sábado, 26 de março de 2011

II Concurso de Trovas Antônio Roberto Fernandes – Academia Pedralva


VENCEDORAS
Em ordem alfabética

Noel Rosa, agora empresta
ao céu, mais encanto e brilho!...
Que Deus em noite de festa
aplaude as canções do seu filho!
Adilson Maia – Niterói-RJ

Sem Noel Rosa, a verdade,
é uma dor que não tem jeito,
do tamanho da saudade
que nem cabe em nosso peito.
Almerinda F. Liporage – Rio de Janeiro-RJ

As estrelas “Pastorinhas”
na piscadela amorosa
vão soprando as cem velinhas,
que festejam Noel Rosa!
Dirce Montechiari – Nova Friburgo-RJ

Um novo mestre no céu...
De Noel Rosa, a lição:
Harpas deixadas ao léu,
Anjos tocando violão!
Dodora Galinari – Belo Horizonte-MG

Ausente o rei da seresta
chora a Vila pesarosa...
Mas Deus recebe com festa
o seu filho, Noel Rosa!
Elen de Novaes Felix – Niterói-RJ

De Noel Rosa a lembrança
sempre traz grande emoção:
-Saudade que vive mansa,
com “Feitio de Oração”!...
Hermoclydes S. Franco – Rio de Janeiro-RJ

Na Vila Izabel famosa
onde há cem anos nasceu,
o poeta Noel Rosa
foi rei num mundo plebeu!
Licínio Antônio de Andrade – Juiz de Fora-MG

Cem anos de Noel Rosa...
O povo se rejubila
e em seresta harmoniosa
louva o Poeta da Vila!
Marina Bruna – São Paulo-SP

Noel Rosa bem sabia
o que mata uma paixão:
a noite triste e sombria,
sem luar e sem violão.
Olympio da Cruz Simões Coutinho – Belo Horizonte-MG

Inspiração fabulosa,
veia irônica sutil;
os teus sambas, Noel Rosa,
têm a cara do Brasil!
Wanda de Paula Mourthé – Belo Horizonte-MG

MENÇÃO HONROSA
Em ordem alfabética

Tecendo versos e rimas
com bossa e facilidade,
Noel Rosa, em obras primas,
pôs samba até na saudade.
Almira Guaracy Rebelo – Blo Horizonte-MG

Que versos, que repertório!
Noel Rosa foi um “bamba”.
Foi um marco divisório,
na história de nosso samba!
Ederson Cardoso de Lima – Niterói-RJ

A mercê das emoções
Noel Rosa impressionou
com suas lindas canções
que o tempo nunca apagou.
Jupyra Vasconcelos – Belo Horizonte-MG

Noel de Medeiros Rosa,
que hoje canta lá no céu,
é a voz do samba, saudosa,
que encanta Vila Izabel.
Nei Garcez – Curitiba-PR

Noel Rosa com seu tino
e talento musical,
fez do samba seu destino
e tornou-se imortal.
Nei Garcez – Curitiba-PR

Noel Rosa, a tua essência
que ao centenário desdobra,
não mede a breve existência...
mas a grandeza da obra!!!
Neide Rocha Portugal - Bandeirantes-PR

Noel Rosa eternamente
ouvirá nossos louvores,
pois sempre estará presente
nas vozes de seus cantores!
Renata Paccola – São Paulo-SP

Atingindo o apogeu,
é verdade bem sabida:
Noel Rosa não morreu
-mudou o estilo de vida...
Ruth Farah Nacif Lutterback – Cantagalo-RJ

“Eu sou da Vila” proclama,
com orgulho, Noel Rosa!
O poeta ganhou fama
e a Vila ficou famosa!
Therezinha Dieguez Brisolla – São Paulo-SP

Ante o samba, que o fascina,
Noel Rosa nem vacila,
trocou logo a medicina
pelo “feitiço” da Vila.
Wandira Fagundes Queiroz – Curitiba-PR

MENÇÃO ESPECIAL
Em ordem alfabética


Noel Rosa, na viagem
além de um rico troféu,
levou sambas , bagagem
para Deus ouvir, no céu.
Adilson Maia – Niterói-RJ

Enaltecer Noel Rosa
simplesmente numa trova,
é missão muito espinhosa
que o trovador pôs à prova...
Amael Tavares da Silva – Juiz de Fora-MG

Noel Rosa, sem desgaste,
jamais teu brilho descamba...
em Vila Isabel fundaste
o Estado Maior do Samba!
Carolina Ramos – Santos -SP

Noel de Medeiros Rosa,
nascido em Vila Isabel,
mestre no verso e na prosa,
no samba - foi bacharel!
Djalda Winter Santos – Rio de Janeiro-RJ

Noel Rosa, quem diria,
sem cigarro e sem chapéu,
chegou só, sem parceria,
pra fazer samba no céu.
Francisco José Pessoa – Fortaleza-CE

Noel Rosa, esse talento,
partiu da Vila tão cedo...
Mas, por Noel, canta o vento
e dança até o arvoredo.
Hegel Pontes Juiz de Fora-MG

Noel Rosa, o menestrel...
que pôs feitiço no samba,
provou que a Vila Izabel
é terra de gente bamba!...
Jorge Roberto Vieira – Niterói-RJ

Calçadas em partituras,
Noel Rosa ali deixou,
sua Vila em escrituras
grande herança que ficou!
Lucia Helena de Lemos Sertã – Nova Friburgo-RJ

Noel Rosa, qual canário,
em nossa memória estrila
cantando, no centenário,
o seu Feitiço da Vilia!...
Marcos Antônio de Andrade Medeiros – Lagoa Nova, Natal-RN

Noel Rosa tem feitiço
nos sambas de qualidade
e louvá-lo é compromisso
dos sambistas de verdade!
Rodolpho Abbud –Nova Friburgo-RJ

Fonte:
Roberto Pinheiro Acruche

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.166)


Uma Trova Nacional
Quando a vida se distrai
ou dá tudo... Ou tudo nega.
Rico... Pega o carro e sai.
Pobre sai... E o carro pega!
– Terezinha Brisolla/SP –

Uma Trova Potiguar
Três invenções sem futuro:
Carro, mulher e baralho.
As três me deixaram “duro”,
não sei quem deu mais trabalho!
– Francisco Macedo/RN –

Uma Trova Premiada

2008 > Bandeirantes/SP
Tema > TRABALHO > M/E

No trabalho a vida é dura,

minha grana é tão ausente,

que vendi a dentadura

pra comprar pasta de dente!

CLENIR NEVES RIBEIRO – RJ


...E Suas Trovas Ficaram
Quando a mulher do Gastão
troca de carro ou vestido,
a gente tem a impressão
que ela trocou de marido!...
– Aloísio Alves da Costa/CE –

Simplesmente Poesia

– Louro Branco/CE –
O QUE EU FAÇO SEM GOSTAR...

Promover um forró sem tocador
e pregar com pastor embriagado,
galopar com jumento encangalhado
e viajar no meu carro sem motor;
trabalhar com patrão enganador
e contratar um ladrão pra me roubar,
pegar filho dos outros pra criar,
mascar fumo e montar em égua tonta,
me juntar com mulher que bota ponta
são as coisas que eu faço sem gostar!

Estrofe do Dia
Sem bloco e sem bateria,
no carnaval do poeta
o folião não domina
nem samba-enredo interpreta,
a gente busca as metáforas
e a natureza completa.
- Jonas Bezerra/CE -

Soneto do Dia

– Renata Paccola/SP –
AZAR.

Certo dia, acordei de mau humor –
resquício de uma noite mal dormida.
Peguei o carro, e então fundiu o motor,
Segui para o metrô, enfurecida.

Tentei continuar com minha lida,
mas fiquei presa num elevador.
Neste compartimento sem saída,
passei horas de angústia e terror,

e saí sob o som de bate-estaca.
Depois, no meio de um supermercado,
senti a dor de um burro quando empaca.

Foi aí que vi, quase ao meu lado,
irônicos dizeres numa placa:
“Sorria. Você está sendo filmado!”

Fonte:
Ademar Macedo

Antonio Brás Constante (Na Dúvida, Dê Bom Dia ao Caos)


Alguns adeptos da teoria do Caos dizem que se uma borboleta bater suas belas asas em algum lugar do oriente, ela poderia desencadear uma onda de fatos e fatores que destruiriam alguma coisa importante no ocidente, talvez sua casa, talvez a minha, ou talvez a casa de outra borboleta que estaria de férias na praia, também batendo suas asas só de sacanagem (a praia é um lugar onde até as borboletas ficam propensas a sacanagens) para destruir alguma coisa no outro lado do mundo.

Não é muito difícil de acreditar que insignificantes acontecimentos acabem gerando novos acontecimentos que nos façam parecer insignificantes. Para ocorrer um deslizamento de terra, por exemplo, tudo começa com uma única gotinha de água, que cai inofensiva em alguma encosta de morro. Mas quando percebemos que outras milhares de gotinhas parecem ter a mesma idéia de cair naquela mesma encosta o resultado é devastador.

Percebo isso também no trânsito (no meu caso na BR 116 por onde passo quase todos os dias), me parece que um simples bater de asas de uma borboleta, morcego, mosquito ou pernilongo, podem tirar a atenção do motorista que está a doze quilômetros de distância na minha frente, fazendo-o diminuir a velocidade de seu veículo por uma fração de segundo, está fração vai se estendendo para os carros atrás dele e o resultado é um nada belo engarrafamento matinal.

Com base nesta afirmação de que uma ação gera uma cadeia de reações, podemos imaginar que um simples e sincero “bom dia” muitas vezes tem o poder de poder mudar o curso de toda uma vida. Basta acreditarmos nisso. Mas se isso não der certo viaje até algum lugar do oriente e solte uma borboleta por lá, para que ela voe livre batendo suas asas na esperança que isso possa transformar o mundo em que vivemos (de preferência em algo melhor).

Enfim, na dúvida dê bom-dia ao caos, pois se os seres humanos sofrem com suas crises de humor, quem dirá a essência do caos, que com sua forma alucinada pode variar entre todos os estados de humor (passando pelos municípios, cidades e países do humor também), e receber bem este pequeno gesto. Tratar o mundo caótico que nos rodeia com a mesma gentileza com que gostaríamos de ser tratados, é uma forma de se demonstrar que você também sabe lidar com a loucura... Ou que já está completamente contaminado por ela.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://tododiaumtextonovo.blogspot.com/2011/03/progresso-ou-caos.html

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Projeto Quatro em Um) n.5


TRAVESSIA
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ

Peguei o rumo da estrada
Marcando firme o compasso
E fui buscar meu espaço
No romper da madrugada.

Atravessei as cancelas,
Saltei valas e valões,
Abri portas e janelas,
Penetrei pelas favelas,
Andei muitos quarteirões.

Busquei fé e esperança,
Dividi o pão que tinha,
Rezei muitas ladainhas,
Pedi a DEUS proteção...
Dei o abraço apertado
No meu tão sofrido irmão!

