terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ialmar Pio Schneider (Livro de Sonetos I)


MÁGOAS E QUEIXAS

Fazer versos é fácil - dir-me-eis -
se lerdes minhas páginas singelas
e simplesmente reparardes nelas
mágoas que nem de longe conheceis....

Se assim pensardes, nunca entendereis
da própria alma as fatídicas procelas
surgindo à noite, não em tardes belas,
e sois felizes porque não sofreis...

Se, no entanto, sentirdes a tristeza
transparecendo aqui nas entrelinhas
destes versos, que os leva a correnteza

a transbordar em zonas ribeirinhas,
é possível que tendes, com certeza,
queixas amargas iguais às minhas !

AMOR PROIBIDO

Pobre Rubião que quis o amor proibido,
o louco afeto que não era seu,
e sem desabafar num só gemido
nos mares da loucura pereceu.

Sofia há de lembrar o seu pedido,
que sem saber por que não atendeu,
e o distante cruzeiro enaltecido
continuará brilhando lá no céu,

como chamando a cativante bela,
que calma se aproxime da janela
e que venha fazer-lhe companhia.

E o vento, desfolhando as lindas flores,
há de chorar incompreensões de amores
por uma voz pungente de elegia!

SONETO A UMA MUSA

Tento ainda escrever mas, tristemente,
meu coração soluça e não esquece
a musa que enfatiza a minha prece
e sinto que estou mal, estou doente.

Por que será que foste a grande ausente
na vida do poeta que padece,
(oh! fada que percorres minha messe)
e me fazes sofrer inutilmente?!...

No entanto, minha velha companheira,
eu te levo comigo na desdita,
e há de ser a esperança derradeira

de seguir versejando amargas penas,
porque em sonhos te vejo tão bonita,
e pra mim tal conforto basta, apenas...

SONETO A CANOAS

Altaneira cidade do progresso
rumo ao destino imenso te projetas;
das indústrias, fenomenal complexo,
exemplo de trabalho em tuas metas !

E irás rompendo curvas pelas retas
do amanhã promissor e do sucesso,
a fim de proclamarem os poetas
que em teu avanço não terás regresso...

Jovem ainda, contas com o vigor
de teus filhos natos e adotivos,
cada qual dedicado ao seu labor

para te verem mais engrandecida
em teus empreendimentos e atrativos;
e onde transcorra normalmente a vida.

SONETO MÍSTICO

Estou sentindo um sopro realmente...
É a hora em que refrescas minha fronte
e sou Tua flor, erguida em alto monte,
a quem deste um aroma permanente.

O dia em que eu tombar murcho no chão
recolhe para Ti todo o perfume
para que eterno queime no Teu lume
incensando Tua plácida mansão.

Não o deixes perder-se em treva densa,
mas faze que ele sempre a Ti pertença
co’a glória de servir-Te e que somente

um dia - não sei quando - em Teu louvor,
retorne finalmente à mesma flor
p’ra que unidos os guardes eternamente.

CONSOLAÇÃO

Os meus versos não servem mais pra nada;
quero jogá-los fora, pobres versos,
foram meus companheiros de jornada
nos momentos felizes ou adversos !

Muitos escritos pela madrugada,
tristes soluços na paixão imersos
parecem uma história inacabada
com fragmentos avulsos e dispersos...

Entretanto, por que jogá-los fora ?
se nasceram do fundo de minh’alma
e já não servem pra mais nada, agora ?!

São versos pobres, versos, enfim, tristes,
mas fazem que eu mantenha a minha calma
e me dizem que tu neles existes...

SAUDOSISTA

Tu me acusas de eu ser um saudosista
a viver relembrando amores idos...
como queres que assim deles desista
se foram, afinal, apetecidos ?

E viverão comigo enquanto exista
saudade dos momentos bem vividos,
representando sonhos de conquista
oh! como poderão ser esquecidos ?!

É meu dever querer-te sempre mais,
mas os direitos devem ser iguais
para que nunca Amor haja conflito.

A acusação que sai da tua boca
só te transtorna, tu pareces louca !
Aquilo que houve outrora está prescrito...

SONETO AO SOL

Nesta tarde sem chuva até parece
que a claridade abraça nossa Terra,
o sol risonho aos poucos se descerra
e alegremente brilha e resplandece...

Oh! Rei dos Astros, quanta luz encerra
tua mensagem pura como a prece,
minh alma consternada te agradece
a paz que trazes afastando a guerra !

Fugindo ao teu calor, buscando as águas,
a Humanidade olvida suas mágoas
e vai achar sossego à beira-mar...

Fazes crescer a planta com carinho
que produz folha, flor e até o espinho;
e as folhagens enfeitando o Lar.
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Sobre o poeta:
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