quinta-feira, 30 de abril de 2009

Paulo Leminski (O Hóspede Despercebido)


Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguia
de alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.
Uns restos, uns traços, um dia,
meus tios, minhas mães e meus pais
me chamarem de volta pra dentro,
eu ainda não volte jamais.
Mas ali, logo ali, nesse espaço,
lá se vai, exemplo de mim,
algo, alguém, mil pedaços,
meio início, meio a meio, sem fim.

[LEMINSKI, Paulo. Distraídos Venceremos. Ed. Brasiliense]

Marcos Aurélio Gomes de Carvalho (Cordel para Anayde)



Cordel pelo Centenário de Anayde Beiriz, em 2005.

18 de fevereiro
mil novecentos e cinco
Anayde veio ao mundo
e só hoje é que sinto
a história de seu nome
e por não ter sido homem
vou narrar e eu não minto.

Uma luz alumiou
as terras da Parahyba
quase alumiava
as terras de mais de riba
mas foi aqui que nasceu
criou-se e assim cresceu
que nem meio caraíba.

Menina simples, formosa
de olhar por sobre a proa
brincava mirando as águas
de nossa linda Lagoa
pousada qual borboleta
no remanso do planeta
como uma nuvem que voa.

Alegria era seu nome
altivez seu alazão
crescia contando os dias
de um futuro vulcão
na leitura sua mente
no coração a semente
de sentimento e razão.

Bonita moça se fez
de olhos amendoados
e na escola normal
entre todos diplomados
de sua turma a primeira
deu seu passo de carreira
de formal professorado.

Tinha 17 anos
em maio de vinte e dois
se formando professora
que seu desejo não foi
pois queria medicina
o verso mudou de rima
o rumo foi outro pois.

Foi plantar em Cabedelo
sua sublime missão
professora do ABC
em alfabetização
crianças fazendo ler
adultos no anoitecer
aproveitando a lição.

O mundo arroseou-se
nos olhos dessa menina
não o mundo do comum
não seria a sua sina
tomou-se por ideal
e meio intelectual
fez verso de outra rima.

Apoderou-se do vento
da escrita fez pincel
construiu o seu castelo
e encheu o seu farnel
botou-se de mundo afora
despojou-se da espora
incorporou seu corcel.

Arrodeava o coreto
enamorados flertavam
a poesia de bom gosto
em mil saraus recitava
crônicas lindas fazia
o deleite de quem lia
palavras que lhe brotavam.

Um dia, sem se saber
seu coração deu ouvidos
ao amor que irrompeu
de emoção e sentido
seu anjo caiu do céu
embriagado de mel
na flecha de um cupido.

Viajou sem viajar
num campo sem tanta flor
com espinhos pra contar
a fundura de uma dor
afoitou-se em ganhar
uma alma de abraçar
numa história de amor.

O seu nome era João
Dantas era o sobrenome
o anjo de seu desejo
doce pão de sua fome
um favo cheio de mel
um facho vindo do céu
iluminado de homem.

Essa nossa ninfa alada
Anayde era Beiriz
só queria desse mundo
o querer de ser feliz
pousando seu coração
em uma pura paixão
de poderosa raiz.

Viveu tão docemente
seu romance mais vivaz
em corpos não dizíveis
de deleites não formais
pele e alma ascendentes
num vulcão incandescente
de guerra brotando paz.

Essa alcova especial
era chão de oratório
era puro paraíso
sem ter carta de cartório
era sangue, coração
brancura de uma paixão
um altar de ofertório.

Lua, rua e estrelas
assistiram o casal
em passeio de mãos dadas
em noites longe do mal
trocando duas mil juras
sintonia de alvura
que nem roupa no varal.

Foi na Rua Sto Elias
o painel de tal pintura
a natureza nutria
o amor das criaturas
sob o olhar da esperança
que no brincar de crianças
vinham trocar suas juras.

Mas o destino mudou
com sua mão tão cruel
como vassoura varreu
o chão pintado do céu
os ideais se confrontam
e a beleza desmonta
com o amargor de seu fel.

Perrepistas, Liberais
sua fronteira encerra
déias de intenção
de comandar sua terra
e o eito republicano
entorna o caldo insano
alimentando tal guerra.

Numa investida atroz
de uma depredação
se resolve de peitada
partir pr´uma invasão
e foi nesse promotório
invadir o escritório
de João Dantas cidadão.

Esperava-se encontrar
um erro de sua lavra
um documento, um papel
ou uma coisa mais brava
e o resultado ruim
o rescaldo do butim
foi de amor pela palavra.

Nessa manhã tenebrosa
numa briga de partidos
suas entranhas tomadas
derramadas sem sentido
esparramadas no chão
e o escritório de João
injustamente invadido.

Publicou-se n´A União
sem medir qualquer pudor
o que foi particular
d´um cidadão de valor
e por três ou quatro dias
na Parahyba se lia
as suas cartas de amor.

No poder o presidente
fez de conta que não viu
se espalhar pela cidade
e assim tudo assistiu
em seu belo camarote
um cruel infame trote
frente a isso se omitiu.

Na sarjeta enlameada
uma graça de valor
uma história sublime
uma história de amor
sofria seu alto preço
com o pior endereço
origem de seu furor.

Com sua honra ferida
o seu amor maculado
João Dantas enfurecido
e não se deu por rogado
em um caminho sem volta
procurou de porta em porta
o que queria tombado.

Na Confeitaria Glória
com seu coração pungente
na cidade do Recife
o desafeto presente
liquidou sua cobrança
em um tiro que alcança
quem não era inocente.

Foi preso após o crime
não tinha como voltar
viver o que lhe fizeram
não é viver, é penar
engrandeceu seu amor
perdido em plena flor
sofrendo por mais amar.

No dia 6 de outubro
na cela de seu presídio
último quartel de 30
no sofrer de seu exílio
sua vida foi ceifada
numa história mal contada
duvidoso suicídio.

Anayde amargou
o seu derradeiro fel
acuada e fugitiva
do mundo o pior réu
a 22 de outubro
foi o seu dia mais rubro
partindo pro mesmo céu.

Restou um mundo tão vil
de cartório a delegado
de abutres carniceiros
de documentos roubados
de anarquia de rua
debaixo da mesma lua
de amor-papel queimado.

A Parahyba perdeu
no século do alvorecer
por tanta alma mesquinha
rodiziando o poder
o estado é uma intriga
pela mesma rapariga
se enfrentam sem saber.

Diferente do amor
de João por Anayde
um amor personalista
que o coração incide
que sem ele não se tem
o saber de querer bem
verde-azul de um Caribe.

Esse amor que lhe falei
esse amor de querer bem
não se mistura a Estado
nem a cargo de ninguém
é um amor de estrelas
um fogaréu de centelhas
somente vistas do além.

Dantas foi aviltado
o inimigo assim o quis
Anayde humilhada
perseguidos os Beiriz
criaturas inocentes
numa história recente
de desejar ser feliz.

Rogo minha homenagem
para este centenário
de Anayde Beiriz
sua vida, seu calvário
esperando que no céu
se ouça esse cordel
no alto do campanário.

Com tinta rubra se escreva
que nos anais desse templo
a figura de Anayz
não se desmanche no vento
a liberdade da vida
é nessa história contida
acima de qualquer tempo.

Acima de nós, de vós
acima mesmo do nexo
a liberdade do ser
não tem nada de complexo
o amor tem a medida
do continente da vida
não tem a ver com o sexo.
––––––––––––––––––––––
Marcos Aurélio Gomes de Carvalho é cordelista e poeta. Pernambucano de Bodocó - PE, vive na Paraíba há bastante tempo.
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Fontes:
LIVRE PENSAR
Do ponto mais Oriental das Américas - João Pessoa - Paraíba - Brasil
Número 625 - 28 de fevereiro de 2005
http://www.triplov.com/livre_pensar/janeiro_maio/625.html
Imagem = http://www.memorialpernambuco.com.br/

Vanessa Vicente (Coisas da Vida)


Até hoje sinto o seu cheiro puro,
Um odor que me atrai
O amor puro e sincero
Que tu tens por mim
Fez com que eu aceitasse
A metamorfose da minha imagem
Um simples toque seu
Aumentou o calor da minha
Luta para viver
Folhas em branco
De minha vida
Ficaram para trás
Hoje, num novo parágrafo
Estou desabrochando
Para um novo amanhã
Mas nunca esquecerei
Da tua imagem
Pois a tua luz
Me guia
Até o topo
Da mais alta montanha.
––––––––––––––––––-

A autora Vanessa Vicente ajudou a fundar o Clube de Escritores de Alvorada (CEA). Na atualidade mora em Viamão, mas continua a manter contato com o CEA.
* Este poema foi retirado do livro "Só Para Mulheres" - outono de 2004.

Fonte:
Clube dos Escritores de Alvorada.
http://www.clubedosescritoresdealvorada.blogspot.com/

PROVOCARE TV destaca a contação de histórias



Nesta semana, o Programa PROVOCARE TV, traz como assunto principal o projeto “Violas, causos e crendices”, desenvolvido em Votorantim. O entrevistado da apresentadora Míriam Cris Carlos é o contador de histórias Zé Boca, coordenador do projeto. Ele é votorantinense e desde criança já contava causos. É conhecido em diversas regiões do Brasil pelo talento e pelos projetos culturais que desenvolve relacionados à contação de histórias.

O projeto “Violas, causos e crendices” existe há seis anos e é uma atividade de lazer e aprendizagem que visa incentivar o hábito da leitura e potencializar a imaginação e criatividade dos participantes. Traz à região artistas de todo o Brasil, em eventos com entrada gratuita que une diversas manifestações culturais, como a oralidade, a música e culinária. É realizado pela Secretaria de Cultura de Votorantim e neste ano, através da aprovação pela Lei Rouanet, conta com patrocínio concedido pela Votorantim Cimentos e o Instituto Votorantim.

