sábado, 19 de setembro de 2009

Pedro Emílio de Almeida e Silva (Madrugada)


Dois cigarros acesos no silêncio da madrugada:
- o meu e o teu cigarro.
Uma tragada um beijo, um beijo e uma tragada...
Teu braço é o meu travesseiro quente e macio:
- dois pássaros que a tempestade da noite separa
E se juntam em manhã dourada de estio.

Preciso partir! Antes que eu diga mais nada
Prendes-me nos braços e entre beijos e abraços
Pede-me para ficar.

E, num delírio louco de amor, começas a falar:
- Não, não vá embora! Deixa que o sol desponte
E os pássaros comecem a cantar lá fora.
Deixa que a névoa adormecida no colo azul
Das montanhas distantes desapareça
Ao toque sutil da aurora.

- Que será do resto da manhã se te fores?
Não vês que ficarei sozinha morrendo de amores?
Esquece a vida, querido, e me entregue a luz do teu olhar
Num sonho eterno e perdido...

Somente, agora, o sol debruça em nossa janela
Com ar de malícia, vem nos dar bom dia
Louvar nosso amor nessa manhã tão bela:
- Esquece a vida, querido, e me entregue a luz do teu olhar
Num sonho eterno e perdido...
- O que será do resto do dia se te fores?
Não vês que ficarei sozinha morrendo de amores?
Esquece a vida, querido, e me entregue a luz do teu olhar
Num sonho eterno e perdido...

- O que será do resto da tarde se te fores?
Não vês que ficarei sozinha morrendo de amores?
Esquece a vida, querido, e me entregue a luz do teu olhar
Num sonho eterno e perdido...

- Deixe que a tarde caia serena a encher de sombras
e odores os caminhos por onde há de passar sozinha:
- Esquece a vida, querido, e me entregue a luz do teu olhar
Num sonho eterno e perdido...
Somente agora a Lua vem nascer
Como um pintor em fina tela
Imagens vem tecendo...

Dois cigarros acesos no silêncio da madrugada:
- o meu e o teu cigarro...
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