quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Antonio Carlos Tórtoro (O Banquete De Pratão)



Comer e beber com alguém é, para mim, quase que um ritual sagrado e, por isso, não bebo nem como com o inimigo.

Penso assim talvez por ser do tempo em que a família se reunia duas vezes por dia, durante as refeições, ao redor de uma mesa, para conversar sobre todos os assuntos, principalmente sobre aqueles que faziam parte do cotidiano de todos os seus componentes.

E, por falar em comer à mesa e conversar, no último dia 15 de outubro, Dia do Professor, participei com minha esposa de uma galinhada, oferecida pela direção do colégio Anchieta aos professores e funcionários: um banquete de pratão.

Pratão de legumes, pratão de patê de alho, da Roberta, pratão de patê de atum, da Rosa, tudo bem temperado, bastante cerveja, bem gelada e, flores, muitas flores em pequenos vasos, além do ramalhete que entregamos à anfitriã, a professora Alcilene Soares Aguiar, ao som de Ray Connif, em comemoração à passagem do dia dos mestres.

Vivemos, por alguns instantes, belos e expressivos momentos de encontro com os nossos semelhantes, que só os pequenos grandes gestos do dia-a-dia podem proporcionar: um sorriso aberto e franco, um aceno ou aperto de mão de duração mais longa.

No famoso Banquete de Platão, Sócrates conta a história de seu encontro com Diotima, quando tinha por volta de 30 anos. Nessa obra universalmente conhecida, o amor é definido por ele como carência daquilo que se ama, do objeto amado. É o que inspira os seres a partir em busca do Belo: esse belo, a idéia eterna da qual todas as coisas belas participam gradativamente, é alcançado pela ascese dialética, por degraus. Primeiro, pode-se ver o belo nos corpos, depois, na natureza, etc, até se chegar ao belo em si.

No nosso banquete de pratão, não discutimos o amor: nós somente o vivemos. Vivemos por alguns momentos — fora do ritmo alucinante de um dia de trabalho na escola — a satisfação de ouvir o colega sobre assuntos nada pedagógicos, o prazer de ver a troca de colos de suas crianças que ainda não freqüentam a escola, a alegria de abraçar cada um que chega com um sorriso e votos de boas vindas.

Depois de quase uma hora de conversa jogada fora, muitas gargalhadas, piadas, chega o pessoal do Barriga – assado na brasa, sem o assado, mas com três enormes panelas da mais saborosa galinhada do ano.

Com o passar do tempo, os grandes grupos vão se desmanchando e transformam-se em pequenos outros grupos espalhados pelos amplos espaços dos pátios do colégio.

Antes de ir embora, ainda sobra tempo para comer algumas amoras — com o ímpeto dos tempos de criança — retiradas na hora, dos pés repletos de pequenos pontos escondidos entre o verde das folhas, qual saborosas lagartas negras.

Não é preciso ir a Atenas ou Paris para ser feliz: Basta olhar com amor e fraternidade aqueles que fazem parte do nosso cotidiano e, se possível, beber e comer com eles.

Fontes:
Academia Ribeirãopretana de Letras.
http://www.movimentodasartes.com.br/arl
Imagem =
http://emalmada.blogspot.com

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