No programa, Zé Boca conta o histórico do projeto e fala quais são as novidades desta edição. Também serão exibidas imagens das ultimas apresentações.

O PROVOCARE TV é gravado no Transamérica Flats The First e é exibido pela TV COM (Canal 7 – NET- Sorocaba) . Vai ao ar nesta quinta-feira (30/04), às 22h30, com as seguintes reprises: sexta-feira às 9h30, sábado às 14h, terça-feira às 13h30 e quarta-feira às 17h30. Também será exibido pela ”VTV” (Canal10 - Supermídia –Votorantim).

O programa tem a direção do jornalista Werinton Kermes, apresentação da doutora em comunicação Míriam Cris Carlos, produção de Luciana Lopez, assistência de produção de Edgar Gonçalves, imagens de Fábio Costa e Jorge Silva e edição de Flávia Karam.

http://provocaretv.blogspot.com
http://www.portalprovocare.com.br

Fonte:
Luciana Lopez. Provocare TV, por e-mail.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Paulo Leminski (Um Homem com uma Dor)

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

Richard Wagner (O Anel do Nibelungo: Parte III: Siegfried)


Siegfried é uma ópera de Richard Wagner, a terceira parte de quatro que compõem a tetralogia O Anel do Nibelungo. Sua estréia ocorreu no Bayreuth Festspielhaus, Bayreuth, em 16 de agosto de 1876, como parte da primeira apresentação completa da Saga do Anel.

Ato I

Cena I

Irmão de Alberich, Mime, está forjando uma lâmina de espada em sua caverna no meio da floresta. Enquanto trabalha, reclama sobre não conseguir forjar os pedaços de uma certa espada, e sonha com o tesouro almejado anteriormente por seu irmão. O nibelungo tem como objetivo obter o Anel para si, tendo criado o orfão Siegfried para matar Fafner por ele. O gigante estava com posse do Anel e do elmo mágico Tarnhelm, e havia transformado-se em dragão com os poderes do elmo. Mime precisava da espada para que Siegfried usasse, mas o jovem quebrava facilmente todas as lâminas forjadas.

Siegfried retorna de suas caminhadas na floresta com um urso encoleirado, o que apavora Mime, que pede a retirada do animal. O jovem atende o pedido e solta o urso, que sai pela floresta. Ele incomoda-se com a falta de progresso de Mime na forja da espada. O velho então o apresenta sua nova produção, que assim como todas as anteriores, é destruída por Siegfried, já enfurecido. Mime tenta acalmá-lo, lembrando-o sobre a gratidão que o jovem o deve pela tutoria durante tantos anos. Entretanto, o jovem não o suporta. Siegfried exige saber sobre seus pais; nas suas caminhadas ele havia percebido que todos entre os animais os filhos possuem pai e mãe, e estes são parecidos com a cria. Mime era nada parecido com Siegfried, mas o velho explica que é tanto pai quanto mãe do garoto. Ameaçado por Siegfried, Mime é forçado a ceder e explicar sobre a mãe do jovem, a moribunda Sieglinde. Ela morrera durante o parto do filho, não antes de confiar ao nibelungo os cuidados do bebê. Perguntado sobre seu pai, Mime explica possuir total desconhecimento, exceto pelo fato dele ter morrido em combate, como informado por Sieglinde. Como prova do que havia acabado de contar, ele também mostra ao jovem os estilhaços da espada Nothung, e Siegfried o ordena a reforjá-la, animando-se com o potencial dessa arma de verdade. Siegfried então deixa o local.

Cena II

Mime está desesperado: estava acima de sua capacidade consertar a Nothung. Um velho homem (a platéia percebe ser Wotan) aparece abruptamente na residência. Sua presença não é positiva ao nibelungo, que deseja a retirada do sujeito, apesar da insistência. O andarilho propõe a aposta de sua cabeça em um jogo de três charadas para Mime, que aceita a fim de dispensar o sujeito mal vindo. Ele pergunta ao andarilho o nome das raças que vivem abaixo do solo, na superfície e nos céus. O andarilho responde corretamente os nibelungos, os gigantes e os deuses, respectivamente. Mime então pede que o sujeito se retire, mas, não se dando por vencido, Mime é então forçado pelo sujeito a apostar sua cabeça para responder charadas. Ele é perguntado sobre a raça mais amada por Wotan (ainda que tratada cruelmente), o nome da espada que pode destruir Fafner e a pessoa que pode fabricar a lâmina da espada. Mime responde corretamente as duas primeiras perguntas, os Volsungas e Nothung respectivamente. Entretanto, ele é incapaz de responder a última charada. Wotan livra Mime, explicando-o que somente quem não conhece o medo pode reforjar Nothung, declara que sua cabeça pertence à tal pessoa sem medo e deixa a residência.

Cena III

A essas alturas Mime já está alucinado. Siegfried retorna, exigindo a reparação da espada estilhaçada. Mime percebe que a única coisa que não havia ensinado a Siegfried durante sua criação foi o medo. Ao saber disso, Siegfried se mostra interessado em aprender sobre o medo, e Mime promete ensiná-lo ao levá-lo para o dragão Fafner.

Como o nibelungo não consegue forjar a espada por conta própria, Siegfried decide realizar a tarefa sozinho, tendo sucesso na tarefa apesar da descrença de Mime. Nesse meio tempo, Mime percebe que, com o acordo com o andarilho, sua cabeça agora pertence a Siegfried. Ele então prepara uma bebida envenenada para oferecer ao jovem logo após ele derrotar o dragão. Ao terminar a forja, o jovem demonstra o poder de sua lâmina ao partir uma bigorna ao meio, impressionando o nibelungo.

Ato II

Cena I

É noite e se está na saída da caverna do gigante Fafner, que, sob forma de dragão por conta do elmo mágico, guarda consigo o elmo, o Anel e o tesouro obtido com o contrato de Wotan. O andarilho chega ao local, onde Alberich mantém vigia esperando a oportunidade de reaver o Anel que anteriormente já teve posse. Os dois inimigos logo se reconhecem (ao contrário de Mime, que em nenhum momento percebe que o andarilho é Wotan). Alberich conta seus planos para dominar o mundo assim que o Anel retorne para si. Calmamente, Wotan alega que não deseja obter o Anel, estando ali somente como observador. Alberich não acredita nas intenções de Wotan, alegando que o herói livre era a forma indireta de Wotan obter o Anel, então ele ainda estava interessado. Wotan então o alerta, dizendo que Mime é que esta usando o jovem Siegfried para obter o anel, era com seu próprio irmão que Alberich deveria se preocupar. Ele termina, dizendo que logo o jovem chegaria ao local com seu tutor a fim de matar o dragão.

Para surpresa do nibelungo, Wotan acorda Fafner e o informa sobre o herói que está chegando para lutar contra ele. Ele propõe que ele ceda o Anel pacificamente para sair ileso. Sem se importar, o dragão recusa-se a entregar o anel e retorna ao sono. Wotan parte e Alberich esconde-se em uma fenda das rochas do local.

Cena II

Ao amanhecer, Siegfried e Mime chegam ao local, e Mime decide recuar enquanto Siegfried confronta o dragão. Enquanto o jovem espera o Fafner aparecer, divaga sobre seus verdadeiros pais e percebe um pássaro da floresta em uma árvore. Amigável ao ser, ele tenta imitar seu canto usando um pífaro talhado na hora, sem sucesso. Ele então executa uma nota em sua trompa, acordando Fafner e levando-o para fora de sua caverna. Apesar da fúria de Fafner, Siegfried age como de costume, atrevido. Após discussão, eles lutam, e Siegfried fere o coração do inimigo com Nothung.

Em seus últimos momentos, Fafner toma conhecimento do nome de Siegfried, diz um pouco de sua história e que havia matado seu irmão Fasolt. Por fim, o alerta sobre traição. Quando Siegfried remove sua espada do cadáver, suas mãos são queimadas pelo sangue do dragão, e ele instintivamente as coloca em sua boca. Ao provar o gosto do sangue, ele percebe que agora consegue entender a língua do pássaro da floresta (Segundo a mitologia, beber sangue de dragão torna a pessoa clarividente e apta a entender a língua dos pássaros).. O pássaro lhe revela os poderes do Anel e do elmo mágico, e Siegfried entra na caverna para procurar tais tesouros.

Cena III

Mime retorna para assegurar a morte do dragão, Alberich também chega ao local e os dois discutem sobre o direito a posse do Anel. Com o retorno do jovem os dois irmãos cessam a discussão e deixam o local. Seguindo suas instruções, ele toma para seu o anel e o elmo mágico da residência de Fafner, e ignora o resto de tesouro. O pássaro então o alerta sobre as intenções de Mime, e avisa que agora o jovem possuía o dom da clarividência por conta do sangue do dragão. Mime reaparece, e Siegfried reclama que ainda não havia aprendido o significado do medo. Mime então o oferece a bebida envenenada com um jeito amigável, mas Siegfried consegue ler os pensamentos de cobiça, ódio e assassinato na mente do velho nibelungo. Siegfried então mata o nibelungo com um golpe de sua espada. Ele então atira o corpo de Mime na caverna de Fafner, assim como o cadáver de Fafner.

Após pedido de Siegfried, que lamentava sua solidão o pássaro da floresta então começa a cantar sobre uma mulher dormindo em uma rocha rodeada por fogo mágico, e cujo herói que, salvando-a, tornar-se-ia noivo da dama. Imaginando se finalmente poderia entender o significado do medo, Siegfried parte para a montanha sendo guiado pelo pássaro.

Ato III

Cena I

Ainda sob forma de andarilho, Wotan aparece no caminho da rocha onde repousa Brünnhild e invoca Erda, deusa da terra. Aparentando estar confusa e questionando o motivo de ter sido acordada, ela emerge da gruta onde se encontrava. Wotan se identifica e pede conselhos, mas Erda o sugere procurar suas filhas nornas. Wotan insiste, mas Erda faz nova sugestão: que ele procurasse Brünnhild, uma das valquírias filhas de Erda com Wotan.

Ele responde alegando que era justamente sobre ela o assunto, e descreve a situação atual da valquíria, que estava condenada a sono profundo por sua desobediência. Apesar do espanto de Erda, Wotan continua, dizendo a ela que seu período de sabedoria estava chegando ao fim. Ele a informa que não teme mais o destino final dos deuses; é inclusive seu desejo que isso ocorra. Sua herança seria deixada para o Volsunga Siegfried, e sua filha Brünnhild trabalharia nas tarefas que ainda assolavam o mundo. Dispensada, Erda mergulha novamente às profundezas da terra.

Cena II

Wotan permanece no local. Siegfried chega auxiliado pelo pássaro da floresta, que parte ao ver o andarilho. Wotan pergunta o destino do jovem, e pensando que aquela pessoa poderia ajudá-lo, Siegfried responde que procurava uma rocha sobre a qual repousava uma mulher. Segue um interrogatório de Wotan ao jovem, que por sua vez começa a se irritar. Em uma discussão agora acalorada, o andarilho adverte Siegfried para que ele não desafiasse, mas o jovem, que ainda não conhecia o medo, age atrevidamente como de costume. Ele responde insolentemente e direciona-se a caminho da rocha de Brünnhild.

Wotan bloqueia a passagem de Siegfried através da lança dos tratados, e o diz que a mesma lança já havia no passado quebrado a espada que o jovem tinha em punho. Percebendo então que aquele sujeito era o responsável pela morte de seu pai, o dono original da espada, Siegfried quebra a lança com um golpe da Nothung. Wotan então calmamente reúne os estilhaços de sua arma, e deixa o local. Siegfried chega às rochas e observa o círculo de fogo que enfrentará. Ele sopra sua trompa e avança sobre o fogo, que é rapidamente amenizado.

Cena III

Siegfried encontra Brünnhild e seu cavalo. Primeiramente pensa tratar-se de um homem, por causa da armadura típica das valquírias. Entretanto, remove a armadura com sua espada e encontra a mulher por trás do equipamento. Incerto sobre como agir por nunca antes ter visto uma mulher, clama por sua mãe e experimenta o medo pela primeira vez. Desesperado, ele a beija, acordando-a do sono mágico. Questionando quem ser aquela pessoa que a havia acordado, ele se apresenta. Ela responde, dizendo que já havia cuidado do jovem antes mesmo dele ter nascido. Confuso, Siegfried chega a cogitar ser ela sua mãe, mas Brünnhild responde que não, e que sua mãe nunca mais voltaria.

Siegfried começa a atrair-se pela moça, sendo repelido por ela. Brünnhild está triste por ter perdido a condição de valquíria, mas acaba cedendo e entrega-se ao amor de Siegfried, renunciando o mundo dos deuses.
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Parte I: O Ouro do Reno = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/02/richard-wagner-o-anel-do-nibelungo.html
Parte II: A Valquíria = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/04/richard-wagner-o-anel-do-nibelungo.html
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://operapertutti.blogspot.com

Balaios de Trovas VI


O céu deve estar cheinho
de madrinhas, mães e avós...
– Têm lá, em dobro, o carinho
com que cuidaram de nós!
A. A. de Assis – PR

Tem visita que aconchega,
tem outra que não me atrai;
não empolga quando chega...
mas alegra quando sai!
Ademar Macedo – RN

Num clima emocionante
do mar na arrebentação
o teu beijo cativante,
viajou no meu coração.
Agostinho Rodrigues

“Via de regra” – essa é boa! –
não é uma regra geral;
é a via por onde escoa
certo incômodo mensal...
Antônio da Serra – PR

Quando o peixeiro passava
com sua noiva faceira,
a vizinha comentava:
- Vai ter piranha na feira...
Antonio Juraci

Chegar mais cedo é proeza
que assusta muito marido,
pois quem chega de surpresa
costuma ser surpreendido!
Arlindo Tadeu Hagen – MG

Da singeleza eu me ufano,
da minha rua escondida,
que tem mais calor humano
que a mais central avenida.
Conceição de Assis – MG

Quando o chão foge dos pés,
(seu amor é minha rima...),
feliz, vejo no convés,
o Vapor trazendo estima.
Dáguima Verônica

Escrevem tanta besteira!
Parem com isso, de vez!
Pois quem des...fralda bandeira
de... frauda o bom português!...
Diamantino Ferreira – RJ

Embora sendo poeta,
foi com você que aprendi,
Isadora, minha neta,
que Amor começa com I.
Eliana Palma – PR

Pouco importa que tu venhas
apressado, em teu fulgor,
pois trazes contigo as senhas
para os feitiços do amor!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Na roça não se complica
a higiene rotineira:
começa na velha bica
e um gamelão é banheira!
Fernando Vasconcelos – PR

No avarandado da casa,
que a rodeia feito abraço,
quanta vez, o corpo em brasa,
tornamos pequeno o espaço!...
Flávio Stefani – RS

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
Gislaine Canales – PR

O forte nó da saudade
amarra o tempo num laço,
e aprisiona a mocidade
nas trovas de amor que eu faço.
Héron Patrício – SP

Alvo da própria pirraça,
o Zé caiu do cavalo;
em vez de ganhar a taça,
na testa ganhou um galo.
Istela Marina – PR

Numa espera doce e mansa,
qual zelosa tecelã,
bordo rendas de esperança
pra enfeitar nosso amanhã!
Jeanette De Cnop – PR

Leve a vida sem queixume,
plante amor por onde andar:
– Seja a fé o seu perfume.
– Seja a paz o seu altar!
Joamir Medeiros – RN

Deus me dê a boa sorte
de, na hora da partida,
ser esperado na morte
por quem me esperou na vida.
José Fabiano – MG

"Humildade" e "aceitação",
sempre na exata "medida",
são a melhor "solução"
para os percalços na vida.
José Ouverney

Embora o dia me açoite
com seus barulhos brutais,
lá no silêncio da noite...
a solidão bate mais!
Maria Madalena Ferreira – RJ

A saudade é um bem guardado
que nos volta, de repente,
num presente do passado,
quando o passado é presente.
Maria Nascimento - RJ

A criança tem direito:
lar, carinho e educação
pra conduzir com respeito
o futuro da nação.
Neiva Fernandes –- RJ

Por vaidosa a tartaruga
olha no espelho e faz planos
de remover uma ruga
surgida aos 200 anos!
Pedro Ornellas – SP

Na minha dúvida atroz,
pra evitar vexame e enrosco,
não direi “arroz com noz”,
direi sempre “arroz conosco”...
Osvaldo Reis – PR

Posso reclamar de tudo...
Direito que me convém!
Mais fico todo “sisudo”
quando reclamas também.
Roberto Pinheiro Acruche -RJ

Ao que pede, à tua porta,
dá, também, tua afeição!
Um pouco de amor conforta
mais que um pedaço de pão!
Rodolpho Abbud – RJ

Mil calçados! Ser multípede
que até me dá cefaleia!
Casei-me com uma bípede...
Vivo com uma centopeia!!!
Roza de Oliveira – PR

Tive um trabalho danado
com a vaca hoje cedinho:
não deu leite empacotado
nem quis sentar no banquinho...
Ruth Farah Lutterback – RJ

A vida, em sua beleza,
deu-me tantas emoções,
que, mesmo ao sentir tristeza,
há doces recordações.
Vanda Alves da Silva – PR

Se, sendo mãe, a mulher
diviniza os seus anseios,
mais nobre ainda é quem quer
ser mãe de filhos alheios.
Vanda F. de Queiroz – PR

Dos meus tempos de experiência,
na vida, trânsito e estrada,
deixo aqui uma advertência:
respeito... não custa nada!
Vânia Ennes – PR

Toda virtude e ternura
é conteúdo do bem.
Leve a vida com doçura,
não faça mal a ninguém.
Vidal Idony Stockler – PR

Canto meu canto de amor,
canto meu canto de paz!
– é próprio do trovador
pôr no verso o que lhe apraz...
Zenaide Marcal – CE
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Fontes:
ACRUCHE, Roberto Pinheiro. Trovas e Poemas – n.2 – abril 2009
ASSIS, Antonio A. de. Revista Mensal Trovia – ano 10 – n.113 – maio 2009.

