terça-feira, 26 de agosto de 2008

Annibal P. Murilla (O Delírio de um Peão)

(id:MCCXLI)

Como pode um simples peão ter sonhos tão loucos?

Eu acho que o peão tinha que ter o bom senso de não sonhar tais fantasias!

O peão tem o seu valor, sim e como!

Mas lá na linha de frente, expondo-se aos ataques inimigos e sucumbindo aos mesmos, poucos chegam à glória da vitória.

Além do mais, há tantas coisas mais importantes em jogo, que muitas vezes o objeto de seus sonhos (“A Rainha”, sim a rainha, louco sonhador...) sacrifica-o sem titubear, quando bastaria um simples passeio em diagonal para protege-lo.

Mas o peão é um nada, o que importa é o rei.

“Viva o Rei!”, “Viva o Rei!”, “Viva o Rei!”

Ah! Que nojo!

Como0 pode um ser belo e frágil, embora poderoso e valoroso como tu, minha princesa (sim, para mim és uma princesa e não uma rainha. Eu quero ser seu rei, por isso, por enquanto tu és apenas minha princesa) defender este prepotente e frágil que se escuda acuado em um canto, qual vil ratazana amedrontada, trancafiado em seu castelo com bravos peões a escuda-lo.

Sim, princesa, bravos peões. Repare neles, quem sabe não sou um deles? Ou será que já sucumbi ao combate?

Ah! Mas um dia, um dia quem sabe, meu louco delírio tornar-se-á realidade!

Quem me dera que após violento combate só tu e eu, princesa minha, restemos no campo de batalha. E tu, então cortejar-me-ás, só terás olhos para mim, e assim nós iremos lado a lado com manobras para iludir a tudo e a todos e chegaremos à coroação.

E eu então poderei transformar-me em um corcel, e tu te montarás em mim e nós seremos donos do mundo, sem nada que nos possa deter.

Eu sei que é um delírio meu, mas não de todo impossível, já houve precedentes. Porque não eu?

Porque não nós?

Porque não agora?

Fontes:
José Feldman. Curso de Arbitragem de Xadrez. Sorocaba: X. C. Sorocaba, 1994.

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