quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Neusa Padovani Martins (Dormi!!!)


Recordo-me de minha deliciosa infância no sítio de minha família. As variadas plantações de tudo um pouco me levavam a andar muito por todo o imenso terreno. Num determinado momento lá estava eu no meio do canavial, depois corria entre os pés de laranjas-lima, outra hora estava entre carreiras sem fim dos pés de feijão. Mas o dia mais lembrado por mim é aquele em que cansada adormeci entre os tantos pés de abóboras.

Foi assim que aconteceu: eu cansada de tanto andar resolvi, sem mais nem menos, que já era hora de relaxar. Deitei-me então e adormeci olhando para o imenso céu azul, protegida pela cerca viva de cipestres que faziam sombra em mim. Passado o tempo, nem sei quanto na verdade, ouvi ao longe a voz de meu irmão, nascido antes de mim alguns anos atrás. Rapazinho peralta, era meu amado companheiro de loucas aventuras. Junto ao chamado dele eu ouvi também a voz do nosso caseiro. Ambos aparentavam certa aflição ao gritarem meu nome. Ainda sonada levantei-me cambaleante e em poucos instantes ambos acercavam-se de mim querendo saber o que havia me acontecido. – Dormi ! - respondi eu.

Naquela noite, meu pai me aconselhou, assustando-me, dizendo-me que por aqueles pés de abóbora moravam algumas cobras venenosas. Não se faz necessário que eu diga que nunca mais andei por lá. Mas em alguns outros lugares sim, sempre calçada com imensas galochas de borracha que minha mãe me obrigou a usar, dizendo-me sempre que se sentisse sono deveria voltar correndo para a casa grande para me deitar. Conselho que segui a risco.

Numa destas vezes de sono intenso, não tive dúvidas do que deveria fazer. Corri de volta para a casa grande e depois de lavar bem as mãozinhas minúsculas, pegar minha amada chupeta e meu querido travesseirinho, entrei num dos vários quartos da casa, fechei muito bem a janela, já que sempre gostei de dormir no escuro, fechei a porta com a chave e me acomodei naquela imensa e deliciosa cama macia. Não avisei a ninguém que estaria ali. Apenas deitei-me e adormeci.

Apesar do pesado janelão estar fechado, a luz do sol da tarde teimava em entrar pelas frestas existentes. Elas me incomodavam um pouco porque sempre gostei do escuro, mas tratei de virar-me de frente para a parede para não ver a luz do sol. Pela pesada e imensa porta nada passava porque não havia nenhum rastro de sol por ali. Adormeci rapidamente sem precisar sequer pensar em carneirinhos, como gostava de fazer por pura diversão.

Não sei precisar que horas seriam. Ouvi gritos pela casa e passos de várias pessoas pelo imenso salão que comportava todas as portas do tantos quartos existentes ali. Minha mãe dizia sem parar que uma cobra poderia tê-“la “ mordido e “ela” estaria caída pelas plantações. Ou então “ela” poderia ter escorregado na encosta do ribeirão e a estas horas já deveria ter descido rio abaixo. Ou então “ela” estaria perdida na parte de trás do sítio que ainda não havia sido explorado. Minha mãe só dizia coisas ruins para a tal “ela” que eu não sabia precisar quem seria tal criatura que corria tão grande risco de vida assim.

Ouvi meu pai discutindo com minha mãe sobre o fato dela ter deixado que “ela” andasse sozinha por ali. Queria saber onde minha mãe estava que nada viu. Minha mãe deveria estar desconcertada com o vozeirão nervoso de meu pai que falava rápido na frente de outras pessoas que ali se encontravam, embora eu não soubesse quem eram afinal. Ouvi-a dizer que estava na casa de D. Maria, nossa caseira, aprendendo a bordar.

Olhei para a imensa janela daquele quarto e não vi mais a luz do sol espreitando o ambiente. Mas das frestas da porta enorme vi uma luz me espiando e pensei de onde será que ela estaria vindo afinal. Naqueles dias eu não tinha mais do que sete anos. Menos, talvez. Tampouco conseguia armar em meu pensamento um raciocínio simples que me informasse que o sol se fora e as luzes do salão haviam sido acesas. Eu simplesmente continuava sonada, ainda com vontade de dormir mais.

Até que de repente entendi que estavam me procurando; era a mim que queriam saber o paradeiro. Meu irmão então, meu amado companheiro de brincadeiras teve a intuição de gritar meu nome pela casa várias vezes: - Neguinha, Neguinha... onde você está? E assim foi que apressada levantei-me da cama e me dirigi à porta tentando abri-la e para minha surpresa a chave estava presa. Assustada gritei para meu pai por socorro. A gritaria que se seguiu me deixou apavorada e ouvi então batidas fortes na porta que insistia em pemanecer fechada.

Meu pai então me disse para tentar virar a chave novamente e o obedeci. Então não se sabe como a porta se abriu e eu finalmente saí para a sala. Olhei então para todos aqueles rostos incrédulos que pareciam querer me devorar para depois então mostrarem imenso alívio. Meu irmão feliz correu antes de todos para me abraçar, perguntando-me alegre o que foi que aconteceu. Ainda sonada, respondi-lhe assustada : - Eu dormi !

Não sei qual era meu problema, nem mesmo se eu tinha algum, a verdade é que eu dormia demais e sempre nas mais adversas situações. Como naquela vez em que estávamos meus dois primos, meu irmão, a filha do caseiro e eu brincando de esconde-esconde pela imensa casa. Corríamos pra lá e pra cá sem parar, escondendo-nos e encontarndo-nos. Até que num determinado momento escondida debaixo de uma das imensas camas de um dos quartos, vi-me cansada e com sono. Enfiei então minha mãozinha no bolso do meu macacão e peguei minha adorada chupeta e a coloquei na boca sugando-a sem parar, como se pudesse ali me enroscar no ventre de minha amada mãe. Nem preciso contar que adormeci de imediato só indo acordar quando os gritos do meu irmão e do meu pai ecoaram pelo casarão me fazendo acordar.

Com a maior cara de pau saí debaixo da cama e dei-me com meu pai com cara de poucos amigos esperando minha explicação. Sem ter o que explicar para aquele pai enfezado respondi simplesmente a verdade :- Dormi!

Fonte:
Portal Vânia Diniz

Gustavo Dourado (Cordel para Fernando Pessoa)

Pintura de João Beja
Pessoa enigmático:
No dia 13 nasceu...
Lisboa, mês de junho:
Sua mãe o concebeu...
Ano 1888:
O fato assim se deu...

Pessoa heteronímico:
Em Lisboa renasceu...
Ano 1888:
O fato assim sucedeu...
Fernando Antônio Nogueira Pessoa:
Germinou e floresceu...

Fernando Pessoa é:
Poeta-mor de Portugal...
A 13 de julho fluiu:
É poeta magistral...
Poeta que frui magia:
Vate quintessencial...

Na terra dos navegantes:
Registrou-se o surgimento...
De um dos maiores poetas:
Que se tem conhecimento...
O grande Fernando Pessoa:
Vanguarda do pensamento...

Na Igreja dos Mártires:
Foi Fernando, batizado...
No dia 21 de julho:
O vate foi consagrado...
Dentro do Cristianismo:
Logo foi Iniciado...

Joaquim e Maria Magdalena:
Foram os seus genitores...
Fernando ainda menino:
Padeceu algumas dores...
Aos cinco anos de idade:
Conheceu os dissabores...

Joaquim Seabra Pessoa:
Era o nome do seu pai...
Ano 1893:
O genitor se esvai...
Foi visitar outras plagas:
Chega o dia a alma vai...

Fernando Pessoa, infante:
Perde o seu pai Joaquim...
A tristeza o atormenta:
Parece que é o fim...
O Chevalier de Pás:
Heteronímia, enfim...

Foi-se o pai de Pessoa:
E deixou muita saudade...
O poeta bem criança:
Deus asas à liberdade...
O Chevalier de Pás:
A sua alma invade...

A mãe Maria Magdalena:
Contrai novo casamento...
Une-se a João Miguel Rosa:
Renova o sentimento...
Vai residir em Durban:
É a vida em movimento...

Ao sete anos Pessoa:
O Atlântico navegou...
Vai para a África do Sul:
Um novo tempo começou...
Contato com a língua inglesa:
O poeta se transfigurou...

Depois da morte de Joaquim:
A mãe casou novamente...
Durban na África do Sul:
O poeta segue em frente...
Estudos e poesia:
Literatura na mente...

Ano 1895:
Flui o poeta ligeiro...
Para a sua amada mãe:
Faz o seu verso primeiro...
A poesia jorra nalma:
De um poeta verdadeiro...

Era 26 de julho:
Poeta na dianteira...
A poesia de Pessoa:
Tranbordou-se por inteira...
Ofereceu a sua mãe:
Dona Maria Nogueira...

"À minha querida mamã":
É sua poesia primeira...
Escrita em forma de quadra:
Inspiração verdadeira...
Pessoa tornou-se vate:
Deu início à carreira...

Convento de West Street:
E depois na High School...
A Universidade do Cabo:
Numinoso como um sol...
Prêmio Rainha Vitória:
Uma conquista de escol...

Cursa o Secundário:
Desperta o escritor...
Na Universidade do Cabo:
Desvela novo pendor...
Tem poesia na alma:
Essência de criador...

Por muitos influenciado:
Camões, Shakespeare e Byron...
Baudelaire, Homero, Keats:
Mallarmé, Goethe e Milton...
Dante, Shelley, Poe e Pope:
Cesário Verde e Tennyson...

Poetas de língua inglesa:
Pessoa bastante leu...
Poe, MIlton, Byron, Shelley:
Pesquisou, leu e releu...
Retornou a Portugal:
Um novo homem nasceu...

