segunda-feira, 7 de junho de 2010

A. A. de Assis (A Língua da Gente) Parte 19


18. Defeitos de estilo (I)

Escritores, jornalistas, apresentadores do rádio e da televisão, políticos, professores, enfim todos os que frequentemente nos comunicamos com o público estamos sujeitos a escorregões. Na linguagem coloquial, evidentemente, podemos até bagunçar um pouco a norma chamada culta. Mas em textos formais é bom tomar cuidado. Ler, reler, emendar, cortar, reescrever, são hábitos que ajudam a evitar certos vexames – desde simples cochilos de grafia até defeitos mais importantes, como os que veremos (ou reveremos) a seguir.

CHAVÃO (chapa, clichê, estereótipo, lugar-comum, mesmice) – Ninguém escapa de perpetrar de vez em quando um chavãozinho. No entanto, vale sempre a pena buscar a originalidade. Olhos e ouvidos atentos: ao perceber que determinada expressão está sendo muito repetida em toda parte, fujamos dela. Com um pouco de criatividade, acharemos algo capaz de substituir fórmulas por demais surradas, tais como:
a bola da vez,
a céu aberto,
administrar os resultados,
agradar a gregos e troianos,
alto e bom som,
a nível de,
aparar as arestas,
a toque de caixa,
causar espécie,
calorosa recepção,
calorosa salva de palmas,
cartada decisiva,
chegar a um denominador comum,
com a voz embargada pela emoção,
com certeza,
conjugar esforços,
conquistar o seu espaço,
coroado de êxito,
corpo escultural,
correr atrás do prejuízo,
de mão beijada,
dirimir dúvidas,
em compasso de espera,
empanar o brilho,
escoriações generalizadas,
falta vontade política,
fazer a lição de casa,
fazer uma colocação,
forças vivas da sociedade,
gesto tresloucado,
honrosa visita,
ideia fantástica,
ilustre visitante,
infausto acontecimento,
inserido no contexto,
lamentável equívoco,
lauto jantar,
leque de opções,
misto de alegria e tristeza,
monstros sagrados,
na fila do gargarejo,
não é por aí,
num primeiro momento,
obra faraônica,
o conjunto da sociedade,
perda irreparável,
perdeu o bonde da história,
por ironia do destino,
por último mas não menos importante,
profundo pesar,
profundo silêncio,
rápidas pinceladas,
rigoroso inquérito,
segmentos da sociedade,
sincera homenagem,
singelo presente,
suculenta feijoada,
tecer considerações,
verdadeiro caos...


AMBIGUIDADE (anfibologia, duplo sentido, obscuridade) – Há casos até de triplo sentido, como percebemos na frase “O operário pintou o avião a jato”. Você pode entender: a) que um avião movido a jato foi pintado pelo operário; b) que o operário pintou o avião muito rapidamente (a jato); ou c) que o operário pintou o avião usando uma daquelas pistolas que soltam jatos de tinta... Veja agora esta: “Pedro beijou a mulher dele e José fez o mesmo”. José beijou a própria esposa ou beijou a mulher de Pedro?... Mais uma: “Vi a lua entre as nuvens viajando de avião”. E outras mais:
A comida ali é barata.
A população parou de crescer porque o brasileiro está comendo menos.
Roupas para mulheres usadas.
Chapéus para homens de palha.
Fogões para cozinheiras a gás que soltam fogo pelas quatro bocas.
----------------
Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010

Nenhum comentário: