sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Celso Sisto (Atravessando o Tempo)


SILVA, Maria Teresa dos Santos.Contos do arco-da-velha 2. Textos adaptados por Eduardo Brandão. Ilustrações de José Miguel Ribeiro. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2010. 64p.

Há histórias teimosas, que insistem em atravessar o tempo. Com isso vão ficando cada vez mais conhecidas e conquistando um público cada vez maior. Na verdade ninguém sabe quem as inventou ou onde elas surgiram pela primeira vez. Isso acontece com histórias as quais chamamos de mitos, lendas, fábulas e até contos populares.

Esse livro vem de Portugal e precisou ser adaptado para o português do Brasil. São 4 histórias neste volume 2: O velho, o garoto e o burro; Dona Baratinha; A raposa e o galo; Os macacos. Não dá pra dizer que essas histórias são portuguesas, elas são do mundo. Aqui são muito conhecidas, exceto a última. Dizem que chegaram com os colonizadores. É possível. Mas os colonizadores aprenderam essas histórias com quem? Mistérios que costumam persistir quando se trata de histórias de domínio público. É como se perguntar, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?

Em “O velho, o garoto e o burro” a polêmica é “quem deve ir montado no burro que vai ser vendido na feira”? Em “Dona Baratinha”, tudo gira em torno de “quem vai se casar com a Dona Baratinha, que é bonitinha e tem dinheiro na caixinha, achado enquanto varria o chão da cozinha”? Em “A raposa e o galo” a questão é: a raposa vai conseguir almoçar o galo, com sua desculpa de que agora reina a paz entre os animais? E em “Os macacos” o leitor quer saber onde foram parar os gorros vermelhos da mala do mercador, enquanto ele dormia?

Essas histórias, conhecidas desde as fábulas de Esopo e La Fontaine, aparecem aqui em versos, rimados, gostosos, divertidos. Com isso, recuperam, de certo modo, a forma “original” das fábulas, que eram em versos. Por serem em versos, as histórias são enxutas e vão direto ao ponto, ao conflito, sem muito desvio ou enfeite. A tônica geral é a mesma: o primeiro verso rima com o terceiro; e o segundo verso rima com o quarto.

A moral da história, que desde o princípio acompanha as fábulas é inserida no texto de uma forma leve e única, sem parecer que está fora do texto. Em geral, essa “mania” de terminar uma história para crianças com um ensinamento provocou uma necessidade, quase que obrigatória na literatura infantil, mas nem sempre com bons resultados literários. Virou vício, mas felizmente, os escritores hoje abandonaram essa regra que transforma literatura em cartilha! Moral em forma de pergunta, como faz o avô da história “do burro” é mais democrática: “Você percebeu, meu netinho? Não há ninguém tão esperto, tão sensato e perspicaz, que cale as bocas do mundo!”. Esse tipo de moral é muito menos impositiva! Funciona!

Mas o livro ganha mais força ainda com as ilustrações de José Miguel Ribeiro. Seu traço, tendendo para o estilizado, é único. Suas imagens de página dupla, seus contornos de linhas grossas e falhadas, seu colorido de tinta acrílica, com predomínio de cores frias, sem saturação e com muito branco fazem os olhos do leitor ficarem deslumbrados.

24/08/2011

Fonte:
Artistas Gaúchos

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