quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Yasunari Kawabata (1899 - 1972)


Yasunari Kawabata (Osaka, Honshu, 14 de Junho de 1899 – Zuschi, 16 de Abril de 1972), escritor japonês, foi o primeiro japonês a ser laureado com o Prémio Nobel da Literatura, em 1968.

Infância

Enquanto criança, Kawabata desejava tornar-se pintor, mas optou por se tornar escritor após publicar alguns contos durante o tempo em que frequentava o liceu.

Ainda jovem foi marcado por acontecimentos trágicos e pela solidão, ficando órfão com três anos, passando então a ser criado pelos avós, no campo. Perdeu a avó com apenas sete anos, a única irmã com nove anos e o avô com catorze.

Juventude

Estudava Literatura na Universidade Imperial de Tóquio quando formou, juntamente com Yokimitsu Riichi, um jornal de letras – Bungei Jidai – que ajudava a promover um novo movimento literário (Shinkankakuha) que, segundo Kawabata e Yokomitsu, tinha como principais preocupações a apresentação de “novas sensações” na literatura, considerando a arte pura como missão primordial do escritor. Nessa revista publicou, em 1926, "Izu no Odoriko" ("A Dançarina de Izu"), uma história que explorava o erotismo do amor juvenil, com imagens líricas inspiradas em escrituras budistas e poetas medievais japoneses.

Idade adulta

O seu primeiro romance foi Yukiguni (“Terra de Neve” em Portugal e "O país das neves " no Brasil), começado em 1934 e publicado gradualmente de 1935 a 1937. Relata a história de amor entre um homem diletante da cidade de Tóquio e uma gueixa de uma povoação remota onde este encontra um refúgio do stress da sua vida citadina. Este romance colocou Kawabata imediatamente na posição de um dos escritores japoneses mais importantes e promissores, tornando-se o romance num clássico instantâneo que é, hoje, considerado uma das suas mais importantes obras-primas.

Iniciou em 1949 a série "Mil Garças", em que consta o célebre "Nuvens de Pássaros Brancos", e "O Som da Montanha".

Após o final da Segunda Guerra Mundial Kawabata continuou a publicar romances como Senbazuru, Yama no Oto, “A Casa das Belas Adormecidas”, Utsukushisa to Kanashimi to e Koto (“Kyoto” em Portugal). No entanto o romance que Kawabata considerava ser o seu melhor foi Meijin, publicado entre 1951 e 1954.

Kawabata foi ainda membro da Academia Imperial e presidente do Pen Club do Japão, atuando em várias reuniões internacionais de escritores.

Suicidou-se em meio a um surto depressivo, em Zushi, perto de Yokohama.

Estilo

O estilo de escrita de Yasunari Kawabata distingue-se por uma linguagem suave, mais abstracta que descritiva, onde predomina a subjectividade em relação à objectividade, aproximando-se muitas vezes da prosa poética.

Por seu tratamento de atmosferas e cores, ficou conhecido como alguém que "pintava as palavras" de branco irradiante, praticamente sem outras cores, como se vê em "O País das Neves" e em "Nuvens de Pássaros Brancos".

A solidão, a angústia da morte e a atração pela psicologia feminina foram seus temas constantes.

Títulos mais importantes
A Dançarina de Izu (Izu no Odoriko 1926)
Terra de Neve (Yukiguni, 1935-1937, 1947)
The Master of Go (Meijin, 1951-4)
Thousand Cranes ( Senbazuru, 1949-52)
O som da montanha ( Yama no Oto, 1949-54)
O lago (() Mizuumi, 1954)
A Casa das Belas Adormecidas ( Nemureru Bijo, 1961)
Kyoto (Koto, 1962)
Contos da palma da mão (Palm-of-the-Hand Stories)
Beauty and Sadness (Utsukushisa to Kanashimi to, 1964)

Lançamento de Livros no Brasil

Segundo o diretor editorial da Estação Liberdade, Angel Bojadsen, nos títulos Kyoto ou A Velha Capital e Mil Tsurus, o primeiro sobre o processo de ocidentalização do Japão e o último sobre antigas tradições japonesas, entre elas a cerimônia do chá. Kawabata, um conservador, como seu amigo Mishima, era um poço de contradições. Ao receber o Nobel, em 1968, condenou com veemência o suicídio, mas se matou (como Mishima) quatro anos depois, por não suportar a doença que o levou à depressão.

