segunda-feira, 30 de junho de 2008

Estante de Livros (Editora Escrituras)


Antônio Campos e Cyl Gallindo (Panorâmica do conto em Pernambuco)
896 páginas

Esta é a segunda grande obra coletiva lançada pelo Instituto Maximiano Campos (IMC) em parceria com a Escrituras Editora. Primeiro surgiu a poesia, a palavra cristalizada na publicação do Pernambuco, terra da poesia: um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. Neste volume, destaca-se a prosa, uma forma mais analítica de revelar o ser humano, seus sentimentos, seu tempo e seu espaço.

Panorâmica do conto em Pernambuco reúne um conjunto de obras literárias a fim de desvelar o povo pernambucano no cenário nacional. O gênero conto atende muito bem ao momento atual de muitos afazeres e pouco lazer, já que, em questão de minutos, na ante-sala de um consultório ou gabinete, no percurso de uma pequena viagem, em um piscar de olhos, lemos uma obra literária, conhecemos um autor, abrimos uma janela do espírito para um mundo que sequer imaginávamos que existisse. A partir daí, surge o desejo de conhecermos o autor e o restante de sua obra.

A Panorâmica do conto em Pernambuco traz esse painel, visto, sentido e revelado por 114 autores, nascidos neste Estado ou que, por qualquer circunstância, vivenciaram ou vivenciam a realidade pernambucana, suas experiências históricas, seus momentos de alegria, seus anseios, suas adversidades e suas realizações. Mergulhamos na documentação e trouxemos escritos desde o primeiro contista até autores inéditos, com revelações surpreendentes, certos de que estamos edificando um marco histórico na cultura brasileira.

Quem se debruçar sobre este livro, ao concluir sua leitura, verificará que alcançou uma ampla visão literária de Pernambuco e do Brasil, uma vez que deste torrão também se formou, com muita luta e sacrifício, a identidade brasileira.
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Antônio Campos é advogado, articulista, conferencista, poeta, contista e presidente do Instituto Maximiano Campos (IMC). Nasceu no Recife (PE), em 25 de junho de 1940. Foi um dos fundadores do IMC, depositário do acervo literário e artístico do escritor Maximiano Campos, seu pai, prematuramente falecido. É também promotor e divulgador da cultura pernambucana e nordestina. O IMC apresenta uma lista considerável de lançamentos de livros de outros escritores e produção do IMC, como a coletânea Pernambuco, terra da poesia: um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI, organizada pelo próprio Antônio Campos e por Cláudia Cordeiro (IMC/Escrituras Editora, 2005). Além disso, o IMC realiza eventos culturais, como participação com a “Casa das Letras” no I Festival de Literatura de Garanhuns (2006) e a realização da III Fliporto - Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas, Pernambuco, com o tema “Integração Cultural Latino-Americana”. É autor de diversos livros, nas áreas do Direito, Gestão Empresarial e Literatura (contos, crônicas, ensaios).
Sites: www.imcbr.org.br / www.antoniocampos.com.br

Cyl Gallindo nasceu em Buíque (PE), em 28 de maio de 1935. Diplomado em Ciências Sociais pela UFPE, é escritor, poeta, jornalista e conferencista. Trabalhou na Assessoria de Comunicação do Senado Federal e de outras repartições públicas. Foi repórter, redator, editor e colunista de jornais de Pernambuco, Brasília, e Mato Grosso, além de correspondente do Jornal de Letras, RJ. Produziu e apresentou o programa Síntese na TV Universitária, Recife, e colaborou com o jornal Gazeta do Povo, Paraná. É membro da Academia de Letras do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, da ANE, Brasília (DF), e da UBE-P. Recém-eleito para a Alane, cadeira nº 18, substituindo o escritor William Ferrer Coelho. Foi membro (fundador) do Conselho Municipal de Cultura do Recife e é membro efetivo da Alane. Atualmente representa no Brasil a Francachela, Revista Internacional de Literatura e Arte, editada na Argentina e é diretor da Cicla, destinada a tradução e publicação de obra de autores brasileiros contemporâneos, na Argentina, e faz parte do Conselho Editorial da revista Encontro, do GPL, PE. Autor de diversos livros premiados, escreveu artigos, reportagens, críticas, crônicas, entrevistas, poesias e contos publicados em antologias, jornais e revistas de diversos Estados do Brasil. No exterior, foi traduzido, respectivamente, para o espanhol, alemão e francês, em: Francachela, Argentina; Xicóatl, Áustria; Rampa, Colômbia; Poésie du Brésil (org. Lourdes Sarmento), França; e Prismal (org. Regina Igel), University of Maryland, Estados Unidos.
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Felipe Machado (Olhos cor de chuva)
160 páginas

Quando você dança com o diabo, você não muda o diabo, o diabo muda você.
Andrew K. Walker

Um texto surpreendente, da primeira à última página. O ritmo inicial é calmo, permitindo que nos acomodemos na poltrona, como em um bom filme. Rapidamente, no entanto, somos capturados em um vórtice de sentimentos e emoções que harmonizam o real e o possível, o atual e o virtual, tornando o gesto mais delirante absolutamente lógico e natural. Após a leitura, não restará quem ache impossível apaixonar-se por um par de olhos cor de chuva, de alguma forma, em algum contexto...

...Aquela noite tinha tudo para ser apenas mais uma na agitada vida do escritor Alexandre Nastari. Freqüentador assíduo do Dixie - casa noturna e palco da big band Great Gatsbies -, viu sua vida mudar repentinamente: Manoela. Após uma noite inesquecível, Alex convida Manoela a se mudar para o seu apartamento. Um dia, da mesma maneira inesperada que surgiu, Manoela se foi. Alex encontra sua mulher morta.

Buscando uma razão para o assassinato da amada, acaba conhecendo Vanessa, ex-garçonete do Dixie e melhor amiga de Manoela. Entre várias revelações, ela conta que aquele não era o nome real da amiga, e que as duas trabalhavam no passado como prostitutas. Vanessa se muda para o seu apartamento. A família Nastari, querendo apresentar a garota à sociedade, oferece um almoço para o casal. Mas tudo dá errado e Vanessa deixa o local abalada Motivo: Enrico era um cliente antigo dela e de Manoela.

Alex tenta matar o pai, mas é impedido por Elizabeth e o velho empregado dos Nastari. As noites ficam cada vez mais pesadas, com cocaína, maconha e vodka, suas companheiras inseparáveis. Uma semana depois, o escritor vai ao Café Mondrian, local onde costumava buscar inspiração. Lá ele conhece Aline, outra paixão à primeira vista, igualmente fulminante, que o faz terminar o relacionamento com Vanessa. Alex conhece os artistas europeus Jorge Galies e Christian Lefuric, amigos de John. Lefuric, que lhe mostram a imagem de uma mulher que transformaria novamente sua vida.

Há, entretanto, um pequeno problema: ela não é real. Criada no computador por designers europeus, a personagem virtual é a última fronteira entre Alex e a loucura. O amor dá lugar a uma obsessão platônica quando, depois de tantos relacionamentos fracassados. Alex acredita ter encontrado a mulher perfeita...
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Felipe Machado passou a adolescência escutando Beatles e Led Zeppelin com a mesma atenção com que ouvia em casa o ruído ininterrupto das máquinas de escrever de seus pais, ambos jornalistas. Seus discos, no entanto, não eram os únicos companheiros: os livros de Monteiro Lobato e Agatha Christie também eram retirados da estante e devorados, um a um. Aos 12 anos, ganhou a primeira guitarra. Aos 16, gravou o primeiro disco com uma banda formada com amigos de infância.

