terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Victor Hugo (Os Miseráveis - O Corcunda de Notre Dame)



Os Miseráveis
Um fato histórico...

Durante 73 dias, a cidade sitiada, dominada pela Comuna mobilizada para a guerra, enfrentou o exército. Brigadas de operários e suas mulheres, as petroleuses, numa resistência desesperada, deslocavam-se pelas avenidas e ruas incendiando os prédios públicos. Num repente, os miseráveis que Victor Hugo imortalizara no seu gigantesco romance (Les misèrables, 3 volumes com 2.800 páginas, que, desde 1862, vendera sete milhões de exemplares!), rebelados, tentavam "tomar o céu de assalto". Milhares de Jeans Valjeans, na companhia das Fantines e das pequenas Cosettes, assistidas pelo moleque Gavroche, um minúsculo herói das barricadas - personagens da grande epopéia literária do proletariado francês -, haviam ocupado as ruas de Paris preparando-se para o embate final. O poeta, ainda na Bélgica, impotente, deprimiu-se. Logo ele que tanto apostara nos Estados Unidos da Europa. Não só alemães lutaram contra franceses, como esses, agora, brigavam entre si.

Glória imorredoura

Por essas e outras é que 700 mil pessoas desfilaram em frente a sua residência na avenida Eylau (hoje Victor Hugo) ao ele completar 80 anos, em 26 de fevereiro de 1881. Nem Napoleão vira tanto povo assim do seu palanque. A sua casa tornou-se local de romaria de gente do mundo inteiro. Até um poema sobre o Brasil ele compôs para o imperador D. Pedro II. Nada em matéria de multidão equiparou-se ao seu enterro quando, no dia 31 de maio de 1885 (ele falecera no dia 22), partindo do Arco do Triunfo onde seu modesto ataúde estava exposto, um milhão de franceses se irmanaram pelos Campos Elísios para levar o féretro de Père Hugo até o Panteão. Nos seus 70 anos de atividade ele fizera de tudo: foi par da França, membro da Academia de Letras, deputado, exilado político, militante anti-bonapartista, integrante do senado e o escritor mais famoso e mais popular das letras francesas em todos os tempos. Além de célebre defensor da abolição da pena capital e emérito ativista das causas populares. Dizem que no delírio que antecedeu a morte, ele gritou "esta é a luta entre o dia e a noite". Pode ter sido a chegada da noite para ele, mas para a França, que agora celebra o bicentenário do nascimento do seu maior poeta, ocorrido em Besançon em 26 de fevereiro de 1802, Victor Hugo vai ser sempre a luz do dia.

O clássico Os miseráveis, do escritor francês Victor Hugo, foi chamado de "um dos maiores best-sellers de todos os tempos". Em 1862, nas 24 horas seguintes à publicação da primeira edição de Paris, as 7 mil cópias foram todas vendidas. O livro foi publicado simultaneamente em Bruxelas, Budapeste, Leipzig (na Alemanha), Madri, Rio de Janeiro, Rotterdam e Varsóvia. Depois, a obra foi traduzida para quase todas as línguas do mundo. No século XX, Os miseráveis se tornou filme e musical da Broadway.

Trecho da obra de Victor Hugo:
(...)
Jean Valjean achava-se pois no esgoto de Paris.
Outra semelhança de Paris com o mar. Como no oceano, o mergulhador pode nele desaparecer.
A transição era inaudita. Jean Valjean saíra da cidade mesmo no meio dela e, num abrir e fechar de olhos, no tempo de levantar e abaixar uma tampa, passara da luz do dia para a completa escuridão, do meio-dia para a meia-noite, do tumulto para o silêncio, do turbilhão dos trovões para a estagnação do túmulo; e, por uma peripécia muito mais prodigiosa ainda do que a da rua de Polonceau, do extremo perigo para a segurança absoluta.
Permaneceu alguns segundos como atordoado, estupefato. A bondade celeste tinha-o, de certo modo, surpreendido por traição. Adoráveis emboscadas da Providência!
Mas o ferido não fazia o mínimo movimento, e Jean Valjean não sabia se o que então levava às costas era Mário ou um cadáver.
A sua primeira sensação foi a cegueira. Repentinamente, deixou de ver. Pareceu-lhe que num minuto ensurdecera. Não ouvir já coisa alguma. A frenética e homicida tempestade que se desencadeava alguns metros acima dele não lhe chegava, como já dissemos, ao ouvido, senão muito confusamente, e como um rumor saído de uma profundidade graças à espessura de terra que o separava dela. Adiantou com precaução um pé, temendo que se lhe deparasse um buraco, desaguadouro ou um abismo; e convenceu-se de que o lajedo se prolongava.
Contudo, podia-se penetrar naquela muralha de nevoeiro, e forçoso era fazê-lo. Jean Valjean lembrou-se de que a grade, descoberta por ele debaixo das pedras, podia-o ser também pelos soldados e que tudo dependia de um tal acaso. Podiam também descer ao cano e revistá-lo. Não havia um minuto a perder. Depusera Mário no chão, tornou a pô-lo às costas e meteu-se ao caminho. Entrou resolutamente naquela escuridão.
(...)
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O Corcunda de Notre-Dame
(Notre-Dame de Paris)

Victor Hugo tinha a reputação principalmente como poeta, mas a fama bem maior lhe veio com a publicação do romance Notre-Dame de Paris, também intitulado O Corcunda de Notre-Dame em diversas traduções. O Misterioso tema do livro tocava profundamente os leitores, em particular dura crítica de uma sociedade que, nas pessoas de Frollo, o arcebispo, e de Phoebus, o soldado, condenava à infelicidade o corcunda Quasímodo e a cigana Esmeralda. Enquanto este romance estava sendo escrito, Luís Felipe , um rei constitucional , havia sido elevado ao poder pelos estudantes e pela burguesia liberal, nos três dias da chamada Revolução de Julho (1830). Hugo compôs um poema em honra ao acontecimento, que seria precursor de muita poesia política. O autor não se contentava, com os seus versos, em exprimir emoções pessoais : pretendia ser o "eco sonoro" do seu tempo, e assim, desempenhar a verdadeira função do poeta, tal como a entendia. Problemas filosóficos e políticos se misturavam à inquietação religiosa e social do período. Um poema tratava da miséria dos trabalhadores, outro proclamava a eficiência das orações .