Dicionário de Folclore (Letra I)



IAIÁ-DE-OURO. 1. Era como se chamava uma famosa feiticeira que morava no largo do Forte das Cinco Pontas, no Recife, e que viveu nos fins do século XIX e começos do século XX. Quando faleceu, deixou uma considerável fortuna, graças aos seus clientes ricos; 2. Iaiá-de-ouro era também um tecido, uma chita vermelha, enfeitada com bolas amarelas e Iaiá-de-prata era o mesmo tecido, azul, com rodelas brancas, preferido pelas mulheres ciganas, com o qual se faziam as fantasias nos carnavais do passado.
IAIÁ-IOIÔ. 1.Tratamento dado pelos escravos, significando senhora e senhor; 2. Ioiô também é um brinquedo que consiste num pedaço redondo de madeira ou plástico que sobe e desce num cordão.
IALORIXÁ. É a mãe-de-santo, mãe-de-terreiro, sacerdotisa e governadora de candomblé.
IANSÃ. É um orixá (do Sudão, na África), dos ventos e da tempestade, uma das várias mulheres do Xangô. Também é conhecido por Oiá, na Bahia e Oxum. Sexta-feira é o seu dia, dia de Xangô, e vermelho e branco são as suas cores.
IAÔS. Assim são denominadas as filhas-de-santo quando estão cumprindo os deveres e encargos do curso de iniciação.
IAPINARI. Diz uma lenda da região do Rio Negro, Amazonas, que Iapinari era filho de uma mulher virgem. Nasceu cego, tendo recuperado a visão depois que esfregou nos olhos o sumo dos olhos de um cancão. Voltaria a ficar cego se sua mãe contasse, a outra pessoa, como ele ficou bom, vendo tudo. Apaixonada por um homem, a mãe de Iapinari contou-lhe o segredo da cura do filho, que ficou cego novamente e se atirou no rio onde se transformou numa pedra, o mesmo acontecendo com outras pessoas que também se atiraram no rio.
IARA. A iara é a mãe-d’água, a rainha das águas. Metade mulher, metade peixe, a iara é uma índia muito bonita, que enfeitiça os homens entoando canções mágicas, atraindo-os para a profundeza dos rios, dos lagos ou do mar, onde se afogam. Os caboclos dizem que a iara fica deitada nos bancos de areia dos rios, brincando com os peixes, penteando seus longos cabelos com um pente de ouro. A iara se confunde com a sereia européia.
IEMANJÁ. Iemanjá é a mãe de todos os orixás. É a mãe-d’água dos iorubanos e a entidade que goza de maior prestígio nos candomblés baianos. Ela recebe, no seu dia, comemorado com muita festa, muitos presentes de flores, animais vivos (e até crianças como acontecia antigamente), que são atirados no mar. Iemanjá é a padroeira dos amores, encontrando solução para os problemas amorosos. É, também, a protetora das viagens e é conhecida por outros nomes: Janaína, Dona Janaína, Princesa do Mar, Princesa do Aiocá ou Arocá, Sereia, Sereia do Mar, Olôxúm, Dona Maria, Rainha do Mar, Sereia Macuná, Inaê, Marbô, Dandalunda e outros mais. Quem vive no mar (marinheiros e pescadores) é devoto de Iemanjá. Ela representa a água salgada; a concha do mar é o seu fetiche. Tem o leque e a espada como insígnias. Seus alimentos sagrados são o pombo, o milho, o galo, o bode castrado. Suas cores são vermelho, azul escuro, e cor-de-rosa. As pulseiras são de alumínio. Sábado é o seu dia sagrado. Iemanjá, na religião católica, corresponde a Nossa Senhora. Ela tanto protege, como defende, castiga e mata. Às vezes se apaixona e leva seus amantes para o fundo do mar, de onde nunca mais voltam. É ciumenta, vingativa, cruel. Na cidade de Salvador sua festa acontece no dia 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora do Rosário.
IERÊ. É uma semente parecida com a do coentro, muito usada na culinária baiana para temperar o caruru, o peixe, a galinha.
ILU. Tambor grande, atabaque grande usado nos candomblés da Bahia.
IMBU ou UMBU. O imbu ou umbu é um fruto muito amigo dos sertanejos. É muito gostoso. Dos frutos que estão querendo amadurecer é feito um doce em calda muito apreciado. Faz-se, também, a imbuzada ou umbuzada da seguinte maneira: espremem-se os frutos maduros e junta-se o caldo com leite e açúcar, pondo-se ao fogo até engrossar. O imbu ou umbu é uma fruta amiga dos sertanejos porque, durante as secas, as pessoas retiram de suas raízes umas batatas para matar a sede. Quando o sertão está seco, com todas as árvores sem folhas, o imbuzeiro ou umbuzeiro está sempre verde porque guarda água necessária em suas batatas e com ajuda delas, da água que contêm, o imbuzeiro ou umbuzeiro consegue ficar sempre verde e sobreviver às secas. Os gramáticos dizem que o nome certo é imbu, palavra tupi, i-mb-u, "a árvore que dá de beber".
INAMBU. Também conhecido por inamu, inhambu, enambu, nhambu e nambu, nome como é conhecida, no Nordeste, esta ave cujo canto é o relógio do sertanejo, avisando que são seis horas da tarde, hora de largar o trabalho. Trata-se de uma caça muito apreciada.
INDEZ. É o ovo que se bota no ninho das galinhas quando elas estão demorando a pôr.
INFERNO. O povo acredita que o inferno é o lugar onde mora o Diabo e pra lá vão as almas das pessoas que morreram em estado de pecado mortal, sem fazer as pazes com Deus. No inferno, o Diabo e seus companheiros castigam as almas dos pecadores, que são metidas em caldeirões enormes, com água fervendo, ou tomando banho de fogo, ou sendo espetadas por garfos de ferro. Na linguagem popular o povo usa muito a palavra inferno, quando quer se referir a um lugar ruim, a uma situação difícil.
INHAME. É um tubérculo comestível, trazido da África pelos escravos. Algumas pessoas chamam o inhame de cará, tubérculo também comestível. Os inhames, durante a colonização, eram comidos apenas pelos negros e pelos colonos brancos, enquanto que o cará era preferido pelos índios. Na primeira sexta-feira de setembro tem lugar, nos candomblés da Bahia, a festa do inhame-novo, em homenagem a Oxalá.
INCELÊNCIAS. Orações cantadas nos velórios. Veja EXCELÊNCIAS.
INVERNO, SINAIS DE. Os agricultores do Nordeste sabem se o inverno vai ser bom ou não, observando o seguinte: 1. Na madrugada de 25 de dezembro, observa-se a faixa que fica no horizonte formada pelas nuvens e o sol que vem nascendo. Quando as nuvens são pesadas formam uma barra, que é sinal de um bom inverno no ano próximo. A experiência pode ser repetida no dia 1° de janeiro; 2. Relâmpago para o lado do sertão, no dia 2 de fevereiro, é sinal de que o ano vai ser bom de inverno; 3. Relâmpago, na direção do sertão, no dia de São José, 19 de março, é sinal de ano bom de inverno; 4. Se o círculo do sol for branco, é sinal de sol e, se for roxo, é sinal de chuva; 5. Se o círculo da lua for grande, é sinal de chuva e se for pequeno, é sinal de sol; 6. Quando a ponta da lua nova estiver voltada para o Norte, é sinal de chuva; 7. Nas noites escuras, nuvens fechadas fazem listras largas e longas no céu. Os agricultores dizem que são os carreiros, sinal bom de chuva; 8. Redemoinhos fortes levantando folhas secas – sinal de trovoada, de chuva; 9. Quando o arco-íris aparece, é sinal de chuva; 10. Quando faz muito calor durante a noite, pode esperar que vai chover; 11. Quando faz frio durante a noite, é sinal de que o dia vai ser ensolarado; 12. Quando a fuligem do fogão de lenha começa a escorrer, é sinal de chuva; 13. Todo ano bissexto terminado em 4, é bom de chuva; 14. Todo ano terminado em 5 e 7 tem inverno fraco, de pouca chuva; 15. Quando o formigueiro muda os filhos para outro buraco, é sinal de chuva; 16. Quando a formiga de asa aparece ao anoitecer, a chuva está bem próxima; 17. Quando a caranguejeira sai de sua toca e vai passear, é sinal de chuva; 18. Quando a aracuã canta em pau seco, é sinal de sol. Em pau verde, é sinal de chuva; 19. Cobra esquentando ao sol, é sinal de que o inverno está acabando; 20. Quando as cobrinhas novas saem de suas tocas, é sinal de que o inverno está terminando; 21. Quando o gado está correndo e jogando as patas traseiras para os lados (escamurçando, como dizem) é sinal de trovoada próxima; 22. Quando a arribaçã ou avoante vai embora é sinal de seca; 23. Quando as abelhas fazem enxame é sinal de fim de inverno; 24. Barata voando à noite, é sinal de chuva; 25. Quando o teiú ou teijú desaparece, é sinal de que o inverno vai começar; 26. Quando a galinha está se espreguiçando, é sinal de chuva; 27. Quando o vagalume voa baixo, é sinal de chuva. Quando voa alto, vai fazer sol no dia seguinte; 28. Quando o mandacaru flora, é sinal de chuva; 29. Quando a barriguda flora, o próximo ano será bom de inverno, principalmente se o fruto sustentar; 30. Fumo bravo, florando, é sinal de fim de inverno; 31. Camará florando, é fim de inverno; 32. Cipó de se fazer cesta florando, é sinal de inverno; 33. Quando uma cicatriz antiga, sarada, coça, é sinal de chuva; 34. Quando o calo começa a latejar, é chuva na certa; 35. Quando a mulher sente muito calor, a chuva está próxima.
INVOCO. É o mesmo que feitiço, muamba, cangerê, em Sergipe, principalmente.
IPETÊ. Prato da culinária afro-baiana feito com inhame que, depois de cortado bem miúdo e fervido até ficar como uma papa, é temperado com azeite-de-dendê, cebola, pimenta e camarão.
IR-A-VACA-PARA-O-BREJO. Quando se bota tudo a perder, diz o povo na sua maneira de falar.
IR-COBRIR-O-PILÃO. Na linguagem popular significa esquecer as mágoas.
IR-COMER-CAPIM-PELA-RAIZ. Morrer.
IR-PARA-O-ENGENHO-DO-PESTANA. Dormir, pegar no sono.
IR-VER-A-COR-DA-CHITA. Tomar conhecimento da verdade, do fato como realmente ele é, registra a sabedoria popular.
ISOLA. Com os dedos indicador e mínimo estirados, faz-se o isola, um amuleto contra o mau-olhado. O povo bate na madeira com os nós dos dedos, proferindo a palavra isola, para que as coisas ruins não aconteçam.
ISQUEIRO. É feito da parte mais fina de um chifre, no qual os fumantes colocam um pouco de algodão. Atritando duas pedras (fuzil e pederneira), a faisca inflama o algodão e os fumantes acendem seus cigarros. Também tal isqueiro era conhecido como pai-de-fogo. Hoje, os isqueiros são pequenos, funcionam com gasolina, cujo pavio se inflama ao receber a faísca da "pedra de isqueiro".

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

terça-feira, 28 de abril de 2009

Convite para Solenidade de Posse de Membros da ALB - Mariana/MG


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Everaldo Cerqueira (O Poeta no Papel)


BAHIA

Tanta música, tanto ritmo em todo canto,
Tanta magia, tanta alegria em todo recanto...
Bahia que transcende a história do Brasil,
É terra cheia de fantasia e de povo febril!

O teu nome é um grande motivo para um sorriso,
Raças, credos e costumes vivem em harmonia...
Terra de encantos e desencantos em todos cantos,
Tudo é fantasia e toda festa é coroada de alegria.

Da Bahia nasceu e cresceu o Brasil,
Com tanta beleza e muita riqueza!...
De negras lindas de natureza gentil!

Viva a Bahia da poesia e da magia!...
Viva a Bahia das tradições e das canções!...
E louvada seja a Bahia da eterna alegria!...

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A VIDA

A vida é a vida,
Que Deus fez boa...
Que Deus abençoa...
Que a sorte reboa...
Que poucos vivem numa boa...
Que muitos vivem à toa...

A vida é a vida,
Como o tempo que se escoa...
Como um pássaro que voa...
Como uma graça boa...
Como uma canção que soa...
Como uma paixão que se afeiçoa...

A vida é a vida,
Como um caso que se escoa...
Que Deus não fez à toa...
Como um fazer que se aperfeiçoa...
É sermos um amor de pessoa...
É vivermos numa boa...

E o que é a vida?
A vida é a sua pessoa...
E o que é a vida?
A vida é a vida...
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SER PROFESSOR

Ser professor
É ter o cotidiano de se reeducar,
E viver do oficio para educar.

Ser professor
É ser um devoto de fervor do saber,
E um conselheiro diante dos erros.

Ser professor
É ser resignado e ter paciência,
Na esperança de dias melhores.

Ser professor
É ser um incentivador de um futuro feliz,
E um multiplicador de sonhos.

Ser professor
É ser um transmissor de valores,
E um modelo exemplar de bem viver.

Ser professor
É ser artista motivador da reflexão e da razão,
E ter na sua obra de arte o aprendizado.

Ser professor
É ser um grande construtor de sonhos,
E ver nos olhos do alunado um futuro feliz

Ser professor
É ser mediador do conhecimento,
E saber a ensinar a pensar no aprender.

Ser professor
É ser sacerdote de pregação da igualdade social,
E receber pouco e retribuir com muito amor.

Ser professor
É ser movido por impulsos, razões e emoções,
E ensinar um bem maior: um amar ao outro.
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SALVADOR

Cidade de magia de todos os sonhos e encantos,
O canto de São Bartolomeu é também dos Orixás,
Recanto e encanto de ebós e de todos os Santos,
Paraíso de mãe de Santo e também dos Orixás.
Em todo motivo se faz festa com alegria,
Regadas com bebidas e cantos de preceitos.
Cidade de todas as crenças e encantos,
De pecados e tradições em boa harmonia.
Cidade de beleza histórica e bonita por natureza,
De ladeiras e construções barrocas multicoloridas.
Nasceu e cresceu beirando os morros da natureza,
Em um lindo dia de pôr-do-sol de nuvens coloridas.
Num sonho de inspiração poética me disse o poeta:
A minha Castro Alves é praça. E é do povo...
É a ágora da liberdade e sonho eterno do poeta.
Nas águas do Dique do Tororó,
Vem a crença nos Orixás...
Do som dos tambores do Pelourinho,
Vêem as tradições...
Da voz do vento dos coqueiros de Itapoã,
Vêem as canções...
Da colina sagrada da igreja do Senhor do Bomfim,
Vem a fé, as promessas e as orações...
Das obras sociais - Irmã Dulce,
Vem à caridade, fruto das doações...
–––––––––––––––––

Sobre o Autor
Everaldo Cerqueira nasceu na pequena cidade de Itiúba, no sertão da Bahia, com cerca de 6.000 mil habitantes, rodeada de serras que impedem o crescimento natural da cidade. Reside em Salvador. Bacharel em Geografia pela UFBA - Universidade Federal da Bahia, licenciado em História pela UCSAL - Universidade Católica do Salvador e Pós Graduado em Docência do Ensino Superior pela UCAM - Universidade Candido Mendes. Trabalhou na área bancária, no setor de câmbio, por um bom período de tempo e atualmente na área de educação. Adora rabiscar e ler poemas e é na poesia que expõe todos os seus sentimentos que brotam da sua velha alma, que se descobre e encontra como Ser.

Fontes:
http://www.paralerepensar.com.br/

Jandeilson Galvão (Teia de Poesias)


Poesia

Salve dia glorioso,
de cantos inefáveis,
de Poetas reunidos,
aos montes declamando, cantando.
É a Poesia baluarte,
da Paz, da Vida, da Arte,
é ela o começo, o fim, Marte.
Saudai a Poesia poeta,
Cantai hinos de louvor,
só ela conseguiu traduzir,
o Horror, a Alegria e o Amor.
=============================
Poetrix - Poesia

Poesia
Amor ardente,
Declamado,
Meu expoente
===========================
Passarinho

Passarinho
Sou só um passarinho,
Tão triste e tão sozinho,
Sou só um passarinho,
Voando buscando ninho,
Passarinho, sozinho, sozinho.

Canta passarinho para ador aliviar,
Canta passarinho pro sofrimento acabar.
Passarinho, tão triste e tão sozinho.

Sou só um passarinho,
Voando e tão sozinho,
Só um passarinho,
Sem amor para curar,
Passarinho, tão triste, sozinho.

Sou só um passarinho,
Voando pra alivar,
Toda dor, buscando um amor.

Voa passarinho,
Para a dor alivar,
Essa que não se vai,
Busca a cura lá no cais.

Passarinho, tão triste e sozinho.
Busca passarinho,
Um amor tão sonhador,
Para o teu canto
Complementar com tanto amor.

Passarinho, tão triste e sozinho.

Esse passarinho
Que chorando quer cantar,
Ele busca seu amor,
E um dia encontrará....

Há passarinho, tão triste e sozinho.
========================
E se eu morrer

E se eu morrer,
Cantes canções de amor,
Eleves a Deus um louvor,
Por te eu na terra passado,
E deixado um pouco de mim.

E se eu morrer,
Não levo muito comigo,
Apenas umas pequenas vestes,
E no rosto um belo sorriso.

E se eu morrer,
Tudo aqui deixarei,
Meus poemas, canções, frustrações,
Deixarei ainda você,
Que fará conhecer por todo o mundo,
Como um dia sonhei.

E se eu morrer,
Viverei,
Viverei,
Viverei,
Pois sei que de tua memória não sairei.
––––––––––
Fonte:
http://www.jandeilson.com/

Jandeilson Galvão


Jandeilson Galvão Bezerra nasceu na cidade de Cacimba de Dentro no estado da Paraíba. Tem 24 anos de idade.

Estudante do 3º Periodo de Letras (2009) - licenciatura em Português e Literatura da Unesa.

É Vice Diretor Geral da Juventude Restauradores do Império do Rio de Janeiro, membro do Instituto Federalista, da Academia Virtual Brasileira de Letras, da Academia de Letras do Brasil - ocupando a cadeira de nº 004 da ALB/RJ, da APPERJ - Associação Profissional de Poetas do Estado do Rio de Janeiro, da Sociedade Poetas del Mundo, do Circulo Monárquico do Rio de Janeiro, poeta, compositor e roteirista.

Um jovem dedicado a Poesia e aos valores da família. No Rio de Janeiro participou de diversos encontros poéticos.

Idealista e organizador do Sarau Literário da Juventude Crismandos do Sion, na Cidade de São Sebastião do Paraíso em Minas Gerais, onde foi o Poeta Convidado, e teve diversas de suas poesias declamadas, cantando ainda neste sarau duas de suas músicas.

Fonte:
http://www.jandeilson.com/

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ivonir Gonçalves Leher (Poetas...)



Todo poeta é um louco
(aos olhos dos outros)
Todo poeta é um artista
Um malabarista...

Que joga o verso p’ra cima
E recolhe os pedaços
Transforma em ouro as palavras
Coração de alquimista.

Todo poeta é um soldado
Sonhando com a liberdade
Na sua guerra solitária
Em busca da verdade...

Que chora as dores do mundo
Que ri com os bobos
E vaga em noite sem lua
Coração de lobo.

Na sua busca constante
Revira a memória
Juntando velhos pedaços
Fazendo sua história.

