sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dalila Teles Veras (Poesia Madeirense)


A atividade literária na Ilha da Madeira, ou Região Autônoma da Madeira, como preferem chamá-la os seus habitantes, é intensa, contando hoje com uma vasta bibliografia, muito especialmente na poesia.

Difícil seria, nesta breve notícia sobre a poesia na Madeira, estudar com o rigor exigido esse conjunto de obras e classificá-las como literatura madeirense, posto que esse é um terreno escorregadio de polêmicas que, volta e meia, sobem à superfície fazendo patinar quem por ele transite.

A questão sobre a existência ou não de uma literatura madeirense persiste, inclusive, entre os próprios escritores locais e, colocada em mero posto de observadora, limito-me a falar dessas anotações.

Examinemos alguns trechos retirados de comunicações apresentadas no I Encontro Regional de Escritores, realizado no Funchal em 1989:

- Irene Lucília cita Agustina Bessa Luís que escreveu: “A Madeira tem plantações de romance como bananais e vinha jaquet. É um nunca mais acabar de personagens, situações, vidas e histórias que não se entende o silêncio das letras acerca delas”. Polemicamente, a própria Irene acrescenta: “Tudo está ali. A obra feita. A ilha viva, autêntica deslumbrante e mágica, obsessiva e dominadora, não precisa de ser recriada por mecanismos de ficção. Por si só, em corpo real ela basta à paixão, preenche os escaninhos do prazer, avassala até à saturação e ao confrangimento”, concluindo com uma nova citação de Agustina, que “a paixão dos lugares tornou-se (...) universal fato de paralisia do trabalho”. Interessante observar que, apesar dela mesma, Irene, ser uma eterna exaltadora dessa “ilha viva”, aponta esse mesmo detalhe também como fator paralisante da criação intelectual. O que, neste caso, convenhamos é um pouco de exagero céptico.

Já o poeta Carlos Nogueira Fino, assume, sem nato ser, a sua insularidade e os seus resultados literários: “O que somos desenha-se do mar a sulcos íngremes: um canto chão perante a majestade antiga dos navios; uma impressão de asas vagarosas sobre o céu do silêncio; (...) Aqui nascemos, ou aqui chegamos, com raízes precárias. Elas se encarregam de crescer por nós em busca do que somos. Deixai crescer, portanto, o chão de onde brotamos, universal pela razão das árvores, até fazer-se a voz que nos revela.”.

Pragmático, o escritor João Dionísio coloca: “com a consagração constitucional da Autonomia, ou a transformação da Ilha da Madeira em Região Autônoma da Madeira, “surge a literatura da Região Autônoma da Madeira”. Anteriormente a esse fato histórico, diz ele, “a literatura madeirense ou da Madeira pertence à literatura portuguesa, como qualquer outra literatura escrita por portugueses. (...) Podemos dizer, agora, que somos a outra gente da literatura portuguesa, com os nossos amores e desamores, mas, sobretudo, com a nossa realidade. Somos a outra gente para sermos a mesma gente da literatura portuguesa. Mas, com uma diferença em relação aos nossos antepassados: eles tiveram a Independência, nós temos a Autonomia. O que significa: somos da literatura portuguesa e somos uma literatura da língua portuguesa. Trazemos, portanto, para a História da Literatura Portuguesa a nossa diferença econômica, social e política, isto é, um ponto de vista literário sobre as estruturas. E, ao enriquecermos a História da Literatura Portuguesa enriquecemos, também, a outra vertente: a História da Literatura de Língua Portuguesa. Em resumo: a partir da data e do fato autonômico, começamos a construir a História da Literatura Madeirense.”

Polêmicas e rótulos à parte, não fica difícil observar que a condição insular, os fatores geográficos e culturais específicos (“o homem fechado sobre si mesmo e, simultaneamente disperso no infinito", conforme Ferreira de Castro, escritor fascinado pelas pequenas ilhas sobre as quais tanto escreveu), acabam por emprestar ao povo madeirense uma feição cultural muito própria e que, inegavelmente o distingue dos demais portugueses, tanto no seu modo de ser e de estar quanto na sua própria visão de mundo. Isso, é claro, é tema para estudioso de antropologia social, mas, de alguma forma, é fácil observar que esses fatores acabam refletidos também na maneira do madeirense se expressar literariamente e, assim, torna-se matéria de análise sócio-literária.

