domingo, 21 de agosto de 2011

Danilo Lobo (A Quatro Estrelas)


Dietrich, a diva germânica
do entreato das duas guerras,
surgiu primeiro em preto e branco
na ribalta dum cabaré.
E por emergir na fumaça,
tal qual um arcanjo das nuvens,
foi em vida canonizada
em anjo celeste, cerúleo.

Mas anjo, só mau, decaído,
alcoviteiro do capeta,
que, do palco, semidespido,
exibindo pernas de seda,
se deu, impudico e lascivo,
prometendo abraços e beijos,
para, no final da película,
esfumar-se na sala acesa.
Garbo, a sueca divina,
revelou ao olho da câmara,
a natureza do intangível,
específico da substância
das coisas de forma esquiva,
que, sendo, se fazem ausentes
e se mostram no estado misto
que existe entre o ser e o não-ser.

Mas nórdica, só por equívoco.
Mulher piramidal e esfíngica,
Nerfertite dos anos trinta,
deveria ter sido egípcia
como a rocha que se quis rocha
e, no seu tempo de granito,
fez-se eterna (em celulóide),
lendária e, aliás, mítica.

Maria, a deusa do México,
Ostentou em suas películas
A aparência semidoméstica,
Característica do bicho
Com o qual aprendeu os gestos,
Reflexos do nome gatesco
Que, mais que mulher, a fizeram
Felino manhoso, travesso.

Mas bichana, só das selvagens:
gata por natureza fera
como a onça, o leopardo,
ou, mais exato, a pantera,
que lhe pôs no olhar o enigma,
no cabelo o espesso negror
e no porte o garbo do tigre
não dominado – o domador.

Marilyn, o ídolo dourado,
Primeiro para uma folhinha
E, depois, na tela de prata,
Entregou a pele despida
Com os olhos semicerrados,
Um riso olhado na boca
E a voz oleosa levada
Por canais estereofônicos.

Mas pelada, só por disfarce;
se mais mostrava mais vestia,
acabando por enroupar
apele irreal e vazia
projetada em cinemascópio;
e assim, só de pele vestida
(incógnita oculta no óbvio),
passou por aí sem ser vista.

Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/danilo_lobo.html

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