segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cybele Meyer (Resgatando o prazer de aprender)

Desde que eu me conheço por gente, toda vez que alguém pergunta: “O quê você mais gosta de fazer na escola?”, a resposta é sempre a mesma: “Eu adoro brincar no recreio”.

Será que já paramos para analisar esta resposta?

Se desde que eu era criança (eu também respondia assim) até os dias de hoje, a resposta é a mesma, porque então não analisamos este comportamento.

Se por ventura viéssemos a tirar o recreio do período escolar, a criança não gostaria de mais nada?

Sabemos que é no recreio que a criança se sente soberana em suas atitudes e pode exercitar toda a sua criatividade. Há escolas onde o recreio é dirigido. Neste caso, a resposta das crianças, não é mais unânime, pois ao dirigi-la no recreio, estará sendo cerceadas em sua liberdade.

Se, nos propuséssemos tirar pelo menos um dia na semana para observar o comportamento dos nossos alunos no recreio, com certeza, iríamos saber como lidar com eles em sala de aula. É ali que eles são verdadeiros, que eles se mostram sem ressalvas.

Quando voltam suados de tanto correr e brincar, nós, mesmo antes de eles entrarem em classe, já começamos a cobrar silêncio e comportamento estático: “Você já correu bastante, agora sente-se e fique quieto”. Ao sentarem, cada um em seu lugar, ainda sentem correr nas veias o sangue da participação ativa e do interagir sem barreiras. E iniciamos nossa oratória exigindo silêncio absoluto não permitindo qualquer intervenção. Caso o aluno insista, rebatemos sem ao menos ouvi-lo: “Já não brincou o suficiente? Agora, fique quieto e preste atenção”.

Não estou querendo dizer que o professor, ao explicar a matéria, deva permitir que a classe esteja em completo alvoroço. Não, muito pelo contrário, quando se está explicando a matéria é importante o silêncio, uma vez que, é ouvindo que se aprende. Mas, o que deve ser feito antes mesmo de iniciar a explicação, é uma preparação para o assunto que será abordado. Você terá que valorizar o que você vai explicar. Tem que tentar, ao máximo, motivá-los para que prestem atenção. A atenção deve vir pela motivação e não pela imposição do silêncio. Deve alertá-los sobre a parte prática e sobre a utilidade e eficácia do tema em questão. Assim que você sentir que conseguiu atrair para si a atenção da classe, comece a explanação. Se esta explicação for construída sobre um entrelaçamento de raciocínio, alerte-os, antes de iniciar, para que não façam perguntas até você terminar, não desestruturando assim, a seqüência lógica em construção. Logo após a explicação abra espaço para perguntas e comentários. Desta forma, você terá uma classe interessada e participativa. Ainda hoje, há casos em que o desinteresse é rotulado como falta de respeito. É mais fácil atribuir a culpa ao outro do que a nós mesmos.

Será mais conveniente você combinar certos tipos de procedimento e ter um desenvolvimento tranqüilo na classe do que ficar tropeçando no próprio pé em razão de não ter estabelecido regras de comportamento. E o que não foi combinado, não será cumprido e não poderá ser cobrado.

Uma aula dialógica não existe somente porque eu permito que os alunos façam perguntas. Aula dialógica é aquela em que eu induzo os alunos a questionarem e a opinarem sobre o tema. Ao professor caberá aguçar o interesse e o raciocínio do aluno. Desperte neles a dúvida que é o primeiro passo rumo ao conhecimento. Depois de esgotados todos os recursos, caberá ao professor a conclusão e o fechamento do pensamento.

Há quem diga que reproduzir uma aula é sinal de aprendizagem. Na verdade o que indica que houve aprendizagem não é a reprodução de uma aula e sim a produção do conhecimento. O aluno tem que fazer uma releitura do que o professor explicou e depois dar sua versão através do raciocínio. Assim sendo, precisamos desmistificar a versão de que o aluno que argumenta com o professor é um aluno mal educado ou um aluno que desacata o professor. Temos que desmistificar que o “saber” e a “verdade” são atributos somente do professor.

Adotando, o professor, estas posturas, terá ele uma classe produtiva, motivada e participativa. A avaliação passará então a ser uma conseqüência natural da aprendizagem, sem temores e sem traumas. O professor também perderá o hábito de usar a avaliação como um instrumento de poder, ou seja, não usará mais a prova como uma arma para conseguir a disciplina coercitiva, profetizando, concomitantemente, que os alunos terão dificuldades.

Se conseguirmos manter a sintonia e a harmonia entre o professor e os alunos, com certeza, teremos um índice maior de aproveitamento, de interesse e conseqüentemente de aprendizagem.

Então, arregacemos as mangas e caminhemos rumo ao prazer de aprender ligado ao prazer de ensinar.

Fonte:
http://www.duplipensar.net/artigos/2006-Q3/resgatando-o-prazer-de-aprender.html

Publicado em 11.08.2006

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