terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Arlene de Lima (Maria-Fumaça)

José Barcelos (Maria Fumaça)
"Café-com-pão, café-com-pão, café-com-pão"... Era o barulho da valente maria-fumaça, que ainda guardo na memória.

Ziguezagueara, desde tempos remotos, rompendo belas paisagens envolvidas por nuvem de vapor, em fantásticos cenários. Rolava sobre trilhos, parecia um arremate faiscante da saia verdejante das matas que atravessava.

Luzindo com as ferragens de cobre brilhando ao sol sobre rodas e eixos, rodando, girando. Nos trilhos deslizava sem parar, comendo os dormentes. Píu!... Píu!... Apitando, nos chacoalhando, lá ia a maria-fumaça às estações; gente embarcava e desembarcava, pessoas cansadas a caminho do lar.

As novas gerações das décadas recentes não experimentaram a sensação de uma viagem em maria-fumaça.

Tinha uns 10 anos; coloquei meu vestido novo, lindo, para uma pequena viagem de trem. Meu coração palpitava de emoção com o "café-com-pão, café-com-pão", que meus ouvidos docemente ouviam. Lá veio o garçom vendendo chocolates... Admirava as paisagens, de repente uma faísca caiu e queimou-me o vestido novo. A sensação foi ruim, mas não chegou a tirar minha alegria, pois a maria-fumaça fazia parte da minha vida.

Margeava os rios, indo em paz. Muito fogo... muita fumaça... espantava rebanhos e levava o progresso a muitos rincões.

O trem está na alma brasileira. Quantas histórias sobre os seus trilhos foram presenciadas. Gente do sítio e da cidade aglomerava-se nas estações, nos finais de semana, para ver o trem chegar e partir.

Eram tantos vagões puxados pela potente e espalhafatosa maria-fumaça. Hoje temos a pioneira 800, estacionada, adormecida, à entrada do Parque do Ingá. Ali está: bonitinha, bem reformada, quase novinha, essa linda lembrança que tanta alegria me deu na infância e à cidade de Maringá.

Os trens tinham um vagão exclusivo para bagagens, alguns carros de segunda classe, outros de primeira, destinados aos mais ricos, e vagões com leitos, que, geralmente, eram os últimos. O carro-restaurante servia comida saborosa, por isso estava sempre lotado.

Mais tarde, chegam as locomotivas a diesel, os comboios aumentaram de tamanho: acopladas, duas ou três possantes máquinas arrastavam sem dificuldade incontáveis vagões.

Às vezes, partiam com centenas de cabeças de gado, café, madeira e cereais. Os trens da época, no entanto, carregavam muito mais: animais, arados, mudanças, carros, máquinas, todo tipo de material de construção.

A maria-fumaça também guarda a memória das histórias de amor, os lenços acenantes de um adeus.

O apito do trem, o "café-com-pão, café-com-pão"... ficaram-me gravados na mente, deixando-me na alma saudades.

Hoje há trens confortáveis, rápidos. Em países desenvolvidos, são sinônimo de solução, segurança, eficiência, modernidade. O Brasil precisa recuperar o seu tempo perdido.

Lá vai rodando, girando...
Adeus “Maria-Fumaça”.
Píu... píu... píu... píu... apitando,
e a saudade é uma graça!
Maria-fumaça, lembrança dos meus lindos sonhos, repousantes no coração, pois me leva a viagens e traz-me recordações.
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Sobre a Autora
Arlene de Lima (1937)
Cadeira nº. 15 da Academia de Letras de Maringá – Patrono: Fagundes Varela
Assistente social. Foi vereadora, fundadora e presidente do Lar Betânia por 29 anos. Nasceu em São Sebastião do Paraíso – MG, no dia 16 de julho de 1937. Autora de Vida que ensina viver, Estrelas do meu chão, Estrelas do meu caminho, Flores que cultivei, Estréia, Pérolas da alma e Mosaico de ternuras.

Fontes:
Academia de Letras de Maringá.
http://www.afacci.com.br/
Pintura =
http://www.josebarcelos.com.br/

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