No Curso Superior de Letras:
Pessoa é matriculado...
Por pouco tempo estuda:
Na carreira de letrado...
Dexou o curso no começo:
Tendo-o abandonado...

Disseca os bons sermões:
Do Padre Antônio Vieira...
Jesuíta erudito:
Sapiência brasileira...
Que viveu na Boa Terra:
Quase a sua vida inteira...

Depois de estudar Vieira:
Cesário Verde buscou...
Adentrou em sua obra:
Muito leu e pesquisou...
Foi grande a influência:
Que Cesário lhe passou...

Tradutor de cartas comerciais:
Dáva-lhe vital sustento...
Em cafés, na boemia:
Extravasava o talento...
No Brasileira do Chiado:
Revelava o pensamento...

Ano 1912:
Mário de Sá-Carneiro...
Conhecimento, amizade:
Criação o dia inteiro...
Elo da Literatura:
Luminoso candeeiro...

Grande amizade com Mário:
Diálogo e poesia...
Revista Orpheu e luzes:
Transcendência e magia...
Mário, Almada e Luís:
Além da Ontologia...

Revista Orpheu, um marco:
Modernismo em Portugal....
Crítica e admiração:
No ambiente cultural...
Antinous and 35 Sonnets:
Em inglês bem literal...

Anos de obscuridade:
Ocultismo e magia...
Revistas, poemas, ensaios:
Estudos de astrologia...
Cabala, esoterismo:
Quintessência dalchemia...

O Guardador de Rebanhos:
Versos de Alberto Caeiro...
Álvaro de Campos criou:
Um universo inteiro...
Ricardo Reis na poesia:
Foi farol e candeeiro...

Cria Bernardo Soares,
O Livro do Desassossego...
Pessoa sempre desperto:
Poesia...o seu emprego
Criou vários heterônimos:
O verso era seu apego...

Caeiro sem misticismo:
Tinha lógica, coerência...
De expressão natural:
Simplicidade na essência...
Um poeta camponês:
Em busca da consciência...

Ricardo Reis erudito:
Era semi-helenista...
Valores tradicionais:
Jesuíta, latinista...
Do Porto para o Brasil:
Médico...Mitologista...

Álvaro de Campos de Tavira:
Foi poeta simbolista...
Estudou engenharia:
Fez poética futurista...
Viviu a desilusão:
Amargura, pessimista...

Pessoa no Cancioneiro:
Auto psico grafia...
Métrica, Rima, Lírica:
Fluente simbologia...
Mensagem do pensamento:
Sentimento da poesia...

A mensagem de Pessoa:
Saudade e Messianismo...
A missão de Portugal:
Poesia e misticismo...
TerraMar e Quinto Império:
Língua...Sebastianismo...

Ano 1934:
Surge o livro Mensagem...
Com dinheiro emprestado:
Sobrevivia à margem...
Prêmio Antero de Quental:
Revelou-se a linguagem...

Mensagem em português:
Flui sebastianismo...
Epopéia portuguesa:
Místico nacionalismo...
Mar português:Brasão
Encoberto messianismo...

Mistérios em sua obra:
In.coerência...Ilusão...
Sonhos e passividade...
Dúvida e hesitação...
Temor do Dês.conhecido:
A busca da trans.mutação...

Ano 1935:
A morte o arrebatou...
Cirrose hepática letal:
O poeta nos deixou...
Foi-se para o além-mundo:
Bela Mensagem ficou...

Fernando Pessoa não teve:
Em vida o reconhecimento....
Nos trouxe a modernidade:
E a luz do pensamento...
Dois livros publicados, vivo:
Pouco, para o seu talento...

O sistema é tirano:
Não gosta de poesia...
Ultraja, mata, oprime:
Reprime a rebeldia:
Só quer saber de dinheiro:
De lucro e de mais valia...

Fernando Pessoa, múltiplo:
Poeta da heteronímia...
Plural personalidade:
Metafórica metonímia...
Muitos nele habitava:
Para além da pantonímia...

Alberto Ricardo Álvaro Bernardo:
Fernando Antônio conhecido...
Pessoa poeta do Ser:
É bom tê-lo sempre lido...
"Saudação a Walt Whitman":
Naarca do desconhecido...

Ode de Coelho Pacheco
"Para Além Doutro Oceano",
Antônio Mora, pagão:
Malouco...Um tanto insano...
No manicômio de Cascais:
Um delírio sobrehumano...

Pluralidade em Pessoa:
Mágica diversidade...
Paganismo...Astrologia:
Panacéia...Novidade...
Poiesis...Cosmologia:
Ás da multiplicidade...

Até um Barão de Teive:
Há na obra pessoana...
Mitos e cosmovisão:
Sob a máscara humana...
Signos da natureza:
Imaginação...Persona...

Objeto psicanalítico:
Metafísica...Quintessência...
Antíteses e Alchemia:
Graal da clarividência:
Onipresença do Ser:
Luzes da onisciência...

Fingir...Teatralizar:
Dramatizar a poesia...
Inexistir...Encadear:
A verve da fantasia...
"Bicarbonato de Soda:
Ecos da philosofia...

Atlântico...Tejo...Portugal:
Mar revolto...Calmaria...
Para além do Bojador:
Navega-a-dor da poesia...
Pessoa transborda o verso:
Autopsicografia...

Pessoa eternizou-se:
É patrimônio mundial...
Poesia de infinitude
Luminar de Portugal...
Navegador do Ser:
Poeta universal...

Fonte:
Portal Vânia Diniz

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 6)

Trova Potiguar Mais do que fadas e mitos, num cenário encantador, tenho sonhos tão bonitos, que viram lendas de amor! JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN Uma Trova Premiada 2010 > Curitiba/PR Tema > PIJAMA > M/H Celular ao pé do ouvido, nem ouve se alguém o chama, de tal modo distraído... vai trabalhar de pijama! VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR Uma Trova de Ademar Os devaneios sem fim e felizes que eu vivo a esmo são produzidos por mim para enganar a mim mesmo... ADEMAR MACEDO/RN ...E Suas Trovas Ficaram Nós somos tão um do outro, que fico, às vezes, pensando que em nossos abraços loucos sou eu que estou me abraçando! ADRIANO CARLOS/RJ Uma Poesia livre Lúcia Helena Pereira/RN DÓI Dói bem dentro de mim Uma ausência querida De um calor já distante Afagos negados E sussurros. Dói bem dentro de mim Essa dor tão pungente Reabrindo feridas Machucando pancadas E magoando esperanças. Dói bem dentro de mim Esse grito calado Despertando angústias E medos sem fim. Dói bem dentro de mim Essa dor excitante Gestos contidos Mãos que se omitem Às carícias completas De um amor tão complexo! Estrofe do Dia Quero o tempo de menino Eu, fazendeiro afamado, Tinha o rebanho formado Pelos bois de Vitalino. A calça boca de sino Pelo São João, mamãe fez Eu parecia um francês Mesmo todo amatutado. Quero voltar ao passado Pra ser criança outra vez. WELLINGTON VICENTE/PE Soneto do Dia Francisco Macedo/RN MINHA LUA DE MEL. Soberana no céu, ela flutua, inspirando o poeta em seu clarão... - se “Nova”, ele a vê com o coração, - se “Cheia” o meu amor, se perpetua! Seja “Quarto Minguante”, minha Lua, seja “Quarto Crescente”, de paixão! Minha Lua que vai à imensidão, conduz este poeta pela rua. A Lua poetisa, tão mulher! Se apodera de mim, sempre que quer... Aceito na maior cumplicidade! Contemplando teu céu, te vejo calma, deixo nascer os versos dentro d’alma. - Nossa Lua de Mel... Felicidade! Fonte: O Autor

José Feldman (Simplesmente Sentindo)


Quando sentir o vento tocar seus ouvidos,
sou eu
sussurrando o meu amor por você.

Quando sentir as gotas da chuva sobre seu rosto,
são as minhas lágrimas
que te encharcam com meu amor.

Quando sentir o calor de um dia de verão,
imagine que é o meu corpo
te abraçando e
te dando o calor de meu coração.

Quando olhar pela janela de seu quarto e vir as estrelas piscando,
são meus olhos
que piscam aos milhares
as palavras
“Eu te amo!”

Quando passear pelo parque e vir uma árvore,
abrace-a e feche os olhos,
estará abraçando a mim,
meu corpo, meu coração
junto a si.

E se olhar para o alto desta árvore
ouça o farfalhar das folhas
É minha voz dizendo:
Eu sou teu para todo o sempre,
Volta para mim!

Fonte da Imagem =

Ana Paula Maia e Paulo Sandrini (O Futuro do Mercado Editorial)



Ana Paula Maia (1977)

Nasceu em 1977, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Publicou seu primeiro romance, O habitante das falhas subterrâneas, aos 26 anos (2003) pela 7 Letras, editora que sempre deu espaço para jovens escritores. Depois investiu no universo que já domina, o da internet, e lançou Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos (aqui), em 2006, que agora em 2009 saiu impresso pela editora Record.

Com uma prosa que procura escrutinar a violência social, Ana Paula vem conquistando espaço no meio literário. Está em algumas antologias de novos talentos da ficção brasileira, entre elas 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira / organização Luiz Rufatto (editora Record, 2004); Todas as guerras - Volume 1 (Tempos modernos) / Org. Nelson de Oliveira – (editora Bertrand Brasil, 2009); 90-00 - Cuentos brasileños contemporáneos / org. Nelson de Oliveira e Maria Alzira Brum – (Peru) - 2009
Seu blog é: http://www.killing-travis.blogspot.com/

Paulo Sandrini (1971)

Paulo Sandrini nasceu em março de 1971, em Vera Cruz, São Paulo. Vive em Curitiba desde 1994. É Designer gráfico, mestre e doutorando em Estudos Literários [UFPR], autor de O estranho hábito de dormir em pé [2003], Códice d’incríveis objetos & histórias de lebensraum [2005], ambos de contos, e Osculum obscenum [2008], novela. Participou das coletâneas Contos cruéis, as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea [2006], 15 cuentos brasileros/15 contos brasileiros [Argentina, 2007], 90-00 Cuentos brasileños contemporáneos [Peru, 2009] e Futuro Presente [2009]. Ministrante de oficinas de criação literária desde 2007. Editor da Kafka Edições. Mantém o blog http://paulosandrini.blogspot.com/.

