sexta-feira, 18 de abril de 2008

Artur de Carvalho (Marcelo, Marmelo, Martelo)

Ao Marcelo Andrade e ao Marcelo Martinez. Dois amigos.

Não tem erro pior no mundo que trocar o nome de alguém. Ainda mais quando são pessoas mais ou menos chegadas. E não sei se é problema de idade, ou o quê, mas ultimamente está acontecendo comigo com mais freqüência do que meu estoque de desculpas esfarrapadas permite. É, porque a gente sempre arruma uma desculpa:

- E aí, Marcelo?

- Marcelo? Que Marcelo?

- Você... quer dizer...

- Meu nome é Hélio, Artur.

- Ah, é... Hélio... Mas onde é que estava com a cabeça? Sabe o que é, Hélio? É que eu estava aqui, pensando num quadro que tenho de pendurar na parede... E não conseguia encontrar o martelo...

- E o que é que tem?

- Você entende, né? Martelo... Marcelo... Me atrapalhei... Desculpa aí...

A sorte é que existem pessoas que entendem o nosso constrangimento. Outro dia desses, eu precisava falar com o diretor da escola da minha filha, o seu Agenor. Entrei na sala dele, minha filha ficou esperando do lado de fora.

- Bom dia, seu Agenor? Como vão as coisas?

- Tudo bem, Artur... Sente-se.

- E a família? Como vai a dona Estela?

- Tudo bem também...

Conversamos mais ou menos uns dez minutos. Ele, um homem super educado. Na hora da saída, ainda se lembrou da minha esposa.

- Manda um abraço para a dona Telma, Artur...

- Pode deixar, seu Agenor. Eu mando.

Saí da sala dele. Chamei minha filha e fomos embora. No caminho, a minha filha perguntou:

- E aí, pai? O que é que o seu Angelo queria?

- Angelo? Que Angelo?

- O diretor da escola, uai...

- Angelo, é? Mas não é Agenor?

- Não. É Angelo.

- E... Vem cá, filha... Por um acaso você sabe se a mulher dele se chama Estela?

- Não sei, por que?

- Nada não. Deixa pra lá...

Mas o que me deixa razoavelmente tranqüilo é que essas coisas não acontecem só comigo. As outras pessoas também, volta e meia, trocam o meu nome... Não sei porque cargas d'água, sempre aparece um que me chama de Raul... Olha que de Artur para Raul tem uma diferença e tanto. Mas não adianta. Outro dia desses, por exemplo, eu estava num evento aqui em Votuporanga, fazendo uma noite de autógrafos para o meu livro recém lançado. Chegaram uma mãe e sua filha de uns doze anos. A mãe veio logo se chegando, e dizendo que eu era o ídolo da filha dela. E cutucava a garota com o cotovelo:

- Fala pra ele, filha...- e a filha não falava nada.

E ela continuava:

- Porque a minha filha não perde uma crônica sua no jornal... não é filha? - e cutucava a filha. E a filha nada. Aí a mulher comprou um livro e pediu um autógrafo. Para a filha, é claro. Eu perguntei como era o nome da menina. E a mãe:

- Silvia. Silvinha.

E eu, todo orgulhoso, peguei a caneta e escrevi ali, na contracapa "para a silvinha, com um beijão".

Assinei e entreguei o livro para a garota. Ela se encolheu. Ficou vermelha. Não sabia onde colocar as mãos. Aí a mãe deu outro cutucão.

- Agradece o seu ídolo, filha!

E a garota:

- Muito obrigado, seu Raul.

Eu fico pensando. Será que alguém erra o nome do Michael Jackson?

Fonte:
http://www.releituras.com

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