quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ailton Maciel (Cinzas)



Que é feito do viver daqueles tempos?
Onde estão da casinha os habitantes?
A primavera, que arrebata as asas...
Levou-lhes os passarinhos e os amantes!...
Castro Alves

Aparece, ó visão de minha vida!
Vem decantar comigo o amor luzente...
Não vês, menina, a chaga dolorida
Que fervilha em meu peito penitente?...

O vem, ó vem, eu, louco, desespero!
Vem sentir desta vida os seus sabores...
Vem, açucena, eu todo dia espero
Os momentos ditosos dos amores!

Não te lembras, então, dos belos dias,
Que passamos felizes, lado a lado,
Só sentindo prazeres e alegrias
Sob o tempo, feliz, enluarado?!

Ainda recordo a nossa feliz vida:
Eu beijava a sorrir os teus cabelos.
Hoje o meu ser é chaga dolorida,
Hoje os sonhos são frios pesadelos!

Quão ditosos nos foram os momentos
Quando em tempo atrás juntos passamos...
Hoje restam visões e mil tormentos
Dos tempos auros em que nos amamos!

Hoje só restam cinzas... devaneios...
Recordações fatais pras nossas vidas:
Tu tens o corpo de carícias cheio,
E eu de chagas e fatais feridas!

Fortaleza, 7/10/64.
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Ailton Maciel (1943 – 1974)
Ailton Alves Maciel nasceu em Baturité em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances.

Fontes:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/
– Jornal de Poesia
– Imagem = http://leninhaluz.blogspot.com

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