sexta-feira, 20 de junho de 2008

Abel Fernandes (A Reunião no Bosque do Sonho)

Interessante! Que coisa estranha! Como posso estar aqui? Como posso estar sonhando e sabendo que estou sonhando? Sei que estou sonhando. Posso voar! Como é bonito aqui! E que seres estranhos, aqueles! Não são homens, nem bichos... Movem-se tão rápidos. São belos e horrendos ao mesmo tempo. Agora eles vêem em minha direção! Preciso fugir! Oh! Eis ali um homem. Tem aspecto bom! Talvez possa me socorrer. Ele olha para mim... Parece que está me chamando... Faz sinal para eu ir até ele... Mas como pode estar acontecendo isso comigo? Sei que estou dormindo e sonhando. Tudo isto que está acontecendo comigo é um sonho. Preciso acordar...Mas como? Esqueci -me de como se acorda! Estou ficando com medo. Aqueles bichos, ou melhor, aquelas coisas querem me pegar. Tenho que aproximar-me daquele homem. Será que é mesmo um homem? Está de túnica azul clara. Usa sandálias. Tem um belo bigode negro. Sua cabeleira, um pouco grisalha, cai-lhe sobre os ombros. Seu olhar é firme, poderoso. Em torno de sua cabeça há uma luz rosada. Ele parece brilhar. Parece irradiar uma luz. Aproximo-me dele. Ele faz sinal para eu segui-lo. Ele voa rápido! E eu também. Estamos indo para um bosque. Os seres estranhos, monstruosos, ficaram lá embaixo... Ainda bem! Mas que bosque lindo! Está povoado de seres belos... Crianças, donzelas, duendes, fadas, todos alados... São transparentes, brilhantes, multicoloridos... Leves como plumas. Todos sorriem. E dançam... O homem de túnica azul também sorri para mim. Sigo-o Como é bom voar! Que mundo lindo! Fantástico! Oh! Agora eis ali uma clareira. Há uns homens reunidos, também de túnicas azuis, nos esperando. Parece que vai haver uma reunião. Como são simpáticos! Aquele ali parece o mais velho de todos. Sem dúvida, é o líder. Parece que quer falar comigo. Mas que estranho. Ouço ele falando dentro de mim. É como se eu falasse a mim mesmo, mentalmente. Porém sei que é ele que fala. Diz-me que tem um assunto muito importante para tratar comigo. Um assunto muito sério. Pede-me para eu prestar o máximo de atenção. Diz-me que sou um ser humano, de certa forma, diferente dos outros. Os outros estão presos aos seus corpos. Ele me mostra uma cena. Parece uma tela de cinema. Uma imagem holográfica... Homens dormindo em seus quartos e sobre cada um deles prendendo-se um segundo corpo exatamente igual ao que dorme. Porém, parecem larvas... Seus movimentos são semelhantes aos movimentos de um verme. Estão presos aos corpos físicos por fios prateados. Não aprenderam ainda a usar seu segundo corpo. (Esse que uso agora.) Eu, porém, sou diferente. Posso mover-me a vontade. Subir, descer, mexer com as mãos. Rir, dançar, voar, pensar. Agora o mais velho diz-me que daqui alguns instantes eu despertarei e não me lembrarei de nada disto tudo. Pergunta-me se eu estou disposto a auxiliá-los em seu trabalho. Questiono: que tipo de trabalho? Que fazem eles? Ele responde que todos ali presentes ajudam a humanidade. Lutam por melhorar o mundo. Projetando no ar pensamentos positivos. De amor. De paz. De harmonia. A fim de que os homens mais preparados possam captá-los e tornarem-se melhores do que são. Pergunta-me se eu quero ajudá-los nesse trabalho. Digo-lhe que sim. Gostei deles... Irradiam paz, serenidade, harmonia... Quero ficar eternamente junto deles! Lembram certos filósofos da antiguidade. Certos santos e apóstolos... Mas que devo fazer?, pergunto. Ele responde-me: Escrever coisas úteis, boas, sadias, positivas. O mundo é movido pelas palavras... As palavras, ao caírem no seio da humanidade, são como um vento que desencadeia emoções e sentimentos... E tudo isso se transforma, depois, em ações, gestos, atitudes.. Se são palavras boas, os atos são bons. Se são palavras más, os atos são maus... Tudo gira em torno das palavras! Deve-se escrever por amor, diz ele. Não por ambição ou ganância de lucros! Porém, diz-me sorrindo, como quem não está me julgando, mas apenas fazendo um comentário sem importância, você é muito materialista. Passa a maior parte do tempo cuidando do seu estômago, da sua vaidade pessoal, dos seus interesses financeiros, familiares, de coisas ligadas ao sexo, a satisfação dos desejos... É uma pena, pois você tem talento. É um bom escritor. Escreve boas poesias... Diz-me que eu devo dedicar-me mais a minha arte. Que eu posso ganhar muito com isso. Diz-me que agora vou despertar. Que não me lembrarei de nada do que houve aqui. Oh! Estranho! Estou sendo puxado, sugado. Tudo está ficando escuro. Epa! Que ruído é esse? Ah! É o despertador! São sete horas. Esquisito... Parece que tive um sonho. Porém, não consigo lembrar-me! Preciso levantar-me. Tenho que encontrar-me com meus clientes às oito no escritório. Gostaria de escrever uns contos, uns poemas... Mas infelizmente, agora não posso. Meus clientes me aguardam. Depois vou almoçar com minha secretária. À tarde irei aos bancos negociar empréstimos com meus gerentes. À noite irei com minha esposa a uma reunião social. Detesto essas reuniões! Todos só pensam em beber, fumar, exibir-se, em falar de negócios, de coisas banais, de política... Puxa, terei um dia agitado! Não vai sobrar tempo para mais nada... Mas como eu sinto desejo de escrever! Tenho tantas idéias na cabeça. Estranho. Tenho certeza que sonhei algo interessante. Mas não consigo me lembrar. Não consigo me lembrar...

Fonte:
http://abelfernandes.blogspot.com/

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