segunda-feira, 30 de maio de 2011

Carlos Leite Ribeiro (O Escritor e a Jornalista)


Mais uma noveleta do magnífico escritor português Carlos Leite Ribeiro, organizador do Portal CEN (Cá Estamos Nós) http://www.caestamosnos.org/
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Maria Linda, uma mulher brasileira de 40 anos, jornalista do Recife (Brasil), e um português de nome Mário Guedes, escritor.

Maria Linda, apaixonou-se por ele, cujo último livro “Ninguém se Esconde atrás do Sol” arrebatou seu coração.

Depois de assinalável êxito em Portugal, Mário Guedes, foi ao Recife apresentar a sua obra. Foi aí que conheceu a Maria Linda a bela Linda...

Tinha chegado há pouco ao Hotel e, depois das formalidades, foi até ao bar tomar uma bebida, quando nas suas costas ouviu uma voz meiga que o interpelava:

Linda - Desculpe incomodá-lo, Sr. Mário Guedes, mas sou jornalista e pretendia fazer-lhe uma entrevista.

Nem ali no bar de um hotel, pouco depois da sua chegada ao Brasil, o deixavam em paz. Virou-se lentamente, respondendo à sua interlocutora:

Mário: Minha senhora, deve estar enganada, pois sou um pobre homem que nem sabe ler nem escrever...

Ela sorriu quando ele a encarou pela primeira vez e pensou logo:
Mário - “Que sorriso mais lindo numa cara tão linda!”

Apesar dos desgostos sofridos na sua vida, ainda apreciava o que era belo.

Mário, virou-se totalmente para a jornalista, pondo-se então à sua disposição. A entrevista foi longa e muito bem conduzida. Sentia-se feliz junto daquela bela desconhecida. No final, disse-lhe que tinha que levar sua bagagem para o quarto e não tinha habilidade nenhuma para a arrumar. Perguntou-lhe se ela seria tão gentil que o pudesse ajudar a arrumar suas coisas. Ela sorriu, hesitou, mas por fim acedeu. Subiram os dois no elevador e, já no quarto, ela ajudou-o a arrumar suas coisas. Notou que ele estava excitado e restringiu-se. No final, ele com a argumentação de lhe mostrar como lhe estava agradecido, pediu para a beijar. Linda tentou resistir àquele pedido, mas foi em vão. Ele, embora carinhosamente, apertou-a com firmeza contra seu corpo, beijando-a nas faces, nos olhos, na boca e já estava no pescoço, quando ela conseguiu desembaraçar-se daqueles braços que mais pareciam tentáculos de polvo. Correndo para a porta, ainda lhe disse:

Linda – Senhor Mário Guedes, desculpe-me mas não é, de maneira nenhuma, o meu modo de estar na vida! Vim só para o ajudar, nada mais…

Quando chegou à rua, bem perto do hotel telefonou ao seu chefe a dizer-lhe que tinha conseguido a entrevista, mas sentia-se mal disposta e, que não ia diretamente para a redação do jornal. O chefe ainda tentou demovê-la, mas foi em vão.

Na manhã seguinte, Maria Linda chegou ao jornal muito cedo e se mostrava bem-disposta. Durante a noite procurou reorganizar suas ideias e colocar o juízo em seu devido lugar. Foi até a redação e começou a transcrever sua reportagem Quando terminou, leu e releu, sentiu-se satisfeita. Muito embora esta entrevista não considerasse ter sido uma das melhores, mas também não seria uma das piores. Foi até ao gabinete de seu chefe para que ele examinasse o texto. Ele leu atentamente sem fazer comentários, após terminar a leitura perguntou: -

Chefe - Minha filha o que aconteceu com você ontem depois da entrevista?

Linda sorriu e respondeu:

- Nadinha, querido chefe, foi apenas um mal estar, nada que uma boa noite de sono e um pouco de repouso não curasse.

Chefe - Olhe que você não me engana, e algo se passa com você. Talvez esteja realmente precisando de umas boas férias. Vou providenciar isso para a próxima semana impreterivelmente... Mas não me engana, garota!

Ela, limitou-se a responde-lhe:

Linda - Obrigada, Sr. Osvaldo.

Já há vários meses que Mário Guedes levava uma vida muito irregular, na sua santa terrinha. Bebia muito e perdia muitas noites a fazer nem sabia o quê, descurando e dispersando a sua fértil imaginação e criatividade de escritor. O pensamento naquela mulher que amava e de seu filho, que tinham morrido num acidente de viação, não o largava.