No nosso cômodo ponto de vista de observadores, essa condição insular refletida no imaginário ilhéu, só fez por enriquecer a literatura produzida na Madeira, emprestando-lhe uma singularidade que a eleva a presença marcante e reconhecível no cenário da literatura de língua portuguesa.

A poesia contemporânea portuguesa de maior expressividade, conta com pelo menos três poetas nascidos na Madeira, Herberto Helder (Funchal, 1930) considerado um dos maiores poetas portugueses da atualidade, José Agostinho Baptista (Funchal, 1948) e José Viale Moutinho (Funchal, 1945) este, dono também de uma extensa obra em prosa, além de Natália Correia e de Sophia de Mello Breyner Andresen, elas também das ilhas, mas dos Açores.

Esses poetas, contudo, por terem alcançado uma posição de destaque no cenário literário português e europeu, não são rotulados como "poetas das ilhas", "madeirenses" ou "açorianos", são simplesmente poetas portugueses, como deve ser. Apesar de viverem (viveu, no caso de Natália), fora das ilhas (melhor seria dizer que eles apenas “nasceram” nas ilhas, não se “fizeram” nelas) trazem, aqui e ali, na sua gênese mais profunda, esses fatores de que falamos, ainda que, admitamos, apenas por conta do atavismo.

O que é notável é que a Ilha ainda lhes marca a memória e a palavra, como bem o demonstra este poema de José Viale Moutinho:

ANTIMEMÓRIA COM FUNCHAL
ao Manuel Freire

havia asas pelo corpo sobre os mapas do mar
e a coberto da ilha e da espada cravada
no mais distante rochedo de qualquer praia
de súbito matou a sua primeira gaivota

a guerra aproximava-se do fim era junho
e nunca mais coltaria à casa submersa
persianas corridas rendas de latas verdes
que o homem da música lhe traria numa caixa

morria-se de dentes podres deslizando montes
alguns silêncios se descobriam pelas mãos
e os olhos adoeciam noutra costa distante
de barcos e de redes de rostos encardidos

sem saudade nem reconhecimento do luto
moviam-se as raízes sobre as águas lodas
suposto país que se formara no profundo
e aí reinava o inventado el-dom sebastião

Há, no entanto, um grupo de poetas, nascidos ou residentes na Madeira, que optaram por lá permanecer e dali passaram a impor a sua singular poesia ao próprio Portugal que, é preciso que se diga, ainda olha com certo desdém e desconfiança tudo que não venha do Terreiro do Paço de Lisboa (“as muralhas da continentalidade que tão ínfimo interesse revelam em favor da cultura portuguesa insular”, no dizer do sempre inflamado e competente poeta José António Gonçalves.

A escritora Natália Correia, em prefácio à coletânea Ilha 2, 1979, assim refere-se à poesia madeirense: “Despojai-vos da presunçosa cornada e vinde à Ilha. O continente encerra-vos? Fecha-vos as idéias em inquiridos de antolhadas teorias? Entendei que a poesia é superação do continente. Conteúdo fervente. Como a Ilha, contida. Mas pela animação perpétua do mar. A vida sempre a surgir da água, Madre Marinha. (...) Fechai vossos guichets de bancários da estese e vinde à Ilha. Aqui a poesia é grátis. A criação revela-se geneticamente insular. Daí serem as Musas originariamente aquáticas.”. Natália, como se vê, confirma a marca “genética” da insularidade dessa poesia e exalta, em alto e bom som, a sua qualidade.

O fato de apontarmos essa marca insular na poesia dos madeirenses não significa estarmos, em nenhuma hipótese, a nos referir a qualquer idéia estética de regionalismo, mas, antes, a uma poesia que, no seu conjunto, apresenta uma facies própria que a identifica pelo particular e que, por seus méritos, a coloca na universalidade exatamente pela coragem de ser regional.

