sábado, 23 de fevereiro de 2008

Entrevista com Gonçalo M. Tavares (Joca Terron)

Gonçalo M. Tavares é um abalo sísmico no panorama da literatura portuguesa atual. Após estrear em 2001 com Livro da dança, publicaria no ano seguinte nada menos do que outros quatro títulos de poesia, teatro e ficção. Na época, foi recebido pelo decano ensaísta Eduardo Prado Coelho como já “um dos maiores poetas para o século XXI”. O escritor português nascido em Angola tem cumprido a sina: em tão pouco tempo, lançou 21 livros em 12 países e é bem recebido pela crítica.

No Brasil sua fulminante trajetória não é diferente: apenas nos últimos meses saíram Um homem: Klaus Klump (Companhia das Letras), seu primeiro romance, além de O senhor Juarroz, O senhor Kraus e O senhor Calvino, habitantes da série O Bairro (Casa da Palavra) que vieram se juntar a O senhor Brecht, publicado em 2005. Tamanha proficiência é coroada agora com a seleção deste último e do romance Jerusalém ao prêmio Portugal Telecom, ao qual ambos concorrem como finalistas.

Autor de obra caracterizada não somente pela exuberância criativa, mas também por rigorosos jogos de lógica que misturam poesia e filosofia sem nunca deixar de divertir o leitor, Gonçalo M.Tavares revela alguns de seus enigmas. Livros, para ele, têm principalmente a missão de aumentar a lucidez.

ENTRELIVROS – Qual era a sua disciplina para escrever no período que antecedeu a publicação de seus primeiros 14 livros, vindos à luz incrivelmente em apenas três anos?

GONÇALO M. TAVARES – Escrevo desde muito cedo, mas as coisas ficaram sérias a partir, talvez, dos 20 anos. E publiquei o meu primeiro livro só aos 31. Sempre foi meu desejo não publicar antes dos 30; uma fixação como qualquer outra. Queria ter um percurso anterior que me desse grande confiança. Bem, nesses dez, 11 anos – entre os 20 e os 30 – levantava-me muito cedo, uma obsessão, e normalmente às 6h30 da manhã já estava a ler e a escrever. Esses dois atos estavam e estão ainda muito ligados: lia-escrevia. Fazia isto todas as manhãs, com uma ou outra exceção, mas rara. E o que aprecio mais no meu percurso é mesmo este período; foi necessário muita disciplina, autodomínio. Às vezes pergunto-me como fui capaz de seguir essa disciplina. Agora é bem mais difícil.

EL – E havia tempo para viver? Como você concilia o mergulho na escrita com o convívio com os seus?

TAVARES – Sim, havia e há muito tempo para viver. Mas antes de continuar, deixe-me dizer-lhe que a pergunta pressupõe que ler-escrever não é viver; mas acho que é viver sim, e muito, de uma forma muito intensa. Ler e viver são experiências de vida claramente, e experiências humanas. Não são experiências de extraterrestre ou exteriores à vida. Não saímos da vida para ir ler, e depois voltamos. Não sei por exemplo se é possível hierarquizar a experiência de fazer uma viagem importante e a experiência de ler um livro como O homem sem qualidades, de Musil, ou Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski. São coisas diferentes, mas ambas fortes. Voltando à sua pergunta: como me levantava muito cedo, às 11 h, 11h30 estava no resto da vida, por assim dizer, e mergulhava nela por completo. Fiz o que tinha a fazer nessa idade, viajei bastante, sofri o suficiente – não quero mais disso, tenho a minha dose.

EL – Você era um ávido leitor na infância? Ainda é na mesma proporção?

TAVARES – Sempre li bastante, mas na infância não era daqueles meninos que ficam de lado a olhar para os outros. Passei a minha infância, parte dela, na rua a jogar a bola com amigos, ao soco por vezes, nos namoricos, vivi muito no exterior. Comecei a ler cada vez mais e a certa altura percebi que a leitura era um eixo central na minha vida. Li e leio constantemente, e sinto, tal como para a escrita, falta de alguma coisa quando não leio um único dia. Tornou-se uma coisa muito biológica, orgânica. Preciso de ler. Tal como necessito de escrever. Por vezes, quando não escrevo fico irritado como se não tivesse ainda almoçado e já tivesse passado a hora para isso. É algo muito fisiológico. Mas não se deve romantizar a coisa: claro que posso passar sem escrever ou ler; mas se o fizer sinto falta.

EL – Há um poema de Juan José Saer que diz “Bem-aventurados os que estão na realidade/e não confundem suas fronteiras”. Há, na sua opinião, alguma distinção drástica entre a vida que escritores e leitores vivem nos livros e a vida supostamente real?

TAVARES – Bem, como lhe disse, considero-me um bom leitor – estou atento, tento ler o que é bom, se alguém que eu respeito me fala de um autor que eu não conheço no dia seguinte estou a ler esse autor, mas, apesar disso, estou bem metido no real. Dou aulas numa universidade, o que me faz estar em contato com alunos, com gerações de rapazes e raparigas de 20 e poucos anos e isso é muito bom – obriga-me a não estar fechado. Por outro lado, tenho uma robusta família: tenho três filhos: conhece maior chamamento à realidade do que esse? Aí, não há que inventar, e a imaginação não resolve problemas: é a vida real no seu sentido mais urgente. Os filhos exigem de nós tudo e dependem de nós, desde a comida, às frases que lhes dizemos, aos contatos corporais; tudo é importante e muito real. Felizmente, tenho filhos porque realmente o perigo era ficar como Dom Quixote, louco dos livros e da escrita. Eles são o real, que está mesmo ao pé de mim. Se estão com fome, preciso agir.

EL – Há algo de verdadeiramente novo no panorama da literatura portuguesa, além da pouca idade de alguns de seus praticantes mais recentes? Há ainda a possibilidade do novo em literatura?

TAVARES – Bem, em primeiro lugar só se pode fazer o novo se se conhecer o velho. Como posso saber se estou a fazer algo de novo se não sei o que os outros fizeram? Daí que um escritor, para mim, tenha de ser, primeiro, um leitor. Há escritores que escrevem sem ler nada e depois pensam que fizeram coisas muito novas. Como leram pouco não podem saber que milhares de escritores já fizeram aquilo. Os chineses têm um ditado que é ao mesmo tempo uma maldição: “Não te atrevas a escrever um livro antes de ler mil”, parece-me sensato. Quanto a fazer o novo, acho que é isso: temos de saber o que já se fez e o que se faz, tal como um investigador em física conhece as investigações de física dos séculos passados e também as actuais. Depois, sim, pode-se investigar a sério, tentar algo novo.

EL – Parece surgir uma voga de autores cujas imaginações não se limitam aos limites geográficos de seus países. Você se sente um autor português?

TAVARES – Julgo que o mais importante quando se escreve é a língua e por isso é evidente que me sinto um autor português e, mais importante que isso, um autor de língua portuguesa. Penso que a língua deve ser o mínimo denominador comum. O que julgo não fazer sentido é falar-se em “temas portugueses”. Os temas que me interessam pertencem ao homem, não ao homem português. Interessa-me perceber o medo, o mal, a violência, mas também os gestos surpreendentemente bondosos; interessa-me ainda a lógica da linguagem etc. Não são temas portugueses, são temas humanos. Mas, de qualquer maneira, um escritor ao utilizar a língua portuguesa tem logo uma ligação inatacável à sua origem. Repare que um artista plástico, português ou brasileiro, aí, sim, pode fazer, no limite, obras de que não saibamos identificar a origem ou a nacionalidade. Eu escrevo em língua portuguesa, portanto é fácil identificar a minha origem. E tenho orgulho em escrever nesta língua.

EL – Da mesma forma, seguindo a derrocada das linhas geográficas, o hibridismo de gêneros literários é uma constante em sua obra. A que isso se deve e como se configura?

