quinta-feira, 14 de julho de 2011

J B Xavier (Luiz Otávio, O Construtor de Sonhos)


Perdoem as toscas palavras deste viajante, que, tendo aportado há tão pouco na Trova, volta a esta página para lhes relatar sua visão sobre quem construiu a fonte da qual hoje bebo. Perdoem-me por começar onde terminei: a homenagem à Dama da Trova, Carolina Ramos, porque, da miríade de pontos onde sua biografia e a de Luiz Otávio se tocam, há um, que, certamente, lhes faz interseção: A decisão de não serem apenas meros observadores da História, mas um de seus protagonistas.

O silêncio seria a melhor forma de homenagear um sonhador, porque nele está o recolhimento necessário à serenidade que a vitória preconiza. Portanto, perdoem este pobre viandante, por não iniciar esta homenagem a Luiz Otávio a partir de suas realizações como trovador e criador da UBT, porque seria um erro indesculpável, pensar que a criatura é maior que seu criador. Ao nascer, Gilson de Castro já era Luiz Otávio. A forja da vida apenas lhe deu têmpera e, como num quebra-cabeça mágico, a poesia - mais precisamente, a Trova - se encaixou precisamente em seus vazios . Junte num só coração a têmpera, o amor à poesia e o sonho de construir catedrais, e teremos a argamassa com a qual Deus constrói os vitoriosos.

Se as coisas não parecessem impossíveis, não haveria graça em fazê-las. Luiz Otávio bem o demonstrou. O possível é para pessoas comuns; o difícil é para pessoas determinadas, mas o impossível é para pessoas obstinadas. Portanto, o possível, é para quem assenta tijolos, o difícil, é para quem ergue paredes, mas o impossível, é para quem constrói catedrais! As pessoas comuns sonham. As pessoas determinadas planejam, mas as pessoas obstinadas fazem! Elas colocam o planejar e o fazer a serviço do sonhar, e munidos desse tripé, dão forma ao sonho, constroem castelos de cristais onde havia desolação, espelham a lua e penduram esperanças nas estrelas, para, com elas, enfeitarem a noite dos que buscam luz!

Mostrem-me um vitorioso, e eu lhes mostrarei alguém que se recusou a chamar insucesso de fracasso! Mostrem-me alguém que realizou seu sonho, e eu lhes mostrarei alguém que chama os insucesso de “tentativas”. Mostrem-me um vencedor e eu lhes mostrarei Gilson de Castro, o cirurgião dentista que aceitou chorar só, na calada da noite, diante da incompreensão dos medíocres, para poder no dia seguinte, ressurgir como Luiz Otávio, e encarar os desafios que seu sonho exigia, com o olhar brilhante, lustrado pelas lágrimas, depurado pelo sofrimento e revigorado pela obstinação! Foi essa obstinação que ergueu a catedral UBT, o Templo Maior da Trova!

O vitorioso sorri quando outros choram, avança quando outros param, persiste quando outros retornam, cria onde outros copiam, transpira quando outros descansam. E se chora, será de alegria, se arrefece a caminhada será para admirar a paisagem que transformou, se retorna, será para auxiliar os que não lhe acompanham o passo, se copia, será para ratificar, com o devido crédito, o que de bom se fez antes dele; e, se descansa, será para preparar a retomada do caminho em direção ao sonho ainda não realizado. Mas, pobres são as palavras deste escriba para definir Luiz Otávio. Por essa razão recorro às palavras dele próprio, para que não haja dúvidas quanto ao estofo de que são feitos os vencedores:

O IDEAL

Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista!
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista!

Trabalha com fervor, de forma avara!
Que sejas no teu sonho um grande egoísta!
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista!

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado!

* * *

As trovas que tornaram Luiz Otávio Magnífico Trovador

XIII Jogos Florais - Tema Silêncio - 1º lugar
Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !.. “

XIV Jogos Florais – tema Reticências - 2º lugar:
“Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...”

XV Jogos Florais – tema Fibra – 10º lugar:
“ Ele cai ... não retrocede ! ...
continua até sozinho ...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho ... “

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TROVAS DE LUIZ OTÁVIO

Quem vive pela saudade,
por longos anos ou meses,
possui a felicidade
de reviver várias vezes.

Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição... “

Não paras quase ao meu lado ... !
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...

Portugal – jardim de encanto
que mil saudades semeias
nunca te vi ... e, no entanto,
tu corres nas minhas veias ...

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...

Contradição singular
que angustia o meu viver :
a ventura de te achar
e o medo de te perder ...

Estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar ...

Ó mãe querida – perdoa ! ´
o que sonhaste, não sou ...
- Tua semente era boa !
a terra é que não prestou !

Ó trovas — simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
— Como podem quatro linhas
trazer toda alma de um povo?!

Tudo nos une: o amor,
o gênio igual, a constância,
até mesmo a própria dor...
— Só nos separa a Distância...

Se é de amor tua ferida,
não busques remédio, — cala!
— O Tempo, aliado à Vida,
lentamente há de curá-la...

Duas vidas todos temos,
— muitas vezes, sem saber...
— A vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver...

Do Passado faço culto!
Mas tenho cá o meu rito:
— Se triste, eu o sepulto!
Se feliz, o ressuscito...

É desigual esta vida
pois, nos engana... nos furta...
— Dá velhice tão comprida!
E mocidade tão curta!...

Que sina, que padecer
foi a Sorte aos cegos dar:
— Não ter olhos para ver
e tê-los para chorar...

"Meu Deus como o Tempo passa!...”
— Nós, às vezes, exclamamos...
Mas por sorte ou por desgraça,
fica o tempo... e nós passamos..

Muitas vezes ao partir,
(oh! tortura singular!)
— os que ficam, querem ir...
os que vão, querem ficar...
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JB Xavier é Trovador e Editor do Informativo da seção São Paulo

Fonte:
UBTrova

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