sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A. A. de Assis (Triversos travessos)

01
Ah, havia o espaço
e no espaço havia ação.
Apertem os cintos.

02
Passa a teoria
por debaixo do arco-íris.
Vira poesia.

03
Saudade por quê?
Pra voltar a ser criança,
basta um bilboquê.

04
Andorinha sobe,
andorinha sobe e desce,
faz um “s” e some.

05
Dizem que a cigarra
nada faz senão cantar.
Ah, é indispensável.

06
Pergunte às crianças
se há vida onde ninguém brinca.
– Polegar pra baixo.

07
Da folha de amora
para o lencinho da amada.
Mágico tear.

08
Estrela cadente.
Vaga-lumes se alvoroçam
cobiçando a vaga.

09
Na prova de salto
quem tem chance de medalha?
– A de salto alto.

10
Na mesa grandona
vinho, massa e cantoria.
Almoço na Nona.

11
Segura, peão...
Segura, que a vida é dura
e mais duro o chão.

12
Se borda é prendada,
bem mais ainda se pinta.
E se pinta e borda?

13
Sagüi faz xixi
na mudinha de embaúba.
Tudo bem: aduba.

14
Casal de velhinhos
na janela olhando a Lua.
Tão longe a de mel...

15
A uva e a codorna.
Da uva se tira o vinho,
da codorna ovinho.

16
Balas e gorjeios.
O canarinho nem tchum
para os tiroteios.

17
Quem foi que afinal
tantas matas derrubou?
Ah, o pica-pau.

18
E agora, vovô?
– Agora, nas mãos dos netos,
sou que nem ioiô.

19
Assanhadas rosas.
Disputam a preferência
de um raio de sol.

20
No lombo do boi
faz-lhe um cafuné o anu.
E ele gosta: muuu...

21
Ursinha moderna.
Toda noite, após a lida,
na internet hiberna.

22
Menina no zôo
faz bilu-bilu na onça.
Isaías, onze.

23
Que delícia de cantigas
na vozinha das vozinhas.
Seresta na praça.

24
Xexéu na gaiola
para o peixinho no aquário:
– Como vai, colega?

25
No meio do pasto
um ponto de exclamação.
Último coqueiro.

26
Tarzã do terreiro
solta o seu grito de guerra:
Cucurucucu...

27
Ante o Pão-de-Açúcar,
dá as costas a Lua ao mar.
A lei do mais doce.

28
Abelha se aninha
no colo do girassol.
Vai ter mel quentinho.

29
Alô... é da Lua?...
Manda uma cheia, com flores,
para a minha amada.

30
Relampeja e... troomm...
– Afia a enxada, compadre,
que vem chuva boa!

31
Florzinha silvestre
no jardim do shopping-center.
Êxodo rural.

32
No topo do poste
a mansão do joão-de-barro.
Tá podendo o cara.

33
Do asfalto se avista
ao longe um carro de boi.
Cheinho de histórias.

34
Serás a sereia
que na lua cheia cantas?
Serei-a, serei-a.

35
Pálidas pernocas
na areia pegando cor.
Ou pescando amor?

36
Mosca na parede.
Avisem à lagartixa
que o jantar chegou.

37
Ao luar, no Éden,
primeiro jantar a dois.
Que deu no que deu.

38
Menino de sete
versus menino de oitenta.
Jogo de botão.

39
Diz o sapo à sapa:
– Coá-coaxá... coará-coaxá...
E ela a ele: – Topo.

40
Um pulo, medalha.
Milhões de cabeças boas
tão longe das loas.

41
Trenzinho da serra.
Pa... Pa-ra-ná... Pa-ra-ná....
pra Paranaguá.

42
Piupiu canta à porta
da gaiola da piupia.
Se arrepia a bela.

43
Crocante e cheiroso,
com garapa, na feirinha.
Pastel de saudade.

44
Na fila de idosos,
troca-troca de sintomas.
Quem não tem inventa.

45
Flagra na cozinha.
Um par de abelhas aos beijos
sobre o meu pudim.

46
Manhêêê – diz o piá –,
trouxe uma flor pra você.
Troco por um beijo.

47
Galinha caipira
desposa um pavão real.
Continho de fada.

48
Veja a parasita:
parece gente que a gente
acha até bonita...

49
É a cegonha, bem...
Tá caçando uma barriga
pra ninhar neném...

50
Tudo bem, poeta.
Minha terra tem Palmeiras,
mas sou são-paulino.

51
“Por que não te calas?”,
diz a arara ao papagaio.
– Se calo, me peias.

52
Na agüinha da bica
molha o bico o tico-tico.
Depois bica a tica.

53
Céu de “brigadeiro”.
– Aniversário de quem?,
me pergunta o neto.

54
Zunzunzum... zunzum...
É um pernilongo brincando
de fórmula um.

55
Futebol é assim:
só se ganha uma partida
na base do chute.

56
Balança o palanque.
O peso na consciência
do nobre orador.

57
Xô daqui, Seu Grilo.
Pega a tua cantoria,
pousa noutra cuca.

58
Banho de butique.
Mariposa bem-cuidada
vira borboleta.

59
Dó-ré-mi-fá-sol,
dó-ré-mi-fá-sol-lá-si.
Sabiá-laranjeira.

60
Bons tempos aqueles
da escola risonha e franca.
A bênção, fessora!

Fontes:
E-mail enviado pelo autor

Fotomontagem: José Feldman

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