quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sonetos Vencedores do 4º. Concurso Literário Cidade de Maringá - 2008



Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro, RJ)
AO PÉ DA SERRA

Num quarto de choupana, ao pé da serra,
onde a ausência de amor se faz presente,
sofre o caboclo pela dor que sente,
servo da angústia que o abandono encerra...

Sendo forçado a que a tristeza enfrente,
descobre que o destino também erra,
e, nos seus erros, faz ruir por terra
da esperança a muralha resistente.

Fragilizado e ao desespero entregue,
tateia pela noite que o persegue
numa existência quase consumida...

E a chama, que no quarto bruxuleia,
verte um resto de luz, que há na candeia,
no resto do que resta de uma vida!
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Jaime Pina da Silveira (São Paulo, SP)
SOLIDÃO NA ROÇA

Cansei de cultivar – só – minha roça...
Cansei de – só – colher o meu feijão...
Cansei de enfeitar – só – minha palhoça...
De – só – nutrir de lenha o meu fogão...

Da casa, que era minha, eu fiz a nossa
e as portas eu te abri do coração.
E, como contra o amor não há quem possa,
voei nas asas loucas da paixão...

E encheu-se então de viço a minha horta,
veio a felicidade à minha porta
e a roça se esqueceu da solidão...

Mas... como há sempre um “mas” em nossa vida,
ao despertar da noite “bem” dormida,
percebo que foi tudo – só – ilusão!...
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Lucília A. T. Decarli (Bandeirantes, PR)
DIVINO MISTÉRIO

Pura eclosão no encontro de dois seres,
ou de um só ser, chamado hermafrodita.
Sem ser movida por carnais prazeres,
carrega em si leal prenhez, prescrita.

Nas mãos a tens, quiçá sem compreenderes
que um divino mistério nela habita.
Sequer refletes, junto aos afazeres,
quão essencial é o ser que ali dormita...

Mas, lá na roça, alguém sempre a cultua,
vislumbra o embrião, que a espécie perpetua:
- o apaixonado e atento lavrador!

E, na expansão do gérmen, a semente
exalta a vida e aquEle que consente
nesse milagre – prova audaz de AMOR!...
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Maria Helena Oliveira Costa (Ponta Grossa, PR)
OS GRÃOS DO TEU ROSÁRIO

Tratas da terra e nos provês a mesa,
ó tu, simples e rude brasileiro,
que entregas teu vigor à enorme empresa
de fazer do país um bom celeiro!

De mãos calosas e coluna tesa,
pões no roçado teu suor inteiro...
E o teu empenho faz da natureza
um promissor e salutar viveiro!

No chão bendito jaz um relicário:
dormem sementes já por ti plantadas!
O dia finda e à oração convida...

Rezas, por fim... E os grãos do teu rosário
são como contas bem manuseadas
que têm no bojo uma explosão de vida!
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Neide Rocha Portugal (Bandeirantes, PR)
ÊXODO MENTAL

Ficou distante a roça... E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.

Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim... E, na empreitada,

tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.

Do que é capaz um som?... Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz!
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