segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Alberto Araújo (O Poeta no Papel)


A última canção

Fazer não sabe a hora,
Cantar não sabe o momento,
Lançar não sabe a corrente,
Amar não sabe o instante,
Sofrer não sabe o tormento.

Cantar não sabe a hora,
Viver não sabe a vida,
Sorver não sabe a fonte,
Comer não sabe o trigo,
Correr não sabe a estrada.

Chegar na madrugada,
Descer no arco-íris,
Fugir no pé-de-vento,
Vingar no pé-de-morro,
Crescer sem esperança.
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Ampulheta do tempo

Escorre inclemente
Grão por grão,
No espaço-tempo,
De uma existência.

Qual dormente
De vagão em vagão
Passam os trens, no templo,
Do planeta substância.
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As canções eternas

Certas canções que ouço
Parecem-me impregnadas do aroma
que a suave brisa perfuma
as tardes outonais
feito ainda moço
em acordes politonais

Certas melodias que ouço
Parecem-me vir de um veio que emana da terra
sussurro e soluço
de ritmos tribais
feito ainda como fera
em vocálicos ancestrais

Certas harmonias que ouço
Parecem-me ter um ritmo
que tem vida própria
como um algoritmo
feito ainda como cria
provoca ondas e rebuliço

Certas músicas que ouço
Parecem-me vir de um tempo distante
Em que as asas da imaginação
as lançam no poço
feito ainda como vibração
em busca de alegro e andante
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Cenas Infantis

Crianças brincam, sorriem
Emotivas, altivas, vibram
Navegam em seus barcos de papel, sonham
Artistas, pintam, a vida colorem
Sábias, criativas, inventam

Inocência, doce ingenuidade curtem
Novelo de linha e o horizonte, pipa soltam
Felicidade não ter idade ou maldade, vivem
Aventuras, jogos, tramas, brincam
Nos jardins se misturam às flores, perfumam
Trinam feito passarinho, cantam
Imagens de ternura e peraltice encantam
Sementes, fruto do amanhã, descobrem...

Dedicado a Schumann (ouvindo Cenas Infantis para Piano.),
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A Curva do Rio

Nas curvas do rio Araguaia
Muitas histórias de botos encantados
Habitam as margens e os sonhos
De mulheres ribeirinhas, em doce magia

Nas curvas do rio Amazonas
Encontram-se o rio Negro e o Solimões
Águas lado a lado no contraste das cores
No mistério das grandes florestas

Nas curvas do rio São Francisco
Do vale do Jequitinhonha a Juazeiro
As carrancas retratam mitos e crenças
Do povo que deposita no velho Chico suas esperanças.

Nas curvas do rio de nossas vidas
Nascentes são como capilares
Afluentes são como veias
Bacias são como artérias

Nas curvas do rio, etérea viagem
Navegando em nossa natureza interna
Ou nas corredeiras da natureza externa
Há sempre um sinal, um rito de passagem
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Sobre o Autor
Alberto José de Araújo é natural de Santanésia, distrito de Piraí, Rio de Janeiro. Tem por ofício a medicina, vive no RJ, dedica-se a cuidar das pessoas vítimas do tabaco e doenças respiratórias ocupacionais. Escreve desde os 12 anos sobre temas humanistas: espiritualistas, ambientais, político-sociais e românticos. É ativista dos movimentos sociais, atuando na Aliança de Controle do Tabagismo. Busca fazer da arte do verso uma ferramenta crítica que propicie reflexão e tomada de consciência para as mudanças sociais. Escreve sobre temas dentro do contexto histórico, social e político em que vive e labuta. Sonha ver a humanidade caminhar para um futuro de maior compromisso planetário, solidariedade e desenvolvimento da espiritualidade. O blog pessoal: http://ajaraujopoetahumanista.blogspot.com/

Fontes:
http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/
http://ajaraujopoetahumanista.blogspot.com/

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