quarta-feira, 25 de junho de 2008

Silas Corrêa Leite (RODA MUNDO - A Antologia Que Pode Dizer o Nome)

Sempre fui a favor das Antologias literárias em geral, eu mesmo um participante de várias delas, em regime de cooperativas ou até mesmo como simples convidado, inclusive no exterior, como as do Instituto Piaget (Portugal), Cristhmas Anthology (Estados Unidos), Antologia Multilingue de Letteratura Contemporanea (Itália) e Poesia Sempre (Edição 500 Anos do Brasil) MEC-Fundação Biblioteca Nacional, entre outras tantas, oficiais ou marginálias, desses brasis gerais e os seus plangentes criares periféricos por atacado.

Toda abelha-rainha sonhadora, ou abelhudo-rei, digamos assim, que se propõe a juntar poetas inéditos e - ou neomalditos (ah essa safra contemporânea brasileiríssima) merece respeito, carinho e admiração, porque formar uma colméia de elos a partir de um verdadeiro clube de egos (e núcleos de abandonos editoriais) não é fácil. É preciso cara limpa e muita coragem, além do conhecimento de área.

E só gente nobre topa a empreita, a toleima, o desafio desse quilate, garimpando em tantas jazidas novas, puras e valiosíssimas letras livres.

Acho que, juntando poetas, contistas, cronistas, memorialistas, contadores de causos, você vai dando um acervo histórico de lastro ao que sabiamente já apregoou o francês Rimbaud, de que todo artista deve ser antena da sua época. É por aí.

Eu mesmo já fui sondado por editoras de fanzines e mesmo fora do eixo Rio-SP para ser coordenador de uma ou outra antologia de minorias, e só recusei às vezes por absoluta falta de tempo – ah a sobrevivência - mas, de presto, ao meu jeito e com o meu modus operandi, dei o fermento de minha contribuição, divulguei em nichos, indiquei nomes preciosos, criei títulos interessantes, sugeri eventual desenho de capa, tal o amor por essa resistência literária, a verdadeira vox do povo, o brado retumbante dos que escrevem com talento, e ainda a magna coragem de nadar contra a corrente do falso mercado editorial, sempre com seus suspeitos livrecos pseudo-popularescos trazidos do exterior a preço de banana, mas que não acrescentam nadica de nada a historicidade crítico-criativa nacional, culturalmente falando também.

Como um mambembe produtor lítero-cultural no reino da web, ainda inédito em livro solo de ficção, atrás de um mecenas (ou anjo-da-guarda) com um projeto inédito aprovado( e empacado) pela Comissão 450 de São Paulo, apesar de vários prêmios, com bom currículo e até um livro pioneiro, inédito e de vanguarda que fez até algum sucesso ocasional na mídia como e-book (livro virtual) no site www.hotbook.com.br/int01scl.htm (O Rinoceronte de Clarice), fico chateado quando vejo parte da mídia veicular edições impressas de livros inócuos do Hosmanny Ramos, do Ratinho, da Simonny, do Derico, enquanto muita gente talentosa cria à míngua, pois as editoras, em geral, na verdade não têm pessoal capacitado para bem julgar, com competência avaliar, até porque vários escritores mundiais de renome tardio só foram lançados depois de mortos; muitos foram recusados por editoras convencionais, ficando a prova peremptória de que tentar sempre, correr atrás o tempo inteiro, sonhar com dinamismo, ser determinado e com estilo, faz parte do cultivo das hortênsias poéticas ou das groselhas pretas das prosas humanizadas.

Assim, penso que cada Antologia, seja ela como for, caseira, sazonal, multinacional ou mesmo bancada por eventual Ong ou órgão público, é sempre uma bendita janela para o céu, um respiradouro de almas, um solário de líricas que fundam a sensibilidade, a magia do tear poético em proveito social, o curtume ainda sensorial desses tempos insanos de muito ouro e pouco pão.

Cada antologia é uma porta que se abre, um cofre aberto para Deus; banca um tijolo na própria construção da busca individual que seja por méritos próprios, faz-se andaime para arquiteturas maiores, a obra perfeita, a edição, o sucesso que, claro, não acontece por acaso. Há um Deus.

Foi mais ou menos isso o que eu captei quando recebi via e-mail o release do Editor Douglas Lara, da Manchester Sorocaba, sondando-me para estar na Antologia Roda Mundo, Roda-Gigante (Editora Ottoni), que acabou – sorte nossa – internacional, com gente criativa de quatro continentes, o que nos envaidece, e premia o talento e a visão do editor e o produto final da editora enquanto mercadoria-livro.

Honra e orgulho de quem abriu essa estrada de tijolos amarelos, para nosotros que queremos o palco iluminado para mostrar nosso chão de estrelas em infames tempos de neoliberalismo globalizador inumano e aético, com suas riquezas injustas (São Lucas) e lucros impunes (Millôr Fernandes). Aleluia.

Faz escuro mas eu canto, disse um poeta.

É preciso que a emoção sobreviva, disse outro.

Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, frisou um outro ousado lusonauta da península ibérica que, pra mim, sendo o maior poeta do mundo, só foi lançado depois que faleceu (de cirrose, por causa do diário vinho do Porto), e ainda assim, cem anos depois é estudado com cautela acadêmica, admirado como referencial, completo por inteireza de lucidez, a persona do Fernando Pessoa e seus heterônimos-ele-mesmo.

Se houvesse tempo e espaço para uma, vá lá, antologia desse naipe na terrinha-mãe, talvez Fernando Pessoa tivesse o reconhecimento antecipado, o jeito todo especial de ser valorado, além de ser salutar e importante em sua usina de criames com espiritualidade lírica fora de série.

Está feito: esse é o papel da Antologia. Trazer à tona o filão rico de nossos criadores que teimam, cismam, reinam e fecundam idéias e ideais pelai. Não é a primeira Antologia do Mestre Douglas Lara (como respeitosamente o chamo), certamente não será a última, outros canais virão, novos tempos trarão outras visões, novas lutas nos engrandecerão enquanto trupes, pois lá estaremos com a sua soma, juntando elos em versos e prosas, porque, afinal, como bem cantou Caetano Veloso – Caetanear, por que não? – Gente é Para brilhar...

E a Antologia Roda Mundo, Roda-Gigante, fundou esse propósito, ornou-se dessa gala, e assim somos vitoriosos todos nós que acreditamos que o sonho não acabou como disse John Lennon, mas que, verdadeiramente o estamos tecendo dia após dia; página após página de rosto, de coração para coração, como se um mosaico de tributo à vida; de inteligência criativa, pois, afinal, escrever é a nossa mais doce transgressão, a nossa mais valiosa rebeldia, em contribuição à causa de ler para ser, ler para ter, ler para também estarmos com o arco-da-promessa dentro do pote de ouro, quando for o leitor interessado em prosopopéia & aventuras líricas, buscar seu arco-iris.

E depois, falando sério, como digo num poemeto “Deus deve amar os loucos/Pois criou tão poucos...".

E o poeta é sim, como a cana: mesmo pisado, ralado, posto nas moendas das vicissitudes, ainda assim resiste e dá açúcar-poesia.

Habemus Douglas Lara. Ave Douglas Lara. Os poetas-saúvas te saúdam.

Fonte
http://escritas.paginas.sapo.pt/rodamundo.htm

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