domingo, 8 de março de 2009

Dicionário do Folclore (Letra E)



EBÓ. É uma comida africana, trazida pelos escravos. Faz-se com farinha de milho branco, sal ou misturada com feijão-fradinho torrado. Depois, quando estiver fervendo, junta-se o sal ou azeite de dendê. Foi, o ebó, a primeira refeição de Oxalá no palácio de seu filho Oxum-Guiam, quando voltou da prisão, libertado por Xangô, também seu filho. Ebó significa, ao mesmo tempo, o feitiço, a muamba, a coisa-feita, o despacho. Veja DESPACHO.
ECLIPSES. Os agricultores nordestinos, por ocasião do eclipse lunar para que não morra a plantação de algodão, costumam acordar os pés de algodão gritando, batendo em latas, dando tiros de espingarda. Acreditam que as crianças, filhos de brancos, quando nascem durante os eclipses, têm a cor morena. É uma tradição universal.
EFÓ. O efó é um prato da cozinha baiana, feito da seguinte maneira: Cortam-se em pedacinhos folhas de taioba. Depois de bem aferventadas, escorre-se a água, usando-se uma peneira grossa. Tempera-se com camarões secos, descascados e bem moídos, cebola ralada, coentro, pimenta e sal. Junta-se, em seguida, um pedaço de peixe seco ou bacalhau, dando-se preferência aos pedaços da cabeça, com os ossos. Cozinha-se com pouca água, até ficar como pasta bem cozida e bem enxuta. Põe-se um pouco de azeite-de-dendê, mexendo-se bem. O efó é servido numa terrina untada com azeite-de-dendê quente. Come-se com arroz branco, acaçá ou aberém.
EFUM. É uma cerimônia que consiste em pintar a cabeça do iauô, candidato ao posto de filho-de-santo. Raspada a cabeça, no início da cerimônia, ela é pintada com as cores do orixá ao qual se devotará. A escolha das cores é feita pelo babalaô. O efum será apagado com uma infusão de ervas também dedicadas ao mesmo orixá.
EMBIGO-DE-FREIRA. É um biscoito doce muito popular na Bahia.
EMBIRICICA. 1. É uma fieira, que se faz com uma embira, dos peixes, depois de pescados; 2. Também é, no sentido figurado, a gente que acompanha, em Belém, PA, os cordões-de-marujos durante o carnaval, os boi-bumbás no São João e as pastorinhas no Natal.
EMBOLADA. É uma forma poética musical, improvisada ou não, em compasso binário, cuja melodia é declamada em intervalos curtos, e que é usada pelos cantadores como refrão coral ou dialogada. O rei dos emboladores foi, sem nenhuma dúvida, Manuel Pereira de Araújo, conhecido artisticamente como Manezinho Araújo, o pernambucano que, na época, divulgou em todo o Brasil, através das estações de rádio e de televisão, bem como em discos, seus grandes sucessos como "Pra onde vai, valente?", "Cuma é o nome dele?", "O caminhão do Coroné".
EMENDAR-A-CAMISA. É o duelo sertanejo. Os contendores têm suas camisas amarradas pelas pontas e, armados de faca ou punhal, lutam até que um deles caia morto.
EMENDAR-OS-BIGODES. É lutar, corpo a corpo, solucionar um caso de honra, resolver uma parada, como o povo diz.
EMPELICADO. Diz-se da criança que nasce com a cabeça coberta com uma membrana branca chamada pelica. O povo acredita que a criança que nasce empelicada será uma pessoa rica quando crescer.
ENCAMISADA. Era um cortejo nos carnavais passados, saindo às ruas apenas na segunda-feira, vestindo camisas compridas até os pés, mascarados de branco, dançando, fazendo graça. Aparecia a encamisada nos carnavais do Rio Grande do Norte e da Paraíba. No carnaval atual é feita uma sátira como a dos encamisados; a crise financeira fez do cortejo ou bloco carnavalesco, os descamisados (sem camisas).
ENCOMENDAÇÃO-DAS-ALMAS. Nas sextas-feiras da Quaresma, até os meados do século XIX ou mesmo durante o mês de novembro (conhecido como mês das almas), saiam procissões noturnas que percorriam as principais ruas da cidade, em sufrágio das almas do purgatório. A procissão saía da igreja entre onze horas e meia-noite, com os homens à frente, com as feições encobertas, conduzindo lanternas. Cantavam ladainhas, rezavam rosários em voz alta. Todas as casas das ruas por onde a procissão passava estavam com as portas fechadas e as luzes apagadas. As portas ou janelas que estivessem abertas eram alvo de pedradas. Alguns devotos se flagelavam.