Passei fome, senti sede,
Pisei em pedras e espinhos,
Nunca fugi dos caminhos
Que pela vida encontrei
Pois quem foge é covarde
E eu nunca me acovardei.

Fui em busca de um amor,
Movido pela paixão.
Machuquei meu coração,
Que tanto tinha pra dar,
Mas fingi não sentir dor
Conjugando o verbo amar.

VOZ QUE SE CALA
Florbela Espanca
Portugal, 1894/1930

Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera, que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...

SENTIMENTOS
Prof.Garcia/RN

Quando o dia se apressa e vai embora,
num silêncio que fere e que angustia,
a tristeza me invade e me devora,
nas horas sepulcrais, do fim do dia.

Como quem diz adeus e triste chora,
vai-se o sol delirando de agonia,
e a cortina da noite, Deus decora,
com luz tênue, de vã melancolia.

Distante, bem distante, muito além,
a tristeza me acena, como quem
se despede de alguém, que já morreu,

foi apenas a luz de um dia lindo,
que cansada, acenou quase dormindo
e nos braços da noite adormeceu!

TROVAS
Extraída de Mensagens Poéticas, editado diariamente pelo grande poeta
e trovador Ademar Macedo/RN, a quem agradecemos, aqui neste projeto,
o carinho do envio.

Minha mulher, minha amada,
Tanto me envolve e seduz...
-Se ela for crucificada
Eu quero ser sua cruz!
(Héron Patrício/SP)

Muitos, dizem, pertencer,
as castas da cristandade;
mas mantém, no proceder,
presunção e má vontade...
(Pedro Grilo/RN )

Teu poder de sedução.
e a magia dos teus braços,
levam minha solidão
a percorrer os teus passos ...
(Mílton Nunes Loureiro/RJ )

Desde os meus tempos mais idos,
que eu sonho de toda cor;
e meus sonhos coloridos,
são sempre os sonhos de amor!...
(Ademar Macedo/RN)

Somente o Grande Arquiteto
escritor sábio e fecundo,
consegue escrever correto
nas linhas tortas do mundo!
(Aloisio Alves da Costa/CE )

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Fonte:

A.M.A. Sardenberg

sexta-feira, 25 de março de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.164 e 165)


Uma Trova Nacional
Se temos paz, temos tudo,
pois ela nos satisfaz!
Conheço gente, contudo,
que tem "tudo", menos paz!
– Antônio Sardenberg/RJ –

Uma Trova Potiguar
Se o aquecimento global
não for combatido agora,
o amanhã será fatal,
o fim virá sem demora.
– Ieda Lima/RN –

Uma Trova Premiada

2006 > Fortaleza/CE
Tema > ESQUINA > 3º Lugar.

Parece que a minha sina
na caminhada da vida,
é deixar em cada esquina
uma esperança perdida.
– Nazareno Tourinho/PA –

Uma Trova de Ademar
Temo por nossa criança
que tem nas mãos um fuzil,
matando toda esperança
no futuro do Brasil...
– Ademar Macedo/RN –

...E Suas Trovas Ficaram
Não foste a minha metade,
pois jamais me deste um "sim".
Mas fizeste que a saudade
fosse metade de mim!
– José M. Machado Araújo/RJ –

Simplesmente Poesia

Agnelo Campos/SP –
C H U V A.

Disseram que ela caiu ...
Mentira !
A chuva não caiu.
Ela dançou a noite toda,
e, de madrugada,
cansada,
deitou-se ao chão
e escorregando tonta
foi dormir no lago ...

Estrofe do Dia
Só um cego não vê essa verdade,
totalmente lógica para um crítico.
Não é prioridade do político,
o dinheiro polui a humanidade.
No direito e na religiosidade
tudo é feito “por debaixo do pano”
o honesto sofre grande desengano
o mundo está pior do que se pensa:
Dinheiro compra o juiz e a sentença
e degrada de vez o ser humano...
– Francisco Macedo/RN –

Soneto do Dia

– Batista Soares/CE –
CACO DE VIDRO.

A reluzir – joia esplendente e rara,
no escrínio escuro de veludo opaco
da noite, que de luz se iluminara,
vi-o. Era, de um vidro, um simples caco...

Ante o seu brilho intenso eu exclamara:
– Bela jóia! Mas logo o ardor aplaco
ao ver que toda refulgência clara
provinha só de vítreo e mero caco...

Quanta gente anda a blasonar grandezas,
mostrando as chamas da virtude acesas,
a quem, no verso, com malícia exalço,

cujo valor reside na aparência!...
– Não tem, sequer, do vidro a transparência
E todos sabem que este brilho é falso...

Mensagens Poéticas n. 164

Uma Trova Nacional
Agonia é ver teus passos
numa pressa que alucina
e saber que noutros braços
a tua pressa termina.
– Ana Maria Motta/RJ –


Uma Trova Potiguar
Dos meus poemas diversos
inspirados no amor,
são esses os últimos versos
de um poeta trovador.
– Djalma Mota/RN –

Uma Trova Premiada

2006 > CTS/Caicó/RN
Tema > PONTE > 7º Lugar.

Deus construiu no horizonte,
onde ninguém pode ver,
uma belíssima ponte
que a gente cruza ao morrer!
Josafá F. da Silva/RJ –

Uma Trova de Ademar
O meu cérebro é um motor
que não se gasta energia...
Trabalha a todo vapor,
pois é movido a poesia.
– Ademar Macedo/RN –

...E Suas Trovas Ficaram
Saudade!... Raio de lua,
suprindo o Sol que brilhou...
Tábua solta, que flutua,
depois que o amor naufragou!
– Waldir Neves/RJ –

Simplesmente Poesia

Gilson Faustino Maia/RJ –
OBRIGADO, SENHOR!

Obrigado, Senhor, por nascido,
por ter sido gerado na esperança.
Por ter vivido os tempos de criança
por um amor de mãe bem acolhido.

Obrigado pelos mestres, sempre atentos,
e os amigos que tive e os que terei.
Pelas rainhas para quem fui rei,
pela saudade, pelos sofrimentos.

Pelas pedras, também, da longa estrada,
pelas diversas formas de carinho.
Por lindas flores, pelos passarinhos
e pela linda lua prateada.

Por este céu azul de sol bem quente
e por ter aprendido o verbo amar.
Pelo perdão que vivo a suplicar
aos erros meus, dos quais sou consciente.

Dai-me, Senhor, a paz ao coração
e uma rima feliz na poesia.
Dai-me saúde, Pai, muita alegria
E a cada dia mais inspiração.

Estrofe do Dia
Até nos brutos se vê
Que a mãe ao filho quer bem,
Morre o bezerro, e a vaca
Com o desgosto que tem,
Se intriga até com o dono
Não dá mais leite a ninguém.
– Pinto do Monteiro/PB –

Soneto do Dia

– Dedé Monteiro/PB –
AS QUATRO VELAS.

Quatro velas falavam sobre a mesa.
E falavam da vida e tudo mais...
A primeira falou: - Eu sou a paz,
mas o mundo não quer me ver acesa.

A segunda, com suspiros desiguais,
disse triste: - É a fé a minha empresa;
nem de Deus se respeita a realeza.
Sou supérflua; meu fogo se desfaz.

A terceira murmura, já sem cor:
-Estou triste também, sou o amor;
mas perdi o fulgor, como vocês.

Foi a vez da esperança, a quarta vela:
-Não desista ninguém: a vida é bela!
E acendeu, novamente, as outras três.

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 23 de março de 2011

Marcelo Spalding (História da Leitura) I - As Tábuas da Le e o Rolo/ II - O Códice Medieval


I - As Tábuas da Le e o Rolo

Poucas gerações testemunharam tantas mudanças tecnológicas como a nossa, esta que agora ocupa os bancos universitários, as redações de jornais e revistas, as diretorias das grandes empresas, esta geração que cresceu lendo livros impressos e agora resiste à ideia de novos suportes para a leitura.

Tal aceleração por vezes nos faz esquecer que inovações técnicas, ainda que num ritmo mais lento, ocorrem desde que o homem é homem e foram fundamentais para que um ser frágil como o nosso pudesse sobreviver num ambiente hostil e perigoso como a Terra. Leroi-Gourhan chega a afirmar que, pela liberação da mão e pela exteriorização do corpo humano, "a aparição do homem é a aparição da técnica; é a ferramenta, isto é, a tekhnè, que inventa o homem, e não o homem que inventa a técnica".

Transpondo essa afirmação para a história da leitura, poderíamos dizer que são as técnicas de reprodução da escrita que inventam o leitor, e não o leitor que inventa tais técnicas, o que significa que os suportes digitais de leitura não são feitos para a geração acostumada com os códices impressos, e sim irá engendrar um novo leitor familiarizado com as novas tecnologias. Tal transformação, ainda que violenta, não é exatamente inédita na longa história da leitura.

Robert Darnton, em A questão dos livros, identifica quatro mudanças fundamentais na tecnologia da informação desde que os humanos aprenderam a falar: a invenção da escrita, a substituição dos rolos de pergaminho pelo códice, a invenção da imprensa com tipos móveis e, finalmente, a comunicação eletrônica.

A invenção da escrita, vale lembrar, é tida pelos historiadores como marco de transição entre a Pré-História e a Idade Antiga, ou Antiguidade, o que revela a absoluta importância da escrita para o desenvolvimento da nossa civilização. Não há consenso entre os historiadores sobre a data ou o local do surgimento da escrita, o mais provável é que sua invenção tenha se dado em vários lugares do mundo de forma independente a partir do momento em que as transações e a administração dos povos se torna mais complexa, além das possibilidades da memória.

Um mito narrado por Platão mostra o quão difícil foi essa substituição da memória pela escrita: Thoth, um deus egípcio criador da escrita, dos números, do cálculo, da geometria, da astronomia e dos jogos de damas e dados, leva seus inventos a Tamuz, rei de Tebas, esperando que eles possam ser ensinados aos egípcios; a escrita, segundo seu inventor, tornaria os homens mais sábios, fortalecendo-lhes a memória. Comenta Thoth: "com a escrita inventei a grande auxiliar para a memória e a sabedoria", a que responde Tamuz:

Tu, como pai da escrita, esperas dela com o teu entusiasmo precisamente o contrário do que ela pode fazer. Tal cousa tornará os homens esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando apenas nos escritos, só se lembrarão de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos. Logo, tu não inventaste um auxiliar para a memória, mas apenas para a recordação. Transmites aos teus alunos uma aparência de sabedoria, e não a verdade, pois eles recebem muitas informações sem instrução e se consideram homens de grande saber embora sejam ignorantes na maior parte dos assuntos. Em consequência serão desagradáveis companheitos, tornar-se-ao sábios imaginários ao invés de verdadeiros sábios.

