domingo, 23 de outubro de 2011

Serra Azul (1909 – 1985)

(veja nota sobre os anos de nascimento e falecimento)

Francisco Leite SERRA AZUL - vate maior do beletrismo de toda ribeira do Salgado.

Nascido aos 3 de maio de 1909 no sítio Pau Branco no riacho do Tipi de Aurora, CE, o então garoto Francisco Leite órfão de pai e mãe aos quatro anos de idade passa a ser criado por um tio.

Camponês e de origem humilde o futuro literato se mostrou autodidata deste o início quando aprendera a ler valendo-se de pequenos fragmentos de jornais, livros escolares, almanaques e textos de uma velha Bíblia tomada por empréstimo pelo tutor. Seu ambiente escolar não poderia ser mais original: as sombras dos marmeleiros e das oiticicas que compunham o seu dia-a-dia nas bibocas do riacho.

Quando Aurora foi invadida e saqueada pelos "cabras" do coronel José Inácio do Barro nos idos de 1908 a vida se tornou ainda mais difícil Assim, aproveitando o ensejo, deixou a terrinha qual um fugitivo indo parar nas bandas de Quixadá no vilarejo de Serra Azul passando a ganhar a vida como mestre-escola. Anos depois já em 1912 contraiu matrimônio com Maria do Carmo, moça do lugar. Em Quixadá começa a ficar conhecido por conta dos seus belos improvisos poéticos. Como afirmou Mário Linhares "o verso brotava-lhe como fio dágua do seio da terra". Em 1919 a convite do poeta Castro Monte decide ir para Fortaleza onde passa a trabalhar na biblioteca pública onde tem contato com os clássicos da literatura universal.

Dono de uma mente notável e privilegiada logo começa a adquirir uma sólida formação intelectual por conta própria. Como ele dizia "fui sempre um professor de mim mesmo". Admirado por muitos intelectuais da época para a fazer parte do convívio de notáveis figuras das letras cearenses tais como: Juvenal Galeno, Quintino Cunha, Antonio Sales, Leonardo Mota, Osvaldo Barroso, Rubens de Azevedo e tanto outros. Foi inclusive em atendimento a sugestão de Rodolfo Teófilo que Francisco Leite passou a adotar o nome de
Serra Azul em definitivo, acrescendo-o ao próprio nome de batismo e por conseqüência aos seus descendentes. Foi na capital um exímio professor de História Natural, Geografia e Literatura.

Colaborou com vários jornais da sua época não apenas no que tange ao fazer poético, sendo, por conseguinte um dos fundadores da histórica Associação Cearense de Imprensa (ACI). Ousou criar o seu próprio estilo literário que ele denominou de "Escola Poética Objetiva" onde propunha uma poesia que fosse além da estética e do lirismo roto.

Uma poesia que pudesse penetrar todos os mais escuros recônditos do conhecimento de uma forma geral. Serra Azul foi por tudo isso, um homem que esteve muito além do seu tempo. "Sem mestre estudei francês, inglês, castelhano, alemão, e até latim e grego antigo. Não falo, mas traduzo regularmente o francês, o inglês e o castelhano" dizia ele próprio no preâmbulo da obra Versos Bucólicos de 1978. Publicou os seguintes trabalhos: Alfabeto das Musas (poesia) 1924; Natureza Ritmada (poesia) 1938; Impressões de Viagem (prosa) 1935; Versos Bucólicos (poesia) 1978; Cronologia de Homens Ilustres (ensaio) 1979; Antologia Poética (poesia) 1978; Grandes Bacias Hidrográficas do Brasil (prosa) 1980 além de outras produções inéditas.

Em 1930 compôs o maravilhoso poema Aurora (Antiga Venda) dedicado a sua terra natal por ocasião do aniversário dos 43 anos de emancipação política. Até aquele momento ninguém sabia ao certo que nome possuía a tal senhora proprietária da histórica taberna às margens do rio Salgado na origem do povoamento da cidade. Foi então Serra Azul, por sugestão do escritor e amigo Pedro Albano que o fez substituir o termo "D. Flora" no poema por "Dona Aurora" batizando deste modo a dita mulher que passou a figurar na história sob o nome "fúlgido de Aurora".

Veio de trem algumas vezes de maneira discreta visitar seu torrão, ficando hospedado na residência do Sr. Zezinho Saburá. Gostava de afirmar que sua inspiração corria no leito do Salgado.

Serra Azul faleceu aos 90 anos de idade em Fortaleza no ano de 1983.

AURORA (Antiga Venda)

À margem do Salgado instalou venda
De comida e bebida Dona Aurora
Que servia de oásis, rancho e tenda
Ao viajante, aconlhendo-o a qualquer hora.

Era a ribeira que sulcava a senda
Do litoral ao Cariri, outrora
Vem depois uma igreja, uma vivenda,
Outra e mais outra e em povoação se enflora...

Não sei se o mais é tradição ou lenda.
Sei que foi vila e que é cidade agora
E a sua história é trágica e tremenda!

É a terra de meu berço, esta que, embora
Tivesse o nome mercantil de venda,
Tem hoje o nome fúlgido de Aurora!
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Nota por José Feldman:
Considerei os anos citados por Henriques, contudo pelos dados que obtive no Município de Aurora, ele nasceu em 1893 e faleceu em 1983. Considerando que tenha havido um equívoco, considerei como válido os dados do Henriques.

Fonte:
http://www.aurora.ce.gov.br/cultura/texto.asp?id=53

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