Para terminar este seu livro, o seu grande amigo José Feliciano (um verdadeiro irmão) teve que tomar conta dele, como um menino se tratasse. O desgosto que tinha levado Mário a este desespero, era conhecido no seio de seus familiares e de amigos amigos mais íntimos.

Quando Maria Linda saiu a correr de seu quarto, ele ficou longos minutos sentado na sua cama. Ficara impressionado pela beleza e inteligência daquela bela jovem. Tanto assim que, Mário Guedes, esqueceu seus desgostos e direcionou seus preciosos pensamentos para outra direção.

Pensou então:
- “É mais uma noite que o sono não vem, sendo que dessa vez os motivos são outros bem diferentes, pois conheci uma mulher que arrebatou meu coração. Não vou conseguir dormir!”


Talvez fosse mesmo seu desejo ficar acordado, pensando e repensando, naquela linda mulher que horas antes tinha conhecido. Pensava como era linda, a sua voz suave, seus olhos pretos, seus cabelos negros eram longos e brilhantes e uma tez ligeiramente moreninha. Não conseguia pensar em mais nada, que, impulsivamente, a havia apertado contra seu peito, fazendo com que a moça se retirasse repentinamente sem enviar-lhe ao menos um olhar, um último olhar. Quem sabe se algum dia ainda a encontraria, para lhe pedir desculpa?

Essa hipótese atormentava-o, tirando-lhe a tranquilidade e o sono.
Querida - Será que alguma vez a iria encontrar de novo?
Seria muita sorte se isso acontecesse...

Mário levantou-se assim que o sol apareceu, sentindo uma forte dor de cabeça e muita sonolência, mas mesmo assim, estava disposto e preparado para a noite da apresentação de seu livro e, quem sabe, rever aquela a mulher que roubou seu coração.

O dia custou a passar, pois parecia mais longo do que os outros. Grande era a sua expectativa. Apesar da ansiedade, Mário Guedes, manteve-se lúcido, longe de bebidas e do fumo. Queria estar sóbrio para admirar aquela beldade, caso ela aparecesse. Uma dúvida assaltou-lhe sua mente:
- “E se ela não estivesse presente no lançamento? Como poderei fazer para encontra-la? Não, não irei embora enquanto não descobrir uma forma de me comunicar com ela, para lhe pedir desculpa e dizer-lhe quanto a amo.”

O tempo passou e já se aproximava da hora de sua apresentação. Vestiu-se a rigor, e desta vez escolheu um terno de cor azul claro realçando com o castanho de seus
olhos.

Linda, dormiu maravilhosamente bem. Antes de se deitar fez uma prece e pediu proteção e a espiritualidade maior, pois no dia seguinte teria de enfrentar mais um desafio que seria suportar aquele olhar, aquele sorriso maravilhoso. Pensou:
Linda – “Deverei ser forte para não me deixar ser conduzida novamente por pensamentos desequilibrados”.

O chefe tinha-lhe agendado outra entrevista com o escritor, depois da apresentação do seu livro. Pensou com seus botões:
“Desta vez ficarei atenta para não cair em certas tentações. Ele é muito bonito e atraente, cheio de charme, mas tomarei todas as precauções necessárias para evitar o pior. A final não o conheço bem e muito menos ele a mim, além do mais, não faz meu tipo, com certeza deverá ter idade para ser meu pai”.
Pensou que seria um verdadeiro absurdo pensar que ele poderia ser o homem da minha vida.
Linda - “Ainda bem que mora em outro país muito distante do meu, e veio aqui somente com a finalidade de apresentar seu livro. Talvez hoje mesmo, se vá embora e não irei vê-lo nunca mais”.

Esse último pensamento causou-lhe um certo incomodo, dor e tristeza:
- “Será mesmo que depois, não o votarei a ver? Meu Deus, esta história não está me fazendo bem. Tenho que buscar o reequilibro, o autocontrole emocional, direcionando meus preciosos pensamentos para a tarefa que devo desenvolver. Preciso de recuperar o fôlego; é imprescindível, para então, preparar algumas perguntas que demonstrem sabedoria e inteligência que ele deve ter. Não quero correr o risco de cometer os mesmos erros da primeira entrevista. Devo mostrar para aquele senhor atrevido que sou inteligente o suficiente para não lhe fazer a vontade de arrumar suas coisas em seu quarto de hotel! Com certeza deve ter rido de minha tolice, e boa vontade de só o quer ajudá-lo! Mas quem é que sua Ex.ª o Sr. Mário Guedes pensa que eu sou? Desta vez, vou estar preparadíssima para que ele não seja novamente insolente. Desta vez ser bem diferente, ai isso é que vai ser!”

Ao despertar Maria Linda, começou a sorrir dos seus pensamentos da noite e pensou naquele adágio popular:
- “A Noite é boa conselheira”.

Pensava ela, mas seu coração não estava de acordo consigo. Se não fosse à apresentação do livro do português, talvez ele nem apercebesse da sua ausência.
- “ Tão Importante como julga ser, nem pensa numa simples repórter como eu. O cara, deve passar a vida, cercado de mulheres lindas e maravilhosas”.

Queria afastar esses pensamentos de sua mente. Por estranho que parecesse, naquele momento Maria Linda foi como que transportada mentalmente para uma daquelas festas frequentadas por artistas famosos e dessa vez ela não estava no serviço profissional, e era convidada do anfitrião. Imediatamente, se projetou na sua tela mental uma imagem já conhecida, era ele, o insolente do português que desfilava ao lado de uma linda mulher. Que raiva! Linda tomou um susto, ao perceber que de seus belos olhos surgiram duas lágrimas que começaram a rolar pelo seu rosto macio e bem cuidado. Sentiu raiva, pois percebeu que poderia estar com ciúmes daquele português insuportável.

Maria Linda, não compreendia o que lhe estava acontecendo, não aceitava o fato de que ele pudesse estar lhe tirando o sossego o equilíbrio mental.
Pensava: “ – Deve ser um bruxo para me enfeitiçar dessa forma, será melhor falar com meu chefe e pedir que indique outro repórter para fazer esse trabalho. Acho que não estou bem de saúde, devo estar ficando louca, é isso mesmo, estou ficando louca, portanto não devo ir a esse evento. Tenho que convencer o Sr. Osvaldo. Dizer-lhe que estou enferma e não posso comparecer hoje à noite na apresentação do livro desse português. Mas que por cargas d’água ele apareceu na sua vida? Se tudo tem um motivo de ser, porque eu ter sido escala para o entrevistar?”

Estava decidida a ir ao jornal tentar convencer o chefe a mandar outro repórter para fazer esse trabalho. Mas estaria mesmo decidida? É que de repente seus pensamentos vieram novamente atormentar – lhe o cérebro:
- “Se não fosse à apresentação do livro, nunca mais o ia vê-lo, e, iria arrepender-se pelo resto de sua vida. Perderia a oportunidade de sentir mais uma vez emoções jamais experimentadas”.

Pensou mais uma vez para com os seus botões:
- “ Será que eu vou perder essa oportunidade? Será que ele também pensa em mim? Ai meu Deus, não posso deixar de ir, tenho que encontra-lo novamente, nem que seja de longe. Mário Guedes, porque você veio da sua santa terrinha para me atormentar ? Eu, estava tão sossegada da vida...”

Nessa manhã, Linda não foi ao jornal. Passou o dia inteiro nos preparativos. Foi de tarde a um shopping e comprou um vestido digno de uma princesa. Mandou arrumar as unhas, cabelos, e uma belíssima maquiagem, que suavizasse ainda mais sua pele delicada, realçando seu lindos olhos, e a boca. No final mirou-se a um espelho, e pensou:
– “Estou linda!”

E até poderia até mesmo ser confundida com uma estrela de cinema internacional. Admirou seu corpo, suas formas bem delineadas e em seus lindos cabelos pretos, com alguns cachos que lhe caiam sobre o rosto. Aquele tratamento havia lhe transformado numa nova mulher. O vestido era justo e modelava seu belo corpo, salientando e seguindo cada curva, cada forma. Pensou alto:
– “Ai português, tu me vais admirar, mas desta vez não me vais tocar, nem sequer com um dedo!”

Mas as dúvidas também a assaltavam: -
- “Será que ele vai me reconhecer? Afinal nos vimos apenas uma vez e não foi por muito tempo! Agora, sinto-me tão diferente! Talvez nem repare em mim, com certeza deve ter milhares de mulheres lindas nesse evento. Ele é um homem famoso e muito atraente e este será um forte motivo para que toda a sociedade esteja presente. Mas não tem importância, estou vestida para sentir-me bem e não para agrada-lo. Mas eu gostava que ele repara-se em mim...”.