A escrita, naturalmente, com o tempo mostrou-se fundamental não apenas como auxiliar para a memória, mas também para materializar um conteúdo que não pode dispersar-se, como o conhecido Código de Hamurábi, datado do século XVIII a.C.. O Código de Hamurábi é um monumento monolítico talhado em rocha de diorito sobre o qual se dispõem 46 colunas de escrita cuneiforme acádica. Seu texto expõe as leis e punições caso não sejam respeitadas, legislando sobre matérias muito variadas. Embora houvesse outros códigos entre os sumérios, que viveram entre 4000 a.C. a 1900 a.C. na Mesopotâmia, o Código de Hamurábi foi o que chegou até os dias atuais de forma mais completa e simboliza bem, num tempo de bits efêmeros, a importância da palavra talhada na solidez de uma rocha milenar.

Da mesma época são os Dez Mandamentos entregues a Moisés no Monte Sinai, uma das mais contundentes passagens bíblicas: "Então disse o SENHOR a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar".

Apesar da importância desses códigos escritos em rochas sólidas, a escrita não teria se tornado marco zero da história da humanidade não houvesse um suporte capaz de facilitar seu manuseio e transporte, o que tornou a escrita um código com fins muito mais amplos do que, por exemplo, as pinturas ruprestes feitas nas cavernas pelos homens ditos pré-históricos.

O papiro, desenvolvido no Egito por volta de 2500 a.C., é hoje considerado o primeiro suporte para a escrita. Para confeccionar o papiro, era cortado o miolo esbranquiçado e poroso do talo em finas lâminas. Depois de secas, estas lâminas eram mergulhadas em água com vinagre para ali permanecerem por seis dias, com propósito de eliminar o açúcar. Novamente secas, as lâminas eram dispostas em fileiras horizontais e verticais, sobrepostas umas às outras. A seguir as lâminas eram colocadas entre dois pedaços de tecido de algodão, sendo então mantidas prensadas por mais seis dias. Com o peso da prensa, as finas lâminas se misturavam homogeneamente para formar o papel amarelado, pronto para ser usado. O papiro pronto era, então, enrolado a uma vareta de madeira ou marfim para criar o rolo que seria usado na escrita.

Embora a palavra grega biblos (ß?ß????) signifique hoje tanto rolo quanto livro, a leitura nesse rolo é muito diferente da leitura de um livro como hoje o conhecemos. O rolo é uma longa faixa de papiro - ou, mais tarde, de pergaminho - que o leitor deve segurar com as duas mãos para poder desenrolá-la, fazendo aparecer trechos distribuídos em colunas. Não é possível, por exemplo, que um autor escreva ao mesmo tempo que lê.

Os rolos, criados posteriormente à invenção da escrita e, naturalmente, por causa dela, foram fundamentais para o que hoje chamamos de literatura, pois os textos gregos da época de Sócrates, Platão e Aristóteles, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes se tornaram a base da cultura Ocidental e puderam sem preservados em locais específicos para este fim, como a lendária Biblioteca de Alexandria.

A Biblioteca de Alexandria, uma das maiores bibliotecas do mundo antigo, foi fundada no início do século III a.C. por Alexandre, o Grande, que teve como tutor ninguém menos que Aristóteles, e existiu até a Idade Média, quando foi totalmente (ou quase) destruída por um incêndio casual. Calcula-se que havia mais de quinhentos mil rolos na Biblioteca de Alexandria, mas como uma obra podia ocupar, sozinha, dez, vinte, até trinta rolos, havia um número de obras muito menos significativo. Segundo Chartier, só o catálogo da biblioteca era constituído de cento e vinte rolos.

À medida que a escrita foi ganhando em importância e valor, outro suporte, que embora mais caro era menos quebradiço e resistia melhor ao tempo, passou a ser muito utilizado nas confecções dos rolos: o pergaminho. O pergaminho é um material feito da pele de um animal (geralmente cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha) e especialmente fabricado para se escrever sobre ele. A origem do seu nome é a cidade de Pérgamo, onde havia uma produção vasta e de grande qualidade deste material, e há controvérsia se sua origem remonta mesmo a esta cidade. De qualquer forma, na Biblioteca de Pérgamo, contemporânea a de Alexandria, os rolos em papiro eram copiados em pergaminho, e este material foi fundamental para a preservação dos textos da Antiguidade.

Carrière e Eco, em Não contem com o fim do livro, contam que Régis Debray, filósofo francês, perguntou-se o que teria acontecido se os romanos e gregos tivessem sido vegetarianos: "não teríamos nenhum dos livros que a Antiguidade nos legou em pergaminho, isto é, numa pele de animal curtida e resistente" (2010, p. 104).
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II - O Códice Medieval

A segunda grande mudança tecnológica, a passagem do rolo para o códice, deu-se logo após o início da era cristã, durante o Império Romano.

A segunda grande mudança tecnológica, a passagem do rolo para o códice, deu-se logo após o início da era cristã, durante o Império Romano. Nessa época, juristas decidiram manusear o pergaminho de forma diferente, dobrando-o em quatro ou em oito. Esse caderno era chamado de volumem, uma denominação usada ainda hoje. Costurando esses cadernos uns aos outros, eram construídos o que se chamava de códex (códice).
Tal inovação, afora ser crucial para a difusão do cristianismo, foi fundamental para a história da leitura, pois, como afirma Chartier, enquanto que os formatos de rolo encorajavam leituras sequenciais a expensas do movimento descontínuo para adiante e para trás em um dado texto, a estrutura paginada do códex promovia o desenvolvimento de novas práticas de leitura propriamente "livrescas", uma ruptura muito maior do que seria a invenção da imprensa por Gutenberg.

É nesse período que se difunde a prática da leitura silenciosa, tendência que se consolida exatamente por causa da mudança técnica do rolo para o códice. Umberto Eco simboliza essa passagem da leitura em voz alta para a leitura silenciosa no espanto de Agostinho: "a leitura, até santo Ambrósio, era feita em voz alta. Foi ele o primeiro a começar a ler sem pronunciar as palavras, o que mergulhara santo Agostinho em abismos de perplexidade".

A propósito da leitura silenciosa, os primeiros textos que impunham silêncio nas bibliotecas são apenas dos séculos XIII e XIV, é apenas nesse momento que, entre os leitores, começam a ser numerosos aqueles que podem ler sem murmurar, sem 'ruminar', sem ler em voz alta para eles mesmos a fim de compreender o texto.

Além dessa importante mudança na forma de ler, o códice seria também responsável por grandes mudanças na forma de escrever, como nos conta Darnton:

"A página surgiu como unidade de percepção e os leitores se tornaram capazes de folhear um texto claramente articulado, que logo passou a incluir palavras diferenciadas (isto é, palavras separadas por espaços), parágrafos e capítulos, além de sumários, índices e outros auxílios à leitura."

Se voltarmos às imagens do Código de Hamurábi, do rolo e do códice medievais, realmente não encontraremos espaço entre as palavras, tampouco a divisão em parágrafos, uma organização para o texto que hoje nos parece tão natural mas que está ligada ao novo suporte da escrita e à superação de suas limitações. Não que um suporte mais antigo seja mais limitado que o outro, mais moderno, em geral o que ocorre é um ganho em alguns aspectos e uma perda em outros.

O códice medieval, nesse sentido, era uma página elaborada manualmente por um copista num processo muito mais demorado porém artesanal, com ilustrações, cores, arabescos e, por vezes, até comentários às margens que faziam de cada exemplar algo único. Esta talvez seja a grande diferença do códice medieval para o livro impresso que viria a seguir.

Umberto Eco resgata o já lendário ambiente de um scriptorium de copistas em O Nome da Rosa, representando monges de preferências e ideologias variadas criando seus códices com cuidado, dedicação e paixão:

"Aproximamo-nos daquela que fora o local de trabalho de Adelmo, onde estavam ainda as folhas de um saltério com ricas iluminuras. eram folia de vellum finíssimo ? rei dos pergaminhos ? e o último ainda estava preso à mesa. Apenas esfregado com pedra-pome e amaciado com gesso, fora lixado com a plaina e, dos minúsculos furos produzidos nas laterais com um estilete fino, tinham sido traçadas todas as linhas que deviam guiar a mão do artista. A primeira metade já estava coberta pela escritura e o monge tinha começado a esboçar as figuras nas margens. (...) As margens inteiras do livro estavam invadidas por minúsculas figuras que eram geradas,como por expansão natural, pelas volutas finais das letra espledidamente traçadas: sereias marinhas, cervos em fuga, quimeras, torsos humanos sem braços que se espalhavam como lombrigas pelo próprio corpo dos versículos. (...) Eu seguia aquelas páginas dividido entre a admiração muda e o riso, porque as figuras conduziam necessariamente à hilariedade, embora comentassem páginas santas."

É importante ressaltar que este cenário descrito por Eco já é do segundo milênio cristão (o romance se passa em 1327 d.C.), época em que outros importantes acontecimentos contribuiriam para o surgimento da prensa de Gutenberg e para a proliferação dos livros além dos muros eclesíasticos. Um deles é o surgimento das Universidades na Europa, uma instituição que de certa forma retomava o ideal das Academias gregas, em que atividades artísticas, literárias, científicas e físicas eram organizadas num único espaço, promovendo a universalidade do saber e a integração das áreas.

Na concepção moderna, a Universidad de Bolonia (Itália), de 1089, é considerada a primeira do mundo ocidental: "L'Istituzione che noi oggi chiamiamo Università inizia a configurarsi a Bologna alla fine del secolo XI quando maestri di grammatica, di retorica e di logica iniziano ad applicarsi al diritto". Logo a seguir surgiram a Universidade de Oxford (Inglaterra), em 1096, a Universidad de París (França), em 1150, a Universidade de Palência (Espanha), em 1208, precursora de la Universidad de Valladolid, a Universidade de Coimbra (Portugal), em 1290, entre outras.

Este aumento pela demanda de suportes para a escrita fez com que se buscasse alternativas ao pergaminho, popularizando o uso do papel. O papel foi inventado pelo chinês Cai Lun em 105 a.C., que sugeriu a utilização de casca de amora, bambu e grama chinesa como matérias-primas. No século VII, esse conhecimento foi levado à Arábia por um monge budista e de lá para à Europa através dos mouros.

Na Itália, o papel era considerado um produto medíocre em comparação ao pergaminho, tanto que Frederico II, em 1221, teria proibido o uso em documentos públicos. O consumo, entretanto, só aumentava, e em 1268 foi criada a primeira fábrica de papel da Europa em Fabriano, uma pequena cidade entre Ancona e Perugia. O monopólio comercial da fabricação italiana durou até o século XIV, quando a França, que o produzia utilizando linha desde o século XII, a partir da popularização do uso de camisas e das consequentes sobras de tecido e camisas velhas pôde passar à fabricação de papel a preços econômicos, o que seria fundamental para a invenção da impressão por tipos móveis de Gutenberg, na década de 1450.
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continua...
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Fonte:
Digestivo Cultural. http://www.digestivocultural.com/

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Entre Amigos II)


ESTAÇÕES
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Chuva fina e persistente,
O céu cinzento de inverno,
Faz frio dentro da gente,
E essa saudade latente
Faz o tempo quase eterno.

Chuva forte e passageira,
Céu brilhante de verão...
No meu ninho, a companheira
Quer amor a noite inteira
Num frenesi de paixão!

Chuva miúda de outono,
A natureza despida...
Depois do amor vem o sono
Para dar vigor à vida
Que desperta soluçando
No momento da partida.

Chuva branda e colorida,
Arco – íris, aquarela.
Nos campos flores sortidas
São pincéis tingindo a vida
Com as cores da primavera.

QUEM SOU
Eliane Couto Triska

Sou a pobre... a pequena cantareja
De desejos e amor sobrepujantes
Sou começo do que há, a que flameja
Dos acenos que saúdam visitantes.

Pergunto-me: sou encontro ou partida?
Se poema, se um conto ou uma prosa
Quando escrevo o meu nome com a rosa
Do perfume que te trago à minha vida.

Compreender-me é fugir do igual conceito
Das métricas do soneto quando eleito
Que proíbem o verso à compaixão.

E tu que me lês.. sou como escrevo
Um sonho que liberto no relevo
Das letras como bolhas de sabão.

CONCEPÇÃO
Marise Ribeiro

Acordei com desejos,
desejos insaciáveis de copular.
Copular com o sol,
transgredir com o tempo,
deitar-me com o vento
e me sentir rodopiar num frenesi
até o firmamento.
Quero me deixar penetrar pela chuva
e num gozo intenso perceber
que não me protegi com o preservativo da ignorância.
Vestida com o lingerie transparente da saudade,
me excitarei com os contornos eróticos das montanhas.
Quero disputar com as flores
a atenção do orvalho.
Depois, em um ninho de pétalas,
acasalar-me com os pássaros.
Dormir agarrada com a terra
até o pôr-do-sol sair envergonhado
e voltar a me saciar com as cores do infinito.
Rolar na areia voluptuosamente
e cavalgar no mar morno do entardecer.
Quando a noite chegar,
quero namorar com a lua
e traí-la com as estrelas.
Quero perambular pelos becos desertos
descobrindo todos os prazeres da escuridão.
Como uma mariposa,
voar em círculos lascivos
e me entregar à chama do lampião.
Cair então saciada, plena;
plena no ventre, com a semente do Universo.
... E parir, tempos depois,
com gemidos de intensa alegria,
a bela e tão sonhada poesia!

DISTÂNCIA
José Ernesto Ferraresso

Se essa distância for constante
A tristeza provocará a dor,
e junto a dor chegará a lágrima...
Outono é frio,
folhas caem, e a brisa,
molha as folhas
e o vento as levam...
Esse frio cala na pele ,
que a resseca,
como folhas que se desfazem...
Eu ainda me lembro de você.
Éramos felizes...

DONO DA MINHA PAIXÃO
Sônia Salete

Amanhece...
A claridade penetra pelas transparentes cortinas…
Os sons de vida se espalham pelo ar...
A brisa matinal refresca meu corpo
Você está aqui,
Comigo...
O dia se transforma então ,
Num momento mágico
Onde estrelas explodem no meu coração!
Dia de luz...
Dia de sol...
Vou te prender sempre bem dentro da minha ilusão...
Até você dizer:
“Tu és a dona da minha paixão

MILAGRE DO AMOR
Graça Ribeiro

Na memória de um tempo azul
dentro de um templo de anjos
construíamos fios de sonhos

Apenas a presença do amor
esculpia beijos de eternidade
dentro dos sussurros do silêncio

A vida fluía como água de rio
na claridade do cotidiano
onde não havia espaço vazio

Havia "sementes de estrelas"
entrelace de dedos e agulhas
tecendo vida em meus cabelos

Havia o gozo, o desejo de plenitude
naquela hora em que o céu fomos nós
na ternura de um amor sem ponteiros

RETRATO
Hilda Persiani

Hoje, revendo o seu retrato,
Que o tempo impiedoso desbotou,
Constatei, com tristeza, que de fato,
Da mocidade só a saudade me restou.

Por um momento tive a ilusão
Que o seu retrato criou vida,
Sorriu, chamou-me de querida
E fez acelerar meu coração...

De repente o sonho se desfez...
Ele novamente foi descorando
Voltando a ser só um retrato outra vez.

Mas nesse breve sonho de momento,
Eu me senti feliz e então chorando
O seu retrato beijei com sentimento!...

Extraído do Livro Só Poesias de Hilda Persiani
Editora Celeiro de Escritores

FUGA
Zena Maciel

Eu queria dormir e não pensar em nada,
Apagar os pensamentos,
Descansar nas asas do vento,
Fechar as portas do coração,
Não saber quando acordar.

Estou cansada de mim!
Quero entender as dores,
Aceitar suas imposições,
Sorrir da falta do meu sorriso,
Driblar a infelicidade...

Viajar à toa pelo infinito,
Descansar nos travesseiros
macios dos querubins,
Brincar com meus fantasmas,
Conviver com o silêncio dos mortos...

Não pensar no ontem, nem no hoje
e tampouco no amanhã...
Navegar pelo paraíso perdido,
onde o desejo estivesse
ao meu alcance, sem precisar
ficar à procura de nada...

Vagar por entre as nuvens,
Sem nada querer e sem nada perder...
Diluir-me nas asas do tempo,
Encontrar-me com fadas e duendes...

Não me preocupar em saber o que sou,
o que fui ou o que poderei vir a ser...
Queria voar, voar, voar,
até fugir de mim...
Perder -me no infinito de um
sonho e ficar lá para sempre!

Fonte:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

I Prêmio Mac de Poesia (Resultado Final)


Promoção:
MAC: Instituto Cultural Manoel Antonio de Carvalho
Rua Eduardo Porto,612,Cidade Jardim-Belo Horizonte-Cep-30380-060-BH
Anfitriã-Coordenadora-Geral: Norma Sueli de Souza
Realização:
MAC/BH/MG/Brasil, Clube Brasileiro da Língua Portuguesa, Academia de Letras do Brasil-Minas Gerais.
Curadora: Sílvia Araújo Motta

POEMAS:

VENCEDORES:

1º Lugar: NOVAS DIMENSÕES _ Luiz Gondim de Araújo Lins (RJ)

2º Lugar: CELEBRAÇÃO _ João Bosco de Castro (MG)

3º Lugar: ERUPÇÕES DO SILÊNCIO III _ Victor Manuel da Clara Dias (Seixal/Portugal)

MENÇÃO HONROSA:

1º Lugar: FÚRIAS DE UMA SAUDADE _ Paulo César Coelho (RJ)

2º Lugar: VAZIOS _ Hildebrando Souza Menezes Filho (SC)

3º Lugar: ÉS A ENERGIA _ Belkiss Diniz Ribeiro da Glória (MG)

4º Lugar: FLOR CADENTE _ Paulo Silas Rodrigues Sena (CE)

MENÇÃO ESPECIAL:

1º Lugar: SONETO DA AMIZADE _ Ana Maria da Silva (PE)

2º Lugar: 6 TROVAS _ Maria Beatriz Silva (RJ)

3º Lugar: ROÇA VAZIA _ Eduardo Rennó Gomes (MG)


TROVAS:

VENCEDORES:

1º Lugar: Wanda de Paula Mourthé (MG)

2º Lugar: Arlindo Tadeu Hagen (MG)

3º Lugar: Almira Guaracy Rebelo (MG)

MENÇÃO HONROSA:

1º Lugar: Thereza Costa Val (MG)

2º Lugar: Relva do Egypto Rezende Silveira (MG)

3º Lugar: Auxiliadora de Carvalho e Lago (MG)

4º Lugar: Lygia Gomes de Pádua (MG)

MENÇÃO ESPECIAL

1º Lugar: Gabriel Bicalho (MG)

2º Lugar: Maria Carmem de O. A. Ximenes (MG)

3º Lugar: Alair de Almeida (MG)


ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR PEDRO ALEIXO:

POEMAS DOS ALUNOS VENCEDORES

1º Lugar: DESTINO _ João Marcos Araújo de Souza

2º Lugar: SONHOS _ Marquison Queiroz Santos

3º Lugar: A PAZ _ Atilon dos Santos Chaves


MENÇÃO HONROSA

1º Lugar: AMOR _ Carmem Freitas de Jesus

2º Lugar: INSPIRAÇÃO _ Gilliard Ramos dos Santos

3º Lugar: ALEGRIA _ Lucas Teixeira Santos

4º Lugar: VIDA _ Tuany Luíza Rodrigues Soares

MENÇÃO ESPECIAL

1º Lugar: DESEJO_ Ezequiel Marques da Silva

2º Lugar: SONHOS_ Pedro Henrique Andrade Silva Santos

3º Lugar: PAZ _ Bárbara Silva de Oliveira

Fonte:
Clube Brasileiro da Lingua Portuguesa BH MG Brasil

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.163)


Uma Trova Nacional
Sofro, não nego! O destino
Levou-te dos braços meus.
Por pouco não perco o tino,
pois, nem me disseste adeus!
– ZENAIDE MARÇAL/CE –

Uma Trova Potiguar
Na madrugada sem fim,
a saudade, desvairada,
acende um confronto em mim
entre um ninguém e um nada!...
– MANOEL CAVALCANTE/RN –

Uma Trova Premiada

2005 > Niterói/RJ
Tema > ENCONTRO > Venc.

Há muita gente perdida,
que vive sem ruma, a esmo,
adiando sempre, na vida,
o encontro consigo mesmo!...
– LOURDES REGINA GUTBROD/RJ –

Uma Trova de Ademar
Em quase todos momentos,
os fazedores de versos
transportam seus pensamentos
para quaisquer universos...
– ADEMAR MACEDO/RN –

...E Suas Trovas Ficaram
Teu olhar sereno e terno
sobre os meus olhos pousou,
qual chuva de fim de inverno
num campo que já secou.
– ADAUTO GONDIN/CE –

Simplesmente Poesia

– José Lucas de Barros/RN –
EU E O TEMPO.

O crescimento da idade
só nos leva para frente,
por isso, em doze de março,
me sinto muito contente
por mais um ano de vida
que Deus me dá de presente.

Essa glória de ser gente,
capaz de fazer o bem,
já mostra toda a beleza
que nossa existência tem,
graças aos fluidos eternos
Que lá das alturas vêm.

O tempo até me faz bem,
não me dói nem causa estresse,
vai medindo minha estrada,
pouco importa se envelhece,
pois toda fruta só fica
doce quando amadurece.

Aprendi a fazer prece
e a ter amor sem medida,
a ver o irmão como irmão
nesta “terra prometida”,
buscando a paz e a concórdia
no campo aberto da vida.

Estrofe do Dia
Vamos quebrar as pistolas
fuzis e metralhadoras,
contratar mais professoras
por mais livros nas sacolas,
somos carentes de escolas
com merenda e pó de giz,
para educar os guris
dando fim ao marginal,
não tendo amor fraternal
não há quem seja feliz.
– JOMACI DANTAS/PB –

Soneto do Dia

– Darly O. Barros/SP –
ARIDEZ.

Sacia a sede infinda, fonte augusta,
desta minha alma que, ao buscar teu veio,
tateia no vazio – e, quanto custa
te ver jorrar somente em peito alheio!

Calou-se a minha pena e, o que me assusta,
é, nunca mais ouvi-la em seu gorjeio,
amordaçada à pena atroz, injusta,
que tu me impões, mercê do teu bloqueio!

Sacia, fonte, a sede de minha alma,
lhe dando de beber , e , o medo, acalma
deste poeta que hoje se angustia,

à idéia de não mais lhe ser possível,
fruir desse prazer indescritível
que é derramar-se em nova poesia...

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 22 de março de 2011

Ialmar Pio Schneider (Livro de Sonetos III)


TERZA RIMA

Tarde fria... O vento passa
Fino e leve pelas ruas,
Uma brandura sem graça...

Lembro-me das faces tuas
Descoradas levemente
E também das coxas nuas

Desenvoltas, num repente,
À beira d´água azulada,
De teu olhar inocente.

Não tive a glória nem nada
De curar a minha mágoa,
Sorvendo em tua boca amada
Longo beijo à beira d´água...

CANÇÃO AMARGURADA

A realidade cruel
Me conduz ao esquecimento,
Antes não provasse o fel
De saber teu fingimento.

Davas-me certa esperança
Em que até acreditava;
Vejo, agora, sem confiança,
Que és uma simples escrava.

Também não sei o que pensas
De manhã quando despertas,
As mágoas são mais intensas
Nas aventuras incertas.

E tarde, quem sabe, um dia
Ficares só... renegada;
Em tua vida vazia
Terás desprezo... mais nada.

Então, aflita e sozinha,
Nem mesmo serás escrava;
E puderas ser rainha
De um poeta que te amava.

POEMA DE AMOR EM FORMA DE SONETO

Quero inventar palavras que nunca disse a outra mulher,
para falar do amor que despontou, enfim,
em nossa vida num momento qualquer
e veio transformar nossos destinos assim...

Quero inventar palavras que te agradem e sintas por mim
tudo o que teu desejo de sensação romântica puder,
enquanto eternamente tua paixão me quiser...
E que nosso bem-querer continue até o fim...

Quero inventar palavras de esperança e ternura
que nos permitam uma convivência tranquila
embora sabendo que nem tudo são apenas flores.

Mas, se mais tarde nos visitar um pouco de amargura
saibamos com discernimento e paciência distingui-la
e saber que também faz parte de todos os amores...

SONETO

Não tenho o que fazer por esses dias,
A não ser assistir ao que aparece
Em meu televisor. Noites sombrias
Em que vou meditando a longa prece...

Você já foi o tema das poesias
Que eu compunha, a sós, quando a tarde desce,
Hoje vejo que foram fantasias,
Os versos que minh´alma não esquece...

Outro motivo leva-me por diante
E vou seguindo assim o meu caminho
Com minhas horas mortas nebulosas...

Ainda a vejo em sonhos, linda amante,
E recordando seu gentil carinho,
Também relembro o olor daquelas rosas...

MUSA CONSOLADORA

Foge-me a inspiração levada pelo vento
e junto vais, oh musa ardente e sedutora,
deixando-me sozinho envolto em meu tormento
e a se desesperar minh’alma sofredora !

Foste minha ilusão e meu contentamento,
a luz que prende a alma e a torna sonhadora,
e se hoje tua ausência em vão choro e lamento,
é porque te perdi, fada consoladora !

Aguardo teu retorno, encantada revinda,
pra que volte a cantar e a bendizer o amor...
Na noite mais atroz te concebo mais linda

e necessito, enfim, de teu magno esplendor
que me faça entender, talvez um pouco ainda,
o sonho genial de ser poeta e cantor...

ERA MEU DESEJO...

Talvez soubesses
Talvez não
Eu sonhava contigo
E muitos versos fiz em teu louvor

Hoje confesso
Sou teu ainda
Digo mais sou teu agora

Que bom seria se não houvesse a
Distância
Nos separando nem a timidez
Que é minha

Porém não sou culpado
Muitos versos fiz em teu louvor
Era meu desejo
Haver-te confessado
Há muito tempo o meu amor

Fontes:
http://ialmar.pio.schneider.zip.net/
http://ialmarpioschneider.blogspot.com/

Ialmar Pio Schneider (Outra Época e um Poeta Inesquecível)

Pedra do Segredo
Esses dias estava percorrendo os livros de minha biblioteca nas prateleiras e encontrei um volume de saudosa memória, autografado pelo autor, intitulado Bom Dia, Juventude ! Trata-se da obra do inspirado poeta de Caçapava do Sul – RS, hoje falecido, Francisco Guarany De Bem. O autógrafo é de 17 de maio de 1982, quando ele já andava beirando os 80 anos, pois sua data natalícia é 16 de abril de 1903.

Lembro-me que o conheci na sede da Casa do Poeta-Riograndense, que naquela época funcionava nos Altos do Mercado Público, Sala nº 119, que bem poderia continuar até hoje naquele local, s.m.j., pois ele já escreveu naquela ocasião: “Em agradecimento aos relevantes serviços prestados pelo nosso incansável Fachinelli, inclusive a sua incessante batalha para que tenhamos um salão próprio, e que este salão nos seja doado pela Prefeitura de Porto Alegre. Espero que muito em breve vejamos a nossa bandeira tremulando sob o caloroso aplauso dos Srs. Vereadores e hasteada pelas mãos do nosso digno Prefeito.”

Todavia, como escreveu no prefácio o literato Hugo Ramírez, ilustre membro da Academia Rio-Grandense de Letras, a respeito, num texto lapidar, o seguinte: “São versos tocados de simplicidade e pureza de alma. Inspirados por distintos momentos e motivos, inebriam-se de romantismo e saturam a atmosfera de todo o volume com seu aroma amoroso. Os versos de amor são os mais significativos do caráter e da experiência do autor. Atingir a seu estágio com esta exuberância de bem querer é privilégio que Deus a poucos concede, tão sáfaros são freqüentemente os corações que muito viveram, eivados de amargura.”

O ponto máximo de sua criação literária, está nas páginas 34 e 35, que aqui transcrevo como uma homenagem ao saudoso poeta amigo:

“Pedra do Segredo – Prólogo –
“Lá na escarpada da serra, ao lado da altaneira cidade de Caçapava do Sul, meu querido torrão natal, há uma pedra lendária em seus assombros. Lembro-me, quando pequenino ainda, passava as noites sem poder dormir pelo medo que eu sentia, horrorizado das assombrações que no galpão um pardo velho me contava dela. Hoje, para me redimir do mal que ela me fez sem ter nenhuma culpa, aqui estou eu convidando a todos para oportunamente se dignarem conhecê-la. E, tenho a certeza absoluta que, ao defrontarem-se com aquela grandiosidade que lá está encravada, assim como eu o fiz quando a conheci, também todos vós ao conhecê-la primeiro se curvarão, respeitosamente, para depois beijá-la.””

E para complementar, transcrevo abaixo também, o soneto que ele dedicou ao saudoso amigo poeta e declamador Hugo Britto, e com o qual ficou conhecido como o poeta da Pedra do Segredo:

“Muito longe daqui, lá em Caçapava,
Há uma pedra lendária em seus assombros.
Ouviam nela um arrulhar de pombos,
Ou os gemidos de uma antiga escrava.

Na medida que a serra se desbrava,
A lenda morre num montão de escombros.
Sonhando, um peso me saiu dos ombros:
A história dela mal contada estava.

E lá está a pedra majestosa e bela !
Ninguém sabe dizer que pedra é aquela,
Todos a chamam Pedra do Segredo.

É um diamante engastado lá na serra,
Que Deus, olhando para minha terra,
Deixou por gosto lhe cair do dedo.”

Hoje, decorridos tantos anos, ainda me assaltam aqueles dias em atropelo na lembrança do que não volta mais. Mas este viver me ensinou que a convivência poética permanece, como naquele autógrafo:
“Para o prezado amigo..., com um caloroso abraço, subscrevo-me. Ass. ... Porto Alegre, 17-5-82”, em sua letra tremida e miúda prestes a octogenário. Que Deus vele por ele, enquanto eu recito minha quadra:

Os versos que a gente escreve,
mesmo que sejam banais,
é um pouco da vida breve
que não volta nunca mais !

Até outra oportunidade.

Fonte:
http://ialmarpioschneider.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 162)


Uma Trova Nacional
Minha mulher, minha amada,
Tanto me envolve e seduz...
-Se ela for crucificada
Eu quero ser sua cruz!
-HÉRON PATRÍCIO/SP-

Uma Trova Potiguar
Muitos, dizem, pertencer,
as castas da cristandade;
mas mantém, no proceder,
presunção e má vontade...
– PEDRO GRILO/RN –

Uma Trova Premiada

1998 > Bandeirantes/PR
Tema > PODER > Venc.

Teu poder de sedução.
e a magia dos teus braços,
levam minha solidão
a percorrer os teus passos ...
– MÍLTON NUNES LOUREIRO/RJ –

...E Suas Trovas Ficaram
Somente o Grande Arquiteto
escritor sábio e fecundo,
consegue escrever correto
nas linhas tortas do mundo!
– ALOISIO ALVES DA COSTA/CE –

Simplesmente Poesia

– Henrique Marques Samyn/RJ –
CLEMENTINA.

Clementina entrou no bar esbaforida
procurando por Antônio, que saíra
há bem pouco, junto a uma mulher da vida.

Atirou-se pelo chão, desesperada,
Clementina. Uma garrafa de bebida
fez de sua companheira; e a madrugada

a mulher assim varou. Nascendo o dia,
despertou em casa alheia, de ressaca,
nua, na cama do Pedro (o da Maria,
que é amante do Carlinhos – o “Cachaça”).

Estrofe do Dia
Eu nasci no interior,
Lá vivi com muito gosto.
Correndo pela campina
Sentindo vento no rosto
Hoje morro de saudade
Pois vivendo na cidade
É bem grande meu desgosto.
– DALINHA CATUNDA/CE –

Soneto do Dia

– Áurea Miranda/BA –
SOU ASSIM.

Sou um pouco de escravo e um tanto de mendigo;
algo de menestrel e muito de palhaço;
doses de bom humor, vestígios de fracasso;
sonhos que me perseguem, sonhos que persigo.

Quanto um rastro de dor fica por onde eu passo,
levo adiante a intenção de carregar comigo
as lições que aprendi nesse caminho antigo
– e, buscando mais luz, sinto que me refaço.

Deixei há muito o mapa, a bússola, o sextante
– desde que percebi que o simples ir adiante
define e satisfaz a minha identidade.

Sou pária que persiste na emoção de, um dia,
ver escrito no espaço de uma laje fria:
“Aqui jaz quem morreu de amor e de saudade.”

Fonte:
Ademar Macedo

XV Jogos Florais de Santos (Classificados)


Tema : Destino

Vencedores

Antônio Augusto de Assis
Edmar Japiassú Maia (2)
Eduardo A.O. Toledo
Francisco Neves de Macedo (2)
João Freire Filho
José Tavares de Lima
Jota de Jesus
Wanda de Paula Mourthé

Menções Honrosas

Antonio Augusto de Assis
Arlindo Tadeu Hagen
Clenir Neves Ribeiro
Flávio Roberto Stefani
Gilvan Carneiro da Silva
Hegel Pontes
José Lucas de Barros
Newton Vieira
Rodolpho Abbud
Thereza da Costa Val

Menções Especiais

Aílto Rodrigues
Antônio Carlos Teixeira Pinto
Carlos Alberto de Assis Cavalcanti
Dulcídio de B. Moreira Sobrinho
Éderson Cardoso de Lima
Eduardo A.O. Toledo
Gilvan Carneiro das Silva
Yvone Taglialegna Prado
Maria Helena O. Costa
Thereza Costa Val
Wandira Fagundes Queiroz

Conc. Estadual SP
Tema: Onda

Vencedores

Alba Christina Campos Netto (2)
Campos Sales (2)
Domitilla Borges Beltrame
Izo Goldman
Renata Paccola
Selma Patti Spinelli (2)
Terezinha Dieguez Brisolla

Menções Honrosas

Argemira Fernandes Marcondes
Campos Sales
Ercy Maria de Faria
Héron Patrício
Lygia T. Fumagalli Ambrogi
Maria Ignez Pereira
Marilúcia Rezende
Marina Bruna
Roberto Tchepelentyki
Terezinha Brisolla

Menções Especiais

Alba Christina Campos Netto
Ercy Maria Marques de Faria (2)
Edna Valente Ferracini
Maurício Cavalheiro
Luiz Carlos Júnior
Renata Paccola
Roberto Nini
Selma Patti Spinelli
Marilúcia Rezende

Conc. Local – Santos e Baixada
Tema: Jardim

Vencedores (ordem alfabética)

Ana Maria Guerrize Gouveia (2)
Antônio Colavit Filho
Edna Gallo
Maria Nelsi Sales Dias

Menções Honrosas

Ana Maria Guerrize Gouveia
Antônio Colavite Filho (2)
Edna Gallo
Nair Lopes Rodrigues

Menções Especiais

Cynira Antunes de Moura
Edna Gallo
Ilze de Arruda Camargo
Maria Nelsi Sales Dias
Zaíra Almeida Gomes

XV Juegos Florales de Santos
Concurso Paralelo (idioma español)
Tema: Paz

Vencedores

Ângela Desirée Palacios Bravo
Carlos Eduardo Rodrigues Sanches
Christina Oliveira Chaves (2)
Liz Castro Rivera
Susana Stefania Ceruti

Menciones Honrosas

Alicia Borgogno
Líbia Beatriz Carciofetti
Hector José Corredor Cuervo
Manuel Salvador Leyva Martinez
Ramón Rojas Morel

Menciones Especiales

Ângela Desirée Palacios Bravo
Elizabeth Leyva Rivera
Glória Rivera Andreu
Maria Cristina Fervier
René B. Arriaga del Castillo

Fonte:
Carolina Ramos

Estação das Letras convida para o Evento Livros na Mesa


Fonte:
Eunice Arruda

Epopéias da Índia Antiga (O Mahabharata) – III – História de Savitri


Havia outrora um rei chamado Asvapati, que tinha uma filha tão formosa e meiga que lhe deram o nome de Savitri, o de uma sagrada oração dos hindus.

Quando a moça chegou à idade núbil, seu pai mandou que escolhesse marido, de acordo com sua vontade, pois na antiga Índia não se conhecia nem por sombra o que hoje se chama razão de Estado nas monarquias, sendo as princesas reais donas absolutas dos seus sentimentos amorosos.

Savitri aceitou o conselho de seu pai. A carruagem real, acompanhada de brilhante escolta e antigos potentados que dela cuidaram, visitou varias cortes vizinhas e outros reinos distantes, sem que nenhum príncipe conseguisse sensibilizar seu coração.

Aconteceu que a comitiva passou por uma ermida localizada em um daqueles bosques da índia antiga, em que a caça era proibida, de sorte que os animais que ali habitavam haviam perdido todo temor ao homem e até os peixes dos lagos apanhavam com a boca as migalhas de pão que se lhes davam com as mãos.

Havia milhares de anos que não se matava nenhum ser naquele bosque; os sábios e os anciãos desgostados do mundo retiravam-se para lá a fim de viverem em companhia dos cervos, das aves, entregando-se à meditação e a exercícios espirituais pelo resto da vida.

Sucedeu que uni rei, chamado Dyumatsena, já velho e cego, vencido e destronado por seus inimigos, refugiou-se no bosque fechado com sua esposa, a rainha, os seus filhos dos quais o mais velho se chamava Satvavân, e ali passava asceticamente a vida, em rigorosa penitência.

Na antiga índia, era costume que todo rei ou príncipe, por mais poderoso que fosse, ao passar pela ermida de um varão sábio e santo, retirado do mundo, se detivesse para tributar-lhe homenagem; tal era o respeito e a veneração que os reis prestavam aos yogis e aos rishis.

O mais poderoso monarca da índia sentia-se honrado quando podia demonstrar sua descendência de algum yogi ou rishi que tivesse vivido no bosque, alimentando-se de frutas, raízes e coberto de andrajos.

Assim é que quando se aproximavam a cavalo de alguma ermida, apeavam-se muito antes de chegar a ela e andavam a pé até o local onde estava o eremita. Se iam de carro e armados, também desciam, despojavam-se de seus arreios militares e depois entravam na ermida, pois era costume que ninguém entrasse naqueles sagrados retiros ou ashram, como eram chamados, com armamentos militares, mas sim com atitude serena, pacifica, humilde.

Fiel ao costume, Savitri penetrou na ermida do bosque sagrado e, ao ver Satyavân, filho do destronado rei eremita, ficou profundamente apaixonada por ele. Ela já havia desprezado os príncipes de todas as cortes e unicamente o filho do destronado Dytimatsena lhe havia roubado o coração.

Quando a comitiva regressou à corte, o rei Asvapati perguntou à filha:

- Diz-me, Savitri, querida filha, vistes alguém digno de ser teu esposo?
- Sim, pai querido, - respondeu Savitri ruborizada.
- Qual o nome do príncipe?
– Já não é príncipe, meu pai, por que é filho do rei Dyumatsena, que perdeu o reino. Não tem patrimônio e vive como um sannyasi no bosque, colhendo ervas e raízes para alimentar-se e manter seus velhos pais, corri quem mora em uma cabana.

Ao ouvir isto dos lábios de sua filha, o rei Asvapati consultou o sábio Nârada, que se achava presente. Este declarou que aquela escolha era o mais funesto presságio que a princesa havia feito.

O rei pediu então a Nârada que explicasse os motivos de sua declaração e ele respondeu:
- Daqui a um ano esse jovem morrerá.

Aterrorizado por esse vatícinio, disse o pai à filha:
- Pensa, Savitri, quê o jovem que escolheste morrerá dentro de um ano e ficarás viúva. Desiste da escolha", filha minha, e não te cases com um jovem de tão curta Vida.

Savitri, porém, respondeu:

-Não importa, meu pai. Não me peças que me case com outro e sacrifique a castidade de minha mente, porque em meu pensamento e em meu coração amo ao valente e virtuoso Satyavân e o escolhi para esposo. Uma donzela escolhe uma só vez e jamais quebra sua fidelidade.

Ao vê-Ia tão decidida, resignou-se o pai à vontade de Savitri, que, em conseqüência, casou-se com o príncipe Satyavân e tranqüilamente deixou o palácio de seu pai para viver na cabana do bosque, com o eleito de seu coração, ajudando-o a sustentar seus velhos pais.

Embora Savitri soubesse quando seu marido ia morrer, guardou a respeito rigoroso segredo.

Diariamente Satyavân se Internava no bosque para colher frutas, flores e reunir feixes de lenha, volvendo com a carga para a cabana, onde sua esposa preparava a refeição.

Assim passou o tempo, até que três dias antes da data fatal, resolveu a moça passar três dias e três noites em completo jejum e fervorosas orações, sem deixar transparecer sua angustia e ocultando suas lágrimas.

Finalmente amanheceu o dia marcado no presságio e não querendo Savitri perder de vista, nem por um momento, a seu marido, solicitou e .obteve dos pais do mesmo permissão para acompanhá-lo, quando fosse à colheita diária de ervas, raízes e frutas silvestres no interior do bosque. Assim foi feito.

Estavam em pleno bosque, quando com voz enfraquecida Satyavân queixou-se à esposa, dizendo:

– Querida Savitri, sinto-me aturdido, meus sentidos se esvaem e o sono me invade. Deixa-me repousar um pouco ao teu lado.

Trêmula e assustada, Savitri replicou:

- Vem, meu amado e reclina a cabeça em meu colo.

Satyavân reclinou a cabeça ardente no colo de sua esposa e instantes depois exalou o último suspiro.

Abraçada ao cadáver de seu marido, desfeita em lágrimas, permaneceu a infeliz naquela solidão, sentida no chão, até que chegaram os emissários da Morte para levar a alma de Satyavân.

Nenhum deles, porém, pôde acercar-se do local em que estava Savitri com o cadáver de Satyavân, porque ardia num círculo de fogo que rodeava a união formada pela vivente e o morto.

Por isso os emissários voltaram ao rei Yama, o deus da Morte e explicaram-lhe porque não puderain levar a alma de Satyavân.

Yama, o deus da Morte, o juiz dos mortos, ocupava posição tão divina por ser o primeiro homem que havia morrido na terra e decidia se um mortal, ao morrer, merecia prêmio ou castigo.

Assim, pois, Yama foi pessoalmente ao bosque e, como era um deus, pôde atravessar sem perigo o círculo de fogo e aproximar-se do local em que estava Savitri. Chegando, disse a ela:

- Minha filha, entrega-me este cadáver, pois já sabes que a morte é o destino de todo mortal e eu sou o primeiro mortal que morreu. Desde então tudo que vive há de morrer. A morte é o irrevogável destino do homem.

Savitri deixou o cadáver de seu marido e Yama, tirando-lhe a alma, com ela se afastou; porém não havia andado muito, quando ouviu atras de si passos sobre as folhas secas. Ao volver-se a Savitri, a quem disse com paternal ternura:

- Savitri, minha filha, por que me segues? Este é o destino de todos os mortais.

Savitri respondeu:
-Não sigo a ti, senhor meu, porque o destino da mulher é ir onde seu amor a leva; a lei eterna não separa o amoroso esposo da fiel esposa.

Então disse o deus da Morte:
- Pede-me a graça que quiseres, menos a vida de teu marido.

Ao que ela respondeu:
- Se desejas outorgar-me uma graça, ó deus da Morte, peço-te que devolvas a vista a meu sogro e que ele seja feliz.

Yama replicou:

- Cumpra-se teu piedoso desejo, respeitosa filha.

E o rei da Morte seguiu seu caminho com a a alma de Satyavân. Novamente ouvindo passos, voltou-se e viu que Savitri o acompanhava.

- Savitri, minha filha, ainda me segues9

- Sim, meu senhor; nada posso fazer, pois embora me esforce em retroceder, a mente corre em pós de meu marido e o corpo a obedece. Tens a alma de Satyavân e como sua alma é também a minha, meu corpo a acompanha.

Yama disse, então:

- Agradam-me tuas palavras, formosa Savitri. Pede-me outra graça, menos a vida de teu marido.

- Se te dignares conceder-me outra graça, fazei com que meu sogro recupere seu reino e suas riquezas.

- Concedo-te, filha amorosa, mas volta para teu lugar, porque nenhum ser vivente pode andar em companhia de Yama.

E o rei da Morte seguiu seu caminho.
Savitri, porém, persistiu em acompanhá-lo e Yama volvendo-se dialogou com a mesma.

- Nobre Savitri, não me sigas com tua dor sem esperança.
- Não tenho remédio - senão ir para onde levas meu marido.
- Supõe, Savitri, que teu marido foi um perverso e que eu o levo para o inferno. Irias acompanhar teu marido?
- Iria alegre para onde ele fosse, quer na vida, quer na morte, seja no céu, seja no inferno.
- Benditas sejam tuas palavras, minha filha! Deixaste-me comovido. Pede-me outra graça que não seja a vida de teu marido.
– Pois já que me permites pedir-te, fazei com que não se quebre a régia estirpe de meu sogro e que seu reino seja herdado pelos filhos de Satvavân.

O rei da Morte sorriu e disse:

- Filha minha, teu desejo será cumprido. Aqui tens a alma de teu marido. Ele voltará a viver e será pai de teus filhos que, com o tempo, serão reis. Volta para tua casa. O amor triunfou da morte. Jamais mulher alguma amou como tu e és a prova de que até eu, o deus da Morte, nada posso contra a força de um verdadeiro e perseverante amor!
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Continua.... IV - No Desterro
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Fonte:
Vivekananda, Swami. Epopéias da Índia Antiga.

Projetos de Leitura abre mais Estandes no Metrô de São Paulo e Disponibiliza Livros a Preço de Custo


Estimular o hábito da leitura no Brasil, ainda é uma missão delicada e um tanto complicada, especificamente quando se avalia o preço de capa dos livros. Percebe-se que ele é um dos fatores de empecilho à leitura.

A fim de reduzir o déficit de leitura no país, o Grupo Projetos de Leitura, que atua em várias frentes para incentivar o hábito da leitura, inaugurou neste mês novos quiosques de vendas no metrô, e disponibiliza para público, de todas as idades, diversas obras literárias pelo valor simbólico de R$5,00. Os usuários ou transeuntes do Metrô de São Paulo poderão encontrar obras do escritor Laé de Souza, e informativos dos projetos desenvolvidos pelo grupo, nos quiosques instalados nas estações Artur Alvim, Ana Rosa, Santa Cruz, Santana e Tatuapé. Os estandes funcionam das 6h às 22h, de segunda-feira ao sábado.

Para os interessados, essa é uma excelente oportunidade de “rechear” a estante com muitas obras, com a possibilidade de conseguir um autógrafo e ainda bater um papo com o escritor e coordenador do projeto, Laé de Souza, que, eventualmente, passa por algum dos quiosques ao longo do mês.

O trabalho do Grupo Projetos de Leitura não tem fins lucrativos e oferece ao público muitos livros, entre eles: “Coisas de Homem & Coisas de Mulher”, “Acredite se Quiser”, “Espiando o Mundo pela Fechadura”, “Acontece”, “Nos Bastidores do Cotidiano”, “Quinho e seu Cãozinho – um cãozinho especial”, "Radar, o cãozinho", versão Português/Inglês, entre outras obras de autoria de Laé de Souza, que abrangem o público infantil, juvenil e adulto.

Para o coordenador do projeto, essa é uma ótima oportunidade de colocar a leitura em dia e ainda presentear parentes e amigos com livros, a fim de disseminar o hábito da leitura. “O livro é sempre uma excelente opção para presentear a si mesmo ou a quem se gosta. Acredito que uma das boas formas de incentivar a leitura é oferecendo livros. Em geral, quando alguém ganha um livro, se torna mais propenso a se interessar por aquela leitura e a partir daí quem sabe abrir seus horizontes para o universo das letras”, opina.

Sobre o Grupo Projetos de Leitura
O Grupo Projetos de Leitura iniciou seu trabalho em 1998 e tem seus projetos aprovados pelo Ministério da Cultura, além de contar com o apoio de patrocinadores, parceiros e envolvimento dos professores. Com Sede em São Paulo, o grupo atua em todo território nacional desenvolvendo projetos sem fins lucrativos, com objetivo de vencer um dos maiores desafios encontrados pelos professores e amantes da literatura: o hábito da leitura.

Mais informações podem ser obtidas no site:
http://www.projetosdeleitura.com.br/
e-mail contato@projetosdeleitura.com.br , ou telefone (11) 2743-9491.
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Fonte:
Laé de Souza

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 161)


Uma Trova Nacional
A tua imagem refletida,
no espelho de nosso quarto,
mostra a saudade sentida,
que só contigo eu reparto...
– OLGA DIAS FERREIRA/RS –

Uma Trova Potiguar
Talvez contraste não seja,
mas, para vaguear à toa,
a lagarta que rasteja
vira borboleta e voa!...
– CLARINDO BATISTA/RN –

Uma Trova Premiada

2008 > ATRN-Natal/RN
Tema > RAZÃO > 15ºLugar

Nossa vida é mesmo assim,
qual um rolo de papel...
quanto mais perto do fim,
mais dispara o carretel!
– AMILTON MACIEL MONTEIRO/SP –

...E Suas Trovas Ficaram
Barqueiro em meio à neblina,
faço da crença um farol.
Não maldigo a minha sina,
neblina, é sinal de sol!
– CARMEN OTTAIANO/SP –

Simplesmente Poesia

– Elischa Dewes/RS –
O ANDARILHO...

Carrego a vida nas costas
Das colinas de onde eu vim
E vos digo, vou assim
Cumprindo minhas apostas,
Já nem ligo se alguém gosta.
Criando poemas, brilho
E o caminho busco e trilho
Em momentos, em cometas,
No amor, chuva, planetas...
Sou, do tempo, um andarilho.

Estrofe do Dia
Relembro do meu passado
sempre com muita alegria,
tudo de novo eu faria
para poder ser lembrado;
eu hoje vivo estressado
carente de segurança,
nem sequer tenho esperança
no dia que há de vir,
vou ficando por aqui
vivendo só de lembrança.
– MÁRCIO BARRETO/RN –

Soneto do Dia

– Alonso Rocha/PA –
BREVE TEMPO.

Se me queres amar, ama-me nesta hora
enquanto fruto dando-te a semente.
Se te apraz me louvar, louva-me agora
quando do teu louvor vivo carente.

Aprende a te doar antes que a aurora
mude nas cores cinza do poente.
Se precisas chorar, debruça e chora
hoje, que o meu regaço é doce e quente.

A vida é breve dança sobre arame.
Sorve teu cálice antes que derrame,
ninho vazio que o vento derrubou.

Porque quando eu cair num dia incerto
parado o coração, o olhar deserto,
nem mesmo eu saberei que já não sou.

Fonte:
Ademar Macedo

Aluísio de Azevedo (Filomena Borges)


É o quinto romance de Aluísio Azevedo, que escreveu também O Mulato, O Cortiço e Casa de Pensão considerados os romances mais importantes do autor. Por ser visto como o 'pai' do naturalismo no Brasil, influenciado pelos escritores Eça de Queirós e Émile Zola, fundadores do naturalismo na Europa, Aluísio Azevedo busca em seus romances uma representação mais ou menos fiel do observado, fugindo assim da tendência romântica de idealização da realidade. Em seus livros, o cotidiano da vida na cidade, com alguns de seus personagens mais típicos, é elemento constante.
Neste romance encontramos o casal Borges e Filomena: esta, ambiciosa, busca através do casamento uma forma de ascender socialmente. Borges, no entanto, embora possua bens, é pacato, dócil cidadão sem muitas ambições. Assim, não corresponde ao ideal de marido que Filomena tem em mente. Esta buscará, então, modificá-lo a todo custo. Um incidente na primeira noite mostra para Borges como será difícil seu casamento: Filomena o expulsa do leito nupcial, obrigando-o a dormir fora do quarto.

Durante muito tempo a situação permanece sem alteração, apesar dos agrados constantes de Borges à esposa do cumprimento de todas as exigências dela, as quais, finalmente, acabarão por modificar profundamente o pacato marido, além de levá-lo à ruína econômica. Borges faz tudo pelo sentimento que dedica à esposa, mas nunca chegará a desfrutar do que deseja acima de tudo: paz e tranqüilidade ao lado de sua Filomena. Segundo o crítico Antônio Cândido, deve-se ler Filomena Borges "pelo viés do divertimento". De fato, o autor cria situações hilariantes com o casal Borges e Filomena. Ainda, diz Cândido, "este romance é importante para a compreensão da personalidade literária de Aluísio Azevedo, que se caracteriza por uma mistura de bom humor e melancolia". O grande número de palavras francesas de que se utiliza o autor, decorre da tendência vigente na época, quando a nossa literatura não só fazia uso abundante de termos franceses como tinha nela seu principal modelo.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/resumos/filomena-borges-aluisio-azevedo

Epopéias da Índia Antiga (O Mahabharata) – II – O Argumento


O rei de Hastinapura teve dois filhos: o maior chamado Dhritarâshtra, que era cego de nascimento e o outro chamado Pându.

Segundo as leis da índia, ficava excluído da sucessão à coroa, em benefício de seu irmão menor, todo príncipe cego, aleijado, mudo, gago, surdo ou de complexão franzina e enfermiça, que o impedisse de exercer a régia autoridade, embora ficasse com direito a um amparo vitalício.

Em virtude da morte do pai, ocupou o trono o irmão menor Pându.

A cegueira não constituiu obstáculo ao casamento de Dhritarâshtra, o qual teve cem filhos, ao passo que Pându só teve cinco.

Pându morreu em plena maturidade, e como não avia outro herdeiro direto seno Dhritarâshtra , este ocupou o trono dos Kurus, apesar de sua cegueira, e educou os cinco filhos de Pându juntamente com seus cem filhos.

Quando os príncipes atingiram certa idade,, o rei colocou-os sob os cuidados de um sacerdote guerreiro, chamado Drona, que os educou na arte militar e em todas as ciências necessárias aos príncipes.

Terminada a educação, Dhritarâshtra colocou no trono de seu pai Yudhishthira filho maior de Pându; porém as austeras virtudes de Yudhishthira, o valor e a devoção de seus outros quatro irmãos, despertaram a inveja no coração dos filhos do rei cego. Instigados por Duryodhana, o mais velho de todos, persuadiram aos cinco irmãos Pândavas que fossem a Vâranâvata, sob pretexto de um festival religioso que ali se celebrava.

Duryodhana havia mandado construir um palácio feito de cânhamo, resina, laca e outras matérias inflamáveis, onde os acomodou o astuto príncipe com intento de atear fogo ao mesmo.

Aconteceu, porém, que o bondoso Vidura, cunhado de Duryodhana e seu bando, avisou os Pandavas, que puderam escapar sem que ninguém notasse.

Quando os Kurus viram o palácio reduzido a cinzas, lançam um suspiro de satisfação, certos de que já não encontravam obstáculos em seu caminho e se apoderaram do reino.

Ora, os cinco irmãos Pândavas refugiaram-se no bosque, com sua mãe Kunti e disfarçados depois em estudantes brâmanes, viviam de esmolas pelos arredores; embora sofressem muitos dissabores, sua energia mental e ânimo valoroso venceram totalmente todos os perigos. Assim prosseguiam as coisas, quando um dia, tiveram notícia do próximo noivado da princesa de um país vizinho.

Como era de costume em tais casos, grande número de príncipes e nobres se havia reunido, para que a princesa escolhesse aquele que mais fosse de seu agrado.

A princesa que ia casar-se, chamava-se Draupadi e era filha de Drupada, o poderoso rei dos Panchalas. A moça era de peregrina beleza e de relevantes dotes. Sempre que se celebrava um svayamvara, ou escolha de noivo, os pretendentes disputavam algum exercício de habilidade e destreza.

Naquela ocasião, haviam colocado um alvo em fôrma de peixe, a grande altura, debaixo do qual girava continuamente uma roda com um furo no centro. Para maior dificuldade dos contendores, colocaram debaixo da roda uma tina cheia de água, na qual se refletia todo o artefato.

A prova consistia em mirar a imagem do peixe refletida na tina e disparar a flecha, de modo que essa atravessasse o furo da roda e atingisse o olho do peixe, que servia de alvo. Quem acertasse casaria com a princesa.

Ao local acorreram reis e príncipes de diferentes regiões da Índia, ansiosos por conquistar a mão de Draupadi. Entretanto, todos eles puseram em prática sua habilidade, sem que nenhum acertasse no alvo.

Então, o filho do rei Drupada levantou-se no meio do concurso e exclamou:

- A casta dos kshatriyas fracassou na prova, portanto, ficam admitidos a ela os pretendentes das demais castas e embora seja um sudra, se acertar, casai-se-á com Draupadi".

Entre os brâmanes estavam os cinco irmãos Pândavas e Arjuna o terceiro deles era habilíssimo no manejo do arco. Por isso levantou-se para tomar parte na prova.

Convém advertir que os brâmanes são pessoas pacificas e tímidas. Segundo a lei, não devem tocar em nenhuma arma de guerra, nem brandir a espada e jamais cometer qualquer empresa perigosa, pois sua vida deve ser de contemplação, estudo e domínio de sua natureza interna.

Por essa razão, quando os brâmanes que presenciaram o torneio viram que Arjuna se levantou para empunhar o arco, temeram que contra eles despertasse a ira dos kshatriyas e os matassem, sem discernir os culpados e os inocentes.

Dominados por esse temor, pediram a Arjuna que desistisse do concurso: porém, como o valoroso pândava, segundo vimos, era um kshatriya disfarçado em brâmane, não ligou-lhes importância e empunhando o arco disparou a flecha com tal acerto que atingiu o alvo. A assistência prorrompeu em frenéticos aplausos e a princesa Draupadi cingiu a fronte de Arjuna com a grinalda tradicional.

No mesmo instante, ergueu-se grande clamor entre os príncipes, pois não podiam tolerar que um pobre brâmane se cassasse com uma princesa kshatriya e prevalecesse contra a assembléia de reis e príncipes. Então, resolveram lutar com Arjuna para arrebatar-lhe à força a sua noiva. Iniciou-se o combate, mas o cinco irmãos mantiveram a distância os guerreiros e depois de vence-los em combates singulares, levaram triunfal mente a princesa.

Como os cincos irmãos, disfarçados em brâmanes, viviam de esmolas que recolhiam na comarca, esmolas essas que eram distribuídas por Kunti, quando chegaram naquele dia à cabana em que moravam, exclamaram alegremente antes de entrar:

- Mãe! Hoje trazemos uma esmola verdadeiramente valiosa. Kunti, sem reparar no que podia ser, respondeu lá de dentro:

- Como bons irmãos que sois, deveis reparti-Ia entre vós igualmente. Porém, ao sair e ao ver Draupadi exclamou assombrada:

- Oh! Que disse eu? É uma mulher! Porém já não havia remédio, porque uma mãe não tem duas palavras e aquilo que diz uma vez há de ser cumprido.

Por isso, Draupadi foi a esposa comum dos cinco Pândavas.

É sabido que todo povo passa em seu desenvolvimento por sucessivos graus de civilização. Na passagem da epopéia que acabamos de citar, apresenta-nos o autor cinco irmãos que possuem uma mesma esposa e embora dê por desculpa a ordem sagrada de sua mãe, seu intento foi sem dúvida oferecer um vislumbre do antiquíssimo estado social em que a poliandria era legítima, embora contraída entre os irmãos de uma só família.

O irmão de Draupadi ficou algum tanto pensativo depois da partida de sua irmã e cogitava: "Que gente é essa? Quem é esse homem com quem casou-se minha irmã? Não tem cavalos, arreios, nada! Caminham a pé ...

Por isso, acompanhando-os de longe, chegou junto à cabana e protegido pela escuridão, ouviu o que conversavam, deduzindo que eram realmente kshatriyas. Comunicou a nova a seu pai, o rei Drupada, que ficou satisfeitíssimo. Entretanto, para sua maior tranqüilidade consultou Vyasa sobre se era lícito ou não o matrimônio de uma mulher com cinco irmãos. O sábio respondeu que não havia inconveniente por tratar-se daqueles príncipes. Por isso, Draupadi foi a esposa legítima dos cincos Pândavas, que viveram em paz e prosperidade, tornando-se cada dia mais poderosos.

Embora Duryodhana e seu bando tramassem novas maquinações contra seus parentes todas fracassaram, tendo os anciãos do reino aconselhado ao rei Dhritarashtra que firmasse a paz com os Pândavas.

O rei aceitou o conselho, tendo convidado os Pândavas para voltarem à corte, dando-lhes a metade do reino. O povo alegrou-se muito pelo restabelecimento da paz. Então os cinco irmãos edificaram para sua residência uma formosa cidade a que deram o nome de Indraprastha, estendendo o seu domínio por toda a comarca.

Ao ver-se tão poderoso, Yudhishthira, pândava maior, quis erigir-se imperador de todos os reis da antiga índia. Para tal fim decidiu celebrar um Yajna Rayasuya, ou Sacrifício Imperial, com a assistência de todos os régulos que havia vencido, para prestarem juramento de fidelidade, pagarem tributo e ajudarem pessoalmente as cerimônias do Sacrifício.

Sri Krishna, parente e amigo dos Pândavas, aprovou a idéia mas encontrava certa dificuldade porque um rei vizinho, chamado Jarasandha, projetava também celebrar um sacrifício com cem régulos e já tinha oitenta e seis cativos em seu poder.

Krishna aconselhou uni ataque contra Jarasandha a quem ofereceram combate singular. Aceito o repto, Jarasandha foi vencido por Bhina, depois de catorze dias de luta contínua, tendo os régulos cativos recuperado a liberdade. Depois disso, os quatro irmãos menores saíram à frente de seus respectivos exércitos, em diversas direções e subjugaram todos os régulos das redondezas.

Ao regressar da expedição conquistadora, depuseram os troféus de guerra aos pés do irmão mais velho, para sufragar os gastos do sacrifício, celebrado com invejável pompa, onde prestaram homenagem a Yudhisthira os régulos libertados e os vencidos pelos quatro irmãos. Também estiveram presentes, na qualidade de convidados, o rei Dhritarâshtra com seus filhos, os quais participaram das cerimônias.

Terminado o sacrifício, efetuou-se a coroação de Yudhisthira como imperador e senhor supremo.

Duryodhana encheu-se de inveja e tornou-se inimigo de Yudhisthira, cujo esplendoroso poderio não podia suportar. Como sabia que pela força era impossível derrotá-lo, urdiu uma traição com o propósito de levá-lo à perdição.

O rei Yudhisthira era apaixonado pelos jogos de azar. Duryodhana, aproveitando-se dessa fraqueza de seu primo, combinou com um jogador profissional chamado Sakuni, que retivesse por longo tempo Yudhisthira numa partida de dados.

Na antiga Índia, se um Kshatriya ou guerreiro era desafiado ao combate, devia aceitar o repto a todo custo, sob pena de ver menoscabada sua honra; o mesmo sucedia se fosse desafiado a jogar dados.

Embora Yudhisthira fosse a encarnação de todas as virtudes, como rei, não podia deixar de, aceitar o repto de Sakuni. Este havia trazido, de propósito, uns dados falsos, de modo que o rei foi perdendo partidas e mais partidas, até que aguilhoada pela ânsia da desforra apostou sucessivamente tudo que possuía inclusive ser reino, seus irmãos e até a formosa Draupadi.

Os cinco Pândavas caíram em poder dos Kuravas, que os humilharam sem piedade, infligindo a Draupadi os tratos mais desumanos.

Finalmente, pela intervenção do rei cego Dhritarâshtra, recobraram a liberdade sendo-lhes concedido permissão para apossar-se de seu reino; antes, porém, de cumprido o decreto, Duryodhana, ao ver o perigo, forçou seu pai a que confiasse a decisão final em uma partida de dados, entre os Pândavas e os Kuravas, de sorte que o grupo que perdesse ficaria desterrado durante doze anos, no fim dos quais viveria incógnito em uma cidade, no ano seguinte. Porém, se quebrassem o desterro, sofreriam por mais doze anos, no fim dos quais poderiam recuperar o reino.

Como era previsto, pois os dados de Sakuni eram falsos e ele era muito hábil em prestidigitação, Yudhisthira perdeu também a partida final. Os cincos Pândavas saíram do reino e se retiraram para os bosques e montanhas, onde estiveram durante doze anos, durante os quais realizaram muitas ações de virtude e valor, fazendo às vezes longas peregrinações a sítios sagrados.

Muitos yogis foram visitá-los em seu desterro, contando-lhes interessantes episódios da antiga história da Índia, entre os quais a que transcrevemos a seguir.
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Continua… História de Savitri
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Fonte:
Vivekananda, Swami. Epopéias da Índia Antiga.