sábado, 13 de dezembro de 2008

Miguel Perrone Cione (Ouvir Estrelas…)

Vincent Van Gogh (1853-1890)
Não há quem não esteja farto de conhecer as coisas da Terra; por isso, saber um pouco das maravilhas que se encontram além de nós, é salutar para o homem que, perdido na explosão das suas paixões, não consegue avaliar a fragilidade e a insignificância de sua presença no universo.

Talvez para que não olvidemos nunca essa insignificância, o Criador resolveu colocar diante dos nossos olhos, no painel das noites amenas, o infinito reino fulgurante das estrelas.

Muito além da Terra há um imensurável universo que tem vida, porque palpita no sinergismo dos seus componentes, tem luzes, cores, som, energia, e se eterniza na substituição cíclica dos seus elementos; é um universo intangível, sem limites, repleto de belezas e mistérios insondáveis, onde só o olhar dos que buscam a luz no fulgor divino das estrelas pode penetrar.

Mas, o fascínio e o esplendor das estrelas, vão além da nossa fantasia, do encanto e da fé que elas podem nos proporcionar: elas são responsáveis pelo equilíbrio do Cosmos, porque, como os seres vivos, elas nascem, vivem e morrem, mantendo constante o número necessário ao desempenho universal. Elas são das mais variadas cores, as branco-azuladas são as mais novas e as mais quentes, as amarelas, como o nosso sol, são as de média temperatura e meia vida. As alaranjadas, e por fim as vermelhas, são as menos quentes e mais idosas. Quanto maior é a estrela, mais breve a sua existência, porque a sua fornalha acesa consome mais rapidamente o combustível da sua reserva.

Vistas com um simples binóculo, ou ao telescópio, elas ficam mais brilhantes realçando a limpidez do seu colorido.

Existem agrupamentos de rara beleza, é o caso da jewell box, chamado em nosso idioma a caixa de jóias, no qual se aglomeram estrelas de diversos matizes, formando a figura de um “A” deitado; não menos de 50 estrelas fazem parte desse aglomerado. O colorido vai do esverdeado ao azulado e ao violeta, no centro do grupo há uma pequena estrela vermelha. Essa jóia celeste, do mais fino lavor, pode ser vista na constelação do Cruzeiro do Sul. Outra jóia é encontrada no sistema binário de Abireo, uma dupla da constelação do Cisne, observável desde o fim do outono até o início da primavera, que se compõe de duas belas estrelas, uma alaranjada e outra de cor azul intenso.

Por incrível que pareça, as estrelas também falam, mas em um idioma que ainda nos é totalmente estranho. Existem nelas potentíssimas fontes sonoras, como se fossem emissoras de rádio. A ciência que estuda essa linguagem com auxílio de computadores é a Radioastronomia. A mais potente de todas essas emissoras do espaço situa-se na constelação de Sagitário, praticamente no centro da Via-Láctea. O nosso sol também não foge à regra. Southworth, nos EUA, foi o primeiro observatório a registrar as radioemissões do sol, em 1942.

Embora os próprios computadores não tenham conseguido ainda codificar o idioma das estrelas, há na Terra os que podem entendê-las; são os que trazem na alma a crença e as sutilezas do amor. Talvez por essa razão que Bilac, referindo-se às estrelas, escreveu:

“Direis agora: Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?
E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Fonte:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm

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