segunda-feira, 15 de março de 2010

Alexandra Dias Ribeiro (O Tempo e os Olhos que Falam por Si)


Sou uma mulher como outra qualquer. Como conseqüência adoro um espelho! Em algumas ocasiões fujo deles, temo a resposta à fatal pergunta: “Espelho, espelho meu...”.

Nesta noite foi diferente de todas as passadas. Após rever antigas fotografias, resolvi tirar a prova dos nove. Busquei por mim mesma vestígios daquela menina de quinze anos com a atual.

Em uma mão a foto antiga, amarelada pelo tempo. Parada em frente ao espelho tudo o que vi foi uma estranha, que assim como a foto trazia marcas do tempo. Apenas uma coisa aquelas duas pessoas tinham em comum... Os olhos. Não é por menos que dizem que nossos olhos são o espelho da alma.

O fato é que pela primeira vez em muitos anos enxerguei-me. Aquele rosto pareciam pertencer a outra pessoa, no fundo eu ainda era aquela menina de outrora.

A foto acabou esquecida em minha mão. Os olhos da estranha me olhavam profundamente desvendando segredos que eu achava que estavam esquecidos. Que bobagem a minha, quando acreditei por tanto tempo que era imutável ao tempo! Gozado, os anos deixaram marcas profundas em minha pele, mas não afetaram aqueles olhos.

Passou-se algum tempo e continuei olhando aquele fantasma diante de mim. Agora percebia que durante muito tempo procurara o espelho, mas apenas via o que deseja ver, não a realidade. Naquele momento surge do nada uma borboleta, bela por sinal, dessas coloridas que enfeitam o jardim, havendo uma coincidência. Logo atrás de mim havia pendurado um quadro. Não fora pintado por ninguém famoso, e a imagem era muito clara para se ter interpretações. Era simplesmente uma borboleta. Pintada de maneira tão realista que mais parecia uma que realmente estivesse pousado ali. Suas asas eram de um colorido vibrante, como o arco íris, contornado de um grafite. Nunca soube ao certo o porquê de minha fascinação por aquele quadro. Passei a mão na figura sentindo sua textura, acompanhando seu relevo. Difícil dizer quanto tempo fiquei ali, talvez minutos ou horas. Mas independente do tempo, foi o suficiente para eu entender o motivo daquela fascinação pelo o quadro. Sem perceber comparei-me com ela. Primeiro é simplesmente uma lagarta, depois se recolhe em seu casulo e quando volta para ver o sol o milagre aconteceu... É uma borboleta. Eu também apesar de que por pontos diferentes também já estive em um casulo, ou melhor, ainda estava.

Voltei àquela estranha no espelho... Ela continuava lá. Espreitando-me, como se perguntasse “E aí chegou alguma conclusão?”. Só que havia algo naquele olhar que eu não havia reparado antes, estavam risonhos.

Diante disso sorri, mostrando para aqueles notáveis olhos que compreendia e eles pareciam concordar... Somos como um saboroso vinho... quanto mais tempo tem a safra, se é melhor. Já dizia alguém: Mais vale a experiência, do que quantos aniversários se comemorou.

Adeus casulo.
G G G G G G G

Fonte:
Colaboração da Autora.

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