Falando em voz alta, entrou em seu automóvel de cor vermelha que coincidentemente da mesma cor de seu vestido. No fundo, estava preparada para o ataque!

Maria Linda chegou ao local do evento, um pouco depois das 19:00 horas. Sua presença causou certo impacto nos homens e despertou inveja em algumas mulheres. Até seus próprios colegas de profissão, não tiravam os olhos dela, e até pararam de correr atrás do escritor português para a cortejar. Claro que observaram sua transformação, sendo que isso somente lhe causava aborrecimento, pois não tinha interesse nesses homens que só pensam em levá-la para cama, Infelizmente existem homens que não conseguem reter em suas mentes por muito tempo, pensamentos que não sejam desse teor, portanto não interessa ser cortejada por esses tarados sexuais é isso que eles são e por outro lado só lhe interessava localizar seu alvo, que era o Mário Guedes, aquele português... Procurou ser indiferente para todos para não ser importunada. Ansiosamente, procurava aquele homem diferente, especial e ao mesmo tempo estranho. E o pior de tudo é que gostava de sua forma de ser e de se comportar.

Maria Linda estava surpresa com a quantidade de pessoas ali presentes. Reconheceu que pela fama do escritor realmente deveria ser um grande evento, mas porém, não contava com tanta gente. Ali estavam pessoas de todos os níveis sociais, além dos fãs e curiosos, estavam presentes rádios, jornais e televisões, e era quase que impossível permanecer no local por muito tempo, contudo não poderia sair sem cumprir com sua obrigação e também queria e precisava ser vista pelo português. Quando por obra do acaso, algo lhe chamou a atenção: Era ele, o português, o Mário Guedes, que estava ali sentado e cercado por fãs e curiosos. Era o momento dos autógrafos, e ele gentilmente, perguntava o nome e escrevia na primeira folha do livro. Apenas um jornalista conseguiu se aproximar e as perguntas que ele fazia eram exatamente as que ela gostaria de fazer, assim, aproveitou o trabalho do colega para concluir seu trabalho dando-se por satisfeita.

Maria Linda, ia se retirando do local por está cansada; o salto de sua sandália era tipo Luís XV, não aguentava mais ficar de pé. Sentiu-se envolvida por uma grande e profunda tristeza, pois queria vê-lo de perto, observar melhor seu comportamento para com os fãs. Decepcionada, começou a andar sem olhar para trás, quando de súbito alguém lhe pega pelo braço e diz:

Feliciano - “Maria Linda, para onde pensa que vai tão cedo? Não pode se retirar dessa maneira, pois o escritor Mário Guedes, precisa muito falar com você. Olhe que por diversas vezes ele tentou fugir da multidão para vir ter contigo, mas não conseguiu, foi então que me pediu para não lhe deixar escapar. Precisa muito lhe falar”.

Maria Linda, caminhava distraída sem rumo ou destino, e sua mente atormentando-lhe com o escritor.

A abordagem deste moço lhe trouxe de volta a realidade, causando-lhe um terrível susto. Foi então que movida por um impulso de raiva, disse-lhe:

Linda - “Quem ele pensa que é? Irei embora sim. Quem vai me impedir? Diga-lhe que não falo com estranhos muito menos se for insolente, e por gentileza largue meu braço”.

Feliciano - “Desculpe mas não queria ofendê-la de modo algum! Eu sou o Feliciano, o amigo e editor do escritor Mário Guedes, e responsável por esta apresentação no Brasil”.

Delicadamente, pedia desculpa e procurava justificativas plausíveis.

Tentava explicar que não era intenção de Mário Guedes magoa-la ou agredi-la, apenas não soube se expressar o que lhe ia na alma, e assim pede-lhe que lhe perdoasse.

Mas Linda, ainda pesarosa de não ter estado com o escritor, não aceitou suas argumentações e saiu imediatamente do local do evento, deixando o Feliciano desesperado com a sua reação. Correu atrás dela e pediu (ou implorou-lhe):

Feliciano - “Por favor Maria Linda, dê-me ao menos o número de seu telefone ou o seu endereço”.

Sem olhar para trás, ela abriu a sua pequena bolsa e retirando de dentro um cartãozinho, que jogou em direção ao seu interceptor que estava atento aos seus movimentos, e ao pegá-lo observou que estava escrito apenas o endereço eletrônico: linda@neocultura.com.br. Depois, saiu quase a correr, sentido duas lágrimas a correr-lhe pelo rosto.

- “Que dia mais decepcionante - pensou então...”

José Feliciano ficou muito surpreendido e admirado com a reação da jornalista, pois não sabia como dar a notícia a seu amigo. Como dizer-lhe que tinha feito tudo errado e mais uma vez deixou escapar a felicidade dele, pensou em voz alta:
- “Eu sou um perfeito idiota e o Mário vai matar-me! E o pior é que ele vai morrer também de raiva e desgosto. Que vida esta!”

Maria Linda, chegou a sua casa por volta das 2.00 horas da manhã, pois antes fora caminhar um pouco pela praia em busca de paz e tranquilidade, daí então pensou:
- “Ainda bem que algumas coisas estão a meu favor como por exemplo: é Domingo e não irei trabalhar, o meu filho Mateus está com o pai, senão quando acordasse, teria que lhe dizer o que aconteceu, pois esse menino tem uma percepção de adulto. Não consigo esconder por muito tempo minhas angústias e dores, e quando não invento uma boa história não me larga. E com esta aparência horrível, ele não se daria por conformado com qualquer desculpa, é um menino inteligente e amável e ocupa quase todos as lacunas na minha vida – pensou em voz alta”.

Foi até ao seu quarto e abriu o zíper do seu do lindo vestido deixando que deslizasse lentamente pelo seu corpo, até cair aos seus pés. Deixou-o sobre o chão e começou a tirar as outras peças até ficar totalmente despida, depois foi ao espelho e ficou admirando seu belo e bem cuidado corpo, pensando:
- “Agora, está tudo em forma, mas daqui a 30 anos estarei com 70 anos de idade, e aí, como estarão minhas formas?”.

Com um sorriso triste nos lábios foi até o banheiro ligou a ducha na posição de Inverno e ficou um longo tempo em baixo do chuveiro, como se quisesse que a água retirasse de sua mente tudo que havia passado naquela noite inesquecível de dor e decepção, e, em seguida, foi deitar-se. Encontrava-se mais calma, e quem sabe conseguiria adormecer e ao despertar confirmaria que tudo não passara de um sonho ou melhor um pesadelo. Mas aquele português...
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Segunda - feira, mais uma semana que se inicia, Maria Linda levantou-se um pouco mais tarde do que o costume, toma um banho rápido por não querer se atrasar para o trabalho, escolhe para vestir uma calça jeans e uma blusa estilo masculino e sai rapidamente, pretende dar tudo de si ao seu trabalho, para assim, não permitir que sua mente lhe atormente com pensamentos indesejáveis. Já estava com a porta aberta para sair quando o telefone tocou. Era o seu chefe:

Osvaldo – “Recebi o teu trabalho por e-mail do evento do lançamento do livro do português. Conforme o combinado, estás dispensada uma semana. Garota, goza bem este período de férias.”

Linda – “Este período de férias calha mesmo bem. Só não sei o que vou fazer… Já sei, vou à região de Caruaru comprar umas roupas para mim e para meu filho.”

Foi nesta bela região do Nordeste brasileiro que a jornalista encontrou um casal amigo de longa data que viviam no Recife e agora moravam na Praia do Francês, já no Estado de Alagoas. Conversa puxa conversa e em determinada altura, o casal Medeiros convidou-a a ir passar uns dias no seu apartamento da praia. Aceitou o amável convite e depois de combinar com o pai de seu filho, para ficar com ele uma semana. Por fim todos rumaram ao apartamento do José Medeiros e da Maria Inês, na tal Praia do Francês.

Dias depois, o casal Medeiros resolveu ir à pesca numa jangada. Maria Linda recusou alegando que enjoava muito dentro de um barco. Assim, a jornalista ficou em terra e, em companhia de uma nova amiga que morava no mesmo bloco do apartamento dos Medeiros, foram tomar banho à praia. Já estavam a algum tempo dentro de água, quando começou a chover e, como não eram grandes nadadores, a água da chuva era mais fria do que a água do oceano. Saíram da água e procuraram um abrigo que as abrigasse da chuva fria, e o melhor (e único) sítio que encontraram, foi um pequeno barco que estava na areia voltado ao contrário. Meteram-se debaixo deste improvisado abrigo, enquanto a chuva caia implacavelmente. Duas horas depois a chuva deixou de cair com intensidade e as amigas regressaram aos respectivos apartamentos.

As horas foram passando e Maria Linda começou a ter fome (insuportável, considerava ela). Tinham combinado que o almoço seria o produto da pesca o que a impedia de poder fazer o almoço. Lembrou-se então que tinha visto umas caixas de biscoitos na dispensa do apartamento. Se pensou, melhor fez e foi comer biscoitos enquanto os anfitriões não chegassem. Por fim chegaram muito cansados e molhados.

Linda – Então a pesca foi boa?

José Medeiros tirou um peixinho que teria sequer um palmo de comprimento:

José – A pesca foi “maravilhosa”! Olha este peixinho…
Linda – Então é esse o nosso almoço?!
Inês – Não minha querida, vamos comprar mantimentos ao supermercado!

No regresso ao Recife, a jornalista recordou este curioso dia. Sorriu e embora perto do seu apartamento, sentiu saudades do seu “cantinho”. Recordou mais uma vez aquele português que ela conhecera e que se tinha portado com ela de uma maneira estranha…

Levantou-se na segunda-feira com aquela sensação de quem termina um período de férias e tem de regressar ao trabalho. E aquele português não lhe saía da cabeça…

Mal chegou ao jornal, foi abordada por uma colega que lhe segredou:

Colega – Maria Linda, você sabia que aquele escritor português, que tu foste fazer a cobertura da apresentação do livro, tem sérios problemas com mulheres e bebidas que é um viciado. Parece que nem tudo são rosas em sua vida, como muitos pensam. Só não sei como é possível um escritor famoso com o Mário Guedes, possa ter problemas tão graves ao ponto de fazer com que ele enveredasse por caminhos escuros como o da orgia e dos vícios?! Sinceramente, não consigo acreditar que isso seja verdade, apesar de que os comentários que surgiram, é o seu empresário toma conta dele, como quem cuida de uma criancinha, mas isso somente quando bebe exageradamente. Comentam também que seu ciclo de amizade está ficando bastante restrito, tendo em vista alguns problemas que ele está atravessando, nos últimos meses. A imprensa está divulgado que Mário Guedes não tem recebido quase nenhuns convites para eventos culturais, e assim, os amigos começam a desaparecer, pois só quando se tem fama, é temos muitos “amigos”. Os motivos que levaram o afastamento de seus supostos amigos, foi alguns problemas que andou metido com a sociedade e a imprensa de Lisboa.

Com esta notícia, a jornalista ficou muito triste e preocupada. Não, um homem como aquele, para ter descido tão baixo, foi por que alguma coisa de grave lhe aconteceu em sua vida, pensava ela:
- “É impossível o Mário ser assim! Quando me abraçou, notei o seu carinho de pessoa muito carente, Não, não me convenço do que ouvi”.

Foi para o seu gabinete, pegou no telefone e pediu à telefonista:

Linda - Por favor, ligue-me rapidamente ao jornal português de maior circulação.

Minutos depois estava em contato com Lisboa. Depois de uma longa conversa com o diretor do jornal português, soube que o grande problema do Mário Guedes foi a perda da mulher num brutal acidente de carro. Perdeu a mulher e um filho de 18 anos. Ficou aliviada com aquela notícia, pensando alto:
– “O “meu” português não é tão mau como o querem fazer. Ai, com os meus miminhos e carinhos, voltaria a ser ele mesmo! Mas a esta hora, o que ele estará a fazer? Vou tentar-lhe telefonar mais tarde, pois o colega de Lisboa até me deu seu número de telefone”.

Pensou melhor e, como boa nordestina e mulher arretada, resolveu ligar à agência para comprar uma viagem aérea para Portugal.

Horas depois estava dentro de um avião a caminho da bela capital de Portugal…

Logo que acabou de atender o telefonema da Maria Linda, o diretor do jornal telefonou em seguida a Feliciano, para lhe contar a conversa que tinha tido com a jornalista. Este, logo transmitiu a Mário Guedes esta conversa.

Mário – E tu já marcaste o meu voo para o Recife?

Feliciano – Claro que não! Ainda estiveste lá há pouco tempo…

Mário – Pois, não percas tempo e vai já á agência de Viagens.

Horas depois, o escritor estava a voar para a capital do Estado do Pernambuco…

Feliciano abriu a porta do apartamento e com grande surpresa encontrou Maria Linda. Ficou sem palavras e foi ela que perguntou-lhe:

Linda – O Mário Guedes está em casa?

Feliciano – Não! O Mário foi hoje para o Recife à sua procura…

Linda – Ho, que doido!

Feliciano – Direi mais: Que doidos vocês são!

No Recife, Mário foi ao jornal onde trabalhava Maria Linda, à sua procura. Todos os que estavam presente se riram e, quando apareceu o chefe Osvaldo disse que a jornalista tinha embarcado para Lisboa, por motivos pessoais.

Osvaldo – Parece que a garota está com problemas de coração…

Saiu do jornal completamente desorientado e sem saber o que fazer. Telefonou para o seu apartamento em Lisboa, mas ninguém atendeu.

Mário – Desta vez mato você, seu Feliciano!

Tentou o telefonema mais de duas horas. Por fim, conseguiu a ligação:

Mário – Por onde tens andado, meu figurão?

O amigo, deu uma grande gargalhada antes de responder-lhe:

Feliciano – Tenho andado a mostrar Lisboa a uma linda mulher e não sei se fiquei apaixonado por ela!

Mário – Deixa-te de graças, pois, não estou com paciência para te aturar. Vamos ao que me mais interessa: a jornalista do Recife esteve aí em casa?

Feliciano – Deixa-me cá ver… jornalista? Quererás tu dizer a Maria Linda?

Mário – Sim, essa mesmo!

Feliciano – Esteve e foi com ela que fui passear. Depois deixei-a num hotel.

Mário – Porque não ficou aí em casa? Esquece. Em que hotel está ela hospedada?

Feliciano – Não me recordo muito bem o nome do hotel…

Mário – Deixa-te de brincadeiras e dá-me o número telefônico e o número do quarto onde está hospedada. Já, já…

Feliciano – E quem te mandou ser maluco e ires para aí? Não fui eu, pois não? Liga-me daqui a meia hora que te darei todos esses dados. Claro, se não morreres antes!

Quando Feliciano lhe deu o nome do hotel e o número telefônico, Mário Guedes tentou logo ligar para Maria Linda. Mas escritora tinha ido numa excursão para visitar os pontos turísticos de Lisboa que incluía uma noite de fados.

Nem jantou nem saiu do quarto nessa noite, e foram as inúmeras vezes que ligou para o hotel. Precisava de falar com aquela bela moreninha que lhe tinha tomado conta de seu coração e dar-lhe volta à cabeça. Pensou alto:
– “Os fados nunca mais acabam e ele nunca mais regressa ao hotel. E eu aqui enervado e sem disposição nem para ler nem sequer ver a televisão. Que vida a minha!”.

Só cerca das 2.30 horas é que conseguiu falar com a sua “amada”, como ele já considerava:

Mário – Até que enfim que a menina regressou ao hotel. Até pensei que passasse a noite a cantar o fado, ou melhor, que se tivesse tornado fadista!

Linda – Que exagero! Que lhe deu na cabeça para me ir procurar aí no Recife?

Mário – O mesmo que te levou a ires à minha procura em Lisboa!

Ambos riram com as alegações um do outro. Já mais calmos, começaram a conversar normalmente sem aquele “arretamento” inicial.

Mário – Bem, tu ficas aí em Lisboa, pois amanhã apanharei o voo da manhã para aí…

Linda – Isso é que não poder ser pois, já marquei o voo de regresso para amanhã de manhã e não há volta a dar pois a agência a esta hora não atende. Olha, espera por mim aí no Recife – de acordo?

Mário – Tenho que estar mesmo de acordo devido às circunstâncias… Estou a pensar ficar cá uns três meses para trabalhar o esboço do meu novo livro…

Linda – Eu vou estudar um convite que me fizeram à pouco tempo de uma agência de notícias, para ser a “enviada especial”, não só em Portugal mas também em Espanha…

Mário – Essa ideia é maravilhosa!

Linda – Então até manhã.

Mário - Dorme bem e se possível, sonha comigo, meu amor!

Fonte:
Texto enviado pelo autor Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
Imagem por Iara Melo (Portal CEN)

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