ENCRENCA. Encrenca significa complicação, problema, confusão, terminando muitas vezes, em briga. Termo da gíria dos gatunos do Rio de Janeiro, a palavra se espalhou pelo país a partir de 1911, na agitação política das eleições estaduais. Muitos maridos costumam, carinhosamente, chamar suas esposas de Dona Encrenca. Quando o automóvel pára com algum defeito, o povo diz que "o carro encrencou".
ENCRUZILHADA. A encruzilhada é a parte onde os caminhos se cruzam. É, apesar de sua forma geométrica, o local dos demônios. Nas encruzilhadas os gregos e romanos depositavam presentes a Hécate, aos fantasmas. A tradição foi trazida pelos portugueses colonizadores. Os índios e os escravos não conheciam os mistérios das encruzilhadas que era coisa de brancos. Nos cultos afro-brasileiros, Exu também é conhecido como o homem das encruzilhadas.
ENFEITAR-O-MARACÁ. É contar uma estória, enfeitando o mais possível, para que se torne verdadeira sem ser, com a intenção de convencer as pessoas que estão ouvindo. É uma expressão corrente no Nordeste, especialmente em Pernambuco.
ENGENHO-NOVO. É uma dança popular do Nordeste, pertencente aos cocos de ganzá. Homens e mulheres dançam em roda, soltos, cantando com o ritmo da embolada, batendo palmas: "Engenho-Novo,/ Engenho-Novo,/ Engenho Novo,/Bota a roda pra rodar". No sul do país (São Paulo e Minas Gerais) o engenho novo é uma dança diferente, também chamada guarapá.
ENGUIÇO. É o nome que se dá ao mau-olhado, quebranto, caiporismo, mau-agouro, empecilho. Também é coisa pequena mas difícil de ser feita. Passar a perna pelo corpo de alguém que estiver deitado, é enguiço. A pessoa não cresce mais. Para desenguiçar, basta apenas fazer o contrário, isto é, passar a perna no sentido contrário.
ENSALMO. O ensalmo é uma oração supersticiosa cujas palavras foram tiradas dos salmos, usado pelos curandeiros para as pessoas voltarem a gozar saúde.
ENTERRO-DOS-OSSOS. É um almoço do que sobrou da refeição do dia anterior (festa de casamento, batizado, aniversário, etc.). Já em Mato Grosso, é um clube carnavalesco que sai no primeiro domingo depois do carnaval. Os foliões, vestidos de preto, trazem caveiras pintadas e instrumentos musicais tocando musicas fúnebres. Conduzem caixões mortuários cheios de galinhas, perus, churrascos e cachaça à vontade. O povo ri, come e bebe à vontade.
ENTRUDO. É o período de divertimento popular, que compreende os três dias que precedem a Quarta-Feira de Cinzas. É o carnaval, com seu nome primitivo.
ERÊ. É um orixá filho de xangô. Trata-se de um espírito inferior, um companheiro da filha-de-santo. Todas as pessoas que têm santo, também têm um erê, que pode ser de Cosme, de Damião, de Doú ou de Alabá.
ESCADA. Muita gente não passa por baixo de uma escada, superstição muito espalhada no Brasil. O pernambucano Joaquim Nabuco não era supersticioso, mas nunca passou por baixo de uma escada. A escada lembra a subida, a elevação social, econômica. E passar por baixo do que sobe é renunciar à melhoria social, econômica. Quem passa por baixo de uma escada fica marcando passo a vida inteira, sem melhorar de vida.
ESCALDADO. É um prato da culinária brasileira, feito com carne, ou peixe ou crustáceos cozidos num molho especial, com azeite-doce, tomate, coentro, sal, jiló, quiabo e ovos inteiros. Quando o caldo começa a ferver, põe-se, na panela, o peixe e os camarões tratados. O pirão escaldado é feito com farinha seca, pondo-se em cima colheradas do caldo, bem quente.
ESPELHO. Quando uma pessoa morre todos os espelhos da casa devem ser cobertos com pano preto durante toda a semana após sua morte. Não é bom a pessoa falar diante do espelho porque terá sonhos horríveis, pesadelos. Não se deve pôr recém-nascidos diante de espelhos; se assim acontecer, eles vão demorar a falar. Essas superstições correm o mundo todo.
ESPERANÇA. Diz o povo que quando uma esperança (inseto ortóptero) pousa numa pessoa é porque vai acontecer coisa agradável. Há, também, a crença da esperança da boca preta, que traz má sorte quando pousa em alguém.
ESPIA-CAMINHO. É uma planta que geralmente nasce à margem dos caminhos, onde a terra é mais fértil, por receber fezes dos animais, restos de comida, etc. As mulheres têm raiva da espia-caminho e, por onde elas passam, costumam arrancar todos os pés que encontram. As mulheres acham que a espia-caminho tem uma flor imoral, parecida com o órgão sexual feminino.
ESPIRRO. O costume de se dizer: "Salve!", "Viva!", "Saúde!", "Deus te salve!" quando uma pessoa espirra, é muito antigo e universal. Os romanos acreditavam que espirrar à meia-noite e ao meio-dia era sinal de más notícias, o que não acontecia se a pessoa não espirrasse ao meio-dia, à meia-noite. A pessoa não deve espirrar quando se deita na cama pela manhã ou quando estiver à mesa durante as refeições. O povo diz que quando o doente espirra não morre nesse dia. O espirro faz com que a pessoa fique livre das bruxarias.
ESQUENTA-MULHER. Conjunto musical popular em Alagoas, constante de dois ou três pífes (flautas rústicas de bambu), uma caixa, dois zabumbas (bombos) e pratos de metal. Veja CABAÇAL.
ESTAR-DE-BODE-AMARRADO. Diz-se de quem está de mau humor, macambúzio, triste, sem achar graça em nada.
ESTHER KARWINSKY, Baronesa, nasceu em Brodosqui. SP. Advogada pela Faculdade Católica de Direito de Santos, professora, museóloga, com diversos cursos de extensão no Brasil, na França, no México, tendo participado em congressos e festivais de Folclore em Marrocos, na França, no Chile, nos Estados Unidos, na Grécia, na Hungria, na Noruega, em Portugal, Canadá, na Argentina, na Áustria, na Índia, na China, na Alemanha, nos quais apresentou comunicações sobre assuntos pertinentes ao Folclore brasileiro, Esther Karwinky é membro da Comissão Paulista de Folclore, da Comissão Municipal de Folclore e artesanato de Guarujá (SP), da Associação Brasileira de Folclore, da American Folklore Society, da Societé d’Éthnologie Française, da Société Internationale d’Ethnologie et Folklore – SIEF, da International Society for Folk Narrative Research - ISFNR e da Folklore Fellows da Finlândia e, na área de Folclore, publicou Danças e folguedos (1974), Guarujá, uma experiência em levantamento de Folclore (1975), Festas Folclóricas fixas mais importantes da Ilha de Santo Amaro (1977), Museus e museologia (1990) e O Caiçara (1993), além de ensaios e artigos na imprensa e revistas especializadas.
ESTILINGUE. O mesmo que baladeira, badoque ou bodoque.Veja ATIRADEIRA.
ESTÓRIA. É o conto popular. A estória de Trancoso com que os contadores-de-estórias deliciam a criançada, principalmente nas cidades do interior. Os contadores de estórias eram, geralmente, pretos velhos, avós e pessoas de idade avançada.
ESTRELA. A estrela é cercada por um mundo misterioso de crendices e superstições. Quem aponta com o dedo indicador (o fura-bolo), uma estrela no céu ou conta as estrelas (uma, duas, cinco, dez, etc.) nascerá no corpo tantas verrugas quantas estrelas a pessoa contar. Tem a oração das estrelas que, rezada com muita fé, faz com que as pessoas alcancem a proteção divina. Quando a pessoa tem uma íngua, sai de casa, à noite, fita uma estrela qualquer, coloca a mão direita sobre a parte inflamada e diz, três vezes: "Minha estrela donzela, esta íngua diz que morrais vós e viva e crença nela, eu digo que cresçais vós e morra ela". O povo também tem muito medo das estrelas cadentes, que correm no céu. Acreditam que se uma estrela cadente cair na Terra, o mundo se acabará. Outras pessoas dizem que toda vez que correr uma estrela, uma alma entrará no céu.
EXCELÊNCIA. A excelência, ou incelença como o povo diz, é um canto entoado por muitas pessoas à cabeça do moribundo. Cantam sem acompanhamento musical, aos pés do morto e os benditos à cabeça do falecido. A excelência tem o poder de despertar no moribundo o arrependimento de seus pecados. As excelências também são cantadas em Portugal e de lá foram trazidas pelos colonizadores.
EXIBIÇÃO-DE-PROVA-DE-VIRGINDADE. Nos idos de 1870, era costume, no Sertão nordestino e vários países da Europa, os noivos mostrarem às pessoas que estavam esperando na manhã seguinte ao dia do casamento, o lençol manchado de sangue, comprovando, assim, a virgindade da recém-casada. Quando uma moça era falada, por seu procedimento, as pessoas duvidavam da sua virgindade, dizendo: "Aquela não mostra os panos..."
EXU. É o Demônio nos cultos afro-brasileiros. Exu é respeitado, temido e objeto de culto. Nada se faz sem Exu e para se conseguir qualquer coisa é preciso fazer o despacho de Exu. Exu também é conhecido como o homem das encruzilhadas.

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br

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