segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Elias Domingos (Baú de Trovas)


Quando ler um livro, atente
em o seu chapéu tirar,
pois nas páginas que sente
difícil Deus não brilhar.

Meu amigo, não lamente
a sua grande pobreza.
A Bíblia diz claramente
Que ao céu não vai a riqueza.

O seu amigo deseja
apenas perene paz;
que nossa amizade seja
laço que não se desfaz.

Eu amo a verdade franca
esta pese a quem pesar
desprezo a mentira branca
nem que seja pra aliviar...

Pesa-me ver um distinto
mendigo pedir a um nobre;
muito mais pesar eu sinto
por aquele rico pobre.

Muita gente por aí
ama somente por fora;
eu tenho um amor aqui
que por dentro me devora.

Numa virgínia mangueira,
com mimo, gravei teu nome.
Hoje, cinzas de fogueira
que em mim este amor consome.

No picadeiro da idéia,
vê-se o circo da ilusão,
aplaudindo-o a platéia
com figura de bufão.

Prazer, sensação sublime,
mais doce que os doces pomos;
vezes nos leva ao inferno
e pensamos que ao céu fomos.

A felicidade é tal
como a fruta que na messe
não é ceifada inicial
e cai e logo apodrece.

Compreende bem, meu amigo,
que tens bastante amargura,
lembra porém o que digo:
do amargo sai boa cura.

Vejo em teus lábios agora
o mar bravio, dominante,
lançando o mal para fora
como se fosse purgante

Zombas sempre desta gente
de aspecto decepcionante;
algum às vezes na mente
esconde o gênio de Dante.

Após a grande procela
de minha forte descrença,
aportei meu barco à vela
ao porto da velha crença.

Dizem que a noite é tristeza
e que o dia é alegria,
porém por diversas vezes
preferi a noite ao dia.

Fui ao banheiro da vida
tirar o pó do passado,
mas encontrei nesta lida
fortes manchas do pecado.

Muito mais do que a arca antiga
meu coração de amor forte
encerrou-te, cara amiga,
não te solta nem na morte.

Ao seres de fato amante,
ainda que sejas bravo,
pois o amor é dominante
tal como o senhor do escravo.

Vários caminhos da vida
eu trilhei com satanás
sem saber, nesta investida
que havia o do Rei da Paz.

Não concordes com aquele
que se arvora em protetor
da doutrina própria dele
por mais sábio que ele for.

Esta flor tão branca e bela
que expõe no traje social
contrasta a pureza dela
com certo cheiro letal.

Eu não sei se sois sombreiros,
ou árvores singulares,
só sei que sois os pinheiros
que cativam meus olhares

Fonte:
ANDRADE, Lairton Trovão de Andrade. Trovas de Elias Domingos. Portal CEN, 2007.

Nenhum comentário: