quinta-feira, 13 de março de 2008

Eliane Potiguara (Literatura Indígena: Instrumento de Conscientização)

Avanços na luta do movimento indígena brasileiro têm se dado de forma concreta. Apesar de algumas dificuldades, e apesar de alguns pontos isolados como falta de apoio das políticas públicas ainda, a Educação Indígena _ hoje_ no Brasil já é uma realidade. É uma Educação diferenciada, onde a cosmologia indígena está ali inserida no seu sentido mais amplo. Dentro deste aspecto, há de se situar a Literatura Indígena como um instrumento de conscientização, força e libertação.

Essa Literatura deve ser incentivada através da Educação Indígena, no dia a dia das escolas, para que os próprios indígenas sejam realmente os interlocutores de suas culturas, tradições e visões de vida. No entanto, outro aspecto de fundamental importância há de se considerar. É a tradicionalidade do discurso oral pelos componentes mais idosos, idosas e pajés da comunidade que não pode, de forma alguma, ser ignorado. Na realidade, esse discurso é a base sólida, é a conceituação, são os princípios primordiais étnicos que fundamentam essa tradição e que fundamentarão a escrita, a partir de valores lingüísticos próprios de cada povo indígena.

Diante do mundo moderno e de alguns aspectos maléficos da neocolonização e globalização, se reforça que é necessário o registro escrito, realizado pelos próprios indígenas como uma medida de precaução e cuidado para que o “contar” e historiografia indígenas, não caiam no domínio público, ou que terceiros ou instituições sejam beneficiados nos aspectos financeiro, histórico e moral pelos direitos autorais.

Povos indígenas do mundo inteiro lutam, através dos fóruns nacionais e internacionais pela conservação da cosmologia, contra predadores naturais ou impostos, no caso de filosofias burguesas, religiosas, filosofias de cunho “pátreo-pseudo-moral”, filosofias coloniais ou imperialistas. O empobrecimento social das etnias também é um fator que causa a perda dos valores culturais, espirituais, éticos. Ali as mulheres, as crianças e os velhos e as velhas acabam sendo muito mais sobrecarregados pelo peso da discriminação social e racial, como é o caso da situação de fome e suicídio no Mato-Grosso do Sul/Brasil. O empobrecimento e a destruição das terras indígenas também são fatores de alto risco. Centenas de exemplos se têm dessa situação.

A literatura indígena cumpre o papel de resgate, preservação cultural, fortalecimento das cosmovisões étnicas.O futuro escritor indígena deve ser já incentivado, na aprendizagem da Educação bilíngüe e Educação em geral, desde pequeno. O escritor indígena é o futuro antropólogo, aquele que vê, enxerga e registra. Povos indígenas devem caminhar com seus próprios pés.

Núcleos de pensadores e escritores devem ser também incentivados e capacitados dentro das Organizações indígenas, assim como muitas vezes, falou-se em discutir a questão de gênero, de raça e etnia nas Assembléias. Os problemas identificados devem ser imediatamente direcionados para estudos objetivando estratégias, mecanismos que busquem a solução das dificuldades, dos conflitos e das diferenças.

Quando a rosa desabrocha, as abelhas vêm espontaneamente sugar-lhe o mel. Deixemos que a rosa de nosso coração, de nossa alma e caráter desabroche completamente na sociedade brasileira, a partir de um testemunho de nossa capacidade, auto-gestão, diálogo e ética, para que essa sociedade desconstrua, rapidamente, o discurso e prática atuais que causam a exclusão de povos indígenas. Os resultados e o respeito aparecerão.
Pensadores e escritores indígenas: Contem e criem então!
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