domingo, 16 de maio de 2010

Antonio Carlos Teixeira Pinto (Niterói em Trovas)


Eu não consigo, alvorada,
de forma alguma entendê-la:
A cada flor despertada,
ter de morrer uma estrela.

Preso o cinzel ao cotoco
de braço que lhe restava,
o grande Artista barroco
morria... enquanto criava!

Quem pelas costas me agride
não terá duras respostas,
pois meu único revide
é de novo dar-lhe as costas!

Tinha no olhar tanto brilho,
tal força nos firmes passos,
que não carregava um filho:
- levava o mundo em seus braços!...

Não pude conter o riso,
quando ouvi que um deputado
tinha o crânio ainda mais liso
que bolso de aposentado.

Depois de muitas andanças,
de percorrer tantos portos,
vou recolhendo esperanças,
para ancorar sonhos mortos!

Não posso culpar a vida,
se meu sonho se perdeu...
Mas ... como achar a saída...
se o labirinto sou eu?

De certa caça ele guarda
saudosa recordação,
pois, hoje, a sua espingarda
aponta só para o chão!

Se tu jamais foste minha,
se nunca fui teu, também,
posso ir só, que irás sozinha...
ninguém perde o que não tem!

No verão, a magricela
vai à praia e diz-se a tal...
Mesmo um "palito"... e banguela,
só usa "fio dental"!

É o outono !... A amendoeira
em breve estará despida.
- Também, de certa maneira,
vou me despindo da vida !

Não dou revide ao seu gesto,
por esta simples razão:
- pesa bem mais que o protesto
a leveza do perdão!

Mantém-te sempre disposto
para o trabalho. Aproveita,
porque o suor do teu rosto
fará crescer a colheita!

Luiz Otávio, eu me lembro...
Friburgo em maio, como era:
- jamais esperou setembro,
para entrar na primavera !

Luiz Otávio... um instante.
Em que ponto estarei certo:
- Tu não moras tão distante,
ou o céu ficou mais perto ?!

Só vendo, no dia a dia,
as discussões que forjamos...
Mas, quando volta a harmonia,
meu Deus, como nos amamos!

Que saudade da zoeira
que a criançada fazia...
Harmonia verdadeira
era aquela ... e eu não sabia!

Pode a cultura ser vasta
e, no entanto, nada ser.
Saber - por saber - não basta:
Cumpre aplicar-se o saber!

Em busca de uma paixão,
Mergulhei no mar da vida,
e hoje até minha ilusão
está desaparecida!...

Minha mãe não teve escola,
sempre a lutar, noite e dia,
mas a vida lhe deu cola
de toda a sabedoria!

Pode a cultura ser vasta
e, no entanto, nada ser.
Saber - por saber - não basta:
Cumpre aplicar-se o saber!

O saber sempre busquei,
e, nessa ingente escalada,
quanto mais pensam que eu sei,
mas eu sei que não sei nada...

Faltou-me talvez coragem,
e, por medo de chorar,
não abri sua mensagem.
- E ela queria voltar...

Em Friburgo, a natureza
Reflete, no seu perfil,
A majestosa beleza
Da Suíça, no Brasil!

A noivinha vaporosa
fita o noivo e se atordoa:
- De um pijama cor-de-rosa
não vai sair coisa boa..."

Chega o casal ao hotel ...
Em pauta - extenso programa.
E a noiva: -É lua-de-mel;
sem essa de pôr pijama!"

"- Minha vida é um livro aberto!"
diz ela, abrindo o pijama.
E o maridão, muito esperto:
- Eu adoro ler na cama!"

Ao voltar antes da hora,
acha a mulher se benzendo...
nem percebe que, lá fora,
seu pijama sai correndo!

Nossas letras iniciais,
no centro de teu coração,
também são restos mortais
de um carcomido portão!

O abandono era patente,
no abraço da solidão:
- duas voltas de corrente
num velho e tosco portão...

Era aqui! Lembro-me bem...
Ainda é o mesmo portão.
"Cuidado! Vem vindo alguém"
-E eu soltava sua mão!

Olho o portão ... vejo as horas
nem sei há quanto te espero,
ansioso - porque demoras,
sofrendo - porque te quero!

Seu adeus, naquela hora,
revelou-a para mim:
- quem quer de fato ir embora
não bate o portão assim!...

Durante o pagode inteiro,
foi aquele repeteco:
ela - agitando o pandeiro;
e eu atrás... no reco-reco!

Num pagode, ao se vingar,
Colou na sogra o lembrete:
"Se acaso o bumbo estourar,
podem baixar-me o cacete!"

Num pagode, já manhã,
a tal louraça , desnuda,
provocou: "Segura o tchan"
Ih ! Foi um deus-nos-acuda!

A velha zombou da estafa,
no pagode que houve aqui,
mas, na dança-da-garrafa,
só rebolou na UTI...

Quando o pagode abafou
a ladainha da missa,
um fiel esbravejou:
- Por Deus que eu chamo a "puliça"!

Nosso amor é um retrocesso,
pelo orgulho que nos cega:
- eu desejo... mas não peço;
ela quer... mas não se entrega.

Numerólogo incomum,
a todo instante alardeia
ser o maior "um-sete-um"
que passou pela cadeia...

O regime é semi-aberto
um modelo de prisão...
- Gente! Ali, quem for esperto,
não deixa a cadeia, não!

Cumprida a pena, o coitado,
cuja mulher é bem feia,
suplicava ao delegado:
-"Deixa eu ficar na cadeia!"

Passou na cadeia um mês...
E, com saudades da cela,
veste-se, hoje, de escocês
e pôs grade na janela.

A cadeia é moderninha,
mas, segundo o carcereiro,
se é pra ladrão de galinha,
devia ter mais poleiro.

Minha mão trêmula, erguida,
o dilema em cada face,
acenava, em despedida,
pedindo que ela voltasse!

No meu dilema componho
o temor de outros fracassos :
- Não sei se a levo no sonho,
ou se a carrego em meus braços !

Como dói estar sujeito
ao dilema que me assalta
ter que expulsar do meu peito
quem ao meu peito faz falta !

Do meu dilema sorrias,
tornando sombras em luz,
mas os braços que me abrias
eram mesmo a minha cruz!

Eu creio que ninguém vai
no meu dilema dar jeito,
pois a lágrima que cai
está vazando é do peito !

Para escolher meu caminho,
não houve dilema algum;
senti pedras, muito espinho,
mas, no amor, isso é comum!

Do seu dilema infeliz
as consequencias recolho,
que eu fui apenas um xis,
na indecisão de uma escolha !

Eis o dilema que aflora,
ante esse amor, que não nego:
sigo a razão - vou-me embora,
ou o coração - e me entrego...

Quando os sonhos são pequenos,
não resta dilema algum;
tu foste um amor a menos,
e eu fui apenas mais um.

Eu trouxe tanta saudade,
tanta saudade deixei,
que há um dilema de verdade:
será que eu vim, ou fiquei ?!

O boêmio está coberto
da mais perfeita razão:
- a saudade anda por perto,
quando escuta um violão!...

Assumo, cabeça erguida,
qualquer vitoria ou fracasso,
porque, no curso da vida,
o destino... eu mesmo traço!

Num enterro de segunda
Houve tanta confusão
que uma parte de Raimunda
foi por fora do caixão...

Aceito a tua vitória,
mas, amargando o revés,
jamais te darei a glória
de me curvar a teus pés!

Enfrentando a escuridão
eu li, à luz de lanterna,
que o beco não dava mão.
Mas... como! Dava até perna!

Fonte:
UBT Juiz de Fora/MG
Foto = Praia de Icarai, em Niterói

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