Vicência Jaguaribe (Lançamento de Dois Livros: infantil e adulto)


BRINCANDO NO RITMO DA POESIA

Vicência Jaguaribe publica pela Editora Protexto (Curitiba) livro de poemas infantis, intitulado Brincando no ritmo da poesia. A obra reúne 33 poemas que misturam a realidade atual com as recordações de tempos idos. A autora revisita a fábula A Cigarra e a Formiga; brinca com os sons e o ritmo em A menina na roda; leva as crianças a penetrar Na terra do faz-de-conta; conta a história do galo Faraó, em Cocoricócócócócócó!!! ; solta Os meninos na chuva e liberta o pássaro prisioneiro, em O passarinho foi embora:

O passarinho foi embora

O passarinho acordou
Quando o galo cantou.
Esticou as asas
E também bocejou.
Soltou um trinado
Para a dona da casa.
Mas como haviam deixado
Aberta a gaiola
O passarinho frajola
Disse addio!
Good-bye!
Adiós!
Adieu!
Adeus! Mariolas,
Estou indo embora.

O livro é bem ilustrado, diverte e sensibiliza. Preço: R$30,00.
Contato com a autora: vmjaguaribe@netbandalarga.com.br
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ANCORAGEM EM PORTO ABERTO

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Ancoragem em porto aberto é um livro de contos (adultos), da contista Vicência Jaguaribe, publicado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores. São 36 pequenas narrativas que resgatam lembranças e histórias ouvidas, fatos dos tempos passados e dos tempos atuais. Mas a invenção recobre o espectro do real, de modo que os contos, como toda obra de ficção, não podem ser tomados como a representação do real empírico. O título do livro remete à ideia de que a vida não é um porto seguro, e viver implica ficar à mercê das intempéries — dos ventos e das marés. Afinal, a vida é a protagonista subjacente a todas as histórias.

Preço: R$25,00.
Contato com a autora: vmjaguaribe@netbandalarga.com.br

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

José Feldman (Descoberta)


Hoje eu descobri que ser uma pessoa boa não é um dom, mas uma maldição.

Hoje eu descobri que não importa o quanto você queira se dar a alguém, este alguém tem medo desse dar, e foge.

Hoje eu descobri que a felicidade só é perfeita quando somos dois, pensando como um só, mas as pessoas tem medo de repartir.

Hoje eu descobri que não importa que existam milhões de momentos felizes, se houver um que provoque mágoa, ele é muito maior que estes milhões.

Hoje eu descobri que contos de fadas, são apenas contos de fadas, e o “foram felizes para sempre” só existe em livros, pura ficção.

Hoje eu senti o que é você obter glórias além de seus sonhos, e não ter com quem dividir.

Hoje eu descobri que estas glórias são apenas grãos de areia que o vento espalha, e se perdem no ar.

Hoje eu descobri que quando um coração se parte, ele sangra sem parar.

Hoje eu descobri que um novo amanhecer tão lindamente cantado não existe, e dias e noites são um só.

Hoje eu descobri que a bondade não leva a nada e nem traz nada, somente dor.

Hoje eu descobri que quando se ama, não importa o sacrifício que se faça, sempre poderá haver uma segunda chance. O amor é se dar.

Hoje eu descobri que a amei e o amor é tão presente hoje como quando eu a amei pela primeira vez.

Hoje eu descobri que a felicidade é ilusão, quando se está sozinho e não se tem com quem dividir.

Hoje eu descobri que as pessoas vêm e vão, e a única coisa que é fiel a vida inteira é a dor, é a saudade, é o sofrimento.

Gislaine Canales (Livro de Trovas)


A minha vida é uma Trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a Trova da vida!

A minha vida é um romance,
pois sonhando sou feliz...
Eu deixo que o vento trance
os sonhos que eu sempre quis!

A mistura de mil cores
e toda a luz do universo,
mais o perfume das flores,
desejo pôr no meu verso!

A noite recebe a tarde
num momento de magia...
No pôr-do-sol, o céu arde
e tudo vira poesia!

A paz mundial é utopia
dizem uns...Não é verdade,
se buscarmos na Poesia
as armas da Humanidade!

A saudade da saudade,
varreu, de mim, a alegria,
levando a felicidade
que eu pensava que existia!

As eternas madrugadas
me encontram sempre a chorar.
A vida, cheia de nadas,
não me deixa mais sonhar!

A vida é renovação,
(é amor, é sonho e alegria),
é feita só de emoção,
recomeça a cada dia!

Cada livro é uma vitória
na memória de um País,
pois nos diz de sua glória
e é, da história, a geratriz!

Canto as estrelas nos versos,
com minha alma apaixonada...
Vou acendendo Universos...
"Criando luzes...do nada!"

É contrastante a ironia,
nesta verdade contida:
lindo o entardecer do dia,
triste o entardecer da vida!

É de ternura o momento
em que o Sol sorri do espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!

Em meu coração alterno
as estações...todo o dia,
tornando, assim, meu inverno,
lindo verão de poesia!

"Enganam-se os ditadores"
que pensam poder tirar
do mundo, nós, trovadores
e o nosso jeito de amar!

Era noite e a escuridão
pensou que raiava o dia,
ao sentir com emoção
a luz da tua poesia!

Eu prossigo o meu caminho,
procurando um grande amor,
que me envolva com carinho
e me aqueça com calor!

Eu quero poder cantar
meus versos aos quatro cantos,
talvez possa transformar
em risos, todos os prantos.

Eu tenho um sonho bonito:
Caminhar por sobre as águas
e ao chegar ao infinito,
esquecer todas as mágoas!

Hoje estou triste, alquebrada,
sem amor, sem alegria,
mas prossigo a caminhada...
Amanhã é um novo dia!

Lutemos pela conquista
da paz mundial no universo,
numa guerra pacifista,
usando as armas do verso!

Me envolve com mil abraços,
com mil beijos de afeição,
esse mar, de doces braços
com seus lábios de paixão!

Meu interior é risonho,
e posso a todos dizer
"que trago um mundo de sonho"
no meu modo de viver!

Meus lábios apaixonados
bebem o orvalho dos teus,
desses teus lábios molhados,
que sonham com os lábios meus!

Meu verso é meu companheiro
no cenário da ilusão
e o universo, imenso, inteiro,
se torna pequeno, então!

Não lembro de ti, passado,
pois, consegui te esquecer,
agora, só tenho ao lado
os sonhos que vou viver!

Nosso romance de amor
começou bem diferente...
Foi nosso Computador
que aproximou mais a gente!

Nosso romance virtual
é tão doce e verdadeiro
que se torna o mais real
romance, do mundo inteiro!

Novo tempo, nova história,
nova era, novo amor!
Antiga, só a memória
que, aos poucos, perde o valor!

Numa oração, com carinho,
eu peço a SAN VALENTIN:
Coloque no meu caminho
um amor real pra mim!

Nunca mais fiquei sozinha,
pois na Internet eu namoro,
e essa solidão que eu tinha
não mora mais onde eu moro!

O amor é pura magia
e a ternura da emoção
traduz-se nessa alegria
plantada no coração!

O mar é o mais doce amante
pois não cansa de beijar,
num lirismo alucinante,
toda a praia que encontrar!

O prazo que nós tivemos
para o nosso amor viver,
foi pouco. Nos esquecemos
antes do prazo vencer!

O sol dourado se espraia
tão lindo.com seu calor,
por toda a areia da praia
em doces beijos de amor!

Quando existe amor sincero
é forte a emoção que traz,
e ele mostrará, austero,
a grande força da paz!

Que a paz mundial, que sonhamos,
não seja mera utopia...
Para alcançá-la, vivamos
com muito amor cada dia!

Quero cantar pelo espaço
e, nas estrelas, rever
todas as trovas que eu faço.
Trova é prece em meu viver!

Realizando utopias
meu coração quer amar,
no crepúsculo dos dias
da minha vida a findar!

Sendo a vida embriagante
devemos vivê-la bem.
"Há sempre um mágico instante,"
há sempre um mágico alguém!

Sinto as mãos da solidão
num carinho de verdade,
trazendo ao meu coração,
das tuas mãos, a saudade!

"Somos os dois um só mundo",
somos um só, na verdade,
e esse nosso amor profundo,
é mais que amor, é amizade!

Sou feliz ao relembrar
que realizei meu desejo...
Como foi bom te beijar!
Como foi bom o teu beijo!

Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!

Sozinhas nas madrugadas,
donas do mundo e da lua,
nossas mãos entrelaçadas
seguem juntas pela rua!

"Teu beijo pela Internet"
traz amor, traz alegria,
é sempre a melhor manchete
acarinhando o meu dia!

"Tua idade não importa,"
se feliz quiseres ser,
pois ao amor, não comporta
ter idade pra nascer!

Tudo é tão encantador,
nosso amor é tão bonito,
"que, em cada noite de amor"
ultrapasso o infinito!

Um mundo melhor...queria,
para deixar aos meus netos,
onde imperasse a alegria
numa transfusão de afetos!

Vem amor, vamos embora,
de mãos dadas pelo mundo,
"vamos viver vida afora,"
esse nosso amor profundo!

Vivemos juntos, mas sós,
nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!

