segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Luis Kandjimbo (Breve História da Ficção Narrativa Angolana nos últimos 50 anos) Parte 2

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1. Narrativa Literária Angolana e a sua Identidade

O CONCEITO DE LITERATURA ANGOLANA

Ora, ao cuidarmos da narrativa literária angolana temos como objeto um segmento da arte verbal angolana. Donde ressalta uma idéia preliminar que reputamos fundamental, segundo a qual a narrativa angolana é anterior ao uso da língua portuguesa. O que do ponto de vista estético, ajuda a compreender o fato de estar subjacente uma realidade pré-existente que deve articular-se a novas elaborações ontológicas e epistemológicas que visem a autonomização da literatura angolana e a fundamentação substantiva do adjetivo que qualifica a narrativa e a ficção. Por outras palavras, teremos de responder à seguinte interrogativa: como e quando é que a narrativa e a ficção literária podem ser consideradas angolanas?

A resposta àquela questão sugere o que pode ser designado por identidade narrativa que, traduzindo a idéia de algo permanente, seja numa pessoa individual, seja numa comunidade histórica, permite, no dizer de M. a. M. Ngal, consagrar a expressão de uma “coesão totalizadora indispensável ao poder da distinção”. É neste sentido que aplicada à história das narrativas literárias, a referida noção “ conforma o caráter durável de uma personagem (…) construindo o tipo de identidade dinâmica própria da intriga que faz a identidade da personagem”. Mas a identidade narrativa não se circunscreve exclusivamente à personagem.

Em Literatura Angolana e Texto Literário, Jorge Macedo detecta quatro tipos de discursos narrativos apresentando as seguintes características concorrentes:

- textologia angolanizada na forma e na expressão ( Luandino Vieira, Jofre Rocha, Boaventura Cardoso);

- angolanidade no quadro do uso vernáculo da língua portuguesa ( Arnaldo Santos, António Cardoso);

- prosa de veridicção ( Uanhenga Xitu, Raúl David , Pepetela);

- texto de reduplicação cultural ou texto de motivação histórica e etnográfica ( Manuel Pedro Pacavira, Henrique Abranches e Pepetela).

A perspectiva de Jorge Macedo permite sustentar que as características distintivas são múltiplas, pois à personagem juntam-se elementos como a linguagem e outros recursos correlatos do texto narrativo.

Ora, seguindo de perto a noção de identidade narrativa, concluiremos que só no quadro do conceito de literatura angolana se pode compreender o alcance da “coesão totalizadora”. Semelhante conceito há de comportar o extensional e o intensional. O que entender então por literatura angolana?

Será literatura angolana aquele conjunto que compreende os textos orais, as versões escritas dos textos orais em línguas nacionais, os textos escritos em línguas nacionais, língua portuguesa ou outras línguas européias, produzidos por autores angolanos com recurso às técnicas da ficção narrativa, de outros modos da escrita desde que se verifique neles uma determinada intenção estética, crítica ou histórico-literária, veiculando elementos culturais angolanos.

Na sua dimensão extensional, este conceito cobre o seguinte:
• textos orais;
• versões escritas de textos orais;
• textos escritos em línguas angolanas, língua portuguesa ou outras europeias.

Do ponto de vista intensional compreende:
• angolanidade literária;
• expressão de elementos culturais angolanos;
• utilização de técnicas e modos da escrita poética, narrativa ou outra;
• intencionalidade estética.

Do ponto de vista ontológico os autores são angolanos no sentido de que são objetos e sujeitos da experiência angolana.
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continua... A Geração de 1890:Pedro Féliz, José de fontes Pereira e Joaquim Dias Cordeiro da Matta
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Fonte:
http://www.nexus.ao/kandjimbo/breve_historia.htm

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