quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Evaldo de Paula Moreira (Adeus…)

Pintura de Angela Kelly Topan
Nó na garganta.

Em qualquer lugar do mundo, a garganta humana denuncia quando uma pessoa está triste.

Se tirarmos um doce de uma criança, num instante veremos o olhar de indignação, seguidos de soluços e lágrimas nos olhos.

É uma maneira de demonstrar a violência sofrida.

Seja criança ou adulto.

Vi um senhor ficar triste, na roça, só porque alguém insinuou que o bode dele estava ficando velho. Sentiu-se subestimado, e logo se esboçou o nó.

Sofremos, sempre que nos tiram alguma coisa.

Meus pais se mudaram da roça quando eu era criança. Foi como se tirassem a roça de mim.
Lembro-me da viagem.

Saímos de lá, transportados por um carro de bois, até a estação de trem mais próxima.
Sem dúvida, minha garganta, por várias vezes, durante o trajeto, deu ensejo ao nó.

Na medida em que nos afastávamos das pessoas e das coisas queridas, íamos dando Adeus, acenando com as mãos, como se fosse uma despedida para sempre.

Que sensação mais estranha.

Tudo o que conhecera até aquela época era a roça. Eram as matas, os córregos, os riachos, as aves, os pássaros, os bois, as vacas, cabritos, cães... , as pessoas que amávamos.

Tirando o sol, a lua, as estrelas, tudo seria diferente dali para frente.

Era o Adeus para seguir um caminho desconhecido e ver algo diferente.

Só conhecia as coisas das cidades pelas gravuras dos livros.

Conheceria outro mundo, de maneira chocante, por causa da mudança radical, mas cheia de novas perspectivas, dado o jeito receptivo na grande cidade de São Paulo.

Mas, os “nós” me apareceram várias vezes durante muitos anos, porque é difícil vencer a saudade

Fonte:
http://zerobertoballestra.blogspot.com/

Pintura = fotografia de José Feldman

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