Vou vivendo meus agoras,
entre sonhos e utopias,
vou transformando em auroras
"as minhas noites vazias."

Fonte:
http://gislainecanales.com.br/trovas.html

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 5)


Trova do Dia

Não te peço, Deus amigo,
igual multiplicação:
basta o milagre do trigo,
que a gente o transforma em pão!
ARLINDO TADEU HAGEN/MG

Trova Potiguar

Poeta, não perca o encanto,
que o seu verso, noite e dia,
guarda o riso sobre o manto
da mais singela alegria!
MARA MELINNI/RN

Uma Trova Premiada

Quem quer fugir de um suplício
e, no abismo, não se joga,
diz NÃO à droga do vício
que torna a vida uma droga!
MARIA NASCIMENTO/RJ

Uma Trova de Ademar

A chuva é para o sertão
como se fosse um troféu.
Deus abre com um trovão
a caixa d’água do céu!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Com o sonho e a fantasia
levar a vida normal,
nem chega a ser utopia,
para o poeta é normal
MIGUEL RUSSOWSKY/SC

Uma Poesia livre

Jania Souza/RN
AMOR PERDIÇÃO.

Minh’alma em fogaréu
é um grito de amor
eco em meus fartos seios
úmidos de pranto clamor.
Só calo meu desvario
no céu que é tua boca
unção à minha perdição.

Estrofe do Dia

No ano de estiagem
O sol é incandescente
Não tem torres no nascente
Chuva parece miragem.
Na época da invernagem
Quando se ouve um trovão
Parece anunciação
Dessas que ninguém aceita,
Um arco íris se deita
Na paisagem do sertão.
DAMIÃO METAMORFOSE/RN

Soneto do Dia

Gilson Faustino Maia/RJ
MADRUGADA.

Naquela inesquecível madrugada,
quando o amor era rima principal
de um poema envolvente, sensual,
escrito a dois na sala envidraçada,

a lua espionava enciumada,
a cena de um fascínio sem igual.
Não era apenas um amor carnal,
também de uma ternura inusitada.

As rendas cor da paz daquela blusa
as minhas mãos tentavam afastar
dos frutos da paixão que a minha musa

queria, a contra gosto, resguardar.
E eu via em seu olhar, não a recusa,
mas um desejo enorme de se dar.

Fonte:
O Autor

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Trova 176 - José Feldman (PR)

Nei Garcez (Livro de Trovas)

Abarcar a transcendência
entre Deus e a Criação,
mesmo com toda ciência,
foge à nossa compreensão.

Amizades que são boas,
e atitudes tão singelas,
é gostarmos das pessoas
bem assim como são elas.

A nossa fisionomia
revelada no facial,
de tristeza ou de alegria,
é um idioma universal!

As pessoas nunca morrem,
simplesmente elas encantam,
vivem sempre, e nos socorrem
com as obras que aqui plantam.

Borboletas não persigo,
eu cuido do meu jardim.
Só assim delas consigo
que venham atrás de mim.

Cantagalo se enaltece
pelo filho que nos deu,
cuja história até enriquece
“Os Sertões” que ele escreveu.
(TEMA: EUCLIDES DA CUNHA)

Com a trova se diz tudo
em fração de oito segundos,
e seus temas, sobretudo,
são precisos e fecundos.

Desta vida eu devo o brilho
por você ter me ensinado.
Hoje, pai, com o meu filho,
sou você no meu passado.

Escrever é um simples conto,
que não é grande epopéia:
maiúscula, mais o ponto,
e no meio, só a idéia!

Luiz Otavio, no infinito,
em sua estrada já traçada,
nos ensina quão bonito
é uma trova declamada!

Na escalada de um edifício,
num mergulho mais profundo,
seu trabalho é um sacrifício
pra salvar vidas no mundo.
(DIA DO BOMBEIRO)

Neste mundo, eu vivo aqui,
é meu pai, meu grande amigo;
das lições que eu aprendi
tua imagem vem comigo!

No calor do ensinamento
você sempre esteve certo.
Hoje, o arrependimento...
Você não está por perto!

Nossas feridas externas
curam-se rapidamente,
mas as da alma, internas,
demoram dentro da gente.

O arquiteto e o engenheiro
vivem guerra contumaz,
pois quem cria é o primeiro,
e o segundo é quem faz.

O direito nos ensina
o equilíbrio que ele deu:
o teu direito termina
bem onde começa o meu.

O melhor amigo, em tudo,
de atitude sempre pronta,
nos quer bem, e não é mudo:
nossos erros nos aponta.

O namoro é uma viagem
que nos leva ao paraíso;
mas quem for comprar passagem...
na bagagem leve juízo.

O trabalho que é um ofício
de uma nobre profissão
já revela o benefício
no progresso da nação.

Parabéns, ó trovador,
deste solo e céu anil,
que com trova e muito amor
abençoa este Brasil!

Quando eu vejo, nesta vida,
tanta briga, com vingança,
a saudade me convida
pra voltar a ser criança.

Quem recorda os trovadores
com suas trovas de então,
oferece aos seus autores
a prova de gratidão!

Quem trabalha com grandeza
gera emprego no país;
põe comida em cada mesa...
Faz um povo mais feliz!

Sempre ao ver que a bola rola
guie o carro em segurança,
porque sempre atrás da bola
vem correndo uma criança.

Todo dia eu digo adeus
para a minha mocidade.
São felizes dias meus
que eu conservo na saudade.

Uma dor que me angustia,
e que eu guardo na lembrança,
é saber que um certo dia
eu deixei de ser criança.

Um país bem planejado,
com trabalho construído,
tem seu povo já educado
e um poder fortalecido.

Vejo sempre uma faceta
no processo que estimulo:
ora sou uma borboleta,
ora volto a ser casulo.

Você sempre foi meu guia
nos abismos desta vida,
e eu jamais o percebia,
ó meu pai... Que linda lida!

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 4)


Trova do Dia

Quanta inspiração me causa,
o entardecer morno e rubro.
Faz na vida doce pausa,
e com sol quente eu me cubro.
CARMEN PIO/RS

Trova Potiguar

Adotando os bons conselhos
das faculdades morais,
os filhos serão espelhos
da retidão de seus Pais.
DJALMA MOTA/RN

Uma Trova Premiada

1999 > Amparo/SP
Tema > VÍCIO

Tantos jovens, sem carinhos,
desprotegidos da sorte,
se perdem pelos caminhos
do vício que leva à morte!...
HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ

Uma Trova de Ademar

Nenhuma ciência explica
as satisfações da mente.
O prazer não se fabrica,
ele nasce simplesmente...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Entre o orgulho e a solidão,
no meu mundo, hoje pequeno,
guardo um “sim” de prontidão,
esperando o teu aceno!
ULYSSES CARVALHO JÚNIOR/RJ

Uma Poesia livre

Daufen Bach/MT
"CRISPARES – POEMA-INÍCIO”

Entre um verso para teus olhos
e uma fantasia para os teus lençóis,
transfiguro-me
para um renascer contínuo.

inauguro o absoluto,
o verbo fluente,
fixado,
nunca acabado.

inauguro em mim
o sentir do amor.

Estrofe do Dia

Hora que o sentenciado
nas grades da detenção,
por todo mundo humilhado
sente mais recordação,
sonha com a liberdade
mas por infelicidade
não sai daquela enxovia;
a Deus eleva uma prece,
baixa a face a lágrima desce,
ao som da Ave Maria.
CANHOTINHO/PB

Soneto do Dia

Francisco Macedo/RN
DESISTIR, JAMAIS!

Escalava a montanha novamente...
E, alpinista de amor enlouquecido,
chegaria a um lugar desconhecido,
jamais imaginado pela mente.

Eu sentia o infinito a um batente,
e, jamais eu teria desistido!
Mas, por forças humanas, impedido...
- E a chegada tão perto, um pouco à frente.

Um grande sonhador, não fica triste,
de alcançar o ideal, jamais desiste,
quer sempre ir mais à frente, e, se cansado...

Ele tenta vencer o seu limite,
buscando o inalcançável, ele admite,
que se jamais chegar... Terá tentado!

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Trova de Aniversário por Nei Garcez (Curitiba/PR)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 3)


Trova do Dia

Fiel aos sonhos vassalos,
qualquer grande sonhador
guarda o medo de guardá-los
escondendo sua dor!
NILTON MANOEL/SP

Trova Potiguar

Meu pai, menino crescido,
brinca mais que meus irmãos...
Meu coração, comovido,
vê os calos em suas mãos...
CLEVANE PESSOA/RN

Uma Trova Premiada

2008 > Caicó/RN
Tema > ESTRADA > 4º Lugar.

Na estrada, outra pedra imensa,
mas, nem assim titubeio:
- não há revés que não vença
quem crê em Deus, como eu creio...
DARLY O. BARROS/SP

Uma Trova de Ademar

Sem pai, sem mãe, nem parente,
sente o mais triste desgosto,
não tem a quem dar presente
nos meses de maio e agosto.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Romance da mocidade
eu quis, um dia fazer;
tomou-me a mão a saudade
e então se pôs a escrever...
LUIZ RABELO/RN

Uma Poesia livre

Flauzineide Machado/RN
EU SOU APRENDIZ

Entre versos e rimas,
Eu escrevo poesias
Histórias contadas
Para serem sentidas.
Entre versos e rimas,
Eu escrevo emoções
Para serem vividas
Entre corações.
Entre versos e rimas,
Saio a caminhar
Para aprender,
Para ensinar.
Entre versos e rimas,
Canto feliz
A reviver

Estrofe do Dia

Até parece mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente...
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Soneto do Dia

João Justiniano da Fonseca/BA
O SONETO MODERNO.

O soneto renasce, e a todo pano,
transita pelos mares da poesia.
é clássico ou moderno, em confraria,
navega ao vento norte ou ao minuano.

