terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Teatro de Ontem e de Sempre

Da esquerda para a direita: Eugênio Kusnet (Capitão MacLean),
Milton Moraes (Capitão Fisby) e Fregoilente (Cel. Purdy III)

A Casa de Chá do Luar de Agosto

20/ 2/ 1956 - São Paulo/SP
Teatro Brasileiro de Comédia

Primeira encenação de Maurice Vaneau para o Teatro Brasileiro de Comédia, grande sucesso de crítica e público.

A peça de John Patrick é simples, bem construída e gira em torno de um tema exótico e momentoso: a ocupação militar do Japão, logo após a Guerra. Transformada em filme hollywoodiano de sucesso, presta-se a tratar com graça um tema que poderia ser espinhoso.

Dois militares norte-americanos são destacados pelo Pentágono para instalar uma escola na ilha de Tobiki mas, diante da resistência passiva dos nativos, acabam sendo levados a abrir uma casa de chá e a explorar a aguardente local. Furioso, o coronel Purdy manda destruir tudo. Mas, através de uma contra-ordem do Pentágono, a iniciativa é louvada como incentivo ao livre comércio e tanto a casa de chá quanto a destilaria são imediatamente recuperadas pelos tobikineses, terminando tudo em clima festivo.

O encenador Maurice Vaneau conduz sua numerosa equipe com garra e sensibilidade para a comédia, num rumo acertado, valorizando as interpretações e os momentos de humor do texto. Os cenários de Mauro Francini aliam-se à beleza dos figurinos de Clara Heteny, envolvendo um elenco em que ganham destaque: Ítalo Rossi, no papel de Sakini, o mestre-de-cerimônias; Mauro Mendonça, Ambrósio Fregolente, Milton Moraes, Eugênio Kusnet, Nathália Timberg, Erika Falken, Célia Biar, Oscar Felipe, além de numerosos figurantes.

Miroel Silveira, crítico nem sempre favorável ao TBC, comenta: "A Casa de Chá do Luar de Agosto se inscreve entre as melhores encenações do TBC, em todos os tempos, ao nível de suas mais perfeitas realizações. (...) A força do espetáculo, aclamado diariamente desde sua primeira apresentação, reside apenas no texto e na maneira rigorosa pela qual é executada a vontade da direção. Uma peça de conjunto, um espetáculo inteiramente de equipe, como deve ser e é o teatro realmente bom".1

Notas
1. SILVEIRA, Miroel. "A revelação de Vaneau", In A outra crítica. São Paulo. Editora Simbolo: 1976, p. 188.
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Carlos Cotrin (Charley), Paulo Monte (Happy), Roberto Duval (Biff),
Silvio Soldi (Bernard) e Norma de Andrade (Linda)
A Morte do Caixeiro Viajante
1951 - Rio de Janeiro/RJ
Teatro Glória

Uma obra-prima do realismo psicológico de Arthur Miller, A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, é encenada pela companhia de Jaime Costa, expoente de atores-empresários que constroem o espetáculo em torno do próprio carisma, apostando na espontaneidade de seu trabalho e em seu talento nato, desenvolvido no embate com as platéias.
A peça enfoca o personagem Willy Loman, esmagado por um drama de ordem social e outro de origem familiar, que o levam a uma trajetória descendente até o suicídio. O velho caixeiro viajante, criado num mundo em que a amizade se sobrepunha às regras econômicas, vê seus valores perderem lugar justamente no momento em que, desempregado, procura ajuda. No âmbito pessoal, a trama se adensa quando o filho o flagra com uma amante, gerando o bloqueio das relações entre ambos. Arthur Miller propõe uma crítica social ao mesmo tempo que constrói sua história sobre um conflito psicológico e moral. Trata-se, no fundo, de um conflito de Willy consigo mesmo, entre o que ele é e o que imagina ser.
O texto propõe dois planos de ação: aquele que mostra na vida presente de Willy Loman e aquele que dá conta de sua imaginação. O programa da peça esclarece que, por esse motivo, o autor sintetiza sua obra como "conversações íntimas em três atos". A interpretação de Jaime Costa merece entusiasmados elogios da crítica. Jota Efegê escreve:
"Várias vezes criticamos nesta coluna a displicência com que Jaime Costa nos apresentava muitos dos seus papéis, arrancando da primeira à última cena todas as falas no 'ponto'. E, agora, aqui estamos para louvar a correção com que ele fez a figura de Willy Loman pondo nela todo o seu vigor de intérprete, tornando-se, verdadeiramente, magistral".1
O sopro da modernidade que se vinha fazendo sentir em diversas montagens desde os primeiros anos da década de 1940 chegava até a platéia do velho teatro brasileiro, como prova uma advertência da companhia no programa do espetáculo. Sob o título de "Este Teatro Não Tem Claque" lê-se em texto assinado por Jaime Costa:
"Abolir a claque é moralizar o teatro. Só o aplauso espontâneo tem valor e conforta o artista. Se gostar do espetáculo, aplauda. Se não gostar, vaie ou silencie. Qualquer manifestação será por nós respeitosamente acatada".2
No programa, o crédito ao trabalho de Esther Leão está dividido entre direção e mise en scène, termo emprestado do francês e usado na época para definir as opções de encenação, ainda encaradas como novidade, contra o uso antigo da função do diretor, mais ligado ao ensaiador e ao coordenador do elenco. No entanto, Décio de Almeida Prado observa que: "Ester Leão praticamente não dirigiu a peça, no sentido de orientação psicológica dos atores: cada um está como sempre esteve, com as qualidades e vícios já conhecidos, com as inflexões e gestos de costume, Jaime Costa representando para o papel, para a peça, comovendo pela evidente sinceridade, os outros representando para o público".3
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Notas
1. EFEGÊ, Jota. 'A Morte do Caixeiro Viajante'. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, 8 ago. 1951.
2. COSTA, JAIME. Este Teatro Não Tem Claque. In: A MORTE DO CAIXEIRO VIAJANTE. Direção Esther Leão; texto Jaime Costa. Rio de Janeiro, 1948. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro Glória em 1948.
3. PRADO, Décio de Almeida. Apresentação do teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 170.
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Fonte:
http://www.itaucultural.org.br/

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