domingo, 22 de fevereiro de 2009

Natália Bonito (Poemas Avulsos)



Natália Bonito, uma jovem com 21 anos, natural de Canhas, uma povoação da freguesia da Ponta do Sol, na Madeira. É, atualmente, finalista do curso de Economia, na Universidade da Madeira. Escreve desde os 12 anos, sendo em 2005, com 18 anos, apoiada pela Câmara Municipal da Ponta do Sol, na edição do seu primeiro trabalho de poesia, intitulado “Amor do meu Viver”.

No passado dia 27 de Setembro foi lançado o seu segundo livro, intitulado “A Janela deste Mar”, com a chancela da Corpus Editora. Está já a preparar outro livro de poemas que terá como título “Quatro Dimensões”.

É desta obra o primeiro poema intitulado “Inspiração”..
Inspiração

Vejo-te na sombra de um abraço,
Procuras a relatividade perdida
Na noite infinda de cansaço
Noite de entrega jamais esquecida.

Vejo-te presa no meu regaço
Sequiosa, floras a excitação prometida
Em beijos tocados no compasso
Da sinfonia foragida.
Vejo-te na dimensão deste espaço
Onde te rasgas despida
Para gáudio do aplauso
Desta miragem suicida.

Vejo-te nua, poética passo a passo
Por entre a penumbra desta descida
Que ampara cada pedaço
Desta visão entorpecida.
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Apaixonantes sensações

Arde em mim a sensação
Dos minutos sem fim
Como se tudo fosse inspiração
Doce, com sabor a jasmim,
Como se eu fosse alma e coração
E tu pedaço de mim.

Clamo a evidência perfeita
Dos abraços ancorados
Na submissão desfeita
Pelo poder dos corpos suados
Que em cada palavra eleita
Oferecem poemas amados.

Olho o infinito da escuridão
Nesta noite de calmaria,
E sonho com a tua mão
Estendida na periferia
Do meu latente coração
Num gesto de sintonia.

Por instantes, sinto o teu respirar
Bem perto da liberdade
Que a minha mente teima em traçar
Com purpurina e vaidade
Na esperança de ver chegar
O momento da feliz verdade.

E vejo-te, ao longe, a sorrir…
Aproximas-te com lentos passos
Regateando as flores por abrir
Com gestos delicados e rasos
Que fazem lembrar notas a cair
Na pauta musical dos abraços.

És tu, apaixonante,
A vida do meu respirar;
És tu, meu amante,
Alma límpida por amar,
Rosto marcante
Que teima em ficar.
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Ingrata submissão

Regresso à existência
Inexistente deste abraço
Como se a clemência
De cada passo
Não fosse mais que veemência
Inculto cansaço
Vil desobediência.

Sigo as pinceladas
Do quadro pintado à beira mar
Onde as ondas apaixonadas
Quiseram beijar
As pedras encharcadas
Das palavras por poetizar
Rudes ausências demoradas.

E mais uma vez regresso ao seguimento
Da curvatura lembrada
Nos céus do firmamento
Onde a lua ancorada
Dançou ao sabor do vento
Uma dança recusada
Sem desculpa ou argumento.

Sigo com o espírito calado,
A alma cede e é só escuridão
No resquício rasgado
Do meu coração
Despedaçado
Pela ingrata submissão
De ser apaixonado.
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Estrofes solitárias

O silêncio derruba a sensação
De ser verso descoberto
Na estrófica dimensão
Deste poema aberto.

Sinto as alvíssaras prometedoras
A derrubar
As pontes ameaçadoras
Do verbo criar.

Sozinha,
Choro a angústia do tormento
Grito o desalinho da frieza
Espero encontrar o alento
Desejo libertar a tristeza.

Sozinha,
Creio na sepultura dos incrédulos
Anseio um céu bem maior
Invento a loucura dos belos
Finjo ser primavera do amor.
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Não engano meu coração

Entra em mim uma imprópria vontade...
Somente um grito por gritar
Engana minha triste saudade;
Somente uma noite por chegar
Acalma o fulgor da idade.
Sempre acreditei na luz da vida,
Brinquei às paixões fulminantes
E na brincadeira, esquecida,
Deixei à nora meus amantes...
Agora meu castigo é chorar,
Chorar uma inocência perdida,
Uma pureza que não mais quer voltar:
Fugiu sem alma, nem vida,
Juntamente com aquele amar...
E não engano meu coração,
Porque sou eu quem mais ama:
Sou eu amor e paixão,
Fogo que queima a própria chama...

in A Janela deste Mar
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Fugaz eternidade de viver

Cerca-me uma fugaz eternidade!
A aura celeste perde-se
Em ritos de bela vaidade
Que ofuscam o interior
Da mais singela cidade
Construída com amor
E muito pesar da idade...
Eu também teria nesta procura
Um insensato querer,
Uma réstia de loucura,
Um fogo que teima em arder
Mas que muito não dura,
Pois morrer é viver
Uma manhã mais escura...

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