domingo, 31 de janeiro de 2010

Safia dos Pireneus de Goiás ( Goiás Poético)


Alguma poesia oral de Safia

NASCI NOS PIRENEUS

Nasci nos Pireneus
junto com meu pai eterno
numa campina tão bonita
no meio de muitas emas
num ranchinho na beira-córrego
rebuçado de sapé,
cobertinha de algodão
tomando chazinho de mé,
num colchãozinho pequeno
num caquinho de buriti,
parecendo ninho de rolinha
ninho de juriti.

Um dia de garoa
já tava pra dar o inverno
eu tava perdida
no meio de muitas emas.

Minha mãe deu um grito
eu respondi.
Ela me encontrou
e me deu um tapa.
Meu pai também xingou.
Eu então respondi:
mas eu não gosto de vocês!
só das ema e do meu avô!

Depois, papai teve idéia de mudar,
nós se mandou.
Eu fiquei apaixonada,
porque as ema ficou.

MALEITA

É terreno do sertão
nem dado não aceita,
a gente compra um sítio
fica alegre e satisfeita.
Espera boa colheita
pode dar bom mantimento.
Mas bem pouco aproveita.
Quando a febre vem
o caboclo deita
chama o curador
e dá a receita,
purgante de tal
purgante de azeita
toma surufato
não pode beber leite,
quando for daí um pouco
o caboclo purga preto
eu falo porque sei
porque passei
por este aperto

Quem sofreu maleita
não tem mais conserto
ainda que cura de um
o peito.

VOZ DE PÁSSARO

Macuã e anúm preto
dizem que cantam assim:

“Minha mulher não presta
- não presta por que?
é com um e com outro
é com um e com outro”

“Finca, finca, eu ranço
pinico, pinico, jogo fora
primo com prima
se casá fazerá má.
Quá, pode casá!
Chica, cê vai, eu fico
cê fica, eu vou.
Fico, ficô”
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