domingo, 26 de dezembro de 2010

Oscar Rosas (Poesias Avulsas)


EXCELSIOR

Crescem teus ódios como o mar,
Cresce-me o amor como um novilho.
Rufa o tambor, vamos cantar,
Que no teu ventre está meu filho.

Nós não sabemos que é chorar,
Somos assim como um junquilho,
Como ferreiros a forjar
0 ferro em brasa para um trilho.

Somos de ferro como as lanças,
Eu cheiro só as tuas tranças
E a minha boca só tu beijas.

Tu és a noiva da desgraça!
A nossa sátira espicaça
Como dentadas às cerejas.
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O soneto é bastante aliterado, em m no início, em f nos versos 7-8, em t no verso 10, em b no verso 11, em s no verso 13, etc. Faltam aos versos o travamento e a precisão vocabular parnasianos, e essa ausência denota o caráter simbolista da composição.
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SEREIA
(Dedicado a Emíïio de Menezes)

Reparem nesse bronze, veia a veia,
Cornucópia de seios e de escama,
Obra de um japonês, em que o Fusi-Iama
Adora o mar em enluarada areia.

Canta, e essa harmonia nos golpeia.
É duma triste e solitária gama,
Porém aumenta desse bronze a fama
O olhar amortecido da sereia.

Penso que sonha o pólo e o nevoeiro,
E a pálida talhada de um crescente
Num céu de véus de noiva e jasmineiro.

E, como búzio a referver, ressoa
Numa langue preguiça de serpente,
Num êxtase nostálgico de leoa.

VISÃO

Tanto brilhava a luz da Lua clara,
Que para ti me fui encaminhando.
Murmurava o arvoredo, gotejando
Água fresca da chuva que estancara.

Longe de prata semeava a seara...
O teu castelo, a Lua crepitando,
Como um solar de vidros formidando,
Vi-o como ardentíssima coivara.

Cantigas de cigarra na devesa...
E, pela noite muda, parecia
Cantar o coração da natureza.

Foi então que te vi, formosa imagem,
Surgir entre roseiras, fria, fria,
Como um clarão da Lua na folhagem.

Fontes:
Antonio Miranda.
Jornal de Poesia.

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