segunda-feira, 16 de junho de 2008

Fiodor Dostoievski (Os Irmãos Karamazov)

Em Os Irmãos Karamazov, Dostoievski se pôs inteiro. Suas vivências – o período na Sibéria, o pai autoritário, a epilepsia, a morte de um filho – estão todas ali. Mas também está ali um vasto painel da Rússia, de suas variadas classes, de seus homens, mulheres e profetas, os bêbados, os carbonários, os criminosos. É como uma síntese de seus livros anteriores. Se a concepção religiosa de Dostoievski e sua prosa dramática pudessem ser separadas, essa habilidade de mergulhar em vozes interiores e traçar um amplo e complexo painel social não existiria.

E Dostoievski não seria tão caro ao leitor sensível, muitas vezes na adolescência, que é tão tocado por sua intensidade moral, sem precisar adotar seu moralismo. Seu grande contemporâneo e rival, Tolstoi, para ele não ia além da descrição da realidade em seus detalhes, era um “historiador”; para Tolstoi, Dostoievski não conseguia olhar o mundo a distância, para então iluminar o detalhe. Como estuda George Steiner em seu Tolstoy or Dostoevsky – An Essay in Contrast, eles tinham religiões diferentes: o humanitarianismo de Tolstoi, sua utopia coletivista, era para Dostoievski equivalente à promessa de felicidade terrena, como a do Inquisidor; a ortodoxia masoquista de Dostoievski, sua crença no sofrimento redentor, era para Tolstoi uma fuga da paz e da razão.

Em outra passagem conhecida de Os Irmãos Karamazov, o diálogo entre o Diabo e Ivan, o Diabo diz que pode dar a Ivan mais originalidade que um enredo de Tolstoi. Mas nós não precisamos escolher entre Tolstoi e Dostoievski. Apenas ver o que cada um tem de mais original.

Fontes:
http://www.coladaweb.com/resumos/irmaos.htm
http://www.catanduvanarede.com/ (capa do livro)

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