quinta-feira, 24 de julho de 2008

Chico Bento: das histórias em quadrinhos para a vida

artigo de Sandra Regina Nóia Mina (UFMS)

Através de uma linguagem interativa e feita para todas as idades, os gibis do Chico Bento retratam a história do inocente menino do campo, que fala errado (de acordo com a Gramática Normativa), tem amigos na roça em que vive, para uma melhor caracterização do personagem (espaço/campo), e um primo para caracterizar as diferenças entre campo/cidade.

Chico Bento, morador de Vila Abobrinha, é um personagem fictício, construído a partir da biografia de Mauricio de Sousa, que o espelhou em um tio-avô. Não somente Chico, mas sua Vó (Vó Dita) também faz parte dessa biografia do autor, uma vez que essa lhe contava várias histórias que por ele foram publicadas.

A linguagem, utilizada nas histórias, mostra que o protagonista é o típico caipira do interior, mas com trejeitos de 40 anos atrás. A visão de caipira, como o menino que mora na roça, fala errado, anda descalço, conversa com os animais e gosta da natureza, é como se fosse uma comparação que o autor faz embasado em determinado período da História para os dias atuais.

O primo (sem nome) de Chico mostra claramente tais diferenças, pois mora na capital/cidade grande, tem acesso a brinquedos modernos, a computador, fala certo de acordo com a típica figura do cidadão paulistano.

Já Chico Bento tem apenas pontos positivos quando está em comparação com o primo. Tais diferenças entre eles podem ser percebidas pelo leitor, não só através do texto, mas também através das imagens.

Ou seja, há toda uma semiótica textual alertando o leitor para as diferenças propostas. Criado em 1961, mas tendo sua primeira Revista lançada apenas em 1982, a Turma da Roça traz histórias passadas num ambiente pacato do interior, que acaba fazendo com que seus leitores (crianças) tenham um pré-conceito a respeito da criança do interior.

O gibi retrata o paulista (cidade provável - Taubaté-SP), em que um possível contraste com o personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato pode ser enfatizado. Mas também não podemos deixar de fazer alusão aqui ao ilustre Macunaíma, personagem satírico importante de nossa Literatura.

Os personagens, além de serem simples, falarem errado e não terem as mesmas noções que uma pessoa da capital (visão política) possa ter são essenciais para a ilustração da História do Brasil, já que vivem da colheita, o que acaba retratando, de um modo-geral, todo um grupo de indivíduos de mão-de-obra barata encontrada por todo país.

Além do que dissemos, Maurício de Sousa retrata neste personagem, não somente o menino ingênuo do campo, como chama a atenção para as diferenças dialetais encontradas na cultura brasileira que são quase sempre, dignas de preconceitos.

Com o uso de uma linguagem divertida e simples, carregada de imagens e alusões, e visando a igualdade entre as pessoas, Chico Bento é a figura da inocência que falta à sociedade atual. Tal inocência, entretanto, pode se transformar quando as crianças o lêem e descobrem que podem construir um novo mundo, com pessoas no mínimo diferentes.

Fontes:
http://www.amigosdolivro.com.br
http://www.gpdesenhos.com.br (desenho)

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