Se o Brasil mal conhece a literatura contemporânea portuguesa depois de Eça e Pessoa, que dizer dessa poesia, ainda pouco conhecida em seu próprio país, com um imenso mar a isolá-la e a separar-nos?

Trazer, portanto, a um encontro de língua portuguesa um pouco da poesia feita na madeira é apenas um gesto de tentar (re)unir e (inter)cambiar os poetas e a cultura que o mar separa e que os convênios e acordos oficiais não consegue aproximar. Daí o fato de ser esta apenas uma breve notícia da poesia na Madeira, trazida por uma leitora atenta, desvestida dos méritos acadêmicos para uma análise mais adequada a uma comunicação.

Dentre os muitos poetas madeirenses da atualidade, selecionamos os nomes de José António Gonçalves, Irene Lucília, Carlos Nogueira Fino, José de Sainz-Trueva, Ângela Varela e Maria Aurora Carvalho Homem, não só por sua representatividade dentro do atual panorama poético madeirense, como também por terem merecido o justo destaque da própria crítica portuguesa e, finalmente, por concordarmos com a excelência de suas obras.

Pequena bibliografia e breve antologia da poesia madeirense:

José António Gonçalves – Nasceu em São Martinho, Funchal, Madeira, em 13 de junho de 1954. Escritor e jornalista. Presidente da Direção da Associação da Escritores da Madeira, da qual é um dos fundadores, membro da Associação Portuguesa de Escritores, Coordena o movimento Ilha e dirige e edita a coleção Cadernos Ilha
Publicou: Poesia – É Madrugada e Sinto, 1974; Pedra-Revolta, 1975; 20 Textos para Falar de Mim, 1988; Antologia Verde, 1991; Os Pássaros Breves, 1995; Tem o Poder da Água (obra poética 1973-1995), 1996, À Espera dos Deuses, 1999; Giacomo Leopardi e o Suave Desprendimento do Infinoto, 1999; A Aventura na Casa dos Livros, 2000; Lembro-me desses Natais; 2000. Ficção – Réstea de Qualquer Coisa, crônicas, 1973; Organizou e integrou as antologias Ilha, 1975; Ilha 2, 1979; Ilha 3, 1991; Ilha 4, 1994; O Natal na Voz dos Poetas Madeirenses, 1989; Poet´Arte 90, 1990; Poesia na Ilha, 1991; Crônicas do Norte, textos de Horácio Bento de gouveia (seleção, organização e prefácio de sua autoria), 1994. Filmografia – Açores Outono (documentário), 1978; Madeira – Bordado de Sonho (documentário), 1980; Ora... o Mar (conto – teledramático), 1988; Retratos da Madeira, (série biográfica, 6 episódios), 1989; Canto da Ilha (Programa do 20º aniversário da RTP-M), 1992; e O morto, 1994.

PÔR-DO-SOL
para Virgílio Higino Pereira

Este é o mar que se veste de vermelho,
convidado pelo ocaso do poema
para o baile do fim do dia.

Ei-lo à distância, abraçando a periferia
de um olhar que se perde nas falésias,
sorridente na brevidade da sua figura.

Poderia o ilhéu dar o salto inconsciente,
entregando-se ao sal rosado do seu vestuário,
curioso por provar a água do seu bordado.

Porém, resguarda-se no calor da terra,
pisando a ilha com a carne da sua loucura,
acorrentado às ervas que nascem no recolher das casas.

