sábado, 12 de junho de 2010

A. A. de Assis (A Língua da Gente) Parte 22


21. Defeitos de estilo (IV)

VERBORRAGIA (logorreia, palavras inúteis, prolixidade, tagarelice) – Uma das boas normas da etiqueta é a que nos recomenda poupar o tempo alheio. Falando ou escrevendo, é ótimo hábito concentrar no mínimo de palavras aquilo que se quer dizer.


Em vez de “aos 22 dias do mês de maio do ano de 1999, na cidade de Maringá, estado Paraná...”, basta dizer “a 22 de maio de 1999, em Maringá – PR...”


Em vez de “chefe do executivo municipal”, basta dizer “prefeito”. Em vez de “capital do estado do Paraná”, basta dizer “capital do estado”, “capital do Paraná”, ou simplesmente “Curitiba”.


Em vez de “Através do presente instrumento, venho solicitar a Vossa Senhoria a especial gentileza de remeter-me dois exemplares do livro Os lusíadas, de autoria do escritor português Luís Vaz de Camões”, é muito mais prático escrever assim: “Solicito-lhe a remessa de dois exemplares de Os lusíadas”.


Há uma piadinha que em diferentes versões costuma circular nas redações de jornais. O aprendiz de repórter apresentou este belo texto: “O ilustre e inimitável pianista foi atentamente observado e entusiasticamente aplaudido pela seleta, elegante e empolgada plateia que superlotava o amplo e confortável teatro”. O editor “enxugou” os adjetivos e outras palavras supérfluas. Veja o que sobrou: “O pianista foi entusiasticamente aplaudido”. O “entusiasticamente” foi mantido para não desestimular o rapaz...

INCOERÊNCIA – Sempre é útil reler cuidadosamente o que escrevemos. Se possível, é bom pedir também que outra pessoa confira. Um “minuto de bobeira” é bastante para deixar escapar preciosidades como estas:

* “Meu pai nasceu num ranchinho de palmito, que ele construiu com as próprias mãos.” (Construiu o rancho antes de nascer?...)

* “Tão violenta foi a seca de 1905, que o capim chegou a crescer no leito estorricado dos antigos riachos. Assolou tudo, matou tudo.” (Se a seca matou tudo, como foi que o capim cresceu?...)

* “Para que a obra seja concluída no prazo previsto, as máquinas da prefeitura têm trabalhado dia e noite, com chuva ou com sol.” (Sol de noite?...)

GÍRIA – Em textos formais, é melhor evitar. Na linguagem coloquial, respeitadas as circunstâncias, nada contra; é até simpático descontrair um pouco o vocabulário. O inconveniente da gíria é que ela, na maioria dos casos, tem vida curta, sai logo de moda. Se você abusa da gíria, por exemplo, numa crônica, corre o risco de rever o texto após alguns meses e sentir enfado. Muitas delas, que em época recente fizeram grande sucesso, estão hoje inteiramente cafonizadas. Aliás, esse próprio cafona cafonizou: em lugar dele entrou o sinônimo brega (concorrendo com o velho jeca, que vira e mexe volta à crista da onda). Tudo joia, bicho, é uma brasa, morou, o fino, são algumas das muitas gírias que chegaram no sopro do vento e que em seguida o mesmo vento levou...
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Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010

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