Todo poeta é um louco
(aos olhos dos outros)
Aos olhos dos outros.
======================
Sobre o Autor
Ivonir Gonçalves Leher, nasceu em São Gabriel - Rio Grande do Sul, em 04 de outubro de 1974. Filho de pequenos agricultores, viveu parte da infância na localidade de Costa do Salso, atual município de Santa Margarida do Sul. É casado e pai de dois filhos.
É membro do Movimento Poetas Del Mundo.
––––––––––––––––-
Fontes:
Clube dos Escritores de Alvorada.
http://www.clubedosescritoresdealvorada.blogspot.com/
Imagem = http://letrasdatorre.blogspot.com/

Anderson Vicente (A arte de criar)



Mesmo estando enquadrado o ser humano como o ser capaz de pensar e criar, ainda assim a “arte da criação”, é a causa da famosa tremura nas pernas que antecede aquela sensação de “frio na barriga” — o medo sutil e ativo.

Se em outras gerações, na volta de uma clareira a céu aberto iam-se desvendando mistérios em lendas e “causos”, ou mesmo, à luz de uma pequena lamparina a querosene: o ambiente mágico, demonstrado no rosto cheio de expressões e gestos, narrava do corriqueiro a histórias fascinantes, onde na certa, o moleque que as escutava traçava forma ao cenário e as personagens. E, como em um “estalar de dedos”, o campo aberto, limpo, pronto para nele semear a sua criatividade, onde em zelosos cuidados: o hábito contido de leitura — de mero passatempo ao então prazer — adensava ao “seu mundo”, movimentos vivos, penetrantes. Hoje, já não se pode da mesma maneira ativar a criatividade: base para a construção do bom conto, novela ou romance.

Deve-se, em primeiro lugar, estabelecer o “convívio” com as palavras; não adorná-las de requinte e sim entendê-las. Parece, ao deixar assim definido, quão vago este método, pouco adiantará. Entretanto, pouco - a- pouco o hábito se faz; não o deixa, o enlaça, envolvendo no seu íntimo e a esta hora começará a correr nas veias e artérias.

O início de sua trajetória está começada, no entanto, longe de desembarcar: agora começa a afeição — a arte de criar.

Fonte:
Clube dos Escritores de Alvorada. Coletânea "Alvorecendo". Inverno de 2002
http://www.clubedosescritoresdealvorada.blogspot.com/

Raymundo Faoro (Aniversário de Nascimento)


Raimundo Faoro (1925 – 2003)



Raimundo Faoro (Vacaria, 27 de abril de 1925 — Rio de Janeiro, 15 de maio de 2003) foi um escritor, advogado, cientista político e historiador brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de 1977 a 1979. Conhecido como O Embaixador da Cidadania.

Raymundo Faoro nasceu em Vacaria, nono distrito, (RS), em 27 de abril de 1925. Faleceu no Rio de Janeiro em 15 de maio de 2003.

Filho de agricultores, depois de 1930 sua família mudou-se para a cidade de Caçador (SC). Lá fez o curso secundário, no Colégio Aurora. Formou-se em Direito, em 1948, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Transferiu-se, em 1951, para o Rio de Janeiro, onde advogou e fez concurso para a Procuradoria do Estado, de onde se aposentou.

Colaborou na imprensa desde o tempo de estudante universitário. Co-fundador da revista Quixote, em 1947, escreveu para diversos jornais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Além de jurista, foi um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros, autor de ensaios de direito e ciências humanas. Referência obrigatória na teoria política do Brasil contemporâneo, Faoro conquistou o respeito dos intelectuais do país através de suas análises críticas do Estado, que contribuíram para o desenvolvimento da literatura crítica nacional.

Seus leitores mais críticos (entre os quais Mino Carta e Bob Fernandes) lhe atribuíram dons proféticos. Em Os donos do poder, publicado em 1958, analisou a formação do patronato brasileiro e buscou as raízes de uma sociedade na qual o poder público é exercido, e usado, como se fosse privado. É um teorema que Faoro demonstrou percorrendo a história luso-brasileira dos seus primórdios até Getúlio Vargas e antecipando os rumos seguintes. Em enquete feita pela revista Veja com os principais intelectuais brasileiros, este ensaio foi incluído entre os vinte livros mais importantes já publicados por autores brasileiros.

No ensaio A pirâmide e o trapézio, publicado primeiramente em 1974 (mesmo ano da reedição revista e ampliada de Os donos do poder), Faoro interpretou com mestria e originalidade a obra de Machado de Assis, cuja mensagem está na dissecação da sociedade da capital do país no final do século XIX. Ao escrever seu ensaio levou em conta os estudos machadianos até o início dos anos 70, dialogando especialmente com Augusto Meyer, Eugênio Gomes, Astrogildo Pereira, Raimundo Magalhães Jr., e também Sílvio Romero.

Este vasto estudo sobre Machado de Assis pode ser visto como uma continuidade e um complemento do ensaio anterior. Seu grande objeto de estudo era ainda o Brasil, pois pretendia captar a vida que Machado de Assis infundiu em seus personagens e ao Brasil, o funcionamento concreto e cotidiano da ação dos donos do poder e seus agregados, a presença dos valores e da ideologia, os vícios e as virtudes, a constrição das instituições (família, Estado, igreja), os preconceitos, o amplo e variadíssimo jogo da vida social e individual.

Foi presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, de 1977 a 1979. Lutou pelo fim dos Atos Institucionais e ajudou a consolidar o processo de abertura democrática nos anos 70. Com ele a sede da OAB, no Rio, transformou-se num front de resistência pacífica contra o regime militar. Partiu de lá a primeira grande denúncia circunstanciada contra a tortura de presos políticos. No governo João Figueiredo lutou pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com a anistia e a retomada das liberdades políticas, a casa de Faoro nas Laranjeiras tornou-se lugar de encontro de políticos como Tancredo Neve e Luís Inácio Lula da Silva. Este propôs, sem sucesso, que Faoro entrasse na disputa presidencial em 1989, como candidato a vice-presidente.

Desde o momento em que deixou a OAB, foi colaborador permanente da revista Senhor (segunda fase), inspirador e parceiro na revista IstoÉ e no Jornal da República, das quais foi presidente. Colaborou também na revista Carta Capital.

Recebeu o Prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de letras (1959); Prêmio Moinho Santista - Ciências Sociais -1978 (foi o terceiro premiado, depois de Fernando de Azevedo e Gilberto Freyre); Medalha Teixeira de Freitas, do Instituto dos Advogados do Brasil.

Faleceu vítima de enfisema pulmonar, aos 78 anos, no Rio de Janeiro, velado na ABL e enterrado no Cemitério São João Batista.

Formação histórico-social brasileira

Raimundo Faoro é autor de Os donos do poder, obra que aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção e burocracia no país, colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto isso foi superado em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política.

Nesta sua concepção de Estado patrimonialista, Faoro coloca a propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma "sobrepropriedade" da coroa sobre seus súditos e também este Estado sendo regido por um soberano e seus funcionários. O autor assim nega a existência de um regime propriamente feudal nas origens do Estado brasileiro. O que caracteriza o regime feudal é a existência da vassalagem intermediando soberano e súditos e não de funcionários do estado, como pretende Faoro.

Desenvolvendo seu raciocínio, Faoro conclui que o que se teve no Brasil foi um capitalismo politicamente orientado, conceito este de inspiração weberiana. Negando-se em atribuir um papel hipostasiado à economia com relação à política, Faoro vê em seu país uma forma pré-capitalista. Esta característica pré-capitalista, no entanto, ainda será entendida no interior do pensamento weberiano em que capitalismo é definido como uma aquisição racional de lucros burocraticamente organizada, diferente do capitalismo politicamente orientado em que tal aquisição será direcionada por interesses dos Estado e da sua concorrência com outros estados. Destacando-se da análise da dialética marxista, esta forma de capitalismo não irá inevitavelmente desembocar numa forma de capitalismo mais avançado, mas poderá perpetrar-se na medida em que coexiste com formas racionais de organização da produção.

O capitalismo politicamente orientado atribui ao Estado patrimonial e seus funcionários características de um estamento burocrático, ainda que este impeça a consolidação de uma ordem burguesa propriamente dita no país.

Foi o quinto ocupante da cadeira número 6 da Academia Brasileira de Letras, tendo sido eleito em 23 de novembro de 2000, na sucessão de Barbosa Lima Sobrinho, e recebido pelo acadêmico Evandro Lins e Silva em 17 de setembro de 2002.

Bibliografia
Os donos do poder. Porto Alegre, Editora globo, 1958.
Machado de Assis - A pirâmide e o trapézio. Rio de Janeiro, 1975.
A Assembléia Constituinte - A legitimidade recuperada. Rio de Janeiro, Brasiliense, 1980.
Existe um pensamento político brasileiro?. Rio de Janeiro, Editora Ática, 1994.
Publicou também obras de direito e ciências humanas.

Fontes:
Academia Brasileira de Letras. http:// http://www.academia.org.br/
http://pt.wikipedia.org
http://www.brasilescola.com/

domingo, 26 de abril de 2009

Abel Botelho (A Fritada)

Aldeia de Aveloso, freguesia de Tendais
Este conto, incluído na coletânea intitulada “Mulheres da Beira” (publicada pela primeira vez em 1888), tem como cenário principal a aldeia de Aveloso, da freguesia de Tendais. É uma viagem por vários planos e espaços: o de uma certa consciência social que o autor quis argumentar através das personagens que criou, o de uma imagem da serra grandiosa e estéril, subitamente acordada e atordoada pela chegada dos gados transumantes, fenômeno hoje extinto. A imagem de uma aldeia sombria, triste e pobre, onde os senhores da Casa Grande deixavam entrever o modelo de poder que Botelho repudiava para o País, e a súbita chegada dos gados com enfeites multicores vindos cordilheira da Estrela, deve ter suscitado no autor uma profunda impressão, pela forma como se demora na descrição minuciosa dos pormenores, deixando de fora, com certeza propositadamente, a descrição do Cortejo e da Família Real entrando em Lamego.

Por isso, o seu espírito realista e positivista transformou o que poderia ser apenas mais uma novela social num impressionante documento histórico e uma miscelânea de apontamentos geográficos e etnográficos. Conhecedor, e com certeza frequentador dos caminhos da região (Botelho casara com uma senhora da nobreza de Cinfães tendo permanecido algum tempo em Arouca onde fizera prospecções geográficas a serviço do Exército), o escritor relatou minuciosamente vários percursos todos longe da ficção, dos quais se destaca o de Lamego a Aveloso, espinha dorsal da acção, e que atravessa o maciço de Montemuro. Impensável, pois, que A. Botelho nunca houvesse calculado os planos que descreve, os picos e planaltos da serra, ou apenas o tivesse feito uma única vez.

As suas anotações de locais, como a Alagoa de D. João, o Talegre, a enumeração que faz de pontos de orientação e as distâncias que parece conhecer de forma precisa (como as léguas que separam Aveloso de Tendais) fazem de “A Fritada” quase um estudo minucioso das relações sociais e de espaço privilegiados dos viajantes pela serra

Fonte:
Nuno Resende. http://montemuro.wordpress.com/

Abel Botelho (1855 – 1917)


Abel Acácio de Almeida Botelho (Tabuaço, 23 de Setembro de 1855 — Argentina, 24 de Abril? de 1917) foi um militar, e diplomata português, destacou-se também como escritor. Representante em Portugal do realismo extremo, conhecido como Naturalismo, escreveu, entre outros, o O Barão de Lavos e O Livro de Alda, os dois primeiros títulos da série Patologia Social.

Abel Botelho nasceu em Tabuaço, pequena vila da Beira Alta, a 23 de outubro de 1856, e faleceu em Buenos Aires, como ministro da República Portuguesa, em 1917. Iniciando-se na carreira das armas como simples soldado raso, foi galgando os mais altos postos do Exército, tendo chegado a Coronel. Entre outras funções, exerceu a chefia do Estado Maior da Primeira Divisão Militar (Lisboa). Pertenceu a várias agremiações (Academia das Ciências, Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, de Lisboa e do Porto, Associação da Imprensa, Sociedade Geográfica de Lisboa, etc.), e foi como um dos delegados dessa última agremiação que esteve em São Paulo, em 1910, por ocasião de um congresso de Geografia. Em 1911 é nomeado ministro da República em Buenos Aires, onde falece em 1917. Sua carreira literária, começou-a em 1885, com um livro de versos chamado "Lira Insubmissa".

No ano seguinte, lança "Germano", drama em cinco atos, em verso. Proposta à direção do teatro Nacional, esta peça foi recusada. Originou-se uma polêmica, por causa do artigo que Abel Botelho dirige aos responsáveis por sua não aceitação. Daí por diante escreverá outras peças de teatro: "Jacunda" (comédia em três atos; 1895), "Claudina" (estudo duma neurótica; comédia em três atos, representada no Teatro do Príncipe Real de Lisboa, na festa artística da atriz Lucinda Simões, a 18 de março de 1890), "Vencidos da Vida" (peça satírica, representada a 23 de março de 1892 no Teatro do Ginásio; três atos), "Parnaso" (peça lírica, em verso, em um ato, escrita para a récita de estudantes, em benefício da Caixa de Socorros a Estudantes Pobres, realizada no Teatro de São Carlos, em 3 de maio de 1894), "Fruta do Tempo" (comédia, escrita para a atriz Lucinda Simões; 1904). Sendo de assunto no geral escabroso, delicado, como pedia o Naturalismo, essas peças causavam agitação, especialmente "Imaculável", que terminou em arruaças e apupos, e "Vencidos da Vida", que não pôde prosseguir em cena pelo que continha de crítica ao grupo literário que dá título à peça, e por ser considerada imoral, originando-se daí uma polêmica entre Abel Botelho e os responsáveis pela proibição.

Em 1891, Abel Botelho inicia o estudo da sociedade portuguesa na série "Patologia Social", que deveria ser o exame exigente e científico dos males gerais que infestavam Portugal, sobretudo Lisboa, capital e centro urbano de maior prestígio. O primeiro é "Barão de Lavos" (1891), seguido de "O Livro de Alda" (1898), "Amanhã" (1901), "Fatal Dilema" (1907), "Próspero Fortuna" (1910). Além desses, deixou mais três romances: "Sem Remédio..." (1900), "Os Lázaros" (1904), e "Amor Crioulo" (incompleto e póstumo; seu título anterior era "Idílio Triste"; 1919) e o livro de contos "Mulheres da Beira" (1898; anteriormente haviam sido publicados no "Diário de Notícias", entre 1895 e 1896).

Dados
- O Barão de Lavos terá sido o primeiro livro escrito em português sobre a realidade da homossexualidade em Portugal.
- Morreu na Argentina, durante a Primeira Guerra Mundial.
- A ele se fica a dever o projeto gráfico da bandeira da República Portuguesa, em que o verde representa a esperança e o vermelho o sangue derramado pelo povo nas muitas guerras travadas.

Obras
Germano (1886)
Claudina (1890)
O Barão De Lavos (1891)
Os Vencidos Da Vida (1892)
Jucunda (1895)
A Imaculável (1897)
O Livro De Alda (1898)
Sem Remédio (1900)
Amanhã (1901)
Os Lázaros (1904)
Fatal Dilema (1907)
Próspero Fortuna (1910)
Amor Crioulo (1913)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
Camara Municipal de Tabuaço. http://http://www.cm-tabuaco.pt

Solenidade de Posse da Academia de Letras do Brasil







Comunico com satisfação, que em agosto deste ano, na cidade de Piracicaba/SP, a Academia de Letras do Brasil estará efetuando a Solenidade de Posse dos Novos Membros, ocasião em que terei a honra de estar participando ao assumir a Cadeira Vitalícia, representando o Estado do Paraná.
José Feldman

Vicente Aleixandre (Aniversario de Nascimento)

Vicente Aleixandre (Antologia Poética)


NA PRAIA

És esplêndido, esplendidamente humilde, vivificador e profundo
sentir-se sob o sol, entre os demais, impelido,
levado, conduzido, misturado, rumorosamente arrastado.

Não é bom
deixar-se na margem
como o quebra-mar ou como o molusco que quer calcareamente imitar a rocha.
No entanto é puro e sereno arrasar-se no destino
de fluir e perder-se,
encontrando-se no movimento com que o grande coração dos homens palpita
estendido.

Como aquele que ali vive, ignoro em que piso,
e que vi descer pelas escadas,
e enfiar-se valentemente na multidão e perder-se.
A grande massa passava. Mas era reconhecível o diminuto coração afluído.
Ali, quem o reconheceria? Ali com esperança, com resolução ou com fé, com temeroso denodo,
com silenciosa humildade, ali ele também
transcorria.

Era uma grande praça aberta, e havia odor de existência.
Um odor de grande sol descoberto, de vento eriçando-o,
um grande vento que sobre as cabeças passava sua mão,
sua grande mão que roçava os rostos unidos e os reconfortava.

E era o serpear que se movia
como um único ser, não sei se desvalido, não sei se poderoso,
mas existente e perceptível, mas fecundador da terra.
Ali cada um pode se ver e pode se alegrar e pode se reconhecer.
Quando, na tarde escaldante, só em teu gabinete,
com os olhos estranhos e a interrogação nos lábios,
queres perguntar algo à tua imagem,
não te busques no espelho,
num extinto diálogo em que não te ouves,
Desça, desça devagar e busca-te entre os outros.
Ali estão todos, e tu entre eles.
Oh, desnuda-te, e funde-te, e reconhece-te.
Entra devagar, como banhista que, temeroso, com muito amor e receio da água,
enfia primeiro seus pés na espuma,
e sente a água subir, e já se atreve, e quase se decide.
E agora com a água na cintura todavia não confia.
Mas estende os braços, abre enfim os dois braços e se entrega completo.
E ali forte se reconhece, e cresce e se lança,
e avança e joga espumas, e salta e confia,
e bate e pula nas águas vivas, e canta, e é jovem.

Assim, entra com os pés nus. Entra no fervor, na praça.
Entra na torrente que te reclama e ali sê tu mesmo.
Oh pequeno coração diminuto, coração que quer pulsar
para ser também o unânime coração que alcança!
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OS BEIJOS

Só tu és, contínua,
graciosa, quem se entrega,
quem hoje me chama. Toma,
toma o calor, a fortuna,
a cerração de bocas
fechadas. Docemente
vivemos. Morres, rendes-te.
Só os beijos reinam:
sol lento e amarelo,
rente, delicado,
que morre aqui, nas bocas
felizes, entre nuvens
rompentes, entre azuis
afortunados, onde brilham
os beijos, as delícias
da tarde, o alto
deste poente louco,
quietude, que vibra
e morre. — Morre, sorve
a vida. — Beijas. — Beijo.
Oh mundo assim dourado!
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COMO O MAR, OS BEIJOS

Não importam os emblemas
nem as vãs palavras que são um só sopro.
Importa o eco do que ouvi e escuto.
Tua voz, que morta vive, como eu que ao passar
aqui ainda te falo.
Eras mais consistente,
mais duradoura, não porque te beijasse
nem porque em ti era assim firme a existência.
Talvez porque como o mar
que invade a areia temerosa se afunda.
Em verdes ou em espumas o mar, se afasta.
Como ele se foi e voltastes e nunca voltas.
Talvez porque, girando
sobre a praia sem fim, não pude achar-te.
O vestígio de tua espuma,
quando a água se vai, resta nas bordas.
Só bordas encontro. Só o fio de voz que
em mim ficara.
Como uma alga teus beijos.
Mágicos na luz, pois mortos retornam.
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A FELICIDADE

Não. Basta!
Basta para sempre.
Fuja, fuja; só quero,
só quero a tua morte cotidiana.