E suspira, como um anjo esquecido
na multidão solitária que percorre as ruas,
perguntando pelo lugar onde descansam as suas asas.
(in Aventura na casa do livros)

Irene Lucília – Irene Lucília Mendes de Andrade, é natural do Funchal (1938). Licenciada em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Professora de Educação Visual. Desenvolveu diversificada atividade, como produtora de radio, autora de textos para a infância e no domínio das artes plásticas participou em vários exposições na Madeira e nos Açores. É membro da Associação de Escritores da Madeira.
Publicou: Poesia - Hora Imóvel, 1968; Histórias que o Vento Conta, 1979; Palavras que Levo em Viagem, in Ilha 2, 1979; O Pé Dentro D´Água, 1982; Ilha Que é Gente (cantigas), complementado com um disco single, 1986; “A Mão Que Amansa os Frutos”, 1990. Sobre a Memória deste Dias, in Ilha 3, 1991; Amargo é o Estar do Tempo, in Ilha 4, 1994. Romance – Angélica e a sua Espécie, 1993. Está representada em várias antologias. Tem colaboração dispersa por vários jornais e revistas.

Sete partidas

1 a boca curta
2 o timbre inútil
3 alguns percursos inviáveis
soterrados
sob o peso deslumbrado dos asfaltos
4 intentos e caminhos reduzidos
a um tráfego de cansaços e esquecimento
5 a ilusão horizontal dos olhos
rasando a virtude da água
6 a dolorosa porção de espaço
perimetria do espasmo e dos espantos
enorme convulsão
entre o silêncio e a fábula
7 o gesto insuficiente do coração
entre o mar e o mar como se
mais mundo não houvesse e só
os territórios interiores
fatigados duma melancólica geografia.

as sete partidas duma viagem inflexível
quedam-se à volta de muitas raízes
e duma dramática sedução de flores
onde a luz quebra o viço generoso das sombras
e reforça a intensidade fátua dos perfis suspeitos.
(in Amargo é o Estar do Tempo, Ilha 4, 1994)

José de Sainz-Trueva – nasceu em São Gonçalo, Funchal, a 9 de junho de 1947. Membro da Direção da Associação de Escritores da Madeira e Associação Portuguesa de Escritores entre outras associações. Chefe de Divisão de Proteção ao Patrimônio Cultural da Direção de Serviços do Patrimônio e Atividades Culturais.
Publicou – Espaço na Relva, in Ilha 2, 1979; Entre os Olhos, in Ilha 3, 1991; Musa Grata, in Ilha 4, 1994; está representado em inúmeras antologias; Tem publicado textos de investigação sobre temas madeirenses nas revistas Atlântico, Islenha, Girão e no suplemento do Diário de Notícias do Funchal, bem como colaborou em várias outras publicações.

De um só golpe
um anjo decepado
afunda-se na lama
o nó aperta
esfuma-se a restinga
imóvel rosa dúctil
virada do avesso
secura e culpa
ao fim de cada hora
o que te faço?
vibra
escasso amor
é laço é ferida em carne viva
(in Entre os Olhos – Ilha 3, 1991)

Mais secreto é o dia
rio livre
sem lei

como um vulto na rua

de
sombra e
sol

sem
certeza de
nada bravo como um
touro
(in Musa Grata, Ilha 4, 1994)

Carlos Nogueira Fino – Nasceu em Évora em 25.11.50. Reside na Madeira desde dezembro de 1959. Mestre em Educação (análise e organização de ensino). Docente na Universidade da Madeira. Deputado à Assembléia Legislativa Regional. Membro da Associação de Escritores da Madeira e da Sociedade Portuguesa de Autores.
Publicou – XXIII Poemas de Ilhamar, 1987 – prêmio Leacock 87); Simbiose, 1988, de parceria com o escultor Celso Caires; Este Cais Vertical, 1989; Iniciação à Luz in Ilha 3, 1991; Contemplação do Olhar, 1992; (Pre)Meditação, 1992; Alquimias, in Ilha 4, 1994

a ambigüidade não é a que insinua
no cerne das palavras o corte
com as coisas

mas esta saliência na significação das árvores
onde assentamos a aparência da imobilidade

entretanto pulula
na dissolução das folhas
a azáfama do solo
0o0

mas não direi estas palavras
sem abri-las por dentro
como te abro e me revelo
para conhecer-te

o gérmen do teu nome inscrito
no meu nome
(in (PRE)MEDITAÇÃO)

Ângela Varela (de seu nome completo, Ângela Maria Varela Miranda Rodrigues), natural da Ilha da Madeira, Camacha, é licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, com a dissertação O Poema em Prosa na Literatura Portuguesa. Lecionou no Ensino Secundário em Paris, no Funchal, em Oeiras e na Escola de S.João do Estoril onde é professora efetiva, além de ter exercido o cargo de Leitora de Português na Universidade de Estrasburgo (França). Prepara tese de Doutorado sobre a poética do “poema em prosa”.

