sábado, 13 de novembro de 2010

Colombina (Poesias Avulsas)


VERTIGEM

Uma semana só. Nem mais um dia
durou aquela estranha sensação
que nos aproximava, nos unia...
e amor não era e nem era paixão.

Algo em mim te agradava, te atraía.
Tu tinhas para mim tal sedução
que, tendo-te ao meu lado, eu me sentia
a mulher mais feliz da criação.

Uma semana só... No meu caminho
um vislumbre de sol e de carinho:
uma sombra, talvez, na tua estrada...

Sete dias ardentes de Novembro...
Deves ter esquecido. E eu só me lembro
que nunca fui com tanto amor beijada!

EU

Sou só e sou eu mesma. O que pensem e digam
os demais, nada importa; eu tenho a minha lei.
Que outros a multidão, covardemente, sigam,
pelo caminho oposto, altiva, eu seguirei.

Que, sem brio e vergonha, outros tudo consigam
e que zombem de mim porque nada alcancei;
quanto mais, com seu ódio, o meu nome persigam,
tanto mais orgulhosa em trazê-lo, serei.

Às pedradas não fujo e as tormentas aceito;
mas a espinha não curvo em prol de algum proveito,
minha atitude sempre a mesma se revela;

A mim mesma fiel, a minha fé não traio;
e, se em dia fatal ferida pelo raio
tombar minha bandeira eu tombarei com ela!

TARDE DE OUTONO

Foi numa tarde assim. O vento soluçava
Agoirando do inverno a lúgubre hospedagem
No céu pálido, branco, há muito não rodava
Do sol a luminosa e rútila equipagem.

A derradeira flor, no jardim desfolhava
Sua pétalas. Era inóspita a paisagem
Em tudo uma tristeza imorredoira errava
Meu Deus! Que dolorosa e tristonha miragem!

E eu, sonhando, revia em meu dourado sonho,
O meu viver tranqüilo, o meu viver risonho,
Tento junto de mim o teu amor calmo e terno.

Reinava um frio intenso...e tu partiste, envolto
Num último sorriso a murmurar "eu volto"
E não voltaste mais! Voltou somente o inverno...

TROVAS: SAUDADE

A saudade é uma andorinha,
mas uma andorinha estranha:
quando, num peito se aninha,
as outras não acompanha…

Saudade – coisa que a gente
não explica nem traduz;
faz do passado, presente,
e traz sombras, sendo luz…

Saudade – febre que a gente
sem querer, pode apanhar,
nunca mata de repente,
vai matando, devagar…

Saudade – a princípio é pena
que nos deixa uma partida;
depois é dor que condena
a morrer dentro da vida…

se é triste sentir saudade,
muita saudade de alguém,
maior infelicidade
é não tê-la de ninguém.

NÓS DUAS

Parecemo-nos muito; assim dizem - e eu o creio.
Além do mesmo sangue, almas iguais nós temos;
pois, pelo mesmo ideal e com o mesmo anseio,
dentro da vida, nós lutamos e sofremos.

Vemos na arte um refúgio, um oásis, um esteio
para a nossa inquietude, e num barco sem remos
vagamos à mercê do próprio devaneio,
sabendo que jamais à enseada chegaremos...

E, apesar de ela ter todo um sol na cabeça
e o nevoeiro do inverno a minha já embranqueça,
da angústia de minha alma a sua compartilha.

Ela pensa, eu medito... Ela sonha, eu me lembro...
Nossa pobreza é igual de Dezembro a Novembro.
Quem somos, afinal? Apenas, mãe e filha.

EXALTAÇÃO

Olhas nos olhos meus. E eu vejo neste instante
toda a terra subir a um céu que desconheço.
Olho nos olhos teus. E fica tão distante
o mundo: e todo o fel que ele contem, esqueço.

Sorris... e, contemplando o teu lindo semblante,
o ideal de minha vida, enfim, eu reconheço.
Falas... ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,
num gesto de ternura, os lábios te ofereço.

Beijas a minha boca. E neste beijo grande
-- como uma flor que ao sol desabrocha e se espande -- ,
todo o meu ser palpita e freme e vibra e estua.

Tudo é um sonho, no entanto; o seu beijo... o meu crime.
Mentirosa ilusão! Pobre ilusão que exprime
somente o meu desejo imenso de ser tua!

SIMPLICIDADE

Tu não podes saber (e és tão inteligente
E tão conhecedor do mundo) o bem que fazes
Para o meu coração, tão triste e tão descrente,
Quando, com tua voz, a ventura lhe trazes.

Tu não podes saber como é grande o presente
Que me dás cada dia: algumas poucas frases
Repletas de ternura... E, generosamente,
Um sonho de mulher, de longe, satisfazes.

Dirás que é pouco o que me dás. Porém, na vida,
Onde tanta maldade encontrei, é o bastante
Esse bem que me faz a tua voz querida;

E quando para mim esse presente vale,
Tu não podes saber... Nem como é apavorante
Imaginar, que um dia, a tua voz se cale...
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