É discriminação e puro engano,
dizer que a rima é velha e sem valia.
O belo é sempre belo, na poesia,
na pintura, na música... E que dano

causa o antigo teatro, o enceno, a mímica,
que afaga o espírito e ilumina a química,
do riso alegre, da tranqüilidade?

Renascendo o acadêmico soneto,
traz um sentido novo, e, em branco e preto,
tem gosto e aroma de modernidade!
----

Fonte:
O Autor

domingo, 26 de setembro de 2010

Nilto Manoel (C O R D E L - Jornal do Povo )


1
O cordel tem por ofício
quase a vida de um jornal.
Tem notícia, história, anúncio
e reportagem em geral.
Presente no dia a dia,
quer na prosa ou na poesia,
é cartilha nacional.
2
Na feira ou folheteria
e nas bancas vai em frente
reportando ao povo imenso
as coisas de nossa gente
do bóia fria ao doutor
do mestre ao construtor
no comércio refulgente.

3
O escritor é jornalista
lavra a terra e vê no chão
a semente que germina
o progresso da nação.
Como profeta, feliz
refloresce no que diz
letra por letra a lição.
4
O progresso pouco a pouco
no sertão faz-se infinito
e leva a mão primitiva
todas as cores do infinito
revelando com altivez
que o povo unido tem vez
quando há irmandade no grito.
5
O meu irmão cordelista
da Bahia de Brasília,
de Goiás Mato Grosso,
Rio e São Paulo, em vigília
tem do trabalho alegria,
pois da prosa ou da poesia
ganha o sustento da família.
6
Tenho muito viajado
e nos trechos por onde piso
vejo com satisfação,
que do lápis mais preciso
ou das cordas de um repente,
nasce o encanto auri-fulgente,
de gente que tem juízo.
7
No folheto ou no improviso
o pensamento do autor
tem colorido de paz
quando semeia com amor
que povo unido é mais forte,
e do progresso o suporte
da nação seu esplendor.
8
O Cordel está presente
no acampamento operário
no escritório do doutor,
no metrô pelo itinerário
e no salão de barbeiro...
No teatro brasileiro
ganha chão pelo cenário.
9
Saiba que o poeta reporta
dos tempos toda finura
que até um pesquisador
defende a sua fartura.
Sempre existe um zombeteiro
que para não gastar dinheiro
diz: - Cordel? Não é cultura!
10
No entanto a escola da vida
demonstra o que é patente
que o Cordel é popular
e na cultura da gente
na mais terna galhardia
é folheto e antologia,
e tem magia patente.
11
Muito aprende quem é feliz
e quer da escola da vida
sua turma de trabalho
pois o círculo da lida
tem força quando une a gente
sem discriminar nem na mente
qualquer rota percorrida.
12
O Cordel está presente
na capital, no sertão,
na rede, na palafita,
no barco e no avião.
Anda até de bicicleta,
pois na sina do poeta
tem nobre motivação.
13
Só querendo ser sequência
sem jamais encher linguiça,
com imagem momentânea,
- no cinzento sem preguiça-
busco rima para cacto
e o assunto dá impacto...
O sertão quer mais justiça.
14
O Cordel é céu estrelado
na cultura tem primor,
pelos sertões do nordeste
ou nas cidades em flor
não teme a voz do ranzinza
nem o carregado de cinza
que seu brilho tem valor.
15
O Cordel fala gostoso
para o ouvido do Senhor,
senhora ou senhorita,
porque pinta em sua cor
celestial e bendita
sem precisar fazer fita
no mundo ganha vigor.
16
Sou andarilho, valente,
meu arco-íris é a estrada
por onde o sonho é constante.
Na realidade dourada
de um mensageiro fiel
desempenho o meu papel
com fala mais sublimada.
17
Coloco a lauda na máquina
e dedilho um violão,
produzindo num repente,
o que vai na imaginação,
... e no folheto gravado,
vai do forno ao mercado
porque do espirito é o pão.
18
Quando pinto minha tela
não descuido da tintura
porque sei que meu freguês
não vive só de amargura,
Sonha com amor e com a vida
e com o salário da lida
quer o direito de fartura.
19
Em qualquer rua gostosa
pelas mãos do próprio autor
no comércio sem mistério,
o Cordel é bom cantor,
tem o espaço que merece
conversa com voz de prece
pois sempre é bom orador.
20
Por isto leitor amigo,
Pelo chão preto, Mocinho,
A festa dos papagaios,
são folhetos meus onde alinho
mensagens ao seu alcance,
e espero que não se canse
com a embriaguez do meu vinho.
21
De poeta e louco há quem diga
que um pouco tem todo mundo.
Nesta pátria de poesia
o sonho é belo e profundo
quando há esperança no sonho,
o medo é menos risonho
quem luta não é vagabundo.
22
Todos nós somos irmãos
e de Deus a terra é nossa.
Quem faz boa semeadura
com paz e amor não há fossa,
tem sempre unida a família
se trabalha sem quizília
com a vida não se faz troça.
23
A temática ganha espaço
no mundo constantemente,
porque o poeta inspirado
consegue ver no repente,
até o sexo de micróbio
e se o tempo o faz macróbio,
fica antigo e experiente.
24
O cordelista é eterno
Nunca vive a vida em vão
é simpático tem mestria
com seu folheto na mão
semeia a boa feitura
do cordel que é cultura
na riqueza da nação.

Vila Tibério. 3/1/1979.

Fonte:
O Autor

Literatura de Cordel no Ponto de Cultura do Maurílio Biagi, em Ribeirão Preto


O “Ponto de Cultura”, nas dependências do Parque Maurílio Biagi, localizado nas proximidades da Câmara Municipal, teve programação especial no domingo, dia 19, quando, além da troca de livros, contadores de histórias, com Adriana Paim e Cassiana Freitas, haverá participação de autores e autoras lendo seus textos e um espaço dedicado à literatura de cordel.

Para isso, segundo Edwaldo Arantes, presidente do Instituto do Livro, o projeto convidou todos os escritores cordelistas para que inaugurem suas participações neste espaço democrático, por sugestão do vereador Cícero Gomes da Silva, que há anos realiza a feira de mangaio, que comercializa diversos produtos nordestinos, e que já acontece na cidade há anos. O trovador Nilton Manoel e seu grupo mostraram essa tendência literária aos frequentadores do Maurílio Biagi.

De acordo com ele, Ribeirão Preto tem na vida cordelista a presença feminina, destacando boas histórias romanceadas. “Cordel é cultura e merece vida longa”, emenda Nilton Manoel, que compõe o Movimento Poético de Ribeirão Preto.

Fonte:
http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/ccs/snoticias/i33principal.php?id=15890

Renata Paccola (Cristais Poéticos)


TROCADOS

No afã de conquistar algum trocado,
há quem entregue o corpo e venda a alma
pelo seu dinheirinho abençoado
que o faz ganhar o pão perdendo a calma.

Abra as mãos para ver, maravilhado,
que uma fortuna cabe em sua palma,
porque nem sempre o rico é afortunado
e nem sempre a fartura nos acalma.

Há quem ganhe dinheiro por esporte...
Contudo, neste mundo tem mais sorte
quem conquista os amigos verdadeiros,

mas chegando aos momentos derradeiros,
faz um pedido a todos os herdeiros,
que, por favor, esperem sua morte!

LIBERDADE

Liberdade, meu sonho mais distante!
Caminho com as pernas amarradas,
e com a realidade, de mãos dadas.
Liberdade, conceito conflitante!

Meu mundo de ilusões acorrentadas
tem a felicidade num instante
e, no outro, a tristeza mais cortante...
Sou um pássaro de asas arrancadas.

Liberdade, vital contradição:
até um escravo é livre quando alcança
a liberdade do seu coração.

Contudo, chegará aquele dia
pelo qual sobrevive uma esperança
da liberdade, ainda que tardia!

INDIFERENÇA

Passo por ti, e nem sequer me notas,
embora eu vá seguindo tua vida.
Sei de tuas vitórias e derrotas,
acompanho de perto tua lida.

De tuas fãs, eu sou a preterida.
Em teu meio, sou alvo de chacotas,
e me sinto como uma nau perdida
(busco em vão encontrar as próprias rotas).

Passas com jeito de quem não me quer,
usas palavras vãs, idéias turvas,
ao passo que eu te espero sem perder a calma.

Mas se pensas em mim como mulher,
enquanto vais olhando minhas curvas,
eu fico retratando tua alma.

DOM

De todos os meus dons, o que mais prezo
está na minha mente poderosa.
Por ser, antes de tudo, misteriosa,
nunca sei se gargalho ou se me enfezo.

Deixo-me dominar e sou teimosa.
Se tento fazer bem, é quando leso.
Sou profana, descrente, e sempre rezo.
Quando perco, sou mais vitoriosa.

Defendo a tese em que não acredito.
Quando minto, estou sendo verdadeira.
Por tudo o que vivi, eu já sou pura.

O espaço em que viajo é o mais restrito.
E tudo o que ganhei na vida inteira
é meu dom de assumir toda a loucura.

FOGO

Ao entregar meu corpo e minha vida
àquele que tomou conta de mim,
numa ação pelos céus reconhecida
vou revelando meu amor sem fim.

Contudo, para o mundo, estou perdida
por ter no corpo o fogo do carmim.
Vou carregando, embora perseguida,
em minha alma, a pureza do marfim.

Se o amor é belo para quem o vê,
é mais sublime para quem o faz.
Se a experiência pode ser bem vasta,

continuo na busca de um porquê
da existência, que com loucura traz
um corpo impuro numa alma ainda casta.

GIRA-MUNDO

Eu sei que não nasci para este mundo
repleto de tensão e violência,
avesso ao sentimento mais profundo,
em cujo solo impera a delinqüência.

Prossigo com um sonho de decência,
e neste sonho às vezes eu me afundo,
até chegar à beira da demência
e em meu espelho ver um vagabundo.

Mas da revolta o meu maior motivo
é que, apesar de tudo, ainda vivo
tentando ter o mundo a meu favor.

Seguindo o movimento de um pião,
eu giro pelo mundo em contra-mão
se o mundo gira contra nosso amor.

SOBRAS

Sobras
são sombras.

Sobras do passado,
saudades,
sombras que ainda se movem,
embora estendidas no chão.

Sobras,
quebras
dos grilhões de vidro que já não prendem,
mas seus cacos ainda cortam.

Sobras,
retalhos,
tijolos,
que foram e serão
partes de uma construção.

Sobras,
lembranças que podem se deteriorar
se não forem bem conservadas.

Saudosismos,
sobras inúteis
de fatos perfeitos.

Uma lágrima rola,
sobra de tantas derramadas.

Frases que poderiam ser ditas,
páginas ainda não escritas
da história que juntos vivemos
e que deixamos por terminar;
sobras úteis
de pratos malfeitos.

Sobras,
restos imortais
do passado que se confunde com o presente.

As sobras de hoje
serão o prato de amanhã,
quando a sombra partirá
e as lágrimas
não sobrarão.

Sobras de uma paixão,
um resto de sol
e uma poça no chão.

FEITIÇO

Se eu tivesse os poderes de uma fada
Estaria contigo o tempo inteiro
Iluminando tua madrugada
Como se fosse a luz de um candeeiro.
Seria teu bordel e teu mosteiro,
Seria teu refúgio e tua estrada
Do nascer ao momento derradeiro,
Da hora da partida até a chegada.
Eu te seduziria qual sereia,
Então, nos amaríamos na areia;
Depois, te afogaria com meus beijos.
E no final eu me transformaria
Numa estrela repleta de magia
Que pudesse atender aos teus desejos!
-----

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 2)

A pintura na imagem abaixo é de Fábio Pinheiro
(Casinha no Interior de Santana de Matos)
Trova do Dia

Aquele olhar triste e ardente,
que na partida me deste,
foi muito mais eloquente
que as palavras que disseste.
CONCEIÇÃO A. DE ASSIS/MG

Trova Potiguar

A terra inteira secou!...
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
PROF. GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

1999 > Amparo/SP
Tema > VIRTUDE > Venc.

Nos mais difíceis momentos,
tuas virtudes revelas:
quando o barco enfrenta os ventos,
mostra a beleza das velas!
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP

Uma Trova de Ademar

Descobri no envelhecer
que a musa que me enaltece
não deixa o verso morrer,
pois musa nunca envelhece!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Vejo na tarde tristonha,
pelo vento solto ao léu,
o lenço branco das nuvens
limpando o rosto do céu.
CESAR COELHO/CE

Uma Poesia Livre

CECÍLIA MEIRELES/RJ
MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Estrofe do Dia

MOTE: “o teu amor de mentira,
Me fez sofrer de verdade.”


Despertou a minha ira
me lançando ao ostracismo,
pois veio em tom de cinismo
o teu amor de mentira.
Meu “eu” de angústia delira
retroajo à puberdade;
meu peito dói de verdade
ao sentir com vil tormento
que teu ego fraudulento
me fez sofrer de verdade.
NIZARDO AMÉRICO/RN

Soneto do Dia

GERSON CESAR SOUZA/PR
EXTREMOS.

Somos assim, estranhamente extremos,
gostos opostos, sonhos discrepantes,
somos canção de acordes dissonantes,
há divergência em tudo o que queremos...

Só defendemos pontos concordantes
até entender que não nos entendemos,
e esclarecendo aquilo que dissemos,
dizemos sempre coisas conflitantes...

Tu, me querendo, dizes que eu não presto,
e ao te querer, sempre de ti reclamo,
mas tu me chamas, disfarçando o gesto,

e entre protestos eu também te chamo,
pois, mesmo amando tudo o que eu detesto,
tu és na vida aquilo que eu mais amo!
------
Fontes:
- O Autor
- Imagem = montagem por José Feldman

Antônio de Alcântara Machado (Brás, Bexiga e Barra Funda) Parte II


8 · NOTAS BIOGRÁFICAS DO NOVO DEPUTADO

O coronel J. Peixoto de Faria fica desnorteado quando recebe a carta do administrador da fazenda Santa Inácia dizendo, entre outras coisas, que o seu compadre, João Intaliano, morreu. O órfão e afilhado do coronel, Gennarinho, ficou na casa do administrador, que agora pede uma orientação. O coronel Juca e Dona Nequinha, sua esposa, deixam para responder a carta no dia seguinte.

Gennarinho, nove anos, é trazido pelo filho mais velho do administrador. Vem “com o nariz escorrendo. Todo chibante.”

Logo Gennarinho já é tratado com um filho pelo casal.

Um dia, o coronel decide traduzir o nome do menino. “Gennarinho não é nome de gente”.

E passou a chamá-lo de Januário.

Discutindo sobre o futuro do garoto, os pais adotivos resolvem colocá-lo num colégio de padres.

No primeiro dia de aula, o coronel, todo comovido, acompanha Januário e o apresenta ao reitor. D. Estanislau pergunta seu nome. O menino responde dizendo apenas o primeiro nome. O reitor insiste: Januário de quê? O menino responde, com os olhos fixos no coronel: Januário Peixoto de Faria.

Seguindo para São Paulo, o coronel já pensa em fazer testamento.

9 · O MONSTRO DE RODAS

As pessoas da sala discutiam as providências a serem tomadas para o enterro de uma criança. Dona Nunzia, a mãe, chorava desesperada até que foi levada para dentro pelo marido e pelo irmão. Uma negra rezava.

Na sala de jantar, alguns homens discutiam sobre qual seria a repercussão no Fanfulla, jornal da comunidade italiana. Pepino acha que a notícia irá atacar o “almofadinha”. Tibúrcio, porém, sabe que “filho de rico manda nesta terra que nem a Light. Pode matar sem medo.”

Durante o cortejo, outros interesses aparecem: o bate-papo dos rapazes (“A gente vai contando os trouxas que tiram o chapéu até a gente chegar no Araçá. Mais de cinqüenta você ganha. Menos, eu.”), a vaidade das mulheres (“Deixa eu carregar agora, Josefina?” “Puxa, que fiteira! Só porque a gente está chegando na Avenida Angélica. Que mania de se mostrar que você tem!”), politicagens (“Tibúrcio já havia arranjado três votos para as próximas eleições municipais”)...

Na volta para casa, Aída encontra dona Nunzia olhando a foto da menina morta publicada na Gazeta. O pai tinha ido conversar com o advogado.

10 · ARMAZÉM PROGRESSO DE SÃO PAULO

O armazém do Natale era famoso por um anúncio em que dizia ter artigos de todas as qualidades. “Dá-se um conto de réis a quem provar o contrário”. Zezinho, o filho do doutor da esquina, sempre bulia com seu Natale, pedindo, por exemplo, “pneumáticos balão”. Quando o malandro cobrava seu um conto de réis, Natale respondia: “Você não vê, Zezinho, que isso é só para tapear trouxas?”. E anotava na conta do pai os cigarros que o rapaz pedia com nome de outros.

Em frente ao armazém, a confeitaria Paiva Couceiro não agüentaria por muito mais tempo. E seu Natale, que tinha prazer em observar aquele espetáculo de decadência dia após dia, já havia calculado quanto ofereceria ao português no leilão da falência. Por hora, ele fazia a sua parte: pressionava o homem com uma dívida com ele, uma letra que estava para vencer.

Dona Bianca o chama. Ouvira numa conversa do José Espiridão, o mulato da Comissão do Abastecimento, que a crise viria e os preços, inclusive o da cebola, produto encalhado na confeitaria, disparariam. Se não desse um jeito no português agora, nunca mais. Depois de confirmar o assunto com o mulato e pedir sua colaboração ficando quieto, seu Natale consegue “arranjar” o negócio. À noite, dona Bianca vai dormir se vendo no palacete mais caro da Avenida Paulista.

11 · NACIONALIDADE

O barbeiro Tranquillo Zampinetti lia entusiasmado as notícias de guerra no jornal italiano Fanfulla. Chegava até a brandir a navalha como uma espada assustando os fregueses. Mas tinha um desgosto “patriótico e doméstico”: os filhos Lorenzo e Bruno não queriam falar italiano.

Depois do jantar, Tranquillo colocava a cadeira na calçada e ficava com a mulher e alguns amigos como o quitandeiro Carlino Pantaleoni, que só falava da Itália. Tranquillo ficava quieto mais depois sonhava em voltar para a pátria.

Um dia, Ferrúcio, candidato do governo a terceiro juiz de paz, veio pedir votos. Tranquillo, que nem votava, acabou sendo convencido pelo compatriota e gostou tanto que com o tempo andava até pedindo votos.

A guerra européia encontrou Tranquillo bem estabelecido, influente e envolvido na política; Lorenzo, noivo e também participando da política da região; e Bruno estudando, além de ser vice-presidente da Associação Atlética Ping-Pong. Tranquillo ainda se agitou com a guerra. Mas, com o descaso da família, logo foi se desinteressando.

O progresso de Tranquillo continuava e agora ele comentava mais as questões políticas do Brasil que as da Itália.

Quando Bruno se forma advogado pela faculdade de Direito de São Paulo, o pai chora, a mãe é trazida pelo neto, filho de Lorenzo, para vê-lo e todos se abraçam emocionados. E o primeiro serviço de Bruno foi requerer a naturalização de Tranquillo Zampinetti.

FOCO NARRATIVO

Todos os contos são narrados em terceira pessoa. Aliás, o estilo narrativo está de acordo com a proposta feita pelo autor no prefácio da obra, “Artigo de Fundo”:

Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias.”

Com este ponto de vista, Alcântara Machado assume um estilo jornalístico de narração. A preocupação do narrador é observar o cotidiano desta comunidade que chama sua atenção. E para melhor retratá-la, o narrador ora assume uma postura meramente observadora, mostrando os fatos de uma certa distância, ora assume um caráter onisciente, aproximando-se mais dos personagens.

AMBIENTAÇÃO

A obra de Alcântara Machado é um verdadeiro retrato de uma época. O título já revela a importância do espaço. A região escolhida para ser retratada já é ela própria determinante de uma cultura. No início do século, Brás, Bexiga e Barra Funda foram os principais bairros de São Paulo onde os ítalo-brasileiros se concentraram. As referências exatas dos nomes de ruas, praças e avenidas, além de tornarem a identificação do ambiente muito fácil, garantem também certo ar de veracidade. É o que já foi falado antes sobre o caráter jornalístico da obra. As histórias não se passam em “algum lugar” imaginário, distante. Estão todas em espaços bem definidos. Mas outros lugares que não só os bairros industriais italianos são citados. A avenida Paulista, por exemplo, aparece como símbolo de fortuna e nobreza.

A preocupação com a exatidão espacial cai até a citação do endereço (por vezes contendo até o número da casa: “Era a rua da Liberdade. Pouco antes do número 259-c já sabe: uiiiiia-uiiiiia!”). Mas não há preocupação maior com a descrição de ambientes internos e externos. Poucas vezes podemos “ver” como é a casa das personagens como acontece, por exemplo, em “Carmela”, que lê seu livro de cabeceira antes de “se estender ao lado da irmãzinha na cama de ferro”; ou em “Lisetta”, em que vemos a mulher rica e má entrando em seu “palacete estilo empreiteiro português”. Ou então pinceladas nos sugerem a atmosfera: “Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino estava negra”. Toda essa concisão descritiva é própria das narrativas curtas. Nelas, o autor controla as informações passando ao leitor somente aquilo que é extremamente necessário para criar o “clima” do texto.

Quanto ao aspecto temporal, todos os contos retratam a mesma época histórica, isto é, o início do século XX, momento da aculturação italiana em São Paulo. Mesmo assim cada conto trabalha um espaço temporal próprio. Alguns retratam uma época da vida dos personagens, como é o caso de “Nacionalidade” e “Notas Biográficas do Novo Deputador”; outros retratam apenas alguns dias da vida dos ítalo-brasileiros, como em “Gaetaninho”, “Carmela”, “A Sociedade” e “Armazém Progresso de São Paulo”. Já “Amor e Sangue”, “Coríntians (2) vs Palestra (1)” e “O Monstro de Rodas” dão enfoque aos acontecimentos de um dia especial na vida dos personagens.

PERSONAGENS

Os personagens são “planos”, superficiais, não apresentam transformações surpreendentes durante a narrativa.

Na busca pela adaptação cultural e econômica, encontramos as costureirinhas curiosas pelo mundo do qual não fazem parte, mas conscientes de que devem continuar a fazer suas famílias na colônia, as crianças vítimas do preconceito, da pobreza e da injustiça que cerca o imigrante de classe mais baixa, os comerciantes gananciosos e suas famílias buscando uma posição social, os jovens trabalhadores e apaixonados, os quatrocentões paulistas, nobres e falidos, diante dos “carcamanos” endinheirados e “sem berço”.

Assim como acontecia em relação à ambientação, as descrições das personagens só aparecem para nos dar traços marcantes, que permitam entender uma característica a mais delas. Muitas vezes os traços principais ganham destaques refletindo até mesmo na aparência, e o personagem ganha ares de caricatura. Mas tudo mostrado de um modo muito rápido, muito controlado da parte do narrador. A sensualidade de Carmela é notada pelas suas roupas e seus gestos: “O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marenga maduro para os lábios dos amadores”. Bianca, por sua vez, parece ter como função apenas dar ainda mais destaque à beleza da amiga: Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira”. Com isso, consegue nacos de emoção da vida da outra. O namorado, entregador da casa Clarck, com muito orgulho, exibe-se também com um esmero exagerado, revelando a vaidade excessiva, o furor juvenil e o ar apaixonado: “sapatos vermelhos de ponta afilada, meias brancas, gravatinha deste tamaninho, chapéu à Rodolfo Valentino, paletó de um botão só”. Em “Notas Biográficas do Novo Deputado”, vemos Gennarinho se comportando como um menino rude, que entraria em choque com os hábitos da família do coronel se não tivesse caído nas suas graças. E daí para a brasilidade marcada até mesmo no aportuguesamento do nome: Januário. Enfim, um quadro amplo do que foi a vida dos italianos e seus descendentes nas primeiras décadas do século.

TIPOS DE DISCURSO

Uma das marcas de Brás, Bexiga e Barra Funda é a leveza conseguida por meio do discurso direto, predominante na obra. As personagens têm a oportunidade de falar diretamente por meio dos diálogos, exprimindo suas emoções, tristezas e esperanças com toda a carga expressiva e a coloquialidade que lhes é característica. Os diálogos propiciam também maior sensação de realismo e de proximidade entre personagens e leitor. A história ganha em dinamismo e, graças à sutil ironia de Alcântara Machado, em humor:

- Boa tarde, belezinha...
- Quem? Eu?
- Por que não? Você mesma...

Bianca rói as unhas com apetite.
- Diga uma cousa. Onde mora a sua companheira?
- Ao lado de minha casa.
- Onde é sua casa?
- Não é de sua conta.

Em alguns momentos, o discurso direto é guardado para as situações de maior intensidade e a preparação da cena traz o discurso indireto:

No chá de noivado o cav. uff. Salvatore Melli na frente de toda a gente recordou à mãe de sua futura nora os bons tempinhos em que lhe vendia cebolas e batatas, Olio di Luca e bacalhau português quase sempre fiado e até sem caderneta.

O discurso indireto livre também aparece algumas vezes, permitindo que o leitor aproxime-se mais do personagem, conhecendo seu interior.

Este espetáculo diário era um gozo para o Natale. Cebola era artigo que estava por preço que as excelentíssimas mães de família achavam uma beleza de preço. E o mondrongo coitado tinha um colosso de cebolas galegas empatado na confeitaria.

Era mesmo. Gostava do Rocco, pronto. Deu o fora do Biagio (o jovem e esperançoso esportista Biagio Panaiocchi, diligente auxiliar da firma desta praça G. Gasparoni & Filhos e denodado meia-direita do S. C. Coríntians Paulista campeão do Centenário) só por casa dele.

Percorre logo as gravuras. Umas tetéias. A da capa então é linda mesmo.

RECURSOS DE LINGUAGEM

Antônio de Alcântara Machado traz na linguagem uma marca muito própria dos modernistas da primeira geração: a recusa à linguagem empolada, retórica, cheia de volteios. Ao contrário sua linguagem é marcada pelo estilo telegráfico, conciso. As frases são na sua maioria formadas por orações coordenadas e curtas, garantindo sempre um mesmo ritmo ao texto:

Foi-se chegando devagarinho, devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do Chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta e varou pela esquerda porta adentro.

Ia indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da Quitanda Tripoli Italiana eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado.

O tom é sempre coloquial, marcado pela oralidade, pela linguagem do cotidiano das personagens:

Logo na porta um safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor. Intervalo de dois minutos. Foi então a vez das chineladas. Para remate. Que não acabava mais.

O resto da gurizada (narizes escorrendo, pernas arranhadas, suspensórios de barbante) reunidos na sala de jantar sapeava de longe.

No discurso direto dos ítalo-brasileiros, a língua mesclada:

- Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo o doutor pense bem. E poi me dê a sua resposta. Domani, dopo domani, na outra semana, quando quiser, lo resto à sua disposição. Ma pense bem!

Uma marca ainda muito freqüente em sua linguagem é o uso de onomatopéias. Elas reforçam a sensação de que as cenas estão vivas e se passam na frente do leitor:

E – ráatá! – um cusparada daquelas.

O professor da Faculdade de Direito citava Rui Barbosa para um sujeitinho de óculos. Sob a vaia do saxofone: turururu-turururum!

O medo faz silêncio.
Prrrrii!
Pan!
- Go-o-o-o-ol! Coríntians!

Ambientação e construção de personagens também adquirem um estilo especial na escolha das imagens. Tudo parece ganhar vida por meio das prosopopéias.

A rua Barão de Itapetininga é um depósito sarapintado de automóveis gritadores. As casas de modas Ao Chic Parisienese, São Paulo – Paris, Paris Elegante despejam nas calçadas as costureirinhas que riem, falam alto, balançam os quadris como gangorras.

Lancia Lambda, vermelhinho, resplendente, serpejando na rua. Vestido do Camilo, verde, grudado à pele, serpejando no terraço.

Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto um segundo. Não parava.

O violão e a flauta recolhendo da farra emudeceram respeitosamente na calçada.

Outra figura de linguagem que aparece com constância é a metonímia:

A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino.

Depois que seus olhos cheios de estrabismo e despeito vêem a lanterninha traseira do Buick desaparecer Bianca resolve dar um giro pelo bairro.

Até mesmo o modo de ver as coisas parece, na maioria das vezes, ser feito de modo fragmentado, metonímico:

Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado que reflete a boca reluzente de carmim primeiro, depois o nariz chumbeava, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas de metal branco na ponta das orelhas descobertas.

Carmela olha primeiro a ponta do sapato esquerdo, depois a do direito, depois a do esquerdo de novo, depois a do direito outra vez, levantando e descendo a cinta.

