais bem a queria.
* * *
Busco na trova a harmonia
para equilibrar a vida;
é o resumo da poesia
em quatro linhas contida.
* * *
Cada paixão que me invade
surge do amor que não tive;
e representa a saudade
de quem neste mundo vive.
* * *
Chega em casa quando quer,
mas o dia já raiou,
e vai dizendo à mulher:
- O meu relógio parou!
* * *
Como tarda anoitecer
nestes dias de verão,
quanto é difícil viver
mergulhado em solidão.
* * *
Contigo no pensamento,
eu vou compondo esta trova,
porque neste sentimento
minha paixão se renova.
* * *
Coração aventureiro,
vive sonhando um amor,
que pode ser verdadeiro,
infeliz ou enganador.
* * *
Cresce a planta no jardim
por força da natureza;
e cresce dentro de mim
o amor à tua beleza.
* * *
Desejo fazer somente
o que deveras me apraz,
levando os sonhos em frente,
deixando as mágoas pra trás.
* * *
De manhã cedo levanto
e ao Senhor dos Céus imploro,
que me ajude quando canto
e me console se choro.
* * *
Desejo que o nosso amor
nunca seja de mentira;
por isto sou trovador
romântico, ao som da lira.
* * *
De tudo que amo e venero,
vem em primeiro lugar,
teu beijo doce e sincero
que me faz revigorar.
* * *
Devo te dizer cantando
para que escutes sorrindo
e assim vás acreditando
que eu não esteja fingindo...
* * *
Dos versos soltos que faço,
um deles tem mais calor;
porque lembra teu abraço
e nossos beijos de amor..
* * *
Duas coisas levo medo,...
faço pouco e até duvido:
mulher que guarde segredo,
livro ao dono devolvido!
* * *
Eis que chega a primavera,
trazendo-me novo alento,
vivo o “suspense” da espera
de te encontrar num momento…
* * *
Escrevo trovas sentidas
num desabafo de dor:
são as ilusões perdidas
de certo frustrado amor.
* * *
Esse amor que tu me deste
foi efêmero, fugaz...
Por isto a tristeza investe,
arrebatando-me a paz.
* * *
Este amor que não resiste
às tentações deste mundo,
se não fosse assim tão triste,
pudera ser mais profundo.
* * *
Estivemos frente a frente,
mas nenhum de nós sorriu;
parecias diferente
que me deixaste arredio.
* * *
És uma estrela tão alta,
brilhando no firmamento,
que a minha canção exalta
no calor do sentimento.
* * *
É tão tarde... a madrugada
daqui a pouco vai raiar;
e pensando em minha amada
quero dormir e sonhar...
* * *
Eu agora não me espanto
e nem me causa pavor,
o terrível desencanto
que sofri por teu amor.
* * *
Eu caminho lentamente
pelas areias do mar,
debaixo do sol ardente
que descamba devagar...
* * *
Eu fui ficando distante
e vivendo da saudade,
pois desejo, doravante,
somente a sinceridade...
* * *
Eu fui te ver certo dia
e apenas me confundiste;
ia cheio de alegria
e voltei magoado e triste.
* * *
Eu fui vivendo meus dias,
procurando te olvidar,
e quantas horas vazias
se arrastavam devagar...
* * *
Eu já vou me convencendo
que nada sei pra ensinar;
amei tanto e não compreendo
o que significa amar.
* * *
Eu levo a vida cantando
minhas trovas e canções;
só assim vou afastando
mágoas e desilusões.
* * *
Eu não sou navegador,
mas enfrento o mar da vida,
por causa do nosso amor
que não teve despedida.
* * *
Eu te esperei tantos anos,
até não conseguir mais
aguentar os desenganos
que o teu desprezo me traz.
* * *
Eu te quis com tanto afã,
não pude te conquistar;
pela tentativa vã,
peço perdão por te amar...
* * *
Faço de conta que penso
e me concentro demais;
todavia me convenço
que não me encontro jamais...
* * *
Faço versos para alguém
que surgiu em minha vida
e agora com seu desdém
me deixou a alma ferida.
* * *
Faze da trova teu lema
com grande satisfação
e terás em cada tema
um motivo de emoção.
* * *
Fiquei contente ao saber
que realizaste teu sonho,
pois fazes por merecer
um futuro assaz risonho.
* * *
Fora bom que tu partisses
para nunca mais voltar;
assim talvez conseguisses
que eu pudesse te olvidar...
* * *
Foste a morena brejeira
que surgiu em meu amor
como o botão da roseira
que agora não dá mais flor.
* * *
Fui feliz antigamente,
quando era um pobre menino;
e só vivia o presente,
sem me importar com o destino.
* * *
Hoje não tenho alegria
por sentir esta saudade
que nasce de quem fazia
a minha felicidade.
* * *
Iremos os dois sozinhos
em meio da multidão,
por diferentes caminhos
que jamais se encontrarão.
* * *
Já não canto por desgosto
e nem por felicidade,
mas, à tardinha, ao sol-posto,
eu me quedo na saudade...
* * *
Mesmo depois de velhinho,
se Deus me der esta graça,
quero sentir o carinho
do amor total que não passa...
* * *
Meu amor foi o mais louco,
pois nasceu de uma esperança,
que não vingou nem um pouco
e transformou-se em lembrança.
* * *
Meu amor simples em tudo
não te convenceu bastante,
porque permaneço mudo
ao te ver tão deslumbrante.
* * *
Meu coração se consterna
olhando a noite estrelada;
no mundo quem me governa
são as carícias da amada.
* * *
Meu coração se enternece
quando vejo os passarinhos,
no instante que a noite desce,
retornarem aos seus ninhos.
* * *
Meu coração treme ainda
ao lembrar-te com saudade,
porque por seres tão linda
eras a felicidade!
* * *
Minhas mágoas já são tantas
que não posso descrevê-las;
é como se pelas tantas
fosse contar as estrelas...
* * *
Nada te digo nem quero
que alguma coisa me digas;
se às vezes me desespero
eu me desfaço em cantigas...
* * *
Não estás junto comigo
nestes momentos adversos;
no entanto, pra meu castigo,
vives inteira em meus versos!
* * *
Não façamos desta vida
um motivo de revolta;
nesta estrada sem saída
é tão difícil a volta.
* * *
Não foram horas perdidas
as que passei junto a ti;
são lembranças bem vividas
que nunca mais esqueci...
* * *
Não há mentira mais louca
da que sai do coração,
pois a que nasce da boca
quase sempre é pretensão.
* * *
Não há poder que consiga
me demover da vontade,
de tê-la só como amiga
quando me assalta a saudade.
* * *
Não me iludem teus olhares
e nem tampouco teus risos:
são expansões singulares
ou desejos indecisos ?!
* * *
Não te desprezo, nem quero
o teu desprezo, igualmente;
se o amor não é sincero
