sábado, 28 de agosto de 2010

Orlando Brito: Uma Eterna Saudade


(artigo de José Valdez de Castro Moura, para a Tribuna do Norte, seção Cultura e Lazer)

Orlando Brito, um dos maiores trovadores do Brasil, que teve marcante atuação intelectual na década de 70 aqui em Pindamonhangaba, um mestre na arte de trova, já não está entre nós. Faleceu na madrugada do dia 21 de agosto em São Luiz do Maranhão. Publicou vários livros de trovas e poesias, entretanto, um dos livros de poesias mais elogiados no meio literário nos últimos anos é uma bela obra de sua autoria, obra marcada pelo lirismo, pelo uso da linguagem simples e correta e, sobretudo, pela inspiração dos temas cujo título é "Sonetos".

A poesia de Orlando Brito caracteriza-se, acima de tudo, por um profundo humanismo, no conteúdo e na forma, e por uma simplicidade impressionante. Ele é o artista ciente e consciente das virtualidades expressivas de seu instrumental: o verso espontâneo e o idioma pátrio, mostrando o mundo com o poder sintético das imagens, metáforas, onde o intimismo, a ternura, o amor e a nostalgia dos entes familiares e amigos queridos constituem os "leit - motivos" do seu mundo poético. E, é o que apreciamos nesse soneto simples e magistral:

MINHA MÃE

Minha mãe era quase analfabeta,
quase nada sabia de leituras,
mas tinha o instinto dessas almas puras
que sabe, entre as ações, a mais correta.

Criou dez filhos, boas criaturas,
fiéis a Deus, de educação seleta.
Sabia ser valente ou ser discreta
nos momentos de dor, nas horas duras.

Os filhos, todos eles são felizes,
pois ela, não deixando coisa alguma,
deixou, com seu exemplo, as diretrizes.

Uns herdaram seus olhos, outro, a calma,
outro, seu jeito simples, mas, em suma,
fui o mais bem- dotado- herdei-lhe a alma!

Como verdadeiro Poeta, Orlando Brito tinha consciência de que toda poesia é um ato de assombro que conduz às paragens da filosofia, espantando-se ante as belezas do universo e aterrorizando-se perante o sofrimento humano. Assim, estabelecendo a dialética: emoção diante da beleza e indignação ao conscientizar-se da dor humana, constrói o seu ato poético, conduzindo-o à altura do ato filosófico. E, o nosso poeta Orlando mostra isso, muito bem, nos sonetos : "A Última Árvore ", "A Voz da Terra" e "O Rio ". Por outro lado, os objetos que o impressionam são comuns: as gaiolas, as pombas, os amigos que foi encontrando ao longo do caminho, a montanha...

As sensações que o fazem pulsar são, portanto, as do cotidiano: "o vento que passa", o "palhaço" que, no seu desejo," abra, a quem chora, a porta da esperança, e não permita que a maldade apague o sorriso nos lábios de uma criança".
Em uma análise sucinta, vamos desvelar um poeta em que o poema é a consubstanciação perfeita entre o viver e o cantar (como me confessou, certa vez, outro grande poeta, o Mestre da Trova: Waldir Neves, nosso amigo fraterno) entre sofrer vivendo e sofrer cantando.

O nosso estimado Orlando Brito teve o talento e o gênio dos grandes poetas líricos, que apresentam resistência à passagem do tempo, possuindo domínio da forma e, ao mesmo tempo, trazendo consigo uma fantástica agilidade criadora que lhe dão amplas condições de passar de um estado a outro, de uma inspiração a outra, sem afundar nos lugares comuns.

Platão, no Fedro, assim se referiu ao êxtase vivenciado pelos Aedos, poetas da antiga Grécia: "A possessão e o delírio das musas apoderam-se de uma alma sensível, despertam-na e extasiam-na em cantos". É o que acontecia com o inesquecível Orlando Brito. Para deleite nosso e para o maior enriquecimento da poesia Brasileira!

Orlando Brito foi cantar nas paragens celestiais levando consigo as flores da nossa admiração e da nossa eterna saudade.Com a sua partida o mundo,com certeza, ficou mais pobre.

Fonte:
http://www.tribunadonorte.net/noticias.asp?id=6096&cod=4&edi=128

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