A contemporaneidade se faz presente pelas referências a lojas, marcas, endereços, que ganham ainda mais reforço por meio da ênfase gráfica dada: a roupa de marinheiro branca de Gaetaninho traz: “Encouraçado São Paulo”; as lojas do centro são mencionadas com destaque: Ao Chic Parisiense, São Paulo – Paris, Paris Elegante; o canivete usado pelo professor de Aristodemo era brinde do Chalé da Boa Sorte e os cigarros do rapaz eram Bentevi. “A sociedade” e “Armazém Progresso de São Paulo” trazem, respectivamente, o convite de casamento de Adriano e Teresa e o anúncio pelo qual o armazém ficou conhecido.

O recurso gráfico também surge para auxiliar na questão temporal. A linguagem concisa, já discutida acima, provoca a sensação de simultaneidade de acontecimentos. As cenas aparecem justapostas de variadas formas. A mais comum em todos os contos é o espaçamento gráfico entre as partes da narrativa. Ele permite perceber a interrupção entre um momento da história e a mudança de enfoque para outro momento. Outra forma usada para trabalhar a idéia de simultaneidade é o uso de parênteses, que acrescentam um novo dado secundário à cena principal:

No Grupo Escolar da Barra Funda Aristodemo Guggiani aprendeu em três anos a roubar com perfeição no jogo de bolinhas (garantindo o tostão para o sorvete).

Na sala de jantar Pepino bebia cerveja em companhia do Américo Zamponi (Salão Palestra Itália – Engraxa-se na perfeição a 200 réis).

Em “A Sociedade”, a simultaneidade é tanta que várias cenas se interpenetram por meio do espaçamento gráfico, da fragmentação da letra da música, das orações justapostas.

... mas a história se enganou!

As meninas de ancas salientes riam porque os rapazes contavam episódios de farra muito engraçados. O professor da Faculdade de Direito citava Rui Barbosa para um sujeitinho de óculos. Sob a vaia do saxofone: turururu-turururum!

- Meu pai quer fazer um negócio com o seu.
- Ah sim?
Cristo nasceu na Bahia, meu bem...

O sujeitinho de óculos começou a recitar Gustave Le Bom mas a destra espalmada do catedrático o engasgou. Alegria de vozes e sons.
... e o baiano criou!

Fonte:
Estudo copiado do material do Curso Universitário, disponível em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/barrafunda

sábado, 25 de setembro de 2010

Trova 175 - Ademar Macedo (Santana do Matos/ RN)

Roberto Pinheiro Acruche (Livro de Poesias)


A SAUDADE

Saudade... Qual é a sua cor?
Por que estou sentindo-a
tão junto a mim e não consigo vê-la?
Não me atormente ainda mais
com este silêncio,
além desta dor que me rasga o peito.

Porque você não aparece
e desvenda logo esse mistério?
Você sabe onde me encontrar!

Vou estar nos mesmos lugares,
sentado na areia olhando o mar
ou nos mesmos bares
consumindo a noite.

E se acaso não me encontrares
pergunte pra solidão...
Somente ela saberá dizer
o meu paradeiro.
Mas não demore mais;
faça antes da tristeza
me levar por inteiro!...

ARCA DOS SONHOS

As horas passam
e eu me curvo diante
do tempo
que também passa... Que passa!...
E eu preso na arca dos sonhos,
fantasiando a vida.
Quando acordar
desta aspiração
liberto do devaneio,
quem sabe ainda haverá tempo
para realizar os sonhos?
E se não houver tempo
e se não realizar meus sonhos,
valeu à pena ter sonhado!

ESPERA

Estou a sua espera,
carregado de desejos,
de uma nostalgia que enlouquece,
que explode dentro de mim,
que me faz lembrar do seu cheiro,
da sua boca sufocando-me de beijos,
dos seus gemidos,
da sua entrega louca,
desvairada e sem pudor.
--

LUZ DA VIDA

Em qualquer lugar que estiver nesta terra, há alguém com um olhar fixo, afetuoso, mágico direcionado para você...
Com um olhar puro, especial, muito especial, de um coração que só pulsa o amor...
Um olhar de alguém que é justo, com a inspiração de amar de modo pleno sem ajuizamentos, sem distinção.
Este olhar brilha mais que a luz do sol, tem a dimensão maior que o das estrelas de primeira grandeza, tem um alcance infinito.
Este olhar rompe os dias, vara as noites é a luz da vida.
Qualquer que seja o momento, em qualquer situação: de amor, paz, união ou perdão... Este olhar está reto, preciso em sua direção.
---

VIOLEIRO APAIXONADO

Sob a luz de um lampião
colocado sobre uma mesa
de madeira nobre,
porém pequena,
onde também tinha um ramo de flor,
ouvia cantigas de amor
de um violeiro solitário
exaltando sua paixão.
Sentado num banquinho humilde
que ficava no canto da sala,
dedilhava sua viola
sonorizando a noite
escura lá fora
onde os pirilampos
faziam refletir sua luminosidade
num pisca-pisca ritmado
como se acompanhasse a melodia
do violeiro apaixonado
que não tirava da imaginação
a sua cabocla
a mais bonita daquela região.
Morena de olhos negros,
cabelos longos, caídos pelos ombros,
corpo fascinante,
cheiroso como a flor do campo;
lábios sedutores...
O solitário violeiro morria de amores;
sonhava abraçar aquela trigueira
rolar com ela na esteira
esbanjar todo o anseio
tocar em seus seios
fazê-la sentir no peito
todo o efeito
que jorrava de seu coração.
A moreninha linda e faceira,
lá distante,
em seu casebre
não escutava
quando o violeiro cantava
e a viola chorava
com os versos entoados:
“Vem morena, vem agora,
não resisto à solidão!
Eu canto e a viola chora
vem me dar seu coração...”
“Vem morena, não demora,
vem me dar seu coração
eu canto e a viola chora
não resisto a solidão.”

MEU ESPELHO

Meu espelho, revelador!...
Arca de memórias,
juiz implacável do presente,
profeta mudo do futuro,
confessionário e principal consultor.
Sorrindo diante de ti
relembro os meus dias de infância
gesticulando e fazendo caretas...
Na vaidade da adolescência e juventude
extraindo acnes, penteando os cabelos,
raspando os primeiros fios de barba
experimentando roupas...
Quanto desvelo com a aparência!
Tudo sem perceber as transformações naturais
provocadas pela maturidade,
fator imposto pela idade,
pelo tempo, senhor de cada momento,
fosse ele, alegre, feliz, triste ou sofrido.
Agora, diante de ti,
mesmo estando a sorrir
estou subordinado às mutações...
Uma ruga que antes não existia,
hoje habita e marca a minha fisionomia...
Os cabelos longos, fortes, cheios,
que exigiam tantos cuidados,
apenas uns poucos ainda existem,
presentemente esbranquiçados
e jogados um tanto para os lados.
No entanto, o que mais me revela e me assusta,
não é a modificação irreversível, progressiva e bruta,
não são os momentos felizes ou tristes do passado;
nem o que fiz de certo ou errado;
não são os tempos perdidos, desiludidos...
Não são os ideais que não puderam ser alcançados;
ainda que me deixem entristecido.
Muito menos, por tanto haver me empenhado
e me obrigado a compromissos...
Nada disso!
Mesmo que tenham me abalado, também não são
as paixões e os amores fracassados...
Não é o futuro das minhas obras e conquistas;
não é a aparência de um homem cansado
desestabilizado, desalinhado,
vivido, sofrido,
nem sempre barbeado... Definhando!...
O que verdadeiramente me revela e me assusta
é o presente!... Esse presente
sem prorrogação, motivação,
sem meios de recuperação
para a efetivação de tantos sonhos
que ainda vivo sonhando.

Fontes:
– O Autor
http://robertoacruche.blogspot.com
Imagem = montagem por José Feldman

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 1)


Trova do Dia:

É tão fiel o seu cão,
que ás vezes até "apela":
faz festa pro Ricardão
e morde o marido dela!
JOSÉ OUVERNEY/SP

Trova Potiguar:

Se eu ganhar, minha querida
na mega, muito dinheiro
Vou lhe tirar dessa vida...
(Contratando um pistoleiro.)
HELIODORO MORAIS/RN

Uma Trova Premiada:
2010 > Bragança Paulista/SP
Tema > RIMA > Venc.

Que infortúnio o da Raimunda!...
Numa enchente de verão,
derrapou na rua imunda
... e deu com a “rima” no chão!
RENATO ALVES/RJ

Uma Trova de Ademar:


Por falta de patrimônio,
sem ter no bolso uma prata,
anuncia o matrimônio
por uma “rádio pirata”.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Chamam de “mulher da vida”,
mulher que mal se comporte.
E a honesta, a gente apelida
de quê? De “mulher da morte”?...
ORLANDO BRITO/MA

Estrofe do Dia:

Atendendo a ligação,
a mulher ouve dizer:
Acabou de acontecer,
Bateram no seu carrão.
Seu amor, na contramão,
chocou-se contra um Peugeot,
no acidente ele ficou,
sem um arranhão em baixo...
- e a parte de cima, macho? _
Essa ainda não chegou.
FRANCISCO MACEDO/RN

Soneto do Dia:

HAROLDO LYRA/CE
DUAS TAÇAS.

O álcool sempre vem abrilhantar
Os banquetes em salas requintadas,
Servido nas baixelas prateadas
Que aos olhos serve mais que ao paladar.

O álcool é um prazer bem popular,
Nos bares, nas barracas empalhadas,
Servido n’umas taças mal lavadas,
Agrada à boca, à venta, a quem tomar.

Um drink, salgadinhos de salmão;
Uma cereja adorna a taça à mão
E o fino aristocrata se enaltece.

Um trago, um tira-gosto de buchada;
A banda de um limão, já machucada,
E o jeca deita e rola e a pinga desce.

Fonte:
Ademar Macedo