procuro esquecer, somente...
* * *
Não vais chorar, certamente,
ao saberes que te quero
e creias, porém, somente
que tudo... tudo é sincero.
* * *
Nesta manhã radiante
de sol claro e resplendente,
por seres tão inconstante,
me deixas tão descontente...
* * *
Nosso amor já teve fim,
pois não esteve ao alcance
o que você quis de mim
pra ter sucesso o romance.
* * *
O amor à primeira vista
visitou meu coração,
mas no instante da conquista
vi que tudo foi em vão.
* * *
O amor de quem não desiste,
seja forte, seja brando,
há de permanecer triste
que nem flor que vai murchando.
* * *
O amor platônico vive
em minhas trovas também;
foi um que uma vez eu tive
e não me fez muito bem.
* * *
O amor tem prazer e pranto,
também mágoas e carinhos;
pois assim sendo, portanto,
não há rosas sem espinhos!
* * *
O calor convida ao mar
aonde o meu desejo vai,
preciso te procurar
quando a tarde aos poucos cai.
* * *
O que me causa tristeza
não é saber que não me amas,
é tão-somente a certeza
que sofres e não reclamas !
* * *
O tempo que tudo apaga
só deixa recordação,
que nem uma viva chaga
sangrando no coração.
* * *
Para esquecer-te procuro
me envolver na multidão,
mas não me sinto seguro
e retorno à solidão.
* * *
Para sofrer tanto assim
fora melhor não revê-la;
está tão longe de mim
como se fosse uma estrela.
* * *
Para te amar me concentro,
esperando chegar a hora;
pois quem não ama por dentro,
não adianta amar por fora.
* * *
Para tê-la novamente
andei por muitos caminhos
e retornei descontente
sem conseguir seus carinhos...
* * *
Para viver com carinho
procurei amar alguém;
hoje sinto que sozinho
eu vivia muito bem.
* * *
Pelo amor sempre sonhado
e nunca correspondido,
vou cantar um verso alado
pra que chegue ao teu ouvido.
* * *
Pelos caminhos da vida
fui deixando para trás,
como em cada despedida
um sonho que se desfaz.
* * *
Penso em ti quando a saudade
me visita de surpresa
e na minha soledade
recordo a tua beleza.
* * *
Perambulando sozinho
pelas ruas da cidade,
procuro achar o caminho
que leva à felicidade.
* * *
Perdido em divagações
sento à beira do caminho,
como se as recordações
não me deixassem sozinho.
* * *
Perto de ti me convenço
que nada posso fazer,
sem empregar o bom senso
para afinal te esquecer.
* * *
Por mais que tente esquecê-la,
não consigo meu intento,
sempre será qual estrela,
brilhando no firmamento.
* * *
Posso perder-te... que importa
se não queres me aceitar...
Há muito tempo está morta
a vontade de te amar.
* * *
Proclamas que és minha amiga...
ou foges da realidade ?!
Não te importas que eu te diga
desejar mais que amizade ?!
* * *
Quando te vejo sorrindo,
não consigo disfarçar,
este desespero infindo
de não poder te beijar.
* * *
Quantos amores têm fim
por falta de persistência,
não concretizando assim
a base da convivência.
* * *
Quem há de saber do enredo
de um romance fracassado,
se tudo fica em segredo
e nenhum quer ser culpado?!
* * *
Quem quiser ser trovador,
seja primeiro aprendiz,
mesmo em matéria de amor
se aprende pra ser feliz.
* * *
Roubei-lhe um beijo, ao passar
ao meu lado, sorridente;
e lembrando seu olhar,
de noite, dormi contente...
* * *
Saudade!... palavra viva
do que ficou no passado;
és o bem que nos cativa
para sempre ser lembrado!
* * *
Se amar causa sofrimento;
é preciso suportar...
pois não há pior tormento
do que sofrer sem amar...
* * *
Se amei e fui preterido,
pouco me importa até quando,
pois não me dou por vencido
e continuo te amando.
* * *
Se eu não sentisse saudade
daquela que tanto quis,
talvez a felicidade
não me fizesse infeliz.
* * *
Segue teu rumo que eu sigo
o meu destino também,
se não pude andar contigo
vou procurar outro alguém...
* * *
Segura o pouco que tens
e amanhã podes ter mais,
porque de todos teus bens
preponderam ideais.
* * *
Se leres os versos soltos
neste livro de lamentos,
que não te assaltem revoltos,
infelizes sentimentos...
* * *
Sempre existe na existência
pra nos fazer infeliz,
um amor sem convivência
que a gente esperou e quis.
* * *
Sendo um simples aprendiz
de saber da trova o enredo,
sinto que não sou feliz
e me condeno em segredo.
* * *
Se o amor não tem futuro
e vive só da esperança,
é qual um tiro no escuro
e sem querer você “dança”.
* * *
Se pudesses compreender
a paixão que me enlouquece,
nunca mais o teu viver
uma só mágoa tivesse...
* * *
Se tens amor e resistes
às ligações perigosas,
teus dias não serão tristes
e viverás entre rosas...
* * *
Se tens amor não escondas,
muito sofri por contê-los;
ele surge como as ondas
e foge ao não ter desvelo...
* * *
Se tens amor não o escondas,
proclame-o para quem é;
as paixões são como as ondas
que aproveitam a maré.
* * *
Se te querer foi loucura,
eu serei um triste louco,
por te dar tanta fartura
e ter em troca tão pouco.
* * *
Sócrates assim dizia:
“Eu só sei que nada sei.”
E com tal filosofia
eu também responderei.
* * *
Sofro por ti, me atormento
a cada instante que passa;
e neste martírio lento
vou vivendo na desgraça...
* * *
Tenta fazer do teu verso
uma lição de ternura;
então terás do Universo
a mais sublime ventura...
* * *
Trovas de amor e saudade
trazem mil temas diversos,
mas predomina a amizade
nascendo de tantos versos...
* * *
Tudo não passou de um sonho
tão rápido e fugidio;
um pensamento enfadonho
que de nada me serviu.
* * *
Tu me procuras sorrindo
e te recebo contente,
como se fosse surgindo
um novo amor de repente!
* * *
Tu mereces muito mais
daquilo que posso dar-te,
mas um dia entenderás
que te dei toda minha arte.
* * *
Tudo tem o seu começo
e um fim também há de ter,
mas das dores que conheço
a pior é não te ver...
* * *
Vai-se um amor... outro vem...
e assim se passam os dias.
Os nossos sonhos também
são de mágoas e alegrias.
* * *
Vida de amor e saudade,
que junto com nossos sonhos,
também traz a realidade
e momentos enfadonhos.
* * *
Vive de amor, se te apraz,
e nunca percas a calma;
porque a verdadeira paz
só se encontra dentro da alma.

Fonte:
O Autor

Ialmar Pio Schneider (1942)

Entrevista realizada virtualmente por José Feldman (PR) com o poeta e trovador Ialmar Pio Schneider (RS), para o blog Pavilhão Literário Singrando Horizontes.
JF: Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou, sua trajetória literária.

Nasci no município de Sertão/RS em 26-08-1942. Filho de Henrique Schneider Filho e dona Amábile Tressino  Schneider, ambos falecidos.

Cursei o primário em minha terra natal na Escola Pio XII das Irmãs Franciscanas onde diplomei-me inclusive em datilografia com 13 anos de idade. Ingressei no Ginásio Cristo Rei dos Irmãos Maristas em Getúlio Vargas/RS que conclui após 4 anos, em 1959, período em que iniciei a compor poesias. Daí transferi-me para Passo Fundo/RS onde ingressei no Colégio N. Sra. da Conceição dos Irmãos Maristas cursando então simultaneamente o Curso Científico e a Escola Técnica de Contabilidade por um ano e meio, continuando a escrever poesias inclusive gauchescas, algumas das quais foram publicadas no Jornal do Dia, de Porto Alegre, até que um concurso público para o Banco do Brasil S.A. me levou a Cruz Alta/RS, onde assumi em 1961, poucos dias antes de completar 19 anos de idade.