O busto erguido, a terrível coluna,
o colo febril, a convocação dos carvalhos,
as mãos que são pedra, lua de pedra surda
e o ventre que é sol, o único extinto sol.

Seja erva! Erva ressecada, raízes amarradas,
folhagem nos músculos onde nem os vermes vivem,
pois a terra nem pode ser grata aos lábios,
a esses que foram, sim, caracóis do úmido.

Matar a ti, pé imenso, gesso esculpido,
pé triturado dias e dias enquanto os olhos sonham,
enquanto há uma paisagem azul cálida e nova
onde uma menina íntegra se banha sem espuma.

Matar a ti, coagulação completa, forma ou montículo,
matéria vil, vomitação ou escárnio,
palavra que pendente de uns lábios roxos
vem dependurada na morte putrefata ou no beijo.

Não. Não!
Ter-te aqui, coração que pulsou entre meus dentes enormes,
em meus dentes ou cravos amorosos ou dardos,
o tremular de tua carne quando jazia inerte
como o vivaz lagarto que se beija e se beija.

Tua catarata de números,
catarata de mãos de mulher com argolas,
catarata de pingentes os cabelos se protegem,
onde opalas ou olhos estão aveludados,
onde as mesmas unhas se guardam entre encaixes.

Morre, morre como o clamor da terra estéril,
como a tartaruga esmagada por um pé desprotegido,
pé ferido cujo sangue, sangue fresco e novíssimo
quer correr e ser como um rio nascente.

Canto o céu feliz, o azul que se desponta,
canto a felicidade de amar doces criaturas,
De amar o que nasce sobre as pedras limpas,
agua, flor, folha, sede, lâmina, rio ou vento,
amorosa presença de um dia que sei existe.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/

Fotomontagem = José Feldman

Vicente Aleixandre (1898 – 1984)


Vicente Pío Marcelino Cirilo Aleixandre y Merlo (Sevilha, 26 de abril de 1898 — Madri 14 de dezembro de 1984) foi um poeta espanhol. Seu primeiro livro, chamado "Âmbito", foi publicado em 1928. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1977.

Filho de uma família da burguesia espanhola, o seu pai foi engenheiro de caminhos de ferro. Nasceu em Sevilha em 1898, mas passou a sua infância em Málaga, onde foi colega de escola do futuro escritor Emilio Prados.

Nasceu em Sevilha em 26 de abril de 1898 e faleceu em Madrid em 14 de dezembro de 1984. Pertence à Geração de 27 e ganhou o Prêmio Nobel de 1977. Com dois anos de idade, sua família foi para Málaga — cidade que ele chama em sua obra de “o Paraíso”, pois ali passou a infância. Em 1909, instalou-se em Madrid. Em 1919 licencia-se em Direito e obtém o título em Direito Mercantil, matéria que passou a ministrar na Escola de Comércio de Madrid (1920-1922).

Em 1917 conhece Dámaso Alonso em Las Navas del Marqués, onde veraneava, e através deste contacto descobre Rubén Darío, Antonio Machado y Juan Ramón Jiménez. Inicia deste modo uma profunda paixão pela poesia.

A sua saúde começa a deteriorar-se em 1922. Em 1925 diagnosticam-lhe uma nefrite tuberculosa, que termina com a extirpação de um rim, operação realizada em 1932. Publica os seus primeiros poemas na "Revista de Occidente" em 1926. Conhece e relaciona-se com Cernuda, Altolaguirre, Alberti e García Lorca.

Depois da Guerra Civil não se exila, apesar das suas ideias esquerdistas. Permanece na Espanha, é galardoado com o "Prêmio Francisco Franco" em 1949 e transforma-se num dos mestres e exemplos para os poetas jovens.

Bibliografia:
– Ámbito, Editra Litoral, 1928;
– Espadas como labios, Espasa Calpe, 1932;
– La destrucción o el amor, Signo, 1935;
– La destrucción o el amor, Signo, 1935;
– Sombra del Paraíso, Adán, 1944;
– Mundo a solas, Javalambre, 1950;
– Nacimiento último, Ínsula, 1953;
– Historia del corazón, Espasa Calpe, 1954;
– En un vasto dominio, Revista de Occidente, 1962;
– Retratos con nombre, El Bardo, 1965;
– Poemas de la consumación, Plaza & Janés, 1968; e
– Diálogos del conocimiento, Plaza & Janés, 1974.
Além destes de poesia, publicou quatro livros em que retrata, sobretudo, a obra de autores de sua geração:
– En la vida del poeta: el amor y la poesía (1950), Real Academia Española;
– El niño ciego de Vázquez Díaz (1954), Ateneo;
– Algunos caracteres de la nueva poesía española (1955) , Aguilar; e
– Los encuentros (1958), Aguilar.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/
http://pt.wikipedia.org/

Mário de Sá-Carneiro (Aniversário do Falecimento)

FotoMontagem = José Feldman

Mário de Sá-Carneiro (Antologia Poética)


ÂNGULO

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar oco de certezas mortas? —
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construído...

— Barcaças dos meus ímpetos tigrados,
Que oceano vos dormiram de Segredo?
Partiste-vos, transportes encantados,
De embate, em alma ao roxo, a que rochedo?...

Ó nau de festa, ó ruiva de aventura
Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também, ou porventura,
Fundeaste a Oiro em portos de alquimia?...

...................................................................................................

Chegaram à baia os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar não se correram...
As bandeiras velaram-se, orações...

Detive-me na ponte, debruçado.
Mas a ponte era falsa — e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar à sua beira...

— Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes —
Um outro que eu não posso acorrentar...
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CINCO HORAS

Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Sobre ela posso escrever
Os meu versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
— Pois há um ano que fumo —
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha idéia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...

(Que história de Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
— Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

— Cafés da minha preguiça,
Sois hoje — que galardão! —
Todo o meu campo de acção
E toda minha cobiça.
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DISTANTE MELODIA

Num sonho de Íris morto a oiro e brasa,
Vem-me lembranças doutro Tempo azul
Que me oscilava entre véus de tule -
Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.

Então os meus sentidos eram cores,
Nasciam num jardim as minhas ânsias,
Havia na minha alma Outras distâncias -
Distâncias que o segui-las era flores...

Caía Oiro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me...
- Noites-lagoas, como éreis belas
Sob terraços-lis de recordar-me!...

Idade acorde de Inter-sonho e Lua,
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz - anseios de Princesa nua...

Balaústres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume...
Domínio inexprimível de Ópio e lume
Que nunca mais, em cor, hei-de habitar...

Tapetes de outras Pérsias mais Oriente...
Cortinados de Chinas mais marfim...
Áureos Templos de ritos de cetim...
Fontes correndo sombra, mansamente...

Zimbórios-panteões de nostalgias,
Catedrais de ser-Eu por sobre o mar...
Escadas de honra, escadas só, ao ar...
Novas Bizâncios-Alma, outras Turquias...

Lembranças fluidas... Cinza de brocado...
Irrealidade anil que em mim ondeia...
- Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia...
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ESPERANÇA

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.
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O LORD

Lord que eu fui de Escócias doutra vida
Hoje arrasta por esta a sua decadência,
Sem brilho e equipagens.
Milord reduzido a viver de imagens,
Pára às montras de jóias de opulência
Num desejo brumoso --- em dúvida iludida...
(--- Por isso a minha raiva mal contida,
--- Por isso a minha eterna impaciência.)

Olha as Praças, rodeia-as...
Quem sabe se ele outrora
Teve Praças, como esta, e palácios e colunas ---
Longas terras, quintas cheias,
Iates pelo mar fora,
Montanhas e lagos, florestas e dunas...

(--- Por isso a sensação em mim fincada há tanto
Dum grande património algures haver perdido;
Por isso o meu desejo astral de luxo desmedido ---
E a Cor na minha Obra o que ficou do encanto...)
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ORFEU REBELDE

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
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Sobre o Autor
Mario de Sá-Carneiro (1890-1916)
Poeta e prosador português (19/5/1890-26/4/1916), considerado um dos mais originais e complicados autores do Movimento Modernista Português. Mário de Sá-Carneiro é o poeta que encarna as frustrações e os pesadelos de sua terra no início deste século, um país dividido entre a glória passada e a atração pela modernidade e pelas luzes da renovação européia. Isso é traduzido em sua obra por meio de uma linguagem de extrema violência verbal.

Sá-Carneiro nasce na cidade de Lisboa e estuda na Universidade de Sorbonne, em Paris. Publica os primeiros poemas, Dispersão, em 1914, mesmo ano da novela A Confissão de Lúcio. Retorna a Portugal em 1915 e lança a revista Orpheu em parceria com Fernando Pessoa, seu mentor e a maior expressão do Modernismo naquele país.

De volta a Paris, Sá-Carneiro passa por uma crise moral e financeira que o faz abandonar os estudos. De relações rompidas com o pai, leva uma vida de boêmia literária. Em 1916, durante uma crise, suicida-se em Paris. Antes de sua morte envia seus poemas inéditos a Fernando Pessoa, publicados apenas em 1937 sob o título Indícios de Ouro.
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Biografia mais detalhada = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/mario-de-s-carneiro-1890-1916.html
Poesias: Dispersão – Fim – Quase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/mario-de-s-carneiro-poesias-quase-fim.html
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Fontes:
http://www.algosobre.com.br/
http://www.astormentas.com/
Fotomontagem = José Feldman