quinta-feira, 31 de julho de 2008

Folclore Gaúcho (O Primeiro Gaúcho)

Os índios que habitavam esta região conheciam, não se sabe desde quando, o uso das boleadeiras. Usavam-nas, juntamente com as flechas e lanças, contra os inimigos e também para caçar.

Dizem que, uma vez, no século XVIII, os índios estavam realizando uma grande festa. Diversas fogueiras tinham sido acesas para assar as caças. Dançavam e cantavam alegremente.

Alguns bandeirantes estavam passando por perto e viram a fumaça. Como eles andavam atrás de ouro e pedras preciosas, necessitavam de escravos para ajudá-los no trabalho! Um deles disse:

- Vejam! Fumaça! Devem ser índios!

- Com certeza! - respondeu outro. Vamos aprisioná-los!

Aprontaram as cordas, verificaram as armas e seguiram em direção à fumaça.

Os índios, que não eram bobos, mantinham sentinelas por todos aqueles lugares. Informado da presença dos bandeirantes, o cacique da tribo ficou furioso:

- São os brancos que querem escravizar-nos! - gritou ele. Que venham! Que venham!

O chefe, então, arquitetou um plano: mandou que vários guerreiros montassem em seus cavalos e seguissem para a campina. Os índios cavaleiros deveriam ficar deitados e escondidos num dos lados do cavalo, deixando o outro lado voltado para os brancos. Eles pensariam tratar-se de cavalos selvagens e se aproximariam, tornando-se presas fáceis!

Quando os bandeirantes viram os cavalos, ficaram contentíssimos:

- Que belos cavalos! - exclamou o chefe. Vamos cercá-los e laça-los! E foram-se aproximando, sem perceber que se tratava de uma armadilha.

Quando os índios acharam que os brancos estavam suficientemente perto, endireitaram-se nos cavalos e partiram, rápidos como o pensamento, contra eles, uns atirando boleadeiras ou flechas, outros com as terríveis lanças apontadas.

Os bandeirantes ficaram boquiabertos. Chegaram a dar alguns tiros, mas o ataque havia sido inesperado, não lhes dando tempo para reagir.

Muitos foram mortos e, quem pôde, tratou de fugir dali!

Vitoriosos, os índios examinaram o lugar onde se travara o combate, quando ouviram um gemido. Havia alguém vivo!

O ferido era o mais moço do grupo de bandeirantes e chamava-se Rodrigo. Fizeram-no prisioneiro e o levaram para a aldeia.

Foi realizada uma grande festa pela vitória, na qual o Conselho da Tribo condenou Rodrigo à morte.
Como os índios não matavam pessoas doentes ou feridas, decidiram esperar até que o rapaz ficasse curado para, então, sacrificá-lo. Enquanto isto, podia andar em liberdade pela aldeia.

A filha do chefe, uma linda mocinha chamada Imembuí, ficou com muita pena do prisioneiro e passou a lhe dar as melhores comidas e bebidas. Como o ferimento já estava cicatrizando, Rodrigo sabia estar próxima a sua hora. Perguntou a Imembuí se ela sabia a data da cerimônia.

A índia olhou-o com os olhos cheios de lágrimas:

- Não tenha receio, respondeu, estou do seu lado e nada lhe acontecerá.

Rodrigo ficou muito contente e até se animou. Como é bom ter esperança! Ficou tão alegre que sentiu vontade de cantar, de tocar. Resolveu fazer um instrumento, uma viola. Com sua faca, cortou um pedaço de madeira e pouco a pouco, penosamente, conseguiu dar-lhe a forma desejada. Depois, arranjou fibras de uma trepadeira, transformando-as em cordas. Estava pronta a viola e Rodrigo começou a tocar e a cantar belas canções, tristes e suaves, que agradaram imensamente a Imembuí.

Dias depois, um índio trouxe a mensagem do cacique: estava próxima a hora do sacrifício! Ele precisava pagar por todos os brancos que pensaram em escravizar os índios! Era só aguardar mais um pouco.
A esperança de Rodrigo ficou abalada e, embora a moça prometesse que haveria de conseguir salvá-lo, ele tinha as suas dúvidas.

De qualquer modo, continuou a tocar e a cantar para a mocinha índia, que não se cansava de ouvi-lo. E, pouco a pouco, apaixonaram-se um pelo outro e começaram a namorar.

Sempre que Rodrigo lhe falava sobre a terrível hora que se aproximava, ela lhe respondia:

- Conseguirei salvá-lo. Pedirei perdão ao chefe. Ele é meu pai e não deixará de me atender.

E, assim, correram mais alguns dias.

Certa manhã, alguns índios levaram o prisioneiro e o amarraram fortemente a um tronco. O dia do sacrifício chegara. Imembuí não conseguira salvá-lo, embora tivesse pedido diversas vezes ao pai e ele se sentisse inclinado a concordar.

Quando a moça foi avisada, atirou-se aos pés de seu pai e lhe implorou que conservasse a vida de seu namorado. O chefe respondeu-lhe:

- Por mim, ele seria poupado, mas há outros chefes e não quero desgostá-los. Fazem questão de sacrificar o branco conquistador.

Ela saiu dali e foi conversar com os outros chefes. Implorou a todos, um por um. Disse-lhes que o moço era dotado de bom coração e que fizera aquilo por influência dos companheiros. Os chefes não estavam dispostos a ceder. Como, porém, gostavam muito da indiazinha, resolveram formar um Conselho para decidir, de uma vez, a sorte de Rodrigo. Mandaram soltá-lo até a solução final e sua namorada correu para ele, a fim de lhe contar o que sucedera.

Rodrigo ouviu tudo, preocupado. Não se sentiu muito esperançoso, não.

No Conselho, os chefes discutiam. Não viam motivo para poupá-lo, mas também não queriam desgostar a jovem índia, nem a seu pai, que era o chefe de todos.

Foi, então, que Rodrigo teve uma idéia. Ele era muito esperto e se lembrou que os índios são muito sensíveis à música. Talvez conseguisse seduzi-los com suas canções. Foi buscar a viola, sentou-se o mais perto possível do lugar do Conselho e começou a tocar e a cantar as mais belas canções que conhecia.

Dentro da cabana, os chefes ficaram maravilhados. Um a um, foram saindo para ver quem tocava e cantava tão docemente. Quando viram que era o prisioneiro, ficaram surpresos. Ele não era um homem! Era um deus!

E aquele que havia sido motivo de ódio, passou a ser admirado por todos.

Diz a lenda que, enquanto ouviam as tristes e belas canções, exclamavam:

- “Gaú-che! Gaú-che” - que significa “gente que canta triste”.

Desta expressão indígena, teria vindo a palavra gaúcho.

Rodrigo e Imembuí ficaram noivos e, pouco tempo depois, realizou-se o casamento. E que casamento! Jamais aqueles índios tinham visto uma festa igual. Depois do banquete, todos dançaram à luz das fogueiras.

Foi com estes índios que Rodrigo aprendeu a usar as boleadeiras.

Com o tempo, os chefes índios começaram a notar que Rodrigo, além de excelente músico, possuía outras qualidades. Era calmo, inteligente e equilibrado. Resolveram elegê-lo conselheiro da tribo. E ele agiu com tanta sabedoria e competência, que logo se tornou um dos chefes. Com seu modo de pensar de homem civilizado, influiu nos hábitos daquela gente.

- Temos necessidade de formar lavouras e melhorar nosso meio de vida, disse ele, um dia. Vamos às missões dos jesuítas e lá conseguiremos ferramentas e sementes. Em troca, daremos aos padres erva-mate, cavalos, peles e o que mais pudermos conseguir. Desta maneira, também obteremos tecidos para vestir melhor a nossa gente.

Junto aos jesuítas, Rodrigo foi bem sucedido e conseguiu o que desejava.

Logo, a terra dos índios passou por uma grande transformação. Verdes lavouras, gordos animais, índios alegres.

Rodrigo foi, portanto, o primeiro gaúcho, e seus descendentes herdaram o amor à música, à terra e ao progresso.

Fonte:
http://www.terrabrasileira.net

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