Posteriormente integrei o corpo de funcionários da agência de Soledade/RS, que estava em Instalação, o que ocorreu em 1962. Completei o curso em Técnico de Contabilidade em 1962, permanecendo por 5 anos na cidade, onde exerci o cargo de Fiscal da Carteira Agrícola do Banco até ser transferido para a Metr. Tiradentes do Rio onde não cheguei a tomar posse, tendo feito uma permuta tríplice com outros dois colegas, vindo a assumir em Canoas/RS, em 1967, para logo após um ano se transferir para São Leopoldo/RS em nova permuta com outro colega, onde tencionava tirar o Curso de Direito da Unissinos, o que não se concretizou.

Casei-me em 1968 com Helena Dias Hilário, de Soledade/RS e transferi-me para a Agência Centro do Banco do Brasil S.A de Porto Alegre, em 1969. Residindo em Canoas, nasceu minha filha Ana Cristina Hilário Schneider. Permaneceu por 3 ou 4 anos compondo poesias diversas inclusive a maior parte de seus poemas gauchescos ainda inéditos bem como muitos sonetos então com 30 anos de idade. Resolvi novamente transferir-me de cidade a fim de ficar mais próximo dos meus parentes e os de minha esposa e pleiteei uma permuta, que consegui para a cidade de Passo Fundo, tendo lá permanecido por cerca de 3 anos, ocasião na qual requeri e fui transferido para a agência do Banco em Palmas/ PR, onde residiam minha mãe e irmãos, de cuja remoção desisti pelo motivo de minha esposa ser professora estadual e não ter conseguido aproveitamento naquela cidade. Com dificuldade em adquirir casa de moradia retornei a Canoas voltando a residir e a trabalhar no Banco até que em uma concorrência nacional para fiscal da Carteira Agrícola do Banco fui nomeado para a cidade de Antônio Prado/RS, onde permaneci por 2 anos e meio aproximadamente.

Em 1980, regressei a Canoas onde adquiri um apartamento em que resido até hoje, na rua que leva o nome do grande pintor Pedro Weingartner tendo feito vestibular para a Faculdade de Direito do Instituto Ritter dos Reis, classificado em segundo lugar de que também participou o ilustre jogador de futebol do Internacional Paulo Roberto Falcão, que logo depois transferiu-se para a Itália.

Trabalhando no Banco do Brasil- agência de Canoas e estudando, só consegui formar-me em Direito nas Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis em 1990, após 10 anos de curso superior. Enfim, antes tarde do que nunca.

Transferi-me para o CESEC do Banco do Brasil Sete de Setembro em Porto Alegre, onde trabalhei até 1991, tendo completado 30 anos e alguns dias de serviço no Banco quando me aposentei por tempo de serviço.

Por enquanto, resido na cidade de Porto Alegre/RS, no Bairro Tristeza, com uma vista maravilhosa para o Rio Guaíba, em uma janela do qual até um joão-de-barro já fez um ninho há uns dois anos. Como diz o inigualável poeta gauchesco saudoso Jayme Caetano Braun: “Eu até fiquei contente/ Dizem que dás muita sorte !”em seu poema “João Barreiro”.

Atualmente minha filha é casada, ambos advogados, com escritório.

Durante os meses de verão, dezembro até fevereiro, permaneço em Capão da Canoa/ RS, cidade praiana, onde produzo diversas poesias: poemas, sonetos e trovas. Nos últimos dois anos desloquei-me com a família por uns dez dias em final de temporada para a praia de Canavieiras, precisamente Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis/SC.

Eis em rápidas pinceladas a sucinta biografia rotineira de um poeta menor.

JF: Ialmar, se é poeta menor, então eu nem existo, precisaria um ultra microscópio para me encontrar (risos). Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Total estímulo e incentivo inclusive éramos 6 filhos, 4 irmãos e 2 irmãs e nossos pais só tinham como meta o nosso estudo.

JF: Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever.

Muitos livros de poesias: Fagundes Varela, Casemiro de Abreu, romances de Paulo Setúbal, os grandes romances do Cristianismo, trovas de Adelmar Tavares e diversos outros. Mas o romancista que mais me agradou foi Lima Barreto, antes Dostoiewsky, Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, Cronin, uma infinidade de autores, enfim. Desculpe se não cito todos, nem um por cento talvez.

JF: Teve a influência de alguém para começar a escrever?

Foi naturalmente através das leituras escolares.

JF: Tem Home Page própria (não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)?

Tenho diversos blogs que podem ser encontrados procurando por IALMAR PIO SCHNEIDER no Google, como http://ialmar.pio.schneider.zip.net/; http://ialmarpioschneider.blogspot.com http://ial123.blog.terra.com.br

JF: Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

Nunca pensei nisto. No Brasil acho que só meia dúzia o consegue.

JF: Como começou a tomar gosto pela escrita?

Para conhecer e aprender, pois acho que todo o livro é de auto-ajuda.

JF: Você possui livros?

Fiz a estréia editorial na obra TROVADORES DO RIO GRANDE DO SUL, org. por Nelson Fachinelli, em 1982. Publiquei a obra poética SONETOS E CÂNTICOS DISPERSOS, em 1987. Figuro em outras coletâneas. A última obra, POESIAS ESPARSAS DIVERSAS, de 2000.

JF: Como definiria seu estilo literário?

Eclético para poesia e crônicas também.

JF: Que acha de seus textos: O que representam para si? E para os leitores?

Acho que são a expressão do meu pensamento. A maioria dos leitores dizem gostar.

JF: Qual a sua opinião a respeito da Internet? Tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

Tem contribuído muito e eu considero o mais valioso meio de publicação atual, ainda mais para quem não tem a grande mídia ao seu dispor.

JF: Tem prêmios literários?
Alguns.

JF: Participa de Concursos Literários? Qual sua visão sobre eles? Acha que eles tem “marmelada”?
Participo às vezes. Tenho visto trovas sem nenhum fundamento serem premiadas.

JF: Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente precisa de algum ambiente especial ?
Surge de repente, não sei de onde nem quando.

JF: Você acredita que para ser poeta ou trovador basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

Tudo é essencial, principalmente muita leitura.

JF: No processo de formação do escritor é preciso que ele leia livros de baixa qualidade?

É preciso distinguir.

JF: Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós chega apenas o que a mídia divulga. Na sua opinião que livro ou livros da literatura da língua portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

Os clássicos: Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Rui Barbosa. Paulo Setúbal, Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, Lya Luft e outros. Os bons escritores. A lista é infindável. Poesias de Vinicius de Moraes, Guilherme de Almeida e os clássicos também Castro Alves, Fagundes Varela, Alvares de Azevedo, Olavo Bilac, tantos e tantos.

JF: Qual o papel do escritor na sociedade?

Ensinar e divertir também.

JF: Há lugar para a poesia em nossos tempos?

Há sim. Aqui no sul principalmente a poesia gauchesca, os sonetos românticos. Basta declamar uma poesia atraente todos gostam.

JF: A pessoa por trás do escritor

Um bancário aposentado, um advogado não militante e um diletante em literatura.

JF: O que o choca hoje em dia?

A violência e a falta de saúde pública.

JF: O que lê hoje?

Romances e poesias. Estou curtindo um ócio criativo. Nada de muito profundo.

JF: Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Continuar escrevendo nos blogs e talvez preparar um livro de poemas e poesias gauchescas.

JF: De que forma você vê a cultura popular nos tempos atuais de globalização?

Vai andando aos trancos e barrancos, mas com o andar da carroça as abóboras se ajeitam na caixa.

JF: Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?

Ler bastante e escrever mesmo errando.

JF: O que é preciso para ser um bom poeta ou/e trovador?

Muita leitura e perspicácia.

JF: Trovas de sua autoria.

Cada paixão que me invade
surge do amor que não tive;
e representa a saudade
de quem neste mundo vive.

Eu não sou navegador,
mas enfrento o mar da vida,
por causa do nosso amor
que não teve despedida.

Foste a morena brejeira
que surgiu em meu amor
como o botão da roseira
que agora não dá mais flor.

Não foram horas perdidas
as que passei junto a ti;
são lembranças bem vividas
que nunca mais esqueci...

Perambulando sozinho
pelas ruas da cidade,
procuro achar o caminho
que leva à felicidade.

JF: Finalmente, se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos quais seriam?

Boa saúde, meios para continuar vivendo e a felicidade da Humanidade inteira.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Delcy Canalles (Monólogo da Desintegração)