Publicou: Espaços de Passagem, in Ilha 3, 1991; Corpo – Ilha, in Ilha 4, 1994. Tem publicação dispersa de ensaio e (ou) poesia nas revistas Colóquio/Letras e Sílex, de Lisboa, Nova Renascença, do Porto, Atlântico, da Madeira e Nordès, de Vigo, bem como em jornais da Madeira e Lisboa. Publica crônicas no Diário de Notícias do Funchal

A Fala das coisas

Olhar. Olhar apenas: o mar soprado sobre a terra a olhar.
As nuvens boiam no balão do espaço – bolhas no vidro.
O muro é branco – agudamente branco. O ângulo da perna
branco encaixa no fundo azul.

Mancha. Massa apenas. Abafa o som de todas as palavras.
Deixa que as coisas falem sem filtro – com a voz do olhar.

Corpo Mineral

As casas-cavernas talhadas na rocha. O sol a penetrar nos
poros da pele. A espuma a golfar das cavidades do nariz,
da boca.

Maré-cheia os olhos-linha de horizonte.

Os cabelos-algas boiando. O perfil de pedra, lavado
no fluxo das águas salgadas. O musgo do corpo descarnado
do calor animal, do sopro vegetal:

no reino mineral a escavar-se.
(in Ilha 4, 1994)

Maria Aurora Carvalho Homem – Nasceu em Beira Alta, radicada na Madeira desde 1974. Cursou Filologia Românica na Universidade de Coimbra. Foi jornalista em A Capital e Diário de Lisboa. Produziu programas infantis na televisão portuguesa, ganhando o prêmio de Imprensa em 1968, como melhor apresentadora de Televisão. Na Madeira, entre outras atividades, foi professora, coordenadora da revista Margem, fez rádio e televisão, com destaque para o premiado programa “Letra Dura & Arte Fina”.
Publicou: Raízes do Silêncio, 1982; Ilha a Duas Vozes (com João Carlos Abreu), 1988; Vamos Cantar Histórias (infantil, 1991; Juju, a Tartaruga (infantil), 1992; A Santa do Calhau (contos), 1993; Cintilações (poesia sobre aquarelas de Mellos), 1995 e Para Ouvir Albinoni (contos), 1995, além de estar antologiada em várias publicações.

UM JEITO DE DIZER SOLIDÃO

A palavra não chega a ser murmúrio
Mastigo-a na sombra a intervalos breves:
é um dizer silencioso
um tempo sem rosto
uma ausência presente em cada gesto.
A palavra viaja no meu corpo
prendo-a na franja dos olhos
corrompe a limpidez da distância
na precisão incolor dos dias.
É cardo, gume, alfazema e jasmim.
Persigo-a neste gesto de quem quer.
A palavra é este olhar de tudo cheio
este cheiro de noite
este acaso de nada
adágio sufocado em catedral vazia
vôo raso de pássaro vadio.
A palavra tem rosto de mulher
olhar de noiva eternamente virgem
é a pele que me veste cada dia
e que me despe à noite devagar.
Faço-a minha na ternura calada
de quem desfolha rosas no outono.
Caladas nos dizemos:
amantes confessados

Fonte:
Comunicação apresentada no III Encontro Luso-Afro-Brasileiro de Língua Portuguesa – Literaturas e Comunicação Social, Faculdade Casper Líbero, SP, Capital, em maio 2000. Este texto consta do Anais do referido encontro, publicado em 2 volumes, pela Imprensa Oficial do Estado/Faculdade Casper Líbero, em 2001.
http://www.dalila.telesveras.nom.br/

Foto de Pedro Gaia = http://olhares.aeiou.pt/

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