Melancólico, Kawabata identificava-se com Mishima em muitos aspectos. Nenhum dos dois teve uma infância feliz. Enquanto o primeiro, criado pela avó, reprimiu sua homossexualidade e formou um exército particular para defender o imperador e os valores tradicionais do Japão, Kawabata, órfão aos três anos, jamais conseguiu se recuperar do sentimento de perda provocado pelas sucessivas mortes em família. Fatos inspirados em sua vida aparecem camuflados em grande parte de seus livros, a exemplo dos relatos autobiográficos de García Márquez — e Memoria de Mis Putas Tristes não é exatamente uma exceção.

Se Márquez faz do bordel uma confessionário, Kawabata o transforma num templo, como em A Casa das Belas Adormecidas. No prefácio que Mishima escreveu para o livro (não incluído na edição brasileira), o escritor o define como uma perturbadora reflexão sobre "o terror da luxúria no prelúdio da morte". De fato, Kawabata escreve sobre a impossível relação amorosa entre um ancião e as jovens de um estranho bordel. Nele, as garotas não podem ser violadas, apenas contempladas. Dormir ao lado dessas criaturas dopadas (as meninas dormem sob efeito de narcóticos) é a única compensação para a senilidade de Eguchi, em busca do tempo e dos prazeres perdidos da juventude.

O livro começa com a dona da "hospedaria" recomendando a Eguchi que não enfie o dedo na boca da menina adormecida ou faça qualquer outro gesto obsceno. Kawabata constrói uma narrativa circular. Dá voltas e termina na fronteira entre o profundo sono da garota e uma morte. O que era uma possibilidade de amor (a vida, a juventude) se desfaz com a proximidade do fim. Kawabata costumava definir essa identificação entre paixão senil e morte como a tragédia inconsolável de um amnésico tentando conjurar fantasmas do passado.

Um parente literário de Kawabata no Ocidente bem poderia ser o austríaco Arthur Schnitzler, que, em Breve Romance de Sonho contrapõe igualmente o impulso erótico à morte, jogando seu protagonista numa situação limite, como Kawabata no epílogo de A Casa das Belas Adormecidas.

O País da Neves (tradução de Neide Hissae Nagae, 160 págs., R$ 29) acentua ainda mais essa proximidade com Schnitzler. Nele, a relação entre o rico Shimamura, a gueixa Komako e a jovem Yoko é mais lírica, mas não menos trágica. Kawabata começou a escrever o livro em 1937, mas só o concluiu dez anos depois. A fantasmagoria do protagonista do romance de Schnitzler (que deu origem ao filme De Olhos Bem Fechados, o último de Kubrirck) é um tanto semelhante ao delírio do esteta Shimamura de O País da Neves, que vê o objeto de seu desejo como uma projeção, um reflexo no espelho, como a gueixa Yoko. Daí para o cinema foi um pulo. O livro foi filmado por Shiro Toyoda em 1957.

Em Kawabata, os personagens masculinos são quase sempre eclipsados pela presença da mulher. Shimamura, o esteta, é bem menos real aos olhos do leitor que a aprendiz de gueixa, que vê esporadicamente em suas incursões pelo mundo bucólico das montanhas, fugindo de um casamento frustrado e de uma Tóquio já descaracterizada. Shimamura é incapaz de ter uma relação real com as mulheres. Nele, tudo é idealizado (como o protagonista da novela de Schnitzler).

Já as mulheres de Kawabata são tão concretas que até mesmo a gueixa Komako — ele admitia — foi inspirada num modelo real, mas o escritor, como de costume, deixa bastante espaço para a imaginação do leitor. Kawabata, nascido numa família próspera e culta de Osaka, começou a estudar literatura aos 21 anos e publicou sua primeira novela cinco anos depois. Quase sempre tratou da incapacidade do homem de amar, mesmo desejando as mulheres. Paradoxo incontornável.

Fontes:
GONÇALVES FILHO, Antônio. O Estado de São Paulo. 29 de novembro de 2004
http://www.estacaoliberdade.com.br/
http://pt.wikipedia.org/

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