Sempre disseste que és meu amigo
E  que entendes
esta  imensa  tristeza ,
que  trago  comigo ...
Talvez, por isto, eu sinta, hoje,
esta  necessidade  estranha ,
esta  necessidade  tamanha
de  falar  contigo,
de  dialogar ,
desabafar  ,
de  explodir,
de  chorar !
E é em meio a este desespero,
que  eu  quero,
que eu  espero,
que  eu imploro,
quase  em choro,
que  me  ouças ,
que compreendas,
que  escutes
e  que  entendas
esta  catarse sem peias ,
que eu sinto correr nas veias,
buscando  liberação,
para esta angústia incontida,
para esta  tristeza  sentida ,
que oprime meu coração !
Tu, que estudaste o átomo,
em  sua  contextura ,
elementos, dimensão,
ajuda-me a descobrir a essência
_qual  estudioso  da  ciência _
do que é desintegração!
Não da matéria bruta, inanimada,
mas da matéria viva,
 orgânica, humanizada!
Não podes me ajudar?
Eu já sabia!
Eu sentia! Eu temia! Eu previa!
É que as leis ,que os cientistas formularam,
se  aplicam à matéria  inerte, fria!
Por isso, tens de calar!
Mas eu não. Eu quero falar!
Quero contar-te, agora,o meu exemplo,
como se eu me confessasse, a  ti ,
num grandioso e extraordinário templo,
onde serias tu , amigo , o confessor ,
e  eu , aquele que busca ,
busca , em ti , um consolo pra dor!
Imagina um ser humano machucado pela vida,
arranhado  pelo destino ,
violentado em sua própria alma,
afastado da pessoa que mais ama,
privado de descanso, paz, sossego e calma!
E se isso, meu amigo, não  bastasse,
jogassem , contra ele , uma bomba fantástica,
da  maneira mais drástica,
como aquela que abateu Hiroshima
e, não ,apenas, matou,
mas destruiu, desintegrou,
tornou aquela terra, dantes,tão povoada,
um  vazio de vidas ,
um deserto  de nadas!
Tu ris ? – Eu  acabo de ver!
E  tens razão de rir,
pois não chegaste a entender
o que eu quis te dizer !
E, então , como tu, eu também rio:
Ah !  Ah ! Ah !
Mas o meu riso é triste,é desolado,
é um riso nervoso, é um riso aparvalhado,
é um riso falso de tristeza e dor!
É um mecanismo. Entendes ?
De  defesa !
É formação  reativa
do meu estado  interior !
Tu choras , amigo  meu ?
Choremos juntos , então.
Enfim , tu compreendeste
o que é  desintegração !
Esse  alguém , de triste  fado,
que um dia,
há muito , nasceu !
Hoje, desintegrado,
ainda  existe :
– Sou  Eu !!!

Fonte:
http://www.delcy.poeta.ws/

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Flávio Roberto Stefani (Caderno de Trovas)

Abaixo a guerra entre irmãos!
 Plantemos a paz somente.
 - Quem tem sementes nas mãos
 não tem granadas na mente.

Brancos, negros e amarelos,
se a causa é justa e loquaz,
juntam braços, que são elos
forjando as cores da Paz!

Brinquedos bons eu não tinha,
mas sabia achar maneira,
e com latas de sardinha
eu tinha uma frota inteira.

Brinquedos de guerra, não,
pois quem brinca de matar,
amanhã – de arma na mão -,
vai matar para brincar!

Chuta o balde a Dona Mima
porque o marido, Vavá,
em vez de partir pra cima,
vai pra baixo do sofá...

Com malícia, a lua cheia
vestiu de luz nosso leito
ao te ver desnuda, alheia,
aconchegada em meu peito.

Destino cruel se encerra
neste turismo obsoleto:
quando o frango sobe a serra,
não desce - vira galeto!...

De surpresa, muitas vezes,
 vinha o noivo da vizinha...
 e depois de nove meses,
 nasceu uma surpresinha...
 
È mais feliz a criança
que recebe amor profundo,
pondo luzes de esperança
no quarto escuro do mundo.

Embora rudes e escassos
os bons atos, em geral,
o Natal recria laços
num simples “Feliz Natal!”

Em ternura plena e extrema,
 nossos sonhos se cruzaram.
 E a noite se fez poema...
 E os versos também se amaram!

Entre os licores mais puros
que a vida me fez provar,
estão os lábios escuros
que me deixaste beijar.

É tão nojenta a franguinha,
tão cheia de blablablá,
que se um dia for galinha,
nem raposa a comerá…

Eu, boêmio sem comando,
 nos dias mais enfadonhos,
 passo os dias chimarreando
 na varanda dos meus sonhos!

Ganha contornos de festa,
de festa vira euforia,
quando Deus se manifesta,
abrindo os olhos do dia!

Garibaldi, esses vinhedos
dão vinhos com tal sabor,
que o licor dos teus segredos
está no próprio licor.
 
Gerador de paz e calma,
 que dispensa cerimônia,
 o livro é o jantar da alma
 nas noites claras de insônia.

Já velhinho, o marinheiro,
que foi das ‘gatas’ xodó,
hoje só e sem dinheiro,
levanta a âncora... e só!...

Não tem cura, é de matar,
bebe tanto o Zebedeu,
que outro dia foi trocar
seu nome pra “Zebebeu”...

Na pescaria, de fato,
notei teu jeito chinfrim,
mas o olhar era de gato:
um no peixe e outro em mim...

Nascedouro de certezas
 e ninho de inspiração,
 a lua afasta as tristezas,
 pondo paz no coração.

No abandono das marquises,
meninos dormem de mão,
fingindo que são felizes
nos braços da solidão.

Quando a euforia me invade,
nas luzes do amanhecer,
puxo a corda da saudade
para esticar meu viver.

Queres falar de bem perto
 à mãe da sabedoria?
 Procura o balcão aberto
 de uma boa livraria.
 
Se a violência é demais,
num mar que não se detém,
pega o rumo de outro cais,
onde o amor ancore o bem.

Sendo forte, sendo inquieta,
com requintes de magia,
a trova é o cais do poeta,
onde se amarra a poesia!

Sendo mal utilizada,
 a liberdade, no fundo,
 não dá tiros, não dá nada,
 mas fura os olhos do mundo!...

Vendo a franga em sério apuro,
grita o guri, na janela:
- Mamãe, o galo, eu lhe juro,
vem vindo a cavalo nela...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Carol Carolina (Cristais Poéticos)

SONHO E FANTASIA
-
Sonhei que era rainha
E reinava num castelo
Uma fada por madrinha
Tudo fino muito belo

Sapato com flor de ouro
Pura riqueza de se ver
Não tinha nada de couro
Bonito de fazer doer

Vestido de seda pura
Coisa fina com certeza
Mais parecendo pintura
A roupa de realeza

Minha vida de rainha
Teve fim e se acabou
Ao sol minha cadelinha
Latiu alto me acordou

Quero dormir novamente
E quem sabe recomeçar
O meu sonho envolvente
Para ao castelo voltar

ANDANDO NA CHUVA

 Andando na chuva
 Numa tarde calma
 Afoguei as mágoas
 Eu e minha alma

 Eu e minha alma
 Aqui lembrando
 De coisas minhas
 Continuei andando...

 Continuei andando
 Sem ligar para nada
 Vendo meu reflexo
 Na calçada molhada

 Na calçada molhada
 Nada para descrever
 Só o coração sentindo
 Não vou te esquecer

NOITE DE HORRORES...RONDEL

Meu amado RS está de luto e meu coração também. Como gaúcha que sou lamento a morte de 235 flores em pleno desabrochar.
Um vento devastou todas as flores do jardim
Deixando tudo cinzento e sem as belas cores
O dia amanheceu triste e uma sensação ruim
Desespero, lamentos, grandes perdas, dores

Não existia mais o suave perfume do jasmim
No ar a fumaça preta, espessa de mal odores
Um vento devastou todas as flores do jardim
Deixando tudo cinzento e sem as belas cores

Como poder entender algo inesperado assim
Tantos sonhos perdidos e junto seus amores
Misto de dor e saudade que jamais terão fim
Noite sofrida envolvida pelo circo de horrores
Um vento devastou todas as flores do jardim

ESPERANÇA (Indriso)

Linda e renovada eis a esperança
De grandes olhos verdes é dotada
 Sorriso largo igual de uma criança

Companhia que fala embora calada
Só energia nos traz sua presença
 Com ela é mais leve a caminhada

Perfumada como a flor da laranjeira

Te quero junto comigo a vida inteira..

CHEGA LOGO PRIMAVERA

Chega logo primavera
Vem meus olhos encantar.
Trazendo lindas flores
E pássaros a cantar.

Vem com o teu colorido
Inundar os nossos campos
Daquelas flores pequeninas
Parecendo grandes mantos.

Traga azaleia, margarida e
Vasinhos com violetas
Pois estas quero entregar
Aos nossos amados Poetas.

Hortência, amarilis e gerbera
Copo-de-leite, gerâneo e jasmim
Rosas, muitas rosas variadas
Mas as rubras por favor,todas prá mim.

Te pareço egoista Primavera?
Mas te dou uma boa razão.
As rubras enlevam minhàlma
E afagam o meu coração.

Fontes:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=241039
http://poetisacarolcarolina.blogspot.com/
Imagem = obtida no facebook do Espaço Das

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ieda Cavalheiro (Teia de Poesias)


FASE DE FAZER

 Saudade de ti... Que fase!
 Que fazes, que faço eu,
 das luas de nosso amar?

 Saudade de ti... que fazes tu?
 Que fase a minha!
 Tua e minha lua, côncavas,
 Na Via Láctea infinita em versos.

 Em que fase, conseguirei,
 Que, o que faças
 transmute teu verso
 em meu inverso,
 fase maior do meu universo?

LIBERDADE

 Essa noite sou tua.
 És meu inteiro!
 Como eu,
 Nua, a lua nos encara,
 Banha-te em luz .
 O vento varre os anos
 do meu - teu tempo,
 A nuvem encobre, solícita,
 As rugas e as imperfeições
 do meu - teu semblante,
 perfeitos, ficamos,
 perfeitamente, livres...
 e amantes,
 em busca,
 do sempre inenarrável.

ALEGRE PORTO

 A Porto Alegre - terra onde semeei dias e amores.

Porto Alegre, berço beira-rio,
Olhos cravados nos sonhos,
Ontem, futuro incerto,
Busquei teu céu - amanhã,
Muro azul, minha imaginação,
Magia de sol avermelhando no horizonte.

Rezei-te terços em luta, mais de meia vida,
Semeei de meus passos tuas ruas,

Praças, igrejas, escolas, casas de cultura,
Teu lago, um sorriso aberto,
Amenizou meu semblante-fantasia,
É minha a honra de seres o chão
Dos filhos de meus sonhos.
Hoje, dias obscuros, paço de meus amores,
Doces e terríveis momentos,
Ternura e luta - realização,
Estrela guia de tantos natais,
Vou contigo, tortuosas curvas,
Busco-te, alegre porto,
Amo-te mais e mais.

BARALHO DE AMOR  

Cinquenta e duas cartas de amor
Em tuas mãos solícitas,
Acarinhando e embaralhando tanto,
A trocá-las de lugar a cada instante,
Formando maços, traçando ouros,
Em copas, fazendo diferentes laços,
Afugentando sonhos e percalços.
Espadas em estranhos desenlaces,
Qual rei em guerra, sem valetes.
Perdida dama de paus,
Sem rumo entre coquetes,
Joguete, apenas.
Como último cartucho, o ás d’ouro,
A arder, qual ferro em fogo, 
Debato-me entre as damas
Reis e ases de alto luxo,
E coringas são insuficientes
Para salvar-me, abatida em mesa, 
Sonolentas vão 
As esperanças de deter-te,
Do monte, lanço mão.
E os sonhos já se acabam...
Em última partida agonizo,
Em mãos, o sete belos d’ouro,
Transforma-se à paixão,
Cartada vil de mísero baralho,
Sob a manga mágica do sonho,
E na última rodada, já em transe,
Banco o amor sem esperança,
Entrega especial antes de morrer: 
Viciado de ti, o coração…

A VOZ QUE CALA

A voz que cala no vale,
Sopro de tua voz,
Cheiro de tua boca,
Independente de ti,
Fica ao meu ouvido
Retumbante nos ares,
Dizendo da paixão 
Que nos arrebata para a vida.

A voz que cala nas colinas,
Vento devastador
Destruindo esperanças, 
Em nossas formas
Submersas no tempo
Que não nos exploramos, 
Submissa às visões do mundo,
Mais que palavras que falam de ti.

A voz que cala na cachoeira,
Brisa serena do universo de nós,
Do mais profundo de ti,
Emergente em meu ser,
Lava nossas almas
Do pecado originado,
Orações não rezadas 
De meu clamor por ti.

A voz que cala em tua boca, 
Teus beijos não dados, 
Nossa ânsia louca
Não nos entregando,
Relíquias do prazer 
De nos termos para sempre,
Mesmo na certeza de te ter, 
Não te tendo aqui.

A voz que cala no silêncio,
É a minha a teu ouvido,
Sinfonia que não quer parar
E te ofertando
O tema escolhido, 
Inacabado assim, mas salutar, 
Virtual, virtuoso, reprimido,
Vida e sobrevida para amar.

A voz que cala no tempo,
É meu ser que invade o teu, 
A lira que me encanta, 
E, maga, realiza meu sonho,
Apesar do desencanto, 
De tua surdez aos meus apelos,
Indubitavelmente,
É a voz do meu amor por ti.

SOU

 Sou teu sonho, teu deleite,
 Sou teu lençol , sou teu leito,
 Sou vida da tua vida,
 Sou o pelo do teu peito.
 Sou conto dos teus romances,
 Sou poesia de tua alma,
 Sou doce enlevo em teu monte,
 Sou linha da tua palma.
 Sou resposta aos teus anseios,
 Sou tua ira, tua calma.
 Sou tua sombra, tua escada,
 Sou pássaros em revoada.
 Se te ganho sou mulher,
 Sou fiel e apaixonada,
 Se te perco, és meu sonho,
 Sou uma folha empoeirada.

GRITO PELA PAZ

 Grito por esse amor imenso
 Rasgando meu pensar:
 - grito de paz, dos desvalidos,
 Na guerra a soçobrar,
 Dos aleijados de braços, pernas,
 De órfãos de pais,
 De irmãos de amar,
 De ouvidos loucos
 E corpos combalidos.
 Grito pelas insanas naus,
 Barcos sem velas
 Bombas sem rumo,
 Largados do oriente,
 Insanidade moral,
 Desatinada e má,
 Ativada por homens
 Ditos do bem,
 Em nome de um deus,
 Que ao encontro não vem.
 Grito desse ocidente explorado,
 Ainda tão criança,
 De exploração do verde
 E roubo da esperança.
 Grito por luzes não acesas
 E falta de água,
 De arroz e de feijão plantados
 Sem esperança de colheita,
 Pela fome e a miséria
 Que ao humano espreita.
 Grito pelas águas dos rios,
 Mudando de cor, sabor e berço.
 Grito pelos pássaros,
 Que não passarão de ovos...
 Pelas baleias e
 Tubarões mortos,
 Sem deixar herdeiros
 Para esticar sua história...
 Grito pela Paz,
 Onde tantos gritam pela guerra.
 Grito por meus gritos,
 De querer crer,
 Que a PAZ não é quimera
 PAZ é BEM
 Que há de ser à aurora,
 Iniciado no amor
 De um por outro ser!

Fonte:
http://www.teiadosamigos.com.br/Nossos_Poetas/ieda/index.html