Algumas versões da obra de Victor Hugo já são bem conhecidas, filmes ou desenhos com adaptações diferenciadas já foram produzidos, para alguns casos, como a Disney por exemplo, o enfoque principal cai sobre a personagem Quasímodo. Na França, um grande musical vem sendo encenado sob o título de Notre Dame de Paris, que é também o título original da obra, que, quando da tradução para português, recebeu o nome de "O CORCUNDA DE NOTRE DAME", daí talvez algumas leituras caiam sobre esta personagem

Notre-Dame é um livro com o porte de um monumento. Como a igreja que o inspira, é uma obra de transição, exibindo a majestade de um clássico e a decadência do folhetim. Suas personagens expressam a diversidade e se identificam com cada um dos elementos da sua estrutura múltipla e complexa: o padre santo e sábio transformado em vilão ao longo da narrativa e que abriga e alimenta, sem saber, a figura que sintetiza sua própria decadência; o poeta dividido entre a cultura vazia do poder e a presença viva do povo nas ruas; a dançarina que encarna a beleza e a graça do movimento em confronto com uma espiritualidade rígida fundada no medo. Assim, a trama que enreda o leitor revela a solidez acumulada pela História em queda livre para o abismo.

Em oposição a esta imagem do escritor no século 19 - que Victor Hugo denuncia ambientado no século 15 - um livro feito de pedra como Notre-Dame de Paris instaura uma postura intelectual sólida. A obra literária opõe-se à decadência, resgatando a grandeza perdida da arte. Em Gringoire, as palavras são como a caiação deformando antigos monumentos. Em Victor Hugo, elas funcionam como uma orquestra e assumem a força de uma tempestade.
(crítica de Nei Duclós em artigo "Um livro feito de pedra")
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Sobre Nei Duclós
Nei Carvalho Duclós (Uruguaiana, 29 de outubro de 1948) é jornalista, poeta e escritor brasileiro. Tem quatro livros lançados e inúmeros textos publicados na imprensa brasileira.
Aos 17 anos se mudou para Porto Alegre e se matriculou no curso de engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o qual abandonaria logo depois em favor da faculdade de Jornalismo. Envolveu-se no movimento estudantil brasileiro após o golpe militar de 1964. Trabalhou no jornal gaúcho Folha da Manhã e publicou seu primeiro livro, Outubro, em 1975. Mudou-se para São Paulo, onde desenvolveu longa carreira como jornalista, tendo trabalhado no jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ. Publicou textos também em O Estado de S. Paulo, Veja e Jornal do Brasil. Publicou Outubro e No Meio da Rua, ambos pela editora LP&M, em 1980, e No Mar, Veremos, pela editora Globo, em 2001, todos de poesia. Em 2004 publicou seu primeiro romance, Universo Baldio, pela W11 Editores. É bacharel em História pela Universidade de São Paulo. Trabalha na revista Empreendedor e publica coluna no Diário Catarinense.
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Fontes:

3 comentários:

Nei Duclós disse...

O título do meu artigo é "Um livro feito de pedra" e não "Um livro de pedra", como está no blog. Do jeito que está, os dois textos (o que abre e o meu trecho em itálico) se misturam, não fica claro que não sou o autor do trecho que está antes do texto em itálico. Fica parecendo que eu escrevi "reputado", por exemplo, palavra que jamais uso ou usarei.

Giuseppe Paolo Dell'Orso disse...

Prezado Nei
Antes de mais nada, peço que me perdoe quanto aos erros discriminados por vossa parte. No caso deste artigo, assim como muitos outros que possuo no blog, são geralmente copiados de outro site (como pode perceber ao final do texto). Copiar e colar. Geralmente realizo uma correção ortográfica, pois muitos estão repletos de erros de ortografia, de digitação, ou estão na lingua de Portugal, o que coloca muitas palavras desconhecidas.
Agradeço a vossa chamada de atenção, pois como já havia dito em postagem anterior, por mais que procuremos fazer algo perfeito, sempre existem algumas falhas, porisso que peço que sejam meus revisores.
O nome do artigo foi corrigido. Quanto à palavra reputado (convenhamos, em vez de dar um verdadeiro crédito no caso a Victor Hugo, parece palavrão), troquei para tinha a reputação (já soa mais leve). Quando li, havia estranhado a palavra, mas muitos autores ficam revoltados quando procuramos dar uma nova roupagem à palavra, então eu mantenho o original, salvo erros de concordância, ortografia, etc.
Mais uma vez peço que me perdoe esta falha e espero poder contar com vossa pessoa não só como leitor crítico, mas como colaborador.
Grande abraço
J. Feldman

Nei Duclós disse...

Feldman, obrigado por levar em consideração minhas observações. Quanto a "reputação", o cacófato, o ruído, continua. Mas isso agora não tem importância. O que importa é que meu texto teve repercussão no teu blog. Grande abraço.