Pouco depois, o VIPER já lançava discos no mundo inteiro e fazia turnês pela Europa, Japão e Estados Unidos. Os livros ficaram na estante, esperando. No final do século XX, influenciado por personagens reais - e completamente irreais - da noite paulistana, Machado partiu para uma nova carreira e um desafio ainda maior: escrever Olhos Cor de Chuva, romance finalizado poucos dias antes de entrar no prelo. Hoje, continua vivendo entre a música e as letras: depois de trabalhar como redator na agência de propaganda DPZ, ele divide seu tempo entre os palcos da banda Metanol e a redação do Jornal da Tarde.
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Myriam Campello (Como Esquecer - anotações quase inglesas)
128 páginas

O livro Como esquecer (anotações quase inglesas), de Myriam Campello, foi roteirizado para o cinema e começou a ser rodado no início de 2008, sob a direção de Malu De Martino (Mulheres do Brasil). A protagonista do filme será a atriz Andréa Beltrão.

Qual é a natureza do amor? E de sua perda?

Numa casa à beira-mar, todos os personagens sofreram algum tipo de perda. Como esquecer (anotações quase inglesas), título que revela a anglofilia da autora, Myriam Campello, é o mapa desse emocionante percurso interior que se acompanha como uma aventura em mar aberto. Duas mulheres formam o par amoroso central que se desfaz e deixa todo um deserto de lembranças e sofrimentos. No texto corre a dramaticidade de desilusões e perdas, misturadas com referências à Inglaterra por toda a narrativa, como o casal Catherine e Heathcliff do clássico de Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes. O que nos faz relacioná-lo à intensidade da personagem, tanto na forma de amar como de sofrer. Da mesma forma como no relacionamento do casal há uma dependência, ao ponto de Catherine afirmar que é Heathcliff, na obra, há também esse sentimento entre Júlia e Antônia.

Através da narrativa da protagonista Júlia, somos envoltos por um emaranhado de lembranças sofridas e nostálgicas que, na maioria das vezes, são carregadas de um humor sarcástico - Quando alguém diz eu te amo para sempre, tenha certeza que você só tem uma opção: acreditar, babaca. Eu acredito em amor eterno, Papai Noel, coelhinho da Páscoa e que todo sofrimento tem fim - Conformada com a dor, passa a ironizá-la e a tratá-la como parte comum de sua vida. Pelas páginas desse romance, Júlia vai divagando sobre seus medos, suas dores e tentativas de esquecer um amor. Tentativas de se sustentar pelas próprias pernas, sem depositar sua vida no outro. Embriagada pelas lembranças, a personagem vive, muitas vezes, ausências da realidade, pega-se flutuando fora do mundo ao seu redor. Ela vive a constante busca de sua liberdade: esquecer e expulsar definitivamente da memória aquela que a abandonou.

Júlia compartilha com seus amigos o seu sofrimento. Personagens tão complexos quanto Júlia, que também perderam pessoas importantes, cada um de uma forma. Suas ações e reações estão muito próximas de nós. São todos convocados a olharem para dentro deles mesmos e a conhecerem-se a si mesmos, numa tentativa de vencer o caos, sejam quais forem as combinações afetivas.

O texto cola a palavra ao complexo ato de viver e transformar-se em pura criação literária. É esta quem reina soberana e que faz a leitura desse romance um sofisticado prazer. A experiência da perda comum a todos, a serviço de um estilo inconfundível, torna o livro impossível de esquecer.
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Myriam Campello nasceu no Rio de Janeiro. Com Cerimônia da noite, seu primeiro livro, recebeu em 1972 o Prêmio Fernando Chinaglia para romance inédito. Publicou ainda Sortilegiu (romance, 1981), São Sebastião blues (romance, 1993), editado na Alemanha em 1998, e ainda este ano será publicado na França, e Sons e outros frutos (contos, 1998), vencedor da Bolsa para Conclusão de Obra da Biblioteca Nacional, em 1996. Recebeu o Prêmio União Latina - Concurso Guimarães Rosa para conto inédito, em 1997. Participou de diversas antologias brasileiras, entre elas Os cem melhores contos brasileiros do século (2000). Tem contos publicados na Polônia, Alemanha, Holanda, França e Estados Unidos.

Fonte:
Editora Escrituras
http://www.escrituras.com.br/

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