TAVARES – Os gêneros literários são quase sempre definidos pelo receptor e não pelo emissor, digamos assim. O que me parece preocupante é que o emissor, o escritor, antes de escrever já se submeta às lógicas de recepção, e portanto se sente na cadeira a pensar: agora vou escrever um romance, agora um poema, agora um conto. Penso que o ponto de partida de um escritor não é um gênero literário qualquer, o ponto de partida é o alfabeto. Há letras e com elas formo palavras, mas posso escrever o que quiser, ir por qualquer caminho. O alfabeto não tem gênero literário. Por isso, por mim, tento sentar-me e escrever, simplesmente. E às vezes sai de uma maneira, outras vezes sai de outra e realmente há livros que eu não sei classificar: são
ensaio, um romance? Por exemplo, eu designo alguns livros que fiz como “bloom books”, outros como “investigações”. Enfim, tento por vezes dar-lhes o nome que me parece mais próprio. Mas alguns textos não sei mesmo o que são. O importante é que façam pensar, aumentem a lucidez do leitor, provoquem se possível reações, outras criações etc.

EL – Suas ficções fazem uso de uma linguagem poética. Gonçalo M. Tavares é essencialmente um poeta?

TAVARES – Não, eu acho que sou um escritor. Escrevo. Depois saem livros muito diferentes entre si. Julgo é que tudo pertence a uma mesma massa de instinto, racionalidade, angústias, ironia etc.

EL – Da mesma forma, sua poesia trava intenso diálogo com a filosofia. É possível filosofar em português? Quando surgirá um livro seu de filosofia pura?

TAVARES – Tenho muito respeito pela filosofia e pelos filósofos. Sou um leitor atento de ensaios. Mas precisamente por esse respeito tenho de dizer que é evidente que não sou um filósofo. Penso que a filosofia e as idéias são muito importantes para a escrita, não gosto de livros que não pensam e não nos fazem pensar. Acho sinceramente que isso é um desperdício. Se neste século a literatura não nos fizer pensar, o que é que nos vai fazer pensar? A televisão, o teatro, o cinema, as artes? Bem, eu acho que tudo isto pode ajudar-nos a pensar, mas, apesar de tudo, penso que a literatura ainda é, e deve ser cada vez mais o espaço por excelência do pensamento, da reflexão, enfim, da lucidez. E não precisa de ser pensamento filosófico, nada disso. Através de uma história podemos fazer pensar. Mas claro que não é uma historieta qualquer, não pode ser novela porque aí a televisão faz melhor. A literatura é outro mundo, é o mundo em que alguém está a ler um livro e pára, se necessário, numa linha, numa frase e interrompe a leitura e a partir dessa frase, se necessário, reflete ou põe em causa toda a sua vida. A literatura tem um tempo que dá ao leitor; na literatura o tempo é do leitor, acho isso muito importante. O mesmo livro de 100 páginas pode ser lido em duas horas, em dois meses, ou em dois anos. E nenhum tempo de leitura é melhor do
que outro. É o leitor que o define.

EL – É raro um autor ter tão organizada sua produção na forma de séries. Sua forma de conceber a literatura é tão racional como essa idéia de serialização sugere?

TAVARES – Não, não sou assim tão racional. Aliás, acho que a organização dos meus livros por linhas e séries é uma maneira de eu tentar colocar alguma ordem na desordem do que vou fazendo. Interesso-me por muitas coisas de várias maneiras e depois de fazer algo tento organizar, até para facilitar a vida do leitor.

EL – Qual a importância dos exercícios lógicos em sua obra? Gonçalo M. Tavares seria um leitor de Lewis Carroll e Georges Pérec?

TAVARES – Sou leitor desses autores,como de autores completamente diferentes, Jünger ou Musil ou Thomas Mann. Acho que o que me caracteriza como leitor é partir para um livro para receber o que ele me quer dar e não para exigir que ele me dê o que eu quero receber. Se eu ler Borges, por exemplo, é evidente que ele não me dá coisas que me dá Dostoiévski. Da mesma forma,se eu ler Dostoiévski à espera que ele me dê coisas que Borges ou Calvino dão, vou sair frustrado. Nenhum autor dá tudo o que precisamos na nossa vida, em todos os momentos. O maior dos autores não nos dá tudo, e ainda bem. Por isso, tento receber o que o livro quer dar. Mas em relação à lógica e aos paradoxos, julgo que isso é uma das linhas que me interessam, apenas uma das linhas. A esse nível, é um pouco como se investigássemos os limites do mundo e da linguagem. E, por exemplo, os paradoxos lógicos são muito importantes a esse nível: mostram-nos as limitações da nossa forma de ver o mundo.

EL – Há em Um homem: Klaus Klump uma cena de violação sexual (no capítulo 11) de extrema violência e ao mesmo tempo narrada de forma poética. A poesia pode ser violenta? Quais são os poetas contemporâneos que o agradam?

TAVARES – O que eu julgo importante é não ver o mundo como se fosse claro/escuro. O mal e o bem são coisas que estão misturadas e muitas vezes se confundem. Tal como a beleza e o horror. Julgo que a lucidez passa muito por chamar a atenção de que a beleza esconde por vezes coisas terríveis e que no terrível há por vezes coisas que merecem ser olhados com atenção e que nos ensinam muito.

EL – Não há nos senhores de O Bairro uma relação direta de seus nomes (o senhor Brecht, o senhor Kraus, o senhor Juarroz, o senhor Valéry) com suas biografias. São as idéias que conformam esses personagens ou eles seriam apenas homônimos?

TAVARES – O Bairro, no seu conjunto, e quando estiver todo pronto, é um projeto enorme. Vai durar toda a minha vida. Acho que no final vai ficar algo como se fosse uma história da literatura, mas em ficção. É, se calhar, a minha forma de fazer ensaios. São personagens que, embora guardando um pouco o espírito do nome que levam – quer seja pelo tema, pela lógica de pensamento, escrita etc. –, são ficcionais, autônomas, personagens que fazem o seu caminho.

EL – A recepção crítica ao seu trabalho tem sido formidável, apesar dos matizes inegavelmente experimentais nele presentes. Como se dá isso? E a recepção do público, acompanha a da crítica?

TAVARES – É bem agradável ser bem recebido por críticos; é fundamental para um escritor ser acompanhado no que vai fazendo e críticas inteligentes permitem que o escritor por vezes esclareça na sua cabeça coisas do seu próprio trabalho. Uma crítica de qualidade é fundamental; considero, no geral, não falando no meu caso pessoal, que os críticos são muito, muito importantes. E é assim com muita pena que vejo em Portugal a diminuição drástica do espaço que os jornais dão à crítica literária. Cada vez há menos espaço, os críticos, agora, têm dois parágrafos para escrever sobre um livro. Isso é terrível. Não sei se está a acontecer o mesmo no Brasil, espero que não, mas em Portugal os suplementos literários dos grandes jornais estão a desaparecer e o espaço para a reflexão pensada está também a evaporar-se. Quanto à recepção do público é também bastante simpática, mas tenho a consciência absoluta de que os meus livros não são best-sellers, nada disso. Mas o relevante é que entre os leitores há belos leitores e há ainda outros criadores. Das coisas mais agradáveis é ver artistas plásticos, pessoas do teatro, do cinema etc. fazerem obras a partir dos meus livros. Isso é muito bom. É a sensação de que há uma corrente eléctrica que me ligou antes a outros autores e continua agora ligando outros autores aos meus livros.

EL – Jerusalém recebeu alguns dos mais importantes prêmios da literatura portuguesa e agora é finalista do Portugal Telecom no Brasil. Devemos nos fiar no atestado de excelência que os prêmios dão? E qual seria esse atestado?

TAVARES – A qualidade dos prêmios depende, antes de tudo o mais, da qualidade dos que dão o prêmio, dos jurados. Se pessoas de qualidade me dão prêmios fico contente. Quanto ao resto, eu considero- me muito filho de Sêneca. As Cartas a Lucílio, de Sêneca, é talvez o livro que mais marcou a minha vida. Tenho uma parte estóica: guardo alguma distância em relação ao que vai acontecendo. O importante é fazer o meu caminho. Prêmios são agradáveis, claro, mas apesar de tudo são coisas laterais ao nosso trabalho.

EL – Em certa ocasião, Paulo Leminski disse que, dada a pouca representatividade no mundo de hoje, escrever em português ou não escrever é a mesma coisa. Como você espera ultrapassar as barreiras impostas por uma língua não majoritária?

TAVARES – Bem, apesar de tudo o português é falado por muitos, muitos milhões de pessoas. Não é assim tão minoritário. Há dias estive com escritores eslovenos, e aí a coisa é mais dura. A língua eslovena é falada por 2 milhões em todo o mundo. Isso é mesmo minoritário. Mas é evidente que faz sentido o que Paulo Leminski diz, pois todas as línguas são de certo modo provincianas face à língua inglesa, que é mesmo o centro. De qualquer maneira, felizmente, os meus livros estão a começar a ser muito traduzidos, a uma velocidade pouco comum. Estão a sair, em 12 países, 17 livros diferentes – é bom. Mas, claro, escrever diretamente em inglês é ganhar 50 anos em relação a quem escreve noutra língua.

EL – Você tem sofrido alguma “pressão” para que haja algum habitante lusitano em O Bairro?

TAVARES – Tenho sofrido pressões para várias entradas (risos). Mas em relação ao habitante lusitano ele já lá está, no desenho do projeto do bairro. É o sr. Pessoa, mora no prédio do sr. Pirandello.

EL – Da mesma forma, os leitores brasileiros podem ter esperança de terem um compatriota vivendo em lugar tão ilustre? Um senhor Machado ou uma senhora Clarice, por exemplo? Por falar nisto, os habitantes de O Bairro não sentem falta de mulheres por lá?

TAVARES –O meu Bairro de senhores é um bairro como outro qualquer: há pessoas que se podem mudar para lá, e há outras que podem sair. O senhor Machado era muito bem-vindo ao Bairro, e daria uma grande personagem, tenho a certeza, tal como a senhora Clarice. Aliás, a senhora Clarice tenho a sensação de que se vai mesmo mudar para lá... e, sim, senhoras fazem sempre falta, mas já vivem lá a sra. Wolf e a sra. Bausch. Inédito: O país ingênuo `A tristeza era tanta que os sorrisos passaram a ser pagos. Alguns funcionários do Estado, disfarçados, diluídos na multidão das cidades, observavam os poucos cidadãos sorridentes que passavam, e, discretamente, mandavam-nos parar.

Apresentavam-se: Funcionários do Estado!, diziam, e pediam depois a identificação do sorridente. Registavam nome e morada.

Ao fim do mês, os referidos cidadãos recebiam o cheque. Durante o mês de fevereiro foi visto três vezes a sorrir na rua – estava escrito – com data e hora - no pequeno documento que acompanhava o dinheiro.

A quantia dada por cada sorriso não era uma fortuna, mas digamos que ser visto pelo Estado a sorrir nove vezes durante um mês dava perfeitamente para viver sem dificuldades.

Pois bem, em pouco tempo o clima emocional do país alterou- se por completo. Seja por avidez ou pela própria natureza das coisas o país em dois anos tornou-se conhecido pelo “permanente e impressionante optimismo dos seus cidadãos”, como se dizia numa agência de notícias internacional.

Os subsídios do Estado aos sorrisos terminaram pouco tempo depois; mas como ninguém informou os cidadãos eles mantiveram aquele sorriso estúpido, repugnante, desadequado, inútil, sem razão de ser.´

Fonte:
Revista Entrelivros. edição 29 - Setembro 2007
Gonçalo M. Tavares: “Ler para ter lucidez”.
http://www2.uol.com.br/entrelivros/

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