segunda-feira, 14 de abril de 2008

Curso de Redação em Português (Parte Final)

Erros de construção

De acordo com Melo (1980, p.87), quando se redige cometem-se alguns erros que comprometem a qualidade do texto. Por exemplo: justificar-se por fazer uma má redação; pela pobreza de nosso vocabulário, por não conseguir dar conta da expressividade, por ter falsa simplicidade; dizer que vamos expor o próprio ponto de vista, por enfatizar o tema dizendo que é importante e muito polêmico. Outro problema é justificar o fato de que não sabe escrever, comunicar que na figura a ser exposta ou o objeto a ser descrito descrever é difícil apontar suas características. Ou para concluir a essência, fazer uma novela, história com início, meio e fim.

Segundo o autor, é necessário evitar "historinhas"; escolher e seguir um planejamento de "pergunta/resposta" de conversa geralmente sem propósito; dirigir a escrita para uma desgraça, com muito sangue, desespero, dor, lances de melodrama; não tomar posição, ficar em cima do muro, querer agradar a todos, e temer a desaprovação; aceitar como verdadeiro uma atitude de moral e palavras em geral, sentenciando a totalidade das coisas e a todas as pessoas, sem deixar espaço para pensar, respirar, digerir, escolher.

Apresentar esses problemas ao construir o texto não acrescenta nada à hora de desenvolver a redação, pelo contrário: atrapalha no desenvolvimento do texto.

Erros de argumentação

Muitas vezes o aluno começa bem o texto, porém comete erros de argumentação; isto é, erros de raciocínio ou provas empregadas para apoiar ou negar uma afirmação.

O discente tem que colocar atenção a cada momento de argumentar antes de passar seu texto a limpo. Os erros produzem-se por ignorância ou inexperiência da pessoa que argumenta. Em ocasiões, recorre-se a uma argumentação incorreta de forma consciente, com a intenção de convencer ao destinatário da mensagem por meios racionais.

No livro, Redação Inquieta, Bernardo (2000, p.95-103) menciona falhas de argumentação como: a confusão causa-efeito; o círculo vicioso; a estatística tendenciosa; a fuga do assunto.

A confusão causa/efeito consiste em estabelecer como causa de um fato que aconteceu imediatamente antes do tempo. Por exemplo: Meu pai encerrou o cachorro. Depois de poucos dias, tinha raiva o animal. Portanto, o encerramento é o que causou a raiva. Analisando a frase, a raiva é posta como efeito da causa "cachorro". Ora, é ilógico afirmar que a conseqüência de encerrar o cachorro dê raiva.

O círculo vicioso consiste em fazer uma afirmação e defendê-la apresentando razões que significam o mesmo que a afirmação original, ou seja, duas proposições que carecem igualmente de prova. Por exemplo: o sal se dissolve porque é solúvel. Ou provar a origem do homem pelo intelecto divino e o intelecto divino pela origem do homem.

A estatística tendenciosa acontece quando um determinado tema é pesquisado sob a forma de tabela, apoiado num levantamento apressado de fatos. Com esse tipo de redação, o aluno quer terminar rápido e faz uma conclusão mal feita. Por exemplo: Carolina é medica e não fuma; os médicos não fumam.

Algumas cobras são venenosas, logo, todas o são.

O argumento autoritário é quando se apela para as palavras de uma pessoa famosa ou autoridade, ou seja, dá-se opinião e impressiona-se o opositor. Usam-se adjetivos violentos e covardes. Por exemplo: Como vais pôr em dúvida minhas palavras (diretora), se eu fui votada pela maioria dos professores?

A fuga do assunto é quando o discente faz uma frase e na seguinte se desvia da idéia.Por exemplo: a ciência é muito importante para humanidade, a história estuda o passado. Ou: o amor é a ferramenta do ser humano, a paixão é dolorosa.

A seguinte citação também pode ajudar:

Muitas vezes, distraídos, incorremos em erros imperdoáveis ao argumentar. Tais enganos podem anular o que tínhamos dito anteriormente. Uma frase infeliz pode derrubar um império!

Chamamos a atenção para as seguintes incorreções:
1. Confundir causa com conseqüência ou vice-versa;
2. Deduzir algo que não pode ser retirado daquele fato;
3. Atribuir uma frase a alguém que não seja o seu autor;
4. Fazer referência a um fato histórico de modo incorreto e/ou absurdo;
5. Deixar uma frase incompleta, interrompendo o raciocínio e introduzindo outro assunto (trate-se da figura denominada "Anacoluto") (Melo, 1980, p.98).

Esta citação ajuda a reforçar as palavras de Bernardo; portanto, uma frase ou idéia mal elaborada pode acabar com o texto.

A gramática na redação

Sabe-se que quando se fala de redação estamos falando de uma combinação de frases, uma combinação de classes de palavras, por isso, é bom conversar com os alunos sobre o porquê eles têm que aprender gramática na hora de redigir.

O professor é referência no momento de explicar a gramática na redação, pois a gramática é o caminho para escrever certo. A citação de Bernardo nos mostra isso:

O que importa é ter sempre muito claro que faz parte do escrever bem fazê-lo respeitando escrupulosamente o código. Isto deve ser lembrado aos alunos, o tempo todo, de muitas maneiras e por todos os professores. Se todos ensinamos a ler, a escrever e a raciocinar, parece óbvio que todos devemos ensinar a língua portuguesa, preocupando-nos em mostrar o certo e corrigir o errado [...]. (BERNARDO, 2000, p.36)

Para escrever um texto, o aluno precisa saber a gramática e isso deve ser lembrado por todos os educadores.

A escola deve preparar o aluno para a "vida", e se o educando pergunta "para que me serve aprender língua portuguesa?", a resposta está em Almeida (1984, p.10) "se você não souber falar e escrever direito, corretamente, você não arranja um bom emprego, não consegue passar num concurso, nem uma boa colocação...". A gramática serve sim, para elevar a auto-estima do aluno, e ele se sentirá bem com essa resposta.

Porém, se pensarmos na prática da produção de texto como uma forma criativa, quem tem a resposta é Possenti:

[...] Para se ter uma idéia do que significaria escrever como trabalho, ou significativamente, ou como se escreve de fato "na vida". Basta que verifiquemos como escrevem os que escrevem: escritores, jornalistas. Eles não fazem redações. Eles pesquisam, vão à rua, ouvem os outros, e lêem arquivos, lêem outros livros. Só depois escrevem, e lêem e relêem, e depois reescrevem, e mostram para colegas ou chefes, ouvem suas opiniões, e depois reescrevem de novo. A escola pode muito bem agir dessa forma... [...] (POSSENTI, 1996, p. 49)

O professor deve ser criativo na sala de aula, porque se os escritores e jornalistas fazem isso, por que os alunos não podem?

O professor e os alunos escolhem um tema para redigir, depois o professor pede a eles que pesquisem em livros, Internet, pessoas que possam ajudar no assunto. Só depois o mestre corrige. Isso seria fantástico!

Porém, apesar de a gramática dar um rumo importante para o estudante, a triste realidade muitas vezes é outra, pois muitos alunos passam fome e o educador, sem se importar com essa realidade, ensinam classes de palavras ou análise sintática, assuntos que não chamam a atenção de uma criança ou jovem que passa por dificuldades. Por isso, o educador precisa ser sensível e conhecer a turma e sua realidade antes dos alunos estudarem a língua portuguesa.

Agora, como se sabe que a gramática é o "conjunto de regras", e que é preciso segui-las, caso o aluno não aprenda e erre no momento de escrever, o educador terá paciência, já que erro é quando se sai de tais regras. Como expressa Possenti (1996, p. 78), "erro é tudo aquilo que foge à variedade que foi eleita como exemplo de boa linguagem". Para que não haja equívocos, o educando deve estar consciente de como corrigir, para não deixar o aluno constrangido.

Explicar para o estudante que errar é bom, mas acertar é melhor. Um exemplo de uma aula de português é a partir de uma frase, como escreve Possenti (1996, p.91), "uma aula de gramática seria partir de uma construção e dizer a mesma coisa de todas as formas que se puder obter, alterando o ponto de vista, ou seja, alterando a estrutura da frase sem alterar radicalmente seu sentido". Essa é uma forma de como trabalhar a gramática através de estruturas de frases, da qual muitos alunos iriam gostar.

Para tanto, o mestre tem que ser criativo, por exemplo:

A noite, naquele fim de mundo, cai pesadamente.
Naquele fim de mundo, a noite cai pesadamente.
A noite, pesadamente, cai naquele fim de mundo.
Pesadamente, naquele fim de mundo, a noite cai.

O vento, em movimentos bruscos, assovia agressivamente.
Em movimentos bruscos, o vento assovia agressivamente.
O vento, agressivamente, assovia em movimentos bruscos.
Agressivamente, em movimentos bruscos, o vento assovia.

O guarda tratou o garoto com ironia.
O guarda tratou-o ironicamente.

Se Deus quiser, dará uma de suas bolas ao menino.
Se Deus quisesse, daria uma de suas bolas ao menino.

A mãe pensou: se eu o ameaçar, ele pára de chorar.
A mãe pensou que, se ela o ameaçasse, ele pararia de chorar.

Considerações Finais

Em virtude dos fatos mencionados, a construção de textos criativos e a pré-escrita ajudará o discente a ter confiança de que vai elaborar uma boa redação, pois o ato de escrever o fará pensar sobre si mesmo e também na construção de idéias.

É bom saber técnicas, mas o mais importante é elevar a auto-estima dos educandos, posto que se a pessoa se sente capaz de escrever, escreve.

O mestre precisa desenvolver um grau de motivação para despertar o interesse no gosto de redigir, explicando para o estudante todos os passos necessários para a construção de textos bem elaborados. Outro ponto a considerar é que para fazer uma produção textual não tem como escapar da gramática, porque ela torna compreensível o texto.

E se o aluno comete erros? Vimos que, segundo alguns lingüistas como Sírio Possenti e Gustavo Bernardo, que o papel do professor é ajudar a corrigir e reconstruir a expressão ou palavra em que o aluno se equivocou. Desse modo, o educando se sentirá realizado.

Se o aluno tem consciência de sua redação, ele faz uma revisão dos possíveis erros, o que auxiliará ao professor ter menos trabalho na hora de corrigir; o mestre se sentirá orgulhoso de seu aluno.

Espero que este trabalho sirva para os professores e estudantes, pois minha intenção foi colaborar com aqueles que se interessam pelo ensino da língua. Entretanto, deixo em aberto a possibilidade para novos questionamentos e propostas para novas pesquisas.

Fontes:
Autor: Gonzalo Pérez Publicação: 23/06/06
http://www.mailxmail.com/curso/idiomas/redaportugues/
http://gattors.blogspot